A prisão de Lula, insustentável diante das imagens veiculadas
pelo MTST é de tal brutalidade que tende a gerar um movimento natural de
lealdade total a ele por parte de todos aqueles que o sabem injustiçado.
Essa lealdade vai além da pessoa de Lula, pois se funde com
os valores da democracia participativa, do Estado Social, da prioridade aos
mais pobres que são os dele e em nome dos quais muito foi feito no Brasil.
Portanto estamos diante de um fenômeno visceral que
reverberará na história e na política brasileira por décadas.
O caráter visceral desse fenômeno, que é traço do quanto está
vivo, poderia, no arco do curto prazo onde estão as eleições, desempenhar
efeito instabilizador sobre o processo estratégico a que as forças democráticas
estão convocadas que é o de fazer reemergir no Brasil, preferencialmente nas
próximas eleições, a democracia e um pacto social mínimo para a
governabilidade.
Na prática essa lealdade (e ela é legítima) poderia produzir
um comportamento político sectário, pelo qual nenhum candidato, mesmo no campo
democrático poderia ser suficientemente digno para substituir no pleito
eleitoral o Lula preso injustamente. É compreensível do ponto de vista humano
que muitos possam perceber uma alternativa qualquer a Lula, num cenário como o
atual, como traição.
Agrega-se a isso o fato de que a candidatura de um Lula preso
político tem um potencial politizador imenso para as maiorias, pois demonstra
com clareza meridiana a que destino a sociedade excludente e autoritária do
Brasil contemporâneo estão condenados aqueles que almejam construir, mesmo por
meio do diálogo e do consenso, uma sociedade menos injusta e assimétrica no
Brasil.
Portanto a razão cerebral e a razão visceral apontam para a
necessidade histórica e política da candidatura Lula para a presidência da
república em 2018 e me incluo entre os que concordam com essa necessidade.
Porém temos que considerar diversos elementos legais e
políticos para contextualizar a candidatura Lula num cenário que, até aqui, dá
à Extrema Direita a segunda posição. Essa força política, no entanto parece ter
chegado ao seu teto e tenderia a ser derrotada por qualquer candidato que a ela
se opusesse no segundo turno.
Isso significa que em circunstâncias normais, o Brasil não
elegeria a Extrema Direita à Presidência da República.
Entretanto, a legislação eleitoral prevê que se o candidato
vencedor da eleição tiver sua candidatura impugnada, os votos recebidos por ele
serão computados como nulos e assumiria o segundo mais votado.
Esse risco real de vitória espúria da Extrema Direita;
considerando que o Judiciário mantem Lula preso injustamente, e que esse
Judiciário, apesar de sabê-lo inocente, não hesitará em cumprir com o seu
papel, previsto na Profecia de São Jucá, impugnando a diplomação de Lula; exige
um manejo extremamente responsável da sua candidatura que deve assumir em
consciência de causa, de que em nenhuma hipótese permitirá ao Brasil o risco de
que seja governado pela Extrema Direita.
A certeza disso é necessária e a sua explicitação permitirá à
candidatura Lula crescer ainda mais, liberada que estará das preocupações de
muitos eleitores, dentre os quais me incluo, de que como efeito colateral de
sua vitória pudéssemos resvalar para o mais vil nazi-fascismo, cuja eleição
impossível como primeiro lugar não o seria como diplomado em segundo, por
impugnação de um Lula vitorioso.
Portanto uma das coisas que a candidatura deve antecipar é
que não permitirá em nenhuma hipótese que o Brasil e o seu povo corram esse
risco.
Ora, essa afirmação de princípio da candidatura Lula, a ser
enunciada o quanto antes, poderia, por exemplo, produzir a desidratação da
candidatura da Extrema direita, que talvez tenha enxergado essa janela espúria
para chegar ao Poder e dela esteja se aproveitando. Definida em qualquer
circunstância a sua inviabilidade, é previsível que a formação dos palanques
lhe seja menos favorável. Sim Lula é o maior eleitor e pode com o peso
gravitacional que tem, também impedir a chegada ao Poder da Extrema Direita.
Essa desidratação poderia redistribuir os votos para a
eleição presidencial e por exemplo levar ao segundo turno outro candidato da
Frente Democrática, recém criada, e que reúne o PT, o PDT, o PSB, o PC do B e o
PSOL. Se isso ocorrer, a candidatura Lula poderá ir até o fim, pois ainda que
venha a ser impugnada pelo TSE, não haveria nenhum risco à democracia.
Não nos esqueçamos que, para a esquerda, uma eleição não
serve apenas para eleger os candidatos mais alinhados ao povo. As eleições
servem também e sobretudo para difundir o seu projeto de sociedade e para
ampliar as bases da sua influência política ajudando-a a construir a sua
hegemonia.
Desvencilhada publicamente dos riscos a candidatura voará
livre, leve e solta e quem sabe com a sua força de arrasto possa levar ao
segundo turno outra candidatura de Frente Democrática.
Esse seria uma bela avenida para a recomposição da democracia
nesse sofrido país.
Do GGN