Peça 1 – a falsa
legalidade
A
ideia de que a intervenção no Rio é democrática, porque segue os preceitos da
Constituição é tão falsa quanta a da legalidade o impeachment.
Segundo
o Ministro da Justiça Torquato Jardim (que foi jogado para escanteio nesse
planejamento) "é importante repetir que a intervenção na segurança pública
do Estado do Rio de Janeiro cumpre estritamente o ordenamento jurídico
brasileiro e servirá para aperfeiçoar a democracia no nosso País."
Michel
Temer decretou uma intervenção no Rio de Janeiro. Mas não se contentou com uma
intervenção qualquer. Foi uma intervenção militar com um interventor das Forças
Armadas, respondendo diretamente ao Presidente da República.
Não
há sinais estatísticos de uma situação fora de controle.
Entrevistada
pelo Estadão, a diretora presidente do Instituto de Segurança do Rio (ISP),
Joana Monteiro, informou que os dados de segurança mostram que não houve uma
onda de violência atípica (clique
aqui),
Segundo
ela, “foram registradas 5.865 ocorrências policiais no total no Rio, entre os
dias 9 e 14 de fevereiro, enquanto no carnaval do ano passado (quando a Polícia
Civil ainda estava em greve), foram 5.773. Em 2016, 9.016 ocorrências foram
registradas e, em 2015, computaram-se no total 9.062”.
Esse
mesmo sentimento foi manifestado pelo próprio interventor, General Walter Braga
Neto, que atribuiu o clima de fim de mundo aos excessos da mídia (clique
aqui).
Peça 2 – o papel da Globo
Temer
não é dado a jogadas de risco. Ë figura menor. Assim como no impeachment, sua
adesão ao golpe foi estimulada diuturnamente pela cobertura de carnaval da
Globo, em tom francamente alarmista. Em cima desse quadro, um grupo de
assessores tratou de convencê-lo a endossar o golpe.
Fica
claro que, daqui para diante, o novo fantasma nacional será a violência do
crime organizado.
Agora
à noite, a comentarista Natuza Nery, também da Globonews, falava de um clima de
violência que ameaça envolver o país inteiro. E atribuiu ao fracasso da
política.
É
fácil entender as estratégias da Globo porque há sempre um alinhamento total de
seus comentaristas com as ordens que vêm de cima. Agora à noite, além da
unanimidade de comentaristas da Globo News, insistiu-se no clima de fim de
mundo para o Rio, com a seleção de entrevistados endossando as medidas.
Como
não houve pontos fora da curva entre os comentaristas, reafirma-se a suspeita
de que as medidas já eram de conhecimento da Globo, que, assim, teve tempo de
alinhar seus soldados – ao contrário do que ocorreu nos primeiros momentos das
delações da JBS.
Trata-se,
portanto, de um novo golpe, com papel central das Organizações Globo. Carregou
no noticiário, criou um quadro de escândalo, deu ênfase a violências urbanas
deploráveis, mas antigas, visando criar o clima de pavor. Da mesma maneira como
cobriu arrastões armados, no governo Leonel Brizolla.
Peça 3 – a luta contra o
crime
Para
que o golpe se sustente, há a necessidade de manter um clima permanente de
catarse.
Há
dois caminhos delineados.
O
primeiro, de forte apelo popular, de intervenção no orçamento do Rio de
Janeiro, reduzindo as benesses do Judiciário e outros setores privilegiados.
Essa possibilidade foi aventada por autoridade de Brasília que tem sido
consultada frequentemente por Michel Temer.
A
segunda é partir para a luta aberta contra organizações criminosas, visando
elevar a temperatura ainda mais.
São
Paulo já tem experiência dessa maluquice, quando, em 2006, o governo Geraldo
Alckmin, e um Secretário de Segurança pirado, Saulo Queiroz, decretaram guerra
contra o PCC.
Houve
a invasão da cidade pelo PCC, seguido de um massacre da PM, matando
indiscriminadamente jovens de periferia sem antecedentes criminais. Foram mais
de 600 mortes em uma semana.
O
que as Forças Armadas poderiam fazer no Rio? Montar barricadas, trincheiras?
Invadir casas? As organizações criminosas não estão situadas em territórios
próprios, como na guerra convencional. Estão misturados às pessoas, aos
cidadãos comuns, vítimas deles. O que ocorreria com esses cidadãos, em caso de
confrontos diretos entre Exército e organizações criminosas?
Peça 4 – os fatores de
risco
Nos
próximos dias, a Globo vai ampliar o discurso de caos na segurança, visando
legitimar a segunda etapa do golpe.
Por
outro lado, as Forças Armadas foram jogadas no meio da fogueira. O fracasso da
operação será o fracasso da intervenção. Qual seria a reação das Forças
Armadas? Assimilar o desgaste ou exigir ampliação da sua interferência?
A
tomada de decisão, logo após o Carnaval, teve um objetivo adicional: impedir o
desfile das campeãs, com os carros alegóricos da vice-campeã Paraiso da Tuiuti,
com um vampiro representando Temer.
GGN