Fundo
de investimento que será gerido pelo Ministério Público é fruto da parceria
nebulosa entre os procuradores de Curitiba e os EUA. Provavelmente a mesma que
Sergio Moro tentou preservar dos holofotes da mídia durante o julgamento de
Lula.
Conquistado
por meio da Lava Jato, o fundo de investimentos bilionário que será criado em
Curitiba, com gestão de membros do Ministério Público, só foi possível graças à
parceria nebulosa entre os procuradores da República e autoridades dos Estados
Unidos.
A
turma liderada por Deltan Dallagnol emprestou ao Departamento de Justiça dos
EUA (DOJ) alguns dos delatores que tiveram passagem por diretorias da
Petrobras, como Nestor Cerveró. A cooperação ajudou o governo americano a
construir uma denúncia contra a estatal brasileira por prejuízos financeiros
aos investidores.
A
narrativa, muito similar ao que a Lava Jato vende em solo tupiniquim, está
registrada no comunicado
que o DOJ emitiu em setembro de 2018, ao anunciar a formalização de um
acordo de “não-acusação” com a Petrobras.
No
documento, o governo americano -que agradeceu o MPF e a Polícia Federal
brasileiros pela parceria – acusa ex-diretores da Petrobras de terem recebido
vantagem pessoal e facilitado o pagamento de propina a partidos e políticos. Os
subornos teriam sido contabilizados em contratos e aditivos assinados com
empreiteiras e fornecedores e, desse modo, balanços apresentados a investidores
internacionais foram considerados contaminados.
Sujeita
à jurisdição americana por vender ações na Bolsa de Nova York, a Petrobras
aceitou pagar um total de 1,8 bilhão de dólares em multas (o equivalente a 2%
da receita bruta da empresa em 2017) para evitar um processo em solo americano.
Especificamente
com o Departamento de Justiça, o acordo de não-acusação – “Non-Prosecution
Agreement” – estabeleceu o pagamento de 853,2 milhões de dólares.
Curiosamente,
o governo americano abriu mão de 80% desse valor (ou seja, de mais de 682
milhões de dólares) em benefício das “autoridades brasileiras”.
É
esse o montante que será injetado no fundo de investimento a ser controlado por
membros do MP Federal e paranaense, entre outros assentos. Se não depositar o
valor para o caixa conquistado pela Lava Jato, a Petrobras terá de pagar 100%
da multa aos EUA, diz o acordo.
Com
a SEC (Securities and Exchange Commission), que é a Comissão de Valores
americana, a Petrobras assinou um “cease-and-desist” que demandou o pagamento
de 933 milhões de dólares “em juros de desagregação e prejuízo”. Desse total
será abatido o que a empresa tiver de pagar em acordo de ação coletiva movida
por acionistas nos EUA – este e outros processos não serão suspensos em função
do acordo intermediado pela Lava Jato com o DOJ.
O
Conjur divulgou nesta quarta (6) o documento assinado pelos procuradores de
Curitiba que apresenta as diretrizes para a criação do fundo de investimento em
decorrência do acordo entre Petrobras e EUA (leia aqui).
Apesar de ter tomado à frente e de não prestar contas a outras instâncias, o
MPF não é a instituição beneficiada originalmente no acordo com o DOJ, que fala
de transferência dos valores ao “Brasil” ou a “autoridades brasileiras”.
A
Lava Jato alegou, no mesmo documento acima, que foi por “iniciativa” dos
procuradores da República e da própria Petrobras que os EUA “consentiram” em
abrir mão de 80% do valor da multa. A força-tarefa não explicou o que o governo
americano ganhou sendo generoso ao ponto de ficar apenas com 20% dos valores
envolvidos.
A COOPERAÇÃO NEBULOSA
O
papel dos delatores da Lava Jato em investigações conduzidas nos EUA, com ajuda
formal ou informal dos procuradores de Curitiba, foi alvo de polêmicas durante
o julgamento de Lula no caso triplex.
Em
diversas oportunidades, a defesa do ex-presidente tentou tocar no assunto, mas
o então juiz Sergio Moro tolheu qualquer esclarecimento sobre o que os colaboradores
premiados pela Lava Jato contaram às autoridades americanas.
Há
ainda a informação de que uma parte do esforço de cooperação se deu à revelia
da autoridade central brasileira para estes casos, que é o Ministério da
Justiça.
O GGN apurou
que o acordo da Petrobras com a SEC mantém o nome de ao menos 5 delatores da
Lava Jato em sigilo, informando apenas que são “cidadãos brasileiros” com
passagem pelas diretorias de Serviços, Engenharia e Internacional, por exemplo.
SOB O NARIZ DO SUPREMO
Não
é a primeira vez que a Lava Jato de Curitiba tenta criar um fundo de
investimento com recursos levantados a partir da devassa na Petrobras.
Em
junho de 2016, o então ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki
negou a hipótese de o MPF controlar um caixa com 20% dos valores resgatados
pela operação com a repatriação de recursos ligados a Paulo Roberto Costa.
O
STF indicou, na oportunidade, que não há previsão legal para que o Ministério
Público desempenhe tal função.
Segundo
o Conjur, menos de seis meses após a decisão de Teori, os procuradores se
voltaram para a opção de ajudar os EUA em investigação contra a Petrobras. O
resultado foi o acordão convenientemente homologado pela 13ª Vara Federal de
Curitiba, que resultará num fundo privado com mais de 600 milhões de dólares.
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GGN