Apesar
de tratar o advogado Rodrigo Tacla Duran como um bandido, a verdade é que o
juiz Sergio Moro, num primeiro momento, não quis transformá-lo em réu na Lava
Jato. A desculpa utilizada foi que processar um foragido que precisa de
extradição junto com pessoas já presas no Brasil iria atrasar o julgamento. Por
isso, Moro decidiu não aceitar a primeira denúncia do Ministério Público
Federal contra Duran. Só veio a fazê-lo em outra tentativa dos procuradores,
meses depois.
A
denúncia contra Duran por lavagem de dinheiro e formação de organização
criminosa foi apresentada pelos procuradores de Curitiba em 11 de abril deste
ano - quando o investigado, que tem cidadania espanhola, já era considerado
foragido da Justiça. Nove dias depois, Moro analisou a acusação e decidiu não
aceitar a parte que diz respeito ao advogado.
No
domingo (27), a jornalista Mônica Bergamo publicou reportagem sobre um trecho
vazado de um livro que Duran pretende lançar nos próximos meses. O advogado
promete relatar na obra um episódio comprometedor para um “amigo pessoal” de
Sergio Moro, o advogado trabalhista Carlos Zucolotto. De quebra, as informações
expõem os procuradores de Curitiba.
Segundo
os relatos de Bergamo, Duran acusou Zucolotto de “intermediar negociação
paralela com a força-tarefa da Lava Jato”. Segundo ele, o amigo de Moro o
procurou para oferecer seus serviços em Curitiba alegando que tinha “bons
contatos” e que poderia ajudar a construir um acordo de colaboração premiada
com o Ministério Público Federal.
Em
troca, o amigo de Moro pediu para receber ⅓ dos honorários “por fora”, com a desculpa
de que precisava pagar as pessoas que participaram das tratativas nos
bastidores.
Antes
de Zucolotto entrar em cena, o procurador Roberto Pozzobon teria proposto a
Duran uma multa de 15 milhões de dólares para fechar a delação. Pelos relatos
no livro, Zucolotto fez algumas “sondagens” e afirmou que poderia “melhorar a
proposta”, inclusive usando um “contato” para levar Deltan Dallagnol à mesa de
negociação.
"(...)
de fato, os procuradores Julio Noronha e Roberson Pozzobon enviaram por e-mail
uma minuta de acordo de colaboração com as condições alteradas conforme o que
Zucolotto havia indicado em suas mensagens", assinalou
Duran.
Contrariado
com a narrativa, Moro entrou em contato com seu amigo pessoal e publicou
uma nota no
site O Antagonista, na qual diz que não há provas das acusações relatadas e
lamenta “o crédito dado pela jornalista ao relato falso de um acusado foragido
tendo ela sido alertada da falsidade por todas as pessoas citadas na matéria.”
Os
principais fatos envolvendo Duran ocorreram na seguinte ordem:
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Em 5 de julho de 2016, Moro decreta a prisão preventiva e autoriza o bloqueio
de bens de Duran, que vinha sendo investigado por offshores para lavar dinheiro
para empreiteiras que tinham contratos com a Petrobras. O pedido (busca e
apreensão criminal nº 5035144 88.2016.4.04.7000) foi feito pelo MPF no âmbito
do processo 504897628.2015.4.04.7000 - que, segundo o portal da Justiça do
Paraná, está em segredo de Justiça.
-
Em novembro de 2016, a imprensa deu
notícias de que as autoridades, a mando de Moro, bloquearam recursos das contas
de Duran.
-
Em 11 de abril de 2017, o MPF acusa Duran e outros por lavagem de dinheiro e
formação de organização criminosa.
-
No dia 20 de abril de 2017, Moro acolhe parcialmente a denúncia, livrando Duran
da situação de réu. O argumento usado pelo juiz foi que Rogério Gonçalves, um
dos denunciados, já estava preso preventivamente no Brasil, enquanto a situação
de Duran exigia um embate com a Justiça da Espanha em torno da extradição. Moro
avaliou como um prejudicial à celeridade do julgamento o fato do MPF ter optado
por denunciar Duran nessas condições, e decidiu rejeitar esse trecho da
acusação. “Não é apropriado reunir na mesma ação penal pessoas que se
encontram em situação processual díspares, sendo necessário imprimir urgência à
ação penal contra o acusado preso no Brasil, o que não será possível com outro
acusado no exterior”, disse. O juiz sugeriu aos procuradores que apresentem um
caso exclusivamente sobre Duran. “Assim, essa parte da denúncia não será
recebida e deverá o MPF, querendo, promover ação penal em separado a respeito
desses fatos, não sendo apropriado incluí-la na presente."
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O processo 5015608-57.2017.4.04.7000, que poderia ter Duran como réu, mas não
tem, entrou em fase de alegações finais. A ação originária
(50565024620154047000), que ainda pode estar relacionada ao advogado, está em
segredo de Justiça.
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O Ministério Público acatou a ordem de Moro e apresentou uma denúncia apartada,
que só foi aceita pelo juiz em 29
de maio (ação penal 5019961-43.2017.4.04.7000). No mesmo despacho,
Moro disse que preferiria aguardar o resultado do processo de extradição antes
da citação por cooperação internacional.
-
Em 28 de julho, a imprensa divulgou
que a Espanha negou a extradição de Duran, mas advertiu que ele poderá ser
julgado naquele país com base nas informações enviadas pela Justiça brasileira
quando da ordem de prisão preventiva.
Folha
ainda expôs que Rosangela Moro e Zucolotto eram sócios, mas Moro afirmou que se
tratava de uma "sociedade de advogados sem comunhão de trabalho ou de
honorários", e que Rosangela "jamais trabalhou em processos do
escritório do sr. Carlos Zucolotto e vice-versa".
Uma
fonte que atua na Lava Jato em Curitiba afirmou ao GGN, contudo, que
"ao que parece" a esposa de Moro "saiu correndo" do
escritório em 2016, qando este entrou na mira de investigadores por
"prestar serviços para petrolíferas com interesse nos resultados da Lava
Jato".
Zucolotto,
por fim, disse que as acusações de Duran são inverídicas e não passam de uma
tentativa de implicar Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato, com o
objetivo de fugir de uma ação penal.
Do
GGN