Roberto D’Avilla
Foi no programa de Roberto D’Ávila, da Globonews, que Edson
Fachin disse que estava sendo ameaçado. Não apresentou provas nem citou nomes.
Apenas jogou a suspeita no ar, e insinuou que as ameaças estariam partindo de
quem estaria insatisfeito com suas decisões na Lava Jato.
O que o público não sabe é que Fachin, naquela entrevista,
estava diante de um nome alcançado pela operação conduzida pela Polícia
Federal, operação que tem em Sergio Moro o líder de fato e em Fachin, seu
convalidador.
D’Avilla foi dono da Intervídeo, a produtora que um delator
da Lava Jato diz ter usado para dissimular o patrocínio do Grupo Schahin para o
filme “Lula, o filho do Brasil”.
Temendo o indiciamento do apresentador da Globonews por
falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, seus advogados encaminharam ao
delegado da Polícia Federal Filipe Hille Pace, no dia 22 de junho, um ofício em
que requerem (sic) a exclusão de D’Avilla do inquérito e, entre as razões
expostas, dizem que, se indicado, o jornalista terá sua “morte civil”
decretada. Lembram:
“O Sr. Roberto D’Avilla é jornalista de renome nacional e
internacional, com mais de 42 (quarenta e dois) anos de carreira na área,
gozando de enorme reconhecimento, constituindo-se em um dos decanos dos
entrevistadores brasileiros e, atualmente, conduzindo e protagonizando um
programa intitulado por seu nome no canal Globonews — tamanha é a sua
credibilidade e respeitabilidade no meio”.
Os advogados dizem também que ele “não deve continuar a
sofrer a sombra da persecução penal injusta”, pois “sua biografia, que se
confunde com a própria imagem e a excelência de sua atuação profissional,
depende diretamente de seu prestígio e confiabilidade.”
Por muito menos do que é atribuído a D’Avila, a Polícia
Federal, o Ministério Público Federal e o juiz Sergio Moro mandaram para a
cadeia — ou conduziram coercitivamente — pessoas citadas na Lava Jato. Mas, no
que diz respeito a D’Avila, os fatos foram mantidos em sigilo. Não houve
vazamento.
D’Avila passou a ser, efetivamente, investigado quando Milton
Schahin, um dos donos do Grupo Schahin, formalizou o termo de colaboração
premiada com a força-tarefa coordenada pelo procurador Deltan Dallagnol.
Schahin disse que, em 2009, quando foi produzido o filme
sobre a biografia de Lula, ele esteve num encontro a sós com Roberto D’Avila
para definir como poderia colaborar com R$ 1 milhão de reais para a produção do
filme, sem que seu nome aparecesse nos créditos da obra.
Depois disso, foi celebrado contrato entre a empresa de
D’Avila e o grupo Schahin, para a produção de um vídeo institucional. O
dinheiro foi repassado, a empresa de D’Avila enviou as faturas, com nota
fiscal, só que o vídeo objeto do contrato nunca foi feito.
E nem era para ser feito, segundo Shahin. De acordo com ele,
o envolvimento de D’Avila no caso se deu por iniciativa do ex-ministro Antônio
Palocci, na época deputado federal.
No depoimento de colaboração, ele disse que foi procurado por
Palocci e pressionado a colaborar com o filme. De acordo com o empresário, esta
era uma das condições para renovar contrato de Schahin com a Petrobras.
Depois disso é que D’Avila teria entrado em contato e
acertado como ele poderia colaborar com o filme sem que o nome aparecesse.
O apresentador da Globonews prestou depoimento à Polícia
Federal e negou que tenha se encontrado a sós com Shahin, mas admitiu que o
vídeo não foi feito, por desistência de Schahin. Mas o dinheiro repassado aos
produtores do filme.
Nos argumentos apresentados para exclusão de D’Avila do
inquérito, os advogados lembram que o contrato diz respeito a duas empresas
privadas e, portanto, não poderia ser relacionado direta ou indiretamente a um
caso de corrupção.
Se ele não prestou serviços pelos quais a empresa recebeu,
isso diria respeito apenas às partes. Sobre a delação de Schahin, afirma que
ela deveria ser desconsiderada, já que a delação sem provas não serve para
fundamentar indiciamento ou acusação.
Por mais que os advogados critiquem, e é um direito deles,
além de existirem razões para criticar o ambiente de caça às bruxas criado pela
Lava Jato, não se discute a pertinência da investigação.
O ironia dessa história é que, como no caso do triplex do
Guarujá, a Lava Jato queria encontrar algo que derrubasse Lula, mas acabaram
encontrando documentos que comprometiam a filha de João Roberto Marinho, um dos
donos do Grupo Globo, que mantém a Globonews.
Algumas unidades do condomínio tinham sido compradas por
empresas de paraíso fiscal, abertas pelo escritório Mossack Fonseca, do Panamá
Papers.
Os investigadores perseguiram a pista da Mossack, talvez
imaginando que encontrariam Lula ou alguém da família, mas encontraram Paula
Marinho, filha de João Roberto, inclusive manuscrito supostamente dela indicando
como pagaria pela offshores que é formalmente proprietária de outro triplex,
este ilegal, construído na área de proteção da natureza em Paraty.
A investigação foi abortada, os responsáveis pela Mossack no
Brasil, soltos, mas Lula continuou na mira da Lava Jato até o desfecho do que
poderia ser um roteiro de um filme sobre conspiração: a prisão do
ex-presidente.
Desta vez, com o filme “Lula, o filho do Brasil”, a Polícia
Federal mais uma vez buscou Lula e encontrou D’Avila, na ponta de uma trama
que, segundo o delator Shahin, foi construída por Palocci.
Sobre o filme, não é verossímil imaginar que um presidente
com mais de 80% de aprovação popular precisasse recorrer a expedientes escusos
para viabilizar a produção.
Num jargão da comunicação, Lula é um excelente produto, sua
imagem vende.
Schahin não querer aparecer nos créditos dos filmes é natural
para um grupo que mantém relacionamento com governos de todos os partidos.
Se aparece prestigiando um presidente filiado ao PT, pode ter
problemas com um governador do PSDB. Isso é do jogo.
O estranho nesta história é o papel da Intervídeo.
Se fosse uma produtora de alguém sem a fama e o prestígio de
D’Avila, como justificar o pagamento de R$ 1 milhão (em valores da época) para
a produção de um vídeo institucional?
O contrato parece ter sido de fachada, uma operação da mesma
natureza dos patrocínios angariados pelo publicitário Marcos Valério em Minas
Gerais, com o governo de Eduardo Azeredo, na origem de todos os mensalões.
A Polícia Federal ainda não decidiu se indicia ou não Roberto
D’Avila, mas permanece com o inquérito guardado, longe de vazamentos.
Os lavajateiros têm um problema na mão: queriam pegar Lula,
mas encontraram um astro da Globo.
Do DCM