Só os muito descarados ou muito burros acreditam que os
processos supersônicos contra Lula na Justiça Federal tiveram caráter jurídico.
Uma das muitas provas de que esses processos são políticos reside na diferença
de tratamento que o ex-presidente e todos os outros petistas recebem. Porém, o
julgamento do pedido de habeas corpus de Lula pelo plenário do STF obrigará a
Corte a um julgamento sério, do tipo que o ex-presidente não teve até agora.
É muito fácil de entender que, apesar de não faltarem juízes
dispostos a prender Lula, sua prisão pode colocar em risco até mesmo o processo
eleitoral, além de desencadear a abertura de um processo na ONU contra o Brasil
para investigar perseguição do Estado brasileiro contra o ex-presidente.
Na última sexta-feira, o ministro do STF Edson Fachin, também
conhecido como Edson Fraquim, negou o pedido de habeas corpus preventivo ao
presidente Lula para que não possa ser preso antes de seu último recurso à
Justiça ser negado.
O STF, vale entender, é uma corte constitucionalista e
política. Suas decisões sempre se baseiam no texto constitucional – ou na
interpretação deste – e no viés político dos ministros. Como são todos
indicados por presidentes, eles acabam tomando decisões diferentes para casos
iguais de acordo com suas injunções políticas.
O Caso mais rumoroso de decisões diferentes para casos
idênticos foram tomadas pelo STF para o então senador petista Delcídio do
Amaral (2015) e o senador tucano Aécio Neves (2017). Em 2015, o STF mandou
prender Delcídio por considerar gravação comprometedora com a voz dele como
“flagrante”, mas em 2017 o mesmo STF não considerou “flagrante” gravação
comprometedora de Aécio Neves e negou sua prisão
As situações eram idênticas tecnicamente, mas não
politicamente – Aécio tinha grande apoio no senado.
Como Corte política, o STF tem uma composição atual que é
majoritariamente contra a prisão de réus após condenação em segunda instância.
Fachin, um dos ministros que é favorável a prisão após condenação em segunda
instância, negou o pedido de habeas corpus de Lula e mandou a decisão ao
plenário – ou seja, aos 11 ministros do STF – para aumentar as chances de sua decisão
ser mantida, mas vai perder. A maioria do STF é contra.
A decisão que o Plenário do STF tomar sobre Lula valerá para
outros réus, inclusive os intocáveis tucanos. Além disso, tomar uma decisão
para Lula e mudá-la para outros, como no caso de Delcídio e Aécio, reforçará a
versão de que Lula está sendo perseguido.
Uma eventual prisão de Lula fará seu caso na ONU andar muito
mais rápido. Casos de réus presos ou com pena de morte decretada furam a longa
fila da ONU sobre violações de direitos humanos de líderes políticos como Lula
pelos governos de seus países.
Além disso, recente pesquisa Datafolha mostra que haverá um
vazio eleitoral se Lula não concorrer; votos brancos e nulos iriam a 32% do
eleitorado.
A possibilidade de uma eleição assim ser marcada por
confrontos físicos, grandes manifestações com denúncia de fraude, enfim, uma
comoção social que tire a legitimidade da eleição não interessaria ao
Judiciário e ao país.
Por fim, a magistratura brasileira está preocupada com a sua
imagem no exterior. A Associação dos
Magistrados do Brasil (AMB) chegou a protestar contra a denúncia que Lula fez
na ONU contra o Judiciário brasileiro.
Quanto mais alta a Corte, maior a preocupação com o que o
mundo diz do Brasil. Em tese, no STF há preocupação máxima.
Além disso, convulsionar uma eleição tirando o maior líder
político do Brasil da disputa não produzirá nenhum benefício nem aos inimigos
de Lula, sobretudo se vierem a ter chance de vencer. Leia-se Mídia, PSDB e
partido do Judiciário, ligado aos dois primeiros.
Para os golpistas, compensa muito mais esperar a condenação
de Lula em última instância. Deixam-no inelegível, de fora da disputa eleitoral
e não o transformam em mártir, porque imagine, leitor, se a ONU abrir processo
contra o Brasil por perseguir Lula ANTES da eleição…
Lula se tornará um mártir no dia seguinte, para o Brasil,
para o mundo e para a história. E isso poderá mudar – ou manter – curso da
eleição. Mudar se ele estiver perdendo e manter se estiver ganhando. Por
conta disso, duvido de que o STF vá encarcerar Lula em uma cela em pleno
processo eleitoral.
Assista, abaixo, a reportagem em vídeo:
Do Blog da Cidadania