Foto:
Valter Campanato/Agência Brasil
Em
coluna publicada nesta terça-feira (4) na Folha de S. Paulo, o presidente da
CSN e vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo) afirma que o necessário combate à corrupção no país está “dinamitando as
empresas nacionais”, falando também que existe uma sequência assustadora da
autodestruição da indústria brasileira.
Ele
cita a Operação Carne Fraca, afirmando que a “comunicação espalhafatosa”
atingiu toda a atividade do setor, levantando dúvidas sobre a qualidade das
carnes produzidas no país. No entanto, o movimento não é isolado e também afeta
a indústria naval, de petróleo e da construção, diz Steinbruch.
Para
o presidente da CSN, a continuação dessa autodestruição resultará na
desnacionalização de tais setores, já que as empresas desvalorizadas “se tornam
alvos fáceis para o capital estrangeiro”.
Matéria
completa da Folha: Combate
à corrupção está dinamitando as empresas nacionais, por Benjamin Steinbruch.
Não
é normal um movimento de autodestruição tão grande quanto o que está em curso
no Brasil. Falo sobre a indústria brasileira. Vimos há duas semanas um evento
no qual um dos setores mais eficientes da indústria brasileira, o de carnes,
foi fulminado por uma operação ao que parece precipitada.
O
objetivo, absolutamente correto, era interromper atos de corrução na
fiscalização de alguns frigoríficos. Estavam envolvidas duas dezenas de
unidades num universo de 5.000, ou seja, uma minoria.
O
mais certo seria que os responsáveis pela eventual corrupção fossem levados à
Justiça para responder pelos seus atos. Mas a comunicação espalhafatosa da
operação acabou atingindo em cheio toda a atividade do setor, um dos poucos que
ainda prosperam na atual recessão.
Em
vez de apenas atingir malfeitores, a operação levantou grandes dúvidas sobre a
qualidade das carnes. Imediatamente, vários países cancelaram importações do
produto brasileiro à espera de novas garantias das autoridades sanitárias.
Em
poucos dias, os frigoríficos, envolvidos ou não na operação, começaram a
reduzir a produção, em razão da queda de demanda interna e externa, uma péssima
notícia num país em crise: mais recessão, mais desemprego.
O
problema é que não se trata de um evento isolado. A autodestruição da atividade
industrial tem uma sequência assustadora nos últimos anos. O necessário combate
à corrupção, em vez de punir só os corruptos, está dinamitando empresas
nacionais.
A
indústria naval, a de petróleo, a da construção e agora os frigoríficos são
setores importantes diretamente atingidos. Em todos eles, o Brasil alcançou um
nível altamente competitivo no cenário global.
A
continuar essa sequência destrutiva, a tendência óbvia será a desnacionalização
desses setores —desvalorizadas e sem recursos, as empresas se tornam alvos
fáceis para o capital estrangeiro.
Soma-se
a isso uma conjuntura adversa para a empresa nacional. O principal veículo de
financiamento ao desenvolvimento, o BNDES, está contraído e receoso.
O
governo reduz desonerações, o que significa aumentar impostos, e faz novo corte
de R$ 10 bilhões em investimentos. O câmbio não ajuda as exportações. A taxa
básica de juros continua em nível absurdo, 12,25% ao ano, embora o BC tenha
começado a reduzi-la, mas com muita lentidão e medo.
Nesse
cenário, a indústria tenta sobreviver. A produção do setor apresentou quedas
nos últimos três anos e está hoje 16% menor que em 2013. A esperança de que
pudesse haver crescimento neste ano começa a se esvair diante da continuidade
do movimento de autodestruição.
A
Volks foi recentemente punida por fraudar níveis de poluição de seus carros a
diesel, tomou uma multa de US$ 4,3 bilhões nos Estados Unidos, mas não deixou
de produzir um único automóvel. Em 2016, superou a Toyota e se tornou a maior
fabricante de carros do mundo, com 10,3 milhões de unidades vendidas.
Após
a rendição japonesa, em 1945, o general Douglas MacArthur chamou o imperador
Hirohito para uma conversa no QG americano. A primeira coisa que ouviu do
imperador foi um pedido: "General, peço que qualquer punição seja a mim, e
não ao Japão".
Preservar
a empresa nacional deve ser uma obrigação das autoridades brasileiras em todas
as áreas: que as pessoas culpadas sejam punidas com o rigor da lei, que as
empresas paguem multas por seus erros, mas que a atividade produtiva não seja
mais prejudicada.
Com
informações do GGN