Rodrigo Maia sentou em cima de um pedido de impeachment de
Michel Temer, com a chancela da OAB, há meio ano. Quando vai apreciar? A
cobrança é de Janio de Freitas, na Folha, que aponta o erro de tal decisão
estar a cargo de uma única pessoa, o presidente da Câmara. Mesmo erro apontado
por ocasião do impeachment de Dilma, em que a decisão estava nas mãos de um
único interessado, Eduardo Cunha.
Janio aponta que o desempenho de Maia, desde tornado
presidente da Casa, tem sido surpreendente, sem espalhafato midiático, dentro
da Constituição e do Regimento da Câmara. Afirma que isso o fez crescer muito
como político, mas que a apreciação do pedido de impeachment o coloca em
evidência, com dever de desenterrar a ação contra o governante mais rejeitado
do mundo e que sem mantém no cargo e no poder ao custo de dezenas de bilhões do
dinheiro público.
O que virá agora com este pedido sendo apreciado? O que fará
maia com um governante nas condições de Temer? Há mais que um Temer, todo um
povo clama por um Fora, Temer!
Leia o artigo a seguir.
na Folha
por Janio de Freitas
Nem Michel Temer ficou livre do risco de destituição, nem
esse risco depende da Procuradoria-Geral da República recém-reformada, e ainda
cinzenta sobre acusações criminais que ele e seus controlados na Câmara não
desmontaram. Há quase meio ano, um pedido de impeachment de Temer, com a
chancela da OAB, aguarda a definição do seu destino, entre a apreciação e o
arquivamento.
Por um dos muitos erros de procedimentos institucionais, essa
definição está a cargo de uma só pessoa, o presidente da Câmara. Para Eduardo
Cunha, no caso de Dilma Rousseff, foi fácil a decisão: bastou a recusa da
presidente à chantagem de acionar o PT para defendê-lo da destituição, ou daria
andamento ao impeachment presidencial. Para Rodrigo Maia, a decisão é um
problema funcional e uma encruzilhada política.
O desempenho de Maia tem surpreendido mesmo entre seus
colegas. Até agora, manteve-se com rigor, e sem espalhafato midiático, nos
limites da Constituição, do Regimento da Câmara e do uso da autoridade. Cresceu
muito como político, um salto da zona sombria para o nível pouco habitado das
vozes procuradas –nem todas por boas qualidades.
Os meses em que Maia retém a iniciativa da OAB coincidem com
a conveniência de não sobrepor, por seu efeito tumultuoso, duas ações contra
Temer, sendo a outra a da Procuradoria-Geral da República. Esta, porém, foi
vencida. E Rodrigo Maia deve a decisão pendente.
Quem está em jogo nessa decisão é o político agora honrado
com a classificação de governante mais rejeitado do mundo. E olha que a consultoria
internacional Eurasia deu a Temer 7% de aprovação, explicados como índice
obtido na pesquisa CNI/Ibope. Nesta, porém, a aprovação de Temer está em 3%, e
no Datafolha em 5%. Mesmo com o índice caridoso, Temer está longe dos 18% de
aprovação do segundo pior, Jacob Zuma, da África do Sul. Nicolás Maduro, com
23%, tem mais de três vezes a aprovação de Temer.
Um governante com 3% ou 5% de aceitação tem, na prática, a
unanimidade do país contra sua presença no cargo que não usa. Ou só usa em seu
proveito, seja para atividades que o põem sob acusações de crimes de corrupção
e formação de quadrilha. Seja para a imoralidade criminosa com que usa cargos e
verbas públicas na compra de deputados que protelem os processos criminais.
Operação em que foi exposta uma falta de escrúpulos como jamais vista em
governos deste tão pouco servidos de escrúpulos.
Por duas vezes, ao custo de dezenas de bilhões do dinheiro
público, Temer reteve na Câmara a ação que o retiraria da Presidência. O que
fará, na terceira ocasião ameaçadora, para que Rodrigo Maia reproduza o que
antes coube ao plenário de metade comprada? E o que fará Rodrigo Maia com um
governante nas condições policiais, judiciais, imorais e repelido nacionalmente
como Temer?
O pretexto das reformas, em favor de Temer, está eliminado
pelo próprio Rodrigo Maia e por Eunício Oliveira: os presidentes da Câmara e do
Senado reiteraram com ênfase, ao final da semana, não haver condições para que
o Congresso venha a aprovar reformas. Além de mais um desmentido ao que estão
dizendo Temer e Henrique Meirelles, que anuncia aprovações dentro de uns 30
dias, os dois presidentes declaram a plena inutilidade de Michel Temer mesmo
para os que o amparam por esperança em reformas.
No jogo a ser decidido pelo presidente da Câmara há mais do
que Michel Temer. Há também a imagem feita por Rodrigo Maia, com o desempenho
na crise, e sua relação com o povo que pede "Fora Temer!".
GGN