Matéria da Folha revela uso
fraudulento de dados de idosos para garantir disparo em massa em benefício de
políticos.

Imagem divulgada por ex-funcionário da Yacows. Reprodução.
Uma ação movida na Justiça do Trabalho pelo ex-funcionário da
Yacows, Hans River do Rio Nascimento, revela que empresas de envio de mensagens
em massa pelo WhatsApp, que atuaram nestas eleições, recorreram ao uso
fraudulento de nome e CPF de idosos para registrar chips de celular. A
informação é da Folha de S.Paulo, em reportagem assinada por Artur Rodrigues e
Patrícia Campos Mello.
Os repórteres entraram em contato com Nascimento por diversas
vezes. As primeiras conversas aconteceram em 19 de novembro e foram
"sempre gravadas". Ele foi ex-funcionário de uma das empresas dos
irmãos Lindolfo Alves Neto e Flávia Alves, responsáveis pelas agências Yacows,
Deep Marketing e Kiplix, todas localizadas no mesmo endereço em Santana, zona
norte de São Paulo.
A ação movida por Nascimento é de causa trabalhista por uma
contratação que durou de 9 de agosto a 29 de setembro, com salário de R$ 1.500,
alegando não ter recebido horas extras, por diversas vezes não ter feito pausa
para almoço, além de não ter sido registrado.
À Folha, ele afirmou que as empresas usaram nomes de CPFs e
datas de nascimento de pessoas na faixa dos 65 a 86 anos, nascidas entre 1932 a
1953, e que ignoravam o uso de seus dados para cadastrar chips de celulares.
Uma lista de 10 mil nomes dessas pessoas foi enviada à reportagem do jornal,
que teria sido distribuída pela Yacows com a finalidade de aumentar o número de
telefones para disparos de mensagens. Por lei, cada chip em uso deve ser
cadastrado a um CPF existente. E a necessidade de um grande número de CPFs se
dava porque o WhatsApp barra números que enviam grande volume de mensagens,
evitando spam.
Em outubro, dias antes do segundo turno da eleição, a Folha
divulgou uma matéria mostrando que empresários pagavam para impulsionar
mensagens anti-PT na disputa eleitoral. A publicação levou o WhastApp a
bloquear contas ligadas às agências Quickmobile, Croc Services, SMS Market e
Yacows, citadas na reportagem.
Além da lista com os 10 mil nomes de dados de idosos
utilizados para o cadastro de CPF, a Folha conta que Nascimento compartilhou
com os repórteres fotos de caixas com chips e salas cheias de computadores
ligados a diversos celulares e chipeiras, equipamento que usa chip de celulares
para imitar o WhatsApp e fazer disparos.
"Uma vez ativados com os dados usurpados, os chips eram
usados em plataformas de disparos em massa no WhatsApp", destaca a
matéria, acrescentando a informação do ex-funcionário de que "cerca de
99%" do trabalho que faziam eram para campanhas políticas e 1% para a
marca de cosméticos Jequiti.
A matéria ressalta que, no último dia 25, Nascimento voltou
atrás e pediu para a Folha retirar seus depoimentos das publicações. A
solicitação foi feita, após fazer um acordo com a antiga empregadora,
registrado no processo.
"Pensei melhor, estou pedindo pra você retirar tudo que
falei até agora, não contem mais comigo" disse em mensagem de texto para o
jornal. Para ler a matéria da Folha a íntegra, clique aqui.
GGN