A farsa processual está
mais do que nunca revelada e só mesmo um STF conivente ou sob chantagem pode
mantê-la. O Supremo pode e deve resgatar sua imagem.
Foto Gabriel Cardoso/SBT
Nos presídios do Brasil
é muito comum que criminosos usem telefones baratos (de poucos ‘baites’), mudem
de número ou de aparelho com frequência. As mulas flagradas com droga, no
Aeroporto de Guarulhos/SP, costumam negar saber que estão traficando. É comum criminosos
negarem seus crimes, mesmo diante de evidências. Aconteceu com os irmãos
Cravinhos (caso Richthofen), com os Nardones e com Fernandinho Beira-Mar. Todos
negaram seus crimes. É comum raposas negarem que comeram as galinhas, mesmo com
a boca cheia de penas. Afinal, vale a máxima do Latim: “Nemo tenetur se
detegere”(o direito de não produzir prova contra si mesmo).
O marreco de Maringá
nunca me enganou. Realizou a prisão ilegal de quase 300 pessoas, vazou
informações sigilosas para a imprensa, permitiu que audiência fosse transmitida
por celular para blogueiro simpatizante, exerceu ato de ofício em férias.
Mandou prender “suspeitos” dentro de hospital, condenou pessoas fora da lei e
sem prova – não raro os contrários ao seu ideário político. Leia-se, desafetos
políticos. Com sensacionalismo, aconteceu e brilhou encantando pessoas sob a
bandeira de combate à corrupção. Na leva, até corruptos ficaram contra a
corrupção (Aécio, Cunha, família Bozo). Mas, com a farsa
político-policialesca, acabou conseguindo selo de probidade, e ai de quem
criticasse seus atos.
Desse modo, o marreco
virou um “Grande Homem”, de quem se espera o óbvio: grandeza. Na década de
1990, na Suécia, a então vice-primeira ministra, Mona Sahlin, renunciou quando
descobriram que ela comprou uma barra de chocolates Toblerone com cartão
corporativo. Sem meandros ideológicos, grandes nomes quando flagrados até se
matam – seja por vergonha, vaidade, como resposta a uma grande injustiça, medo
da Justiça. Há quem queira preservar qualquer coisa num último gesto… Foi assim
com Hitler (Alemanha), Getúlio Vargas (Brasil), Pierre Bérégovoy (França) e
mais recentemente com Alan Garcia (Peru).
Que a Farsa Jato era
farsa sempre se soube, e não é hora de inventariar as provas anteriores. Os
holofotes da grande mídia projetavam na parede a figura de um pássaro gigante.
Veio um certo Glenn, jogou a luz por cima e revelou o tamanho real do marreco.
Eis que ele surge nanico e mentindo para o Brasil, dando nós em senadores mal
preparados, que com discursos longos, confusos abrem espaço para evasivas do
marreco. O ex-juiz prevaricou, sim, agiu por interesses pessoais/políticos,
tramou contra a defesa e condenou sem provas o ex-presidente Lula.
Cadê os grandes homens
da Farsa Jato? O que se esperaria? Ah, estão pondo em dúvida nosso trabalho?
Aqui estão nossos celulares, nossas contas, nosso trabalho, investiguem e
apontem onde erramos. Da associação de procuradores da República e da
representação dos juízes se esperaria o óbvio: primeiro, apoio aos seus pares.
Segundo, pedir que se investigue. Fizeram só a primeira parte, ignorando o
conteúdo criminoso das revelações. Reafirmando em síntese a infâmia: é normal o
conluio de acusadores com juízes.
Bom lembrar que a TV
Globo não é exemplo de ética jornalística. Filmagens e gravações clandestinas,
as edições criminosas contra o ex-presidente Lula falam por si. Mas, ao
constatar falha na postura de um de seus repórteres, no Caso Neymar, o afastou
e emitiu nota: “Há evidências de que as atitudes dele neste caso contrariaram a
expectativa da empresa sobre a conduta de seus jornalistas”. Na Operação
Satigraha, a Globo teve atitude semelhante, dando sinais de querer preservar
sua imagem, mesmo suja.
Toda podridão está
lançada. Em novos áudios revelados, o marreco chama de tontos os tontos do MBL.
Nega gravações, mas pede desculpas pelo que supostamente “não disse”. O
afastamento de uma procuradora “fraquinha”, a proteção a FHC, o “In Fux we
trust”, o controle de mídia são sinais inequívocos de ação manipulada. O que
falta? Mais revelações?
Durante a audiência no
Senado, o marreco revelou traços psicopatas que só a Psiquiatria Forense
explica.
Enquanto isso, os
oficiantes da Farsa Jato se encolhem e, com embustes, fabricam álibis e teorias
conspiratórias. Um dos jornalistas mais premiados do mundo é
preconceituosamente desqualificado, como se estando a serviço de uma ORCRIM.
A farsa processual está
mais do que nunca revelada e só mesmo um STF conivente ou sob chantagem pode
mantê-la. O Supremo pode e deve resgatar sua imagem. A confissão do marreco
quanto aos seus próprios crimes não está nem nos autos nem nas gravações do
Telegram, mas sim na defesa pública que ele faz das provas obtidas por meios
ilegais. O marreco é réu confesso. Num “pronto falei”, é de se concluir que ele
e demais envolvidos na fraude processual agem, não com grandeza, mas com a
pequenez moral de muitos bandidos mequetrefes em programas sensacionalistas
como Ratinho. Negam tudo.
Armando Rodrigues
Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e
ex-integrante da Interpol em São Paulo.
Do GGN