Um
balanço de 2017. O ano não foi um bom ano para as forças de esquerda na medida
em que a derrota de 2016 com o impeachment de Dilma Rousseff se transformou em
políticas que afetaram profundamente a vida da população. A PEC 55 de dezembro
de 2016 ainda não mostrou todos os seus efeitos deletérios mas eles ainda irão
se manifestar. A reforma trabalhista já mostra a que veio, permitindo dispensas
e recontratações que irão rebaixar os salários da parcela da população que tem
uma inserção mais precária no mercado de trabalho.
Ainda
assim, é possível afirmar que 2017 foi melhor do que 2016. A reação às
políticas conservadoras está disseminada em todos os espaços, da reação a Temer
à crítica a Lava Jato. As forças conservadoras que se utilizam destes dois
instrumentos, uma maioria conservadora em um congresso completamente tomado
pela corrupção e a ação da Lava Jato tentando redefinir os espaços políticos
encontraram forte reação em 2017. A Lava Jato não é mais o que era, mas não
está ferida de morte. Sofreu diversas derrotas, algumas impingidas pelo próprio
governo Temer e outras pelo STF através de Gilmar Mendes. Eles não tem o mesmo
apoio na PGR e encontram problemas na manutenção do método condução coercitiva
mais prisões preventivas para forçar a delação. Tudo indica que o fim da Lava
Jato está próximo e ocorrerá e 2018, ainda que os danos estejam aí e nós
teremos que conviver com eles por um longo período.
No
campo da esquerda algumas vitórias importantes já se manifestam. O aumento da
identificação com o P.T. que havia caído de quase 30% para 8%, agora está em
20% mostrando uma forte recuperação. Mas o mais importante é a queda da
rejeição ao ex-presidente Lula especialmente nas classes A e B que mostra um
mudança de postura das classes médias no Brasil que parecem ser no campo da
opinião a força decisiva. Eu ainda apontara com importante avanço no campo da
esquerda a influência e o espaço midiático conquistado por Boulos e pelo MTST.
Toda esta recuperação mostra que a política de resistência do governo federal
no período Dilma Rousseff esteve equivocada nas duas principais questões que
pautam esta conjuntura desde 2013, a economia e a questão jurídica. Dilma errou
nas duas, na maneira como tentou realizar o choque econômico ortodoxo e na
maneira como deixou de tentar influir na Lava Jato negando a sua politização. A
reação à estas duas forças sem a presença no governo está se mostrando mais
profícua do que no período anterior por que tem se concentrado na esfera
pública e nas mídias sociais e tem permitido uma recuperação de hegemonia
política.
A
grande incógnita de 2018 é o poder judiciário. Desde 2012, o poder judiciário
assumiu uma nova configuração na sociedade brasileira. Ativo em todas as
questões, decide sobre tudo e se pronuncia sobre tudo, ao mesmo tempo que
acumula privilégios corporativos inconcebíveis. Tudo indica que o auge desta
nova postura irá se manifestar em 2018, mas é possível que auge e decadência
ocorram simultaneamente. O judiciário se tornou 11 ilhas completamente
independentes entre si e estas ilhas se enfrentarão violentamente em 2018,
principalmente o grupo liderado por Gilmar Mendes e o grupo liderado por Luis
Roberto Barroso. Todos os dois grupos desgastam o poder judiciário com a sua
atuação e começam a receber fortes críticas na mídia e na opinião pública (vide
editorial do Estadão desta semana criticando Barroso). A chave da conjuntura
continua residindo no mesmo lugar de sempre, na recuperação de uma proposta
política progressista que conte com o apoio de um centro que sumiu da política
brasileira desde que Aécio Neves e Eduardo Cunha se juntaram para contestar o
resultado eleitoral e derrubar a presidente eleita. As forças de esquerda para
se recuperarem precisam ter um candidato presidencial viável, mas
principalmente uma representação mais forte no Congresso que impeça a farra de
emendas constitucionais conservadoras e que permita uma afirmação do sistema
politico frente ao poder judiciário. Somente esta nova configuração poderá
recolocar o país no rumo de uma política democrática.
GGN