O
PT pode não ter plano B para Lula, mas a Globo tem um para o desgastado Sergio
Moro: o juiz Marcelo Bretas, da Lava Jato do Rio de Janeiro.
A
mesma tática de superexposição encomiástica que transformou o juiz paranaense
em super herói — e, hoje, sombra daquela grande esperança branca — está sendo
aplicada para alavancar Bretas.
Completamente
avesso a qualquer noção de discrição, usuário sem controle do Twitter, vaidoso,
fundamentalista que cita a Bíblia em despachos, até ontem um completo
desconhecido, Bretas é alvo fácil para a emissora.
Nos
dois últimos dias os veículos do grupo bombardearam sua audiência com a
“notícia” incrível, espetacular, divina da visita de Bretas ao papa Francisco.
Quem
pagou a viagem? Quem combinou o “furo” da Globo?
Em
entrevista à repórter Ilze Scamparini, correspondente na Itália e uma das
maiores panacas da TV brasileira (um dia eu conto do meu colóquio com ela na
cobertura da morte dos Mamonas Assassinas), MB contou que não consegue levar
uma vida normal no Rio por causa das ameaças que sofre.
Que
ameaças? Não sabemos, mas elas estão sendo “investigadas”.
“Se
quiser ir à praia tenho que sair do Rio de Janeiro”, diz ele, externando uma
preocupação comum a 99% de seus conterrâneos que, infelizmente, não têm direito
a guarda costas pagos pelo contribuinte.
“Sou
forçado a sair do local em que vivo para me sentir um pouco mais à vontade.
Como aqui em Roma, onde posso andar na rua com tranquilidade.”
Ora,
mas que surpresa.
O
papo furando foi ao ar no G1, na Globo News (com vários repetecos), no Jornal
Nacional. Poucos dias antes, ele já tinha passado momentos agradáveis no
programa de Pedro Bial, curtindo o alto astral do apresentador gente boa.
Para
Bretas, há uma movimentação da parte de alguns agentes políticos para aprovar
leis que dificultem o trabalho da Lava Jato.
Ilze
pergunta o que pode ser feito a respeito disso. Ele devolve, fazendo média:
“Controle da sociedade, liberdade de imprensa”.
De
acordo com o magistrado, a intenção do encontro com Francisco no Vaticano foi
agradecer as “declarações muito oportunas, dirigidas inclusive aos
brasileiros”.
“Estamos
entrando agora em eleições, um ano muito importante a todos nós. Então, a ideia
também era pedir também para que ele mantenha essa pauta, esse tema”,
afirmou.
Nas
imagens, ele segura a mão do papa enquanto fala algumas palavras
incompreensíveis. Francisco sorri protocolarmente, mais ou menos como fez com
João Doria, provavelmente pensando na lasanha que encararia na sequencia. Tudo
para as câmeras.
MB
sonha com a criação de um tribunal internacional contra a corrupção — e não vê
nenhuma contradição em revelar esse deseja numa emissora enrolada até o pescoço
no escândalo da Fifa.
“Tenho
visto na atualidade que uma das marcas do trabalho do Ministério Público, do
Poder Judiciário, das forças tarefa que estão atuando, é que as provas são de
muito boa qualidade”, declarou.
Bretas
não é lá muito brilhante, mas tem o que a Globo precisa: uma vontade invencível
de aparecer e de dizer exatamente o que está no script.
Se
der xabu, não faz mal. Outro entra em seu lugar. Ninguém é insubstituível na
novela. Nem Barbosa, nem Moro, nem Bretas. E todos conhecem os próximos
capítulos.
Do
DCM