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quinta-feira, 27 de junho de 2019

SÉRGIO MORO JÁ DECIDIU QUE O SARGENTO AGIU SOZINHO NO CASO DA COCA, POR LUIS NASSIF

Enquanto isto, permanecem intocados Flávio Bolsonaro, o lugar-tenente Queiroz, as investigações sobre a autoria da morte de Marielle.

O vice-presidente, general Hamilton Mourão, declarou o óbvio: o tal sargento da aeronáutica não agiu sozinho. Têm-se, aí, um caso grave, um problema que já afetou Forças Armadas de diversos países, mais ainda aquelas que foram colocadas na linha de frente da luta contra a droga.
As fotos na Internet, sobre carregamentos de 40 kg de cocaína, comprovam a impossibilidade do sargento ter atuado sozinho.
Na viagem, ele certamente tinha uma mala para seus pertences pessoais, mais o adicional de 39 kg, que exigiria uma mala gigante. Essa mala chegou no hangar da FAB, foi transportada até o avião. Sendo o avião da comitiva presidencial, supõe-se que seja submetido a fiscalização adicional pelas próprias normas de segurança do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), incumbido de zelar pela segurança do presidente.
Depois, na chegara ao destino final, o sargento carregava a mala, imensa. Mesmo se passasse pela alfândega, é evidente que não passaria despercebida de seus colegas de voo. Além disso, há indícios de que era reincidente na prática. Ou seja, havia um esquema azeitado de entrega dos pacotes no hangar da FAB e de entrega no destino final.
Em países sérios, haveria uma imediata mobilização das autoridades, do Ministro da Justiça, da Polícia Federal e do próprio comando da Aeronáutica, para investigar o caso. E a principal suspeita seria de uma organização criminosa atuando no âmbito da Aeronáutica.
A repercussão internacional mostra a gravidade do episódio:
  • ‘Financial Times’: “cocaína na Espanha coloca Bolsonaro sob pressão”.
  • ‘New York Times’  “Pó branco, rostos vermelhos: carga de cocaína a bordo de avião presidencial do Brasil”.
  • ‘Le Monde’, de Paris, : Bolsonaro foi sacudido pelo “Aero Coca”, depois de 39 quilos de cocaína terem sido descobertos

A própria Aeronáutica, que é uma corporação idônea, certamente está empenhada nessa apuração.
O que faz o Ministro da Justiça, Sérgio Moro? Sua primeira atitude é afirmar que foi um caso isolado, antes mesmo de qualquer análise.
Não se duvide da honra da FAB. Mas o pré-julgamento de Moro, transformando um indício preocupante, de organização criminosa atuando na FAB, em “ínfima exceção” visa exclusivamente fortalecer o apoio militar a ele, no momento em que é exposta sua parcialidade na Lava Jato. E no momento em que vai aos Estados Unidos, com a desculpa de se inteirar de técnicas na luta contra o tráfico. E o responsável pela segurança do vôo, General Alberto Heleno, diretor do GSI, explica que não tem o dom da adivinhação, incluindo um componente novo nas normas de segurança: a adivinhação.
Pior! Servindo a um governo sobre o qual pairam suspeitas sérias de envolvimento com o crime organizado, as milícias, contra as quais Moro, até agora, não definiu uma estratégia de combate.
No mesmo momento, o 3º filho, Carlos Bolsonaro, tuitava mensagem de apoio ao PL 1379/19 que, como explica com seu estilo tormentoso, “anistia multas transportes coletivos que circulam nas faixas de ônibus”.
Ora, transportes coletivos é um dos setores preferenciais de atuação das milícias no Rio de Janeiro. É mais um avanço da economia do crime sobre a economia formal.
Simultaneamente, o inacreditável Ministro da Educação Abraham Weintraub faz a defesa mais esdrúxula do governo, reeditando a máxima “sou, mas quem não é?”
Enquanto isto, permanecem intocados Flávio Bolsonaro, o lugar-tenente Queiroz, as investigações sobre a autoria da morte de Marielle.
GGN

sábado, 8 de setembro de 2018

XADREZ DA ÚLTIMA CARTADA DA GLOBO, COM BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Cena 1 – o retrato atual das eleições
Há um desenho nítido, com o esperado crescimento de Fernando Haddad e a consolidação da candidatura de Jair Bolsonaro. Desenha-se um segundo turno entre ambos. Haverá um confronto entre o anti-petismo e o anti-bolsonarismo, com boa possibilidade de o fator Bolsonaro garantir a vitória de Fernando Haddad.
Até agora, os personagens-chave do jogo se posicionam assim:
1. Mercado: aproximando-se de ambos e, especialmente de Haddad. A gestão de Haddad no Ministério da Educação e na Prefeitura são o seu principal aval. Em ambos os casos, foi uma gestão eminentemente técnica, fiscalmente responsável, com portas abertas para movimentos sociais e ONGs empresariais e foco claro na defesa das minorias.
2. Classe média: assustada com os arroubos de Bolsonaro, contra mulheres, minorias e a favor da violência, refletindo-se no aumento de suas taxas de rejeição.
Pesquisas recentes indicam que pelo menos 40% dos eleitores de Geraldo Alckmin poderiam votar em Haddad. Gradativamente foi caindo a ficha que nem o horário eleitoral seria suficiente para colocar Alckmin no segundo turno. E o crescimento das taxas de rejeição de Bolsonaro poderiam garantir a vitória de Haddad.
É por aí que se explica o reposicionamento dos principais atores políticos, resolvendo apostar suas fichas em Bolsonaro. E também o vídeo de João Doria Jr com a derradeira traição ao seu padrinho Alckmin: admitindo a ida de Bolsonaro para o segundo turno.
Cena 2 – o pacto Bolsonaro-Globo
Pouco antes do incidente em Juiz de Fora – no qual um alucinado enfiou a faca em Bolsonaro – o candidato deu declarações mencionando um fato novo relevante na eleição. Muitos imaginaram, depois, ser um anúncio do suposto atentado. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas de novo, mesmo, foi o pacto firmado com a Globo. Bolsonaro teve uma reunião com os herdeiros de Roberto Marinho onde, aparentemente, foi selado o pacto para o segundo turno.
As três entrevistas da Globonews, com Katia Abreu, vice de Ciro Gomes, Fernando Haddad e o general Hamilton Mourão, foram a prova definitiva do acordo.
Com Haddad, pressão total, com os entrevistadores fazendo questão, em todos os momentos, de enquadrá-lo no estereótipo do petista clássico, justamente para enfraquece-lo junto ao centro, que o vê como administrador racional e inclinado a pactos de governabilidade. É só anotar a quantidade de vezes, na sabatina da Globonews, em que foi invocado o adjetivo “petismo”, para cravar o estereótipo na testa de Haddad,  ou a maneira como se tentava mudar de tema cada vez que Haddad demonstrava seu estilo de gestão responsável. Como na inacreditável cena em que ele mostra que a Prefeitura de São Paulo recebeu o grau de investimento das agências de risco, e Mirian Leitão tenta mudar de assunto alegando que se estava discutindo “política econômica”. Grau de investimento é o Santo Graal do mercado.
No caso de Katia Abreu, Mirian recorreu ao padrão tatibitate de seu colega Luis Roberto Barroso, dividindo os agricultores entre os “do bem” – que respeitam o meio ambiente – e os “do mal”, representados por Katia Abreu. Nos dois episódios, levou invertida, mas revelou a nova estratégia da Globo.
Ontem, pelo contrário, os entrevistadores implacáveis montaram um convescote, levantando sucessivamente a bola para que o general pudesse mostrar a face racional e humana do bolsonarismo.
Cena 3 – a reconstrução da imagem de Bolsonaro
A entrevista e o suposto atentado a Bolsonaro deixaram evidentes a estratégia de reconstrução da imagem do candidato, com vistas ao segundo turno. Será apresentado como o impulsivo boa-gente, cujas declarações mais chocantes são apenas um reflexo da informalidade. E, por trás dele, haverá duas forças racionalizadoras: na parte econômica, Paulo Guedes, na parte institucional as Forças Armadas, tendo como representante oficial o general Mourão que, no final da entrevista à Globonews, se declarou um telespectador e seguidor fiel das lições diárias da emissora.
A facada em Bolsonaro caiu como uma luva nessa estratégia. As próprias declarações do candidato – “nunca fiz mal a ninguém” – demonstram essa estratégia de vitimização, apresentando-o apenas como um boquirroto do bem.
Alguns fatos chamam atenção:
1. Quatro advogados imediatamente assumiram a defesa do agressor. É evidente a intenção de criar uma blindagem. Quem os banca?
2. A investigação ficará a cargo da Polícia Federal de Minas Gerais, a mais partidarizada, depois do Paraná. É a mesma PF que alimentou durante um ano a imprensa com denúncias contra o governador Fernando Pimentel, tomando por base apenas uma delação permanentemente requentada. Como dois e dois são quatro, nos próximos dias serão levantadas supostas ligações do acusado com organizações de esquerda.
3. O Facebook do agressor, com postagens recentes contra Bolsonaro. E sua insistência em explicar a agressão pelo seu perfil no Facebook. É como se as postagens tivessem sido colocadas apenas como álibi para o ataque.
4. As declarações iniciais do filho de Bolsonaro, de que os ferimentos foram superficiais, porque o pai estava protegido por coletes.
Por enquanto, são apenas indícios, mas que merecem ser aprofundados.
Cena 4 – o que seria um governo Bolsonaro
Não é preciso nenhum talento especial para imaginar o que seria um futuro governo Bolsonaro.
Nele, haveria a reconstrução do pacto de 1964 – Forças Armadas, sistema Globo, arrastando consigo o Partido do Judiciário e Partido do Ministério Público-Lava Jato. O fator de união será o combate ao inimigo-comum. O país será cada mais dividido entre o Tico “do bem” e o Teco “do mal”, como Luis Roberto “só faço o bem” Barroso, e a Globonews “só defendo o bem contra o mal”.
Ao primeiro sinal de impasse com o Congresso, a estratégia óbvia já está montada. A Globo criará midiaticamente o clima de caos, como fez em vários momentos com Brizola – superestimando arrastões de praia – ou na própria campanha do impeachment. E esse clima servirá de álibi para a presidência invocar a Lei de Segurança Nacional e convocar as Forças Armadas. Quem os enfrentaria? O Supremo Tribunal Federal? A Procuradora Geral da República? O Congresso?
Chegou-se a esse estágio de barbárie justamente devido à falta de coragem dos poderes em relação a um movimento ainda com face indeterminada. São esses valentes que enfrentarão o poder armado?
É sintomático a descrição do G1 sobre o momento mais tenso da entrevista, quando Mourão trata o coronel Brilhante Ustra como herói militar:
"Meus heróis não morreram de overdose, e Carlos Alberto Brilhante Ustra foi meu comandante quando era tenente em São Leopoldo. Um homem de coragem, um homem de determinação e que me ensinou muita coisa. Tem gente que gosta de Carlos Marighella, um assassino, terrorista. Houve uma guerra [no regime militar]. Excessos foram cometidos? Excessos foram cometidos. Heróis matam". Diante da resposta, houve silêncio dos jornalistas”.
A partir dali, submissão total ao entrevistado, mesmo estando na banca um ex-guerrilheiro, Fernando Gabeira, e uma ex-torturada, Mirian Leitão. Nem a menção a Ustra alterou os olhares apaixonados de Gabeira às declarações de Mourão, e as declarações amistosas de Mourão em direção a Gabeira.
Dentro da “legalidade”, haverá liberdade total de retaliação dos procuradores ligados ao MBL e da Polícia Federal contra os recalcitrantes, incluindo até colegas – fenômeno que já ocorre hoje em dia, em todos os níveis, ante o silêncio dos grupos de mídia.
Se terá o ápice da ditadura legalizada, com os jovens turcos tendo o respaldo oficial das Forças Armadas. Fora da “legalidade”, a participação ativa de grupos paramilitares, estimulados pela caça aos inimigos.
Cena 5 – civilização x barbárie
Para combater a radicalização, a estratégia de Haddad deverá ser em duas frentes. Externamente, a de continuar propondo o diálogo, de se mostrar a alternativa civilizatória contra a barbárie e, cada vez mais, disputar o centro racional. Internamente, isolar os provocadores.
É tradição dos grupos de direita recorrer aos agentes infiltrados - utilizado não apenas em 1964, mas nas manifestações contra a globalização em Seattle. Os Cabos Anselmos visam não apenas construir álibis para a repressão, mas, ao mesmo tempo, atrapalhar as tentativas de criação de consenso contra a radicalização.
Será uma batalha épica em que estará em jogo o futuro do país. Esse será o maior estímulo à resistência democrática até 7 de outubro, quando ocorrem as eleições do primeiro turno, e 28 de outubro, quando se vota no segundo turno.
GGN