A presidente da missão de observadores da Organização de
Estados Americanos (OEA) para as eleições brasileiras, Laura Chinchilla,
disse hoje (25) que o Brasil enfrenta um fenômeno “sem precedentes”
em relação a difusão de notícias falsas. Segundo ela, o fato preocupa o grupo
de especialistas que deu o alerta já no primeiro turno das eleições.
“Outro fator que tem nos preocupado, e isso alertamos desde o
primeiro turno, e que se intensificou neste segundo, foi o uso de notícias
falsas para mobilizar vontades dos cidadãos. O fenômeno que estamos vendo
no Brasil talvez não tenha precedentes, fundamentalmente, porque
é diferente de outras campanhas eleitorais em outros países do mundo.”
Laura Chinchilla, que é ex-presidente da Costa Rica,
reuniu-se hoje, em São Paulo, com o candidato do PT à Presidência,
Fernando Haddad, a vice na chapa dele, Manuela d’Ávila, e o chanceler
Celso Amorim. A reunião foi solicitada pela Coligação O Povo Feliz de
Novo.
O grupo de observadores reúne 48 especialistas de 38
nacionalidades. Eles vão se dividir entre o Distrito Federal e 11 estados para
o acompanhamento do segundo turno das eleições. Ao final,
será elaborado um relatório.
Denúncias
A presidente da missão afirmou que recebeu por escrito as
denúncias sobre o esquema supostamente financiado por empresários para o envio
em massa de notícias anti-PT utilizando o WhatsApp. Ela disse que repassou as
informações para as autoridades eleitorais e policiais brasileiras.
Laura Chinchilla disse que pretende se reunir ainda com a
procuradora-geral, Raquel Dodge, para discutir essa disseminação de fake news
na internet e em aplicativos. Ela não afirmou, entretanto, quando será o
encontro.
Análise
Para a presidente da missão de observadores, o uso do
aplicativo de mensagens particulares dificulta o controle das autoridades em
relação à disseminação de informações falsas, por ser uma rede privada e
protegida.
“Se está usando uma rede privada, que é o WhatsApp, que
apresenta muitas complexidades para ser investigada pelas autoridades. É uma
rede que gera muita confiança porque são pessoas próximas que difundem as
notícias e é a mais utilizada, com um alcance que nunca se tinha visto antes.”
Segundo Laura Chinchilla, o controle está na concientização
do eleitorado brasileiro. “Continuaremos insistindo na necessidade que os
cidadãos aprendam e façam um grande esforço para distinguir o que é certo e o
que não é. Existem muitas iniciativas que estão tentando colocar isso na mesa.
Iniciativas que estão se organizando na sociedade civil, nas universidades e
nos meios de comunicação.”
Violência
Laura Chinchilla disse que além das fake news, preocupa a
missão o tom utilizado em alguns discursos incitando a violência a partir de
divergências políticas. Apesar de episódios isolados, ela afirmou que não
houve irregularidades registradas no primeiro turno.
“Temos que reconhecer que esse processo eleitoral, onde não
encontramos nenhum tipo de irregularidade no primeiro turno e esperamos que
seja assim no segundo, foi fortemente impactado por alguns fenômenos ligados ao
clima político, sobretudo o discurso, que alertamos, tende a dividir, tende a
incentivar a violência política.”
Edição: Lílian Beraldo/Agência Brasil.
GGN