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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Troca pífia de comando na PF, num país refém de uma farsa, por Armando Coelho Neto

Aposentei voluntariamente da PF, após mais de três décadas servindo à instituição. Um poucos antes de minha saída, recebi como tarefa uma insípida, monocórdia e repetitiva atividade, que eu com algumas falhas, realizava resignado. Era um “CTRL C” mais “CTRL V” (cópia e cola), num ridículo aproveitamento de arquivos anteriores.​
Um pouco antes, tive a oportunidade de mergulhar no trabalho da instituição, via tarefa que me fora deferida pela corregedoria. Ao concluir meu trabalho, apontei falhas gravíssimas, fato que desagradou a muita gente. Despachos protelatórios, investigações sem conteúdo, mortos intimados, sucessivas e inócuas trocas de autoridades e um reiterado vai e vem de inquéritos, da PF para a Justiça e vice-versa, prazos não cumpridos, sob ineficiente fiscalização do Ministério Público Federal. E foi assim que fui fazer “CTRL C + CTRL C”.
A dramática realidade da amostragem era o contrário da eficiência demonstrada na Farsa Jato. Politizada e dirigida contra Lula/PT tem como princípio o “Lula sabia”. Quando o dizem, recorrem à lógica dedutiva. Com base no mesmo princípio, digo, pois, que Globo/Veja/Moro também sabiam a esbórnea na qual colocariam o país. Posso deduzir que mexeram no vespeiro sabendo do antes. “Eles sabiam”.
Voltemos ao relatório. Segundo consta, por ordens superiores, meu trabalho deveria ser refeito. O servidor encarregado da missão, por concordar comigo, se recusou a cumprir aquela ordem. Por se recusar, foi destituído de um cargo de comissão. É o que diz a lenda, que veio seguida da notícia paralela de que meu relatório poderia prejudicar a indicação do diretor geral da Polícia Federal. À bocas miúdas contava-se que forças ligadas ao impostor Michel Temer queria indicar o comando da instituição. E foi assim que teriam atropelado a lista elaborada por entidades de classe dos delegados.
A tal lista não tem previsão legal, mas, formalmente mira democratizar e legitimar a escolha da Chefia Nacional. Os candidatos apresentam propostas de trabalho, são submetidos a sabatina diretas e democráticas. Os eleitores fazem perguntas sobre problemas cruciais da instituição, desde questões estruturais a conflito entre categorias e instituições. Somente após os debates ocorrem as eleições e os mais votados integram a tal lista.
A tal lista nunca foi respeitada pelo Ministério da Justiça. Foi o caso do ex-diretor geral Leandro Daielo, que segundo suspeitos noticiários não estava entre os mais bem votados. Caso também do recém nomeado Fernando Segovia, que nem de forma suspeita apareceu na lista.
A nomeação de Segóvia comporta considerações gerais. Primeiro que, a classe média golpista já acostumada com as interferências no trabalho da PF, conseguiu induzir na cabeça das esquerdas que tais interferências seriam legais, funcionais. Não eram. E por acreditar nisso, queriam velada ou ostensivamente que a direção geral da PF colocasse cabresto na Farsa Jato. Não podia e ainda por cima a legitima Presidenta Dilma sancionou lei nesse sentido.
A segunda consideração a ser feita é que a autoimagem que a categoria faz de si mesma não bate com a realidade. Não tem qualquer proposta efetivamente republicana e há sempre gatos nas tubas que apresenta. Seus projetos ora miram as brigas internas com as demais categorias; ora estão de olho na equiparação com demais carreiras jurídicas; ora querem empoderamento e melhores salários.
Do outro giro, não se pode garantir que demais categoriais tenham efetivos olhos voltados para a sociedade. O projeto de carreira única, por exemplo, tem mais odor de confronto com os delegados do que aparenta. O recente arroubo de um representante de classe, conclamando o povo à luta e prometendo apoio ao povo, não passou disso: um arroubo.
Nenhuma categoria da PF manifestou a mínima solidariedade com os demais trabalhadores da iniciativa privada, do campo, durante ou depois da “deforma trabalhista”. Todas elas silenciaram sobre o retrocesso na fiscalização do trabalho escravo.
Desse modo, o vídeo que viralizou na net, com pretensa aliança da PF foi bravata inócua. Hoje, os servidores da PF estão com a aposentadoria ameaçada, reajuste suspenso e um confisco salarial em curso. No pacote, uma garfada também nos proventos dos inativos, que em grande maioria engrossou o coral do golpe. A saída foi bater panelas, digo, bater às portas de um STF moralmente falido, por integrar "o grande acordo nacional com o supremo e tudo", enquanto o "glorioso" Exército monitora o MST...
A exemplo do STF e MPF, a Polícia Federal vive desconectada da realidade social. O que atinge o povão não lhes fustiga. Vive no apartidarismo de direita e ainda não se deu conta de que entrou no engodo Globo/Veja/Moro/USA. O medo do comunismo, fabricado pelos robozinhos do golpe (Globo, MBL e da bancada do boi, da bala e da bíblia), foi mais forte. A PF não assume que ajudou no golpe de 2016 e hoje seus servidores tropeçam nas conseqüências, replicando o mantra "Culpa do PT".
Com esse perfil, a PF é carta fora do baralho. Daqui pra frente, paradoxalmente, só pode atrapalhar a quadrilha que por inocência, burrice, medo ou conivência içou ao poder. Não à toa alguns policiais exibiram em suas páginas o dístico: "PF a única e real oposição ao PT".
É difícil concluir que um governo cercado de escândalos, com ares de mafiosos, de crime organizado no aparelho estatal, envolvido em medidas escabrosas, tenha eleito como exceção, mesmo simbólica,  o comando da Polícia Federal. Tomara que sim!
Nesse contexto, a troca de comando é pífia e perfunctória. Qualquer diretor geral escolhido pelos delegados não tem apoio de peritos, agentes e outros. Para vencer a barreira da maioria, o tal Segovia (indicação de sabe Deus), rejeitado por grande parte de seus pares, cuidou de se socorrer junto às demais categorias. 
Na melhor das hipóteses, o impostor Temer quer por a PF (em especial os delegados) em seu devido lugar de zero à esquerda. Foi bom enquanto durou, enquanto foi útil ao golpe, à precarização da mão de obra e da indústria nacional que, hoje barateadas, estão na condição de pescoço dialogando com guilhotina.
O país permanece refém da Farsa Jato. Ou devolve o Brasil à matriz ou vem represália. Será? E o eles sabiam? Ao mesmo tempo, Lula como cereja do bolo dos traidores, não sai da mira do golpe.
Enquanto isso, o deus mercado que não tem ética, nem moral, nem escrúpulos serve de ungüento sobre a chaga nacional. Mesmo assim, a mídia trata com grandiloquência a pífia troca de seis por meia dúzia na decadente Polícia Federal. Arrrr!!
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
GGN