A
discussão econômica raras vezes consegui avançar além da visão primária dos
cabeções. Vamos analisar o recente acordo com EUA de permitir a livre
participação de empreiteiras americanas em licitações de obras púbicas
brasileiras.
Bolsonaro
e a síndrome do americano bonzinho
A
cobertura econômica na mídia brasileira continua restrita a bordões sobre livre
mercado. E a discussão econômica raras vezes consegui avançar além da visão
primária dos cabeções.
Um
dos vícios centrais dos cabeças de planilha é a incapacidade de entender
realidades complexas, isto é, aquelas que têm mais de uma variável.
Vamos
analisar o recente acordo em andamento com os Estados Unidos, de permitir a
livre participação de empreiteiras americanas em licitações de obras púbicas
brasileiras.
Todos
os argumentos centram-se na vantagem que haveria no preço. E nenhuma análise
sobre as chamadas externalidades do projeto – a maneira como poderá afetar
setores.
Sobre o preço
Paulo
Guedes montou um modelo simples de beneficiar as estrangeiras: estrangular a
capacidade e o custo de financiamento do BNDES.
Em
geral, as empreiteiras americanas disputam obras em outros países com apoio da
USAID (Agência dos EUA para Desenvolvimento Internacional), ou do próprio
Federal Reserva (o Banco Central americano), a custos mínimos.
Há
inúmeras denúncias sobre a corrupção da USAID nas obras de vários países, como
Afeganistão e Iraque. Mas deixa para lá. Segundo a Lava Jato o pais mais
corrupto do planeta é o Brasil.
O
que importa é analisar um diferencial pouco analisado por aqui nas
concorrências internacionais: o custo do financiamento.
Suponha
dois competidores, que tem o mesmo grau de eficiência na construção. Um deles
obtém financiamento a uma taxa de 6% ao ano; outro, a taxa de 1% ao ano
(provável custo dos financiamentos da USAID).
Em
15 anos, o diferencial de desembolso deles será da ordem de 43%.
Para
competir com a empreiteira estrangeira, o nacional teria que reduzir seu preço
em 30%.
Justamente
por isso, os financiamentos do BNDES eram essenciais para a expansão das
empreiteiras brasileiras no exterior, até serem criminalizados por procuradores
do Distrito Federal e Rio de Janeiro.
Aliás,
se um procurador americano ousasse fazer o mesmo nos EUA, seria imediatamente
expulso para alguma republiqueta latino-americana, por exemplo, o Brasil.
No
acordo com os EUA, bastaria a inclusão de uma cláusula assegurando o acesso de
todos os competidores ao financiamento. Simples assim. Mas obviamente não será
feito, já que o futuro advogado dos interesses brasileiros junto aos EUA será
Eduardo Bolsonaro.
As externalidades
positivas
A
profunda ignorância brasileira impede qualquer análise sobre as chamadas
externalidades – isto é, os aspectos não diretamente relacionados com o fato em
si – e o que o Brasil perde entregando s obras públicas a empresas
estrangeiras.
Há
externalidades diversas entre uma obra construída por empresas brasileiras ou
aquelas entregues a competidores internacionais.
Qualidade
de emprego – os melhores empregos ficam na sede da companhia.
Cadeia
produtiva – o desenvolvimento de fornecedores. Empreiteiras são
montadoras que, em geral, privilegiam os fornecedores de seu próprio país.
Mercado
externo – empreiteiras são agentes de entrada de outros produtos nacionais
no exterior.
Segurança
nacional – o país demanda desenvolvimento de tecnologia de segurança, de
satélites, aviônica, obras em áreas críticas (como o pré-sal). E as
empreiteiras são parceiras estratégicas.
Desenvolvimento
tecnológico – No Coppe jaz um projeto de veículo leve sobre levitação. A
parceria para financiamento e implementação era de uma das empreiteiras
abatidas pela Lava Jato.
Vamos
a uma pequena tentativa de mensurar cada externalidade positiva, conferindo-lhe
um peso.
Na
tabela, um exemplo hipotético, de orelhada. Mas mostra, grosso modo, como
deveria ser uma licitação de obras públicas, levando em conta as
externalidades.
Nesse
exemplo, mesmo com um preço 20% inferior à nacional, ainda assim as vantagens
das nacionais, nas externalidades, compensaria com sobre o diferencial.
Entregando
as obras a empreiteiras norte-americanas (ou europeias), sem nenhuma restrição,
as perdas do país serão amplas e disseminadas.
Mas
haverá ganhos para os Guedes e Bolsonaros da República. Afinal, a imbecilidade
tem pátria. E está ao sul do Equador.
Do
GGN