Há
uma velha máxima no futebol com respeito à figura mítica do perna de pau: “Esse
aí pode deixar que a natureza marca”.
O
procurador Deltan Dallagnol é o principal agente desmoralizador de si mesmo.
Não precisa de ninguém para se ocupar disso.
Nele
se unem a megalomania, a ambição, a arrogância, a fama, a fé evangélica e a
falta de noção, resultando num pacote de auto constrangimento e vergonha
alheia.
Dallagnol
embarcou numa ego trip que ninguém mais controla. De Silvio Santos a Elton
John, passando pelo dono da Riachuelo, é comum o sujeito perder o senso do
ridículo, mas depois de um certo tempo.
Deltan
está passando por isso precocemente, aos 36 anos. Vive cercado de yes men que
não o censuram mais. E pensar que você paga o bom salário do homem.
Alguém
que cita
a si mesmo sete vezes, mais Sherlock Holmes e uma teoria que ele mesmo
criou (o “explanacionismo”) numa peça jurídica deveria ser chamado de lado pelo
juiz e instado a tirar uns dias de folga para pôr a cabeça no lugar.
Ao
invés disso, Dallagnol vai faturando. Suas palestras são vendidas por um cachê
entre 30 e 40 mil reais, como se vê num site
que o agencia juntamente com Ana Paula Padrão, Caio Ribeiro, Família
Schürman, entre outros.
O release
é inacreditável. “Quando aparece para uma entrevista, fica claro que ele
preparou cada tópico da fala e não foge do roteiro”, lê-se.
“Assim,
dribla a timidez. Cordial, emprega frases de efeito, que também recheiam os
processos. Para ele, por exemplo, Lula é o ‘comandante máximo’ do desvio de
recursos da Petrobras”.
Como
assim? Então era uma frase de efeito, um truque, para deleitar a plateia? Não
importa? Tudo bem para o Lula ou não vem ao caso?
A
repórter Anna Virginia Balloussier fez um relato na Folha sobre uma
apresentação de Dallagnol num congresso da ala paulista da Sociedade Brasileira
de Cirurgia Plástica.
“Nós
antes éramos os golpistas. Agora nós somos os golpistas dos golpistas? Eu fico
confuso”, disse.
Sacou?
Dallagnol
fez merchã de seu livro e adaptou a cantilena ao público. “O país
está desfigurado. Precisamos de uma cirurgia reconstrutiva. Acho que vim no
lugar certo para pedir ajuda”, falou.
Pegou?
Outra:
“Você já teve um paciente que se olhava no espelho e se achava mais bonito do
que era? O Brasil se olhava no espelho e se achava mais bonito do que era. A
corrupção vende ilusões”.
Quem
o introduziu foi o cirurgião Rolf Gemperli, um tipo que costumava
aparecer na bancada do Jornal da Cultura, de SP, com comentários pedestres.
Num
deles, defendia o fim do voto obrigatório porque eleições deviam ser só para
quem tem “conhecimento da política”.
“Gosto
dos médicos porque médicos gostam da Lava Jato”, declarou Deltan.
O
ponto alto do show foi quando um espectador quis saber se ele tinha uma
“previsão real” para a prisão de Lula.
“Vou
exercer meu direito constitucional de ficar em silêncio”, respondeu Dallagnol.
Sacou?
Na
semana passada, ele comemorava a marca de 100 mil seguidores no Twitter. A
jornalista e blogueira Nina Lemos deu-lhe uma bronca, lembrando-o que não é
“uma blogueira teen”.
Nina
errou. No fundo, Dallagnol não passa muito disso. Lula e a batalha contra
corrupção viraram um filão que DD, Moro e seus cometas exploram.
Enquanto
durar a Lava Jato, e ela não tem hora para terminar, eles vão se dar
bem. Se a grana é oriunda, eventualmente, de uma categoria extremamente
afeita a sonegar impostos, como a dos médicos, não tem problema.
Business
is business. O importante é dar um jeito nesse país. Eu não tenho culpa, eu
votei no Aécio.
Do
DCM