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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Pecai e sereis perdoados, por Aldo Fornazieri

"Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados"(Lucas 6:37). "Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos trementes. Dizei aos turbados de coração: Sede fortes, não temais; eis o vosso Deus! com vingança virá, sim com a recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará" (Isaías 35: 3-4). Definitivamente, o Antigo e o Novo Testamentos são expressão de duas éticas opostas. A ética do Antigo Testamento é uma ética da virtù, do combate, da coragem. É comparável à ética dos povos pagãos que, com seus sacrifícios sangrentos aos deuses da guerra, estimulavam a ferocidade e a coragem, a bravura dos homens nos campos das batalhas. O Deus do Antigo Testamento é um Deus vingativo, exige a purgação dos pecados e a punição dos malvados pelo fio da espada.​
A ética do Novo Testamento, construída pelos apóstolos, principalmente por São Paulo, que sacramenta um desvirtuamento do que Jesus de Nazaré pregou e fez, é uma ética da submissão, da resignação e da covardia. Não por acaso, o cristianismo se tornou a religião a serviço dos poderosos, do Império Romano, e da subjugação dos povos. Em nome dele, os rios, as florestas, as pedras e os mares se tingiram com o sangue dos inocentes. São Paulo foi mestre em enfraquecer as virtudes combativas dos cristãos primitivos, tornando-os dóceis e submissos, para que pudessem ser aceitos e assimilados pelo Império. Essa estratégia elevou os cristianismo ao poder, às custas da mansuetude resignada dos povos. O resultado não foi a salvação e a glória de Jerusalém, mas suas destruição pelo general Tito. Como bem disse Maquiavel, o cristianismo entregou o mundo na mão dos malvados. A derrota e a destruição é a colheita última daqueles que não lutam com suas virtudes pelos seus princípios e valores. O cristianismo imperial e posterior, já não era nem a sombra dos princípios zelotas e revolucionários professados pelos primeiros seguidores do nazareno.
O fato é que o cristianismo impregnou toda a política ocidental e se erigiu em instrumento de poder de todos os regimes. Mas impregnou a política ocidental também de sua ideologia servil, povoando a mente dos deserdados com a falsa crença de que eles podem ser livres, mesmo sendo servos e escravos, pois a liberdade do espírito seria muito superior do que a liberdade real. Assim, o escravo pode ser mais livre do que seu amo. No Brasil de hoje, a ideologia cristã do perdão, da submissão, da resignação,  nunca se fez tão presente, contaminando quase a todos, seja pela falta generalizada de virtù combativa, por oportunismo, por equívoco, por capitulacionismo, por covardia pura e simples ou para exercer o poder.
No Brasil, se pode ser mercador de africanos, dono de escravos, feitor e está tubo bem. Não há necessidade de nenhuma reparação histórica. A escravidão é posta na conta de uma necessidade econômica e está isenta de qualquer juízo moral, civilizatório, humanístico. Os antigos escravocratas se tornaram os oligarcas da República Velha e continuaram a extrair o sangue dos ex-escravos, transformados em novos servos.
Com o processo acelerado de urbanização e de industrialização, o sangue e a carne dos migrantes do campo para a cidade, foram cimentados nas paredes das fábricas e nas obras da construção civil. Os novos ricos, os empreendedores e os industriais foram saudados como os grandes construtores do Brasil. E se algum direito foi garantido aos trabalhadores, foi necessária a violência impositiva do Estado orquestrada por Getúlio Vargas.
As débeis esperanças de avanços que se esboçaram em meados do século XX foram esmagadas pelos tanques e pelas baionetas, quase sem resistência. Na redemocratização, os torturadores e os assassinos dos porões da ditadura foram perdoados com a anistia e boa parte do sistema político sentou-se na mesa do conciliábulo do Colégio Eleitoral e do governo de transição.
Se a Constituinte e os governos petistas pareciam significar algum avanço, o golpe mergulhou o Brasil no lodo do retrocesso e numa ignominiosa indignidade. Agora, os golpistas, desvairados em sua fúria destrutiva de direitos e da dignidade do povo e o país, são perdoados, tal como ocorreu com a anistia ampla, geral e irrestrita. Tudo em nome do taticismo para chegar ao poder. O resultado é um passo à frente e alguns quilômetros para trás.
Os progressistas querem um progresso que é um retrocesso. Se era para perdoar os golpistas, então por que razão se pretendeu fazer oposição ao governo Temer de hoje se se buscará um governo com o PMDB de Temer para amanhã? Como ficará a moral combativa dos militantes e dos ativistas se os golpistas serão perdoados? O que terão a dizer? Como enfrentar a onda neofascista e conservadora, encubada no processo do golpe, se os golpistas podem ser perdoados? Como fica a defesa da democracia se você perdoa quem a pisoteou? Este tipo de perdão é a autorização para novos golpes futuros, novas anistias e novos perdões, repetindo a história cinza da repetição sucessiva como farsa.  
No Brasil não se quer a aspereza do combate, mas a comodidade do conciliábulo. Aqui se esquece que é mais importante uma derrota digna, com a espinha ereta, do que uma vitória que não é tua vitória, mas a vitória dos teus inimigos. Se esquece que é preferível perder uma eleição preservando força social e militante para novos combates, do que vencer e ser subordinado às forças da corrupção, da exploração, que concedem migalhas para manter inalterado o quadro institucional e legal da indignidade, da desigualdade e da injustiça.
Se não quereis julgar, saibam que eles vos julgarão; se não quereis condenar, saibam que eles vos condenarão; e se quereis perdoar, saibam que eles não vos perdoarão. Se uma nova derrota vier, será a mais vergonhosa das derrotas dos progressistas e das esquerdas, porque será a derrota da capitulação, do cálculo oportunista, do oba-oba típico da política dos salões, dos gabinetes e dos palácios de uma esquerda que perdeu o senso do combate político.
Neste Brasil de hoje, se você tem uma posição elevada, é uma pessoa pública e tem poder, você pode ser racista que não será racista; você pode ser flagrado cometendo crimes contra o Estado e contra povo e isto traduzirá numa falta de provas. Em sendo você senador ou deputado, ou até ministro ou presidente, você tem autorização para cometer crimes, pois o STF garante que você não será molestado. No governo, no Congresso, no STF, você pode ser fascista, ser contra direitos de trabalhadores, de mulheres e de minorias que contará com a indiferença de muitos e dos reclamos formais de outros.
Mas se você for militante e ativista social, cuidado. Não radicalize, não pregue o ódio, pois você será combatido pela direita agressiva e admoestado pela esquerda mi, mi, mi; ui, ui, ui; ai, ai,ai. Agora, se você for trabalhador, pobre, negro, índio, ande na linha, pois o longo braço da lei poderá te alcançar. Não cometa nenhum pequeno delito, pois as cadeias estão cheias de gente que cometeu pequenos delitos. Se você for jovem, pobre e negro, o cuidado deve ser maior. Você pode ser visto como bandido. Se você for mulher e for estuprada, poderá ter um filho indesejado, pois você não é dona do teu corpo. E ninguém te protegerá da violência machista,  dos feminicídios e dos estupros. Você, índio, terá suas terras tomadas e o trabalho escravo está autorizado nas lides do campo, nas fazendas, nas carvoarias, nas tecelagens. Vocês todos não serão vingados, nem encontrareis a justiça, pois essas coisas não são coisas da política realista. São coisas de moralistas, de idealistas. A política, neste país, nada tem a ver com virtudes. Ela é puro interesse.
No Brasil, os inimigos se sentam juntos para libar e comemorar na mesma mesa. Afinal de contas, somos uma democracia racial, somos um povo ordeiro e pacífico e Deus é brasileiro. É melhor estar nos palácios e nos gabinetes do que ter que lutar por aí. Esqueçam o Salmo de Davi, que diz o seguinte: "Disse Javé ao meu Senhor: assenta-te a minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés". Lembra-te: "Mas eu lhes digo: não se vinguem daqueles que fazem mal a vocês. Se alguém lhe der um tapa na face, vire o outro lado para ele bater também".
Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).
GGN

sábado, 11 de agosto de 2012

Nordeste tem a menor proporção de índios que falam a língua nativa


O Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que 274 línguas indígenas são faladas no país por 37,4% índios com mais de 5 anos de idade, sendo que 6 mil deles falam mais de duas. A fluência em pelo menos uma delas foi verificada em 57,3% dos índios que vivem em terras indígenas reconhecidas. Fora delas, cai para 12,7%. O português não é falado por 17,5% do total, cerca de 130 mil pessoas.

De acordo com o levantamento, as regiões com maior percentual de línguas indígenas são a Norte - com maior número de terras indígenas reconhecidas até o dia 31 de dezembro de 2010 - e a Centro-Oeste. A Região Nordeste, com menor número de terras reconhecidas, apresentou menor proporção de falantes de língua indígenas, o que pode ser resultado da colonização.

"O Nordeste foi a primeira área de desembarque dos colonizadores no país que proibiram os índios de falar suas línguas e impuseram a escravidão. Foi essa região que recebeu a frota de Cabral, que teve a primeira capital, os primeiros engenhos", lembrou o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Pacheco de Oliveira.

A presidenta da Fundação Nacional do Índio (Funai), Maria Azevedo, disse que já existe um esforço de valorização da língua indígena por meio da educação. E que os dados inéditos do Censo 2010 favorecerão estratégias para mantê-las em prática. "Os dados dão instrumentos para que os próprios indígenas possam reivindicar políticas com relação às suas línguas", disse.

As etnias indígenas mais numerosas e a maior parte dos índios que ainda falam língua própria estão concentradas em terras indígenas reconhecidas pelo governo, segundo o censo. Ao todo, vivem nessas áreas 571 mil índios de 250 etnias, de um total de 896 mil.

Para a pesquisa, o IBGE contou com uma lista de mais de 500 nomes de etnias, catalogados por especialistas e pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Ao fazer as entrevistas, o instituto encontrou representantes de povos que se supunham desaparecidos, como os Tamoios, tradicionais do Sudeste, e confirmou a prevalência de outros, como os Charruás, no Sul, possivelmente oriundos da Argentina.

Outro dado que reflete mais proteção aos índios nas aldeias é o número de indivíduos. Fora delas, prevalecia a concentração de etnias com até 50 pessoas. Mas dentro, o censo confirmou a existência de grupos entre 251 a 500 índios, com média de até 17,4 anos. Fora das terras, também estava a maioria dos 16,4% dos índios que não sabiam sua etnia, com até 29,2 anos.

Das 15 etnias com maior número de indígenas, a Tikúna (AM) se destaca, com 46 mil indivíduos, e "teve o resultado influenciado pelos 85,5% residentes nas terras indígenas", conforme o IBGE.

"Os dados apontam que nessas áreas eles têm mais condições de manter suas tradições culturais, costumes e sua própria condição de existência", afirmou a responsável pela pesquisa do IBGE, Nilza Pereira. "Existe uma maior preservação da organização social, com certeza', reforçou.

Das 505 terras consideradas nas pesquisas, apenas seis tinham mais de 10 mil índios. Em 107, a população varia de mil a 10 mil e em 291, tinham entre 100 e mil índios.

Rendimento

O IBGE constatou que 83% dos índios no país, com 10 anos ou mais, recebem até um salário mínimo ou não têm rendimento.

Fonte: O Imparcial

quarta-feira, 21 de março de 2012

BR-226 é interditada pelos Guajajaras que pedem segurança e fim de seletivo

Os índios Guajajaras interditaram uma via da BR-226 na tarde desta quarta-feira (21). O trecho interditado fica próximo a aldeia Coquinho, em Grajaú. Os indígenas reivindicam, entre outras coisas, mais segurança na região, já que os manifestantes não se sentem seguros com os constantes assaltos que acontecem na rodovia, localizada próxima a aldeia.
O cacique Raimundo Guajajara, em entrevista exclusiva com O Imparcial, exige dos governos, federal e estadual, a implantação de dois postos rodoviários federais entre os municípios de Sabonete e Santa Maria. A exigência busca aumentar o policiamento na região que, de acordo com Raimundo Guajajara, é muito violenta, com alta incidência de assaltos.

“Os assaltantes, após cometerem os crimes, se escondem dentro da nossa reserva. Queremos deixar claro que essa onda de violência não tem nada a ver com nós índios”, disse.

Na noite desta terça-feira (20), por volta das 20h30, segundo Raimundo, dois homens em uma Hilux, de cor Prata, fizeram disparos no local interditado, visando intimidar os manifestantes.

“Os disparos foram de calibre 40 e nós temos as cápsulas das balas. A tora de madeira usada para fazer o bloqueio tem marcas de bala”, relatou Raimundo.

O cacique explicou que caso o poder público não resolva a situação, os índios interditarão a estrada todas as noites a partir das 17h, só abrindo, para o fluxo de veículos, as 6h da manhã, até o dia 2 de abril. A partir do dia 2 de abril, caso o assunto não seja resolvido, os manifestantes prometeram bloquear a estrada totalmente, noite e dia.

Outras exigências
Além de mais segurança, os manifestantes também querem a suspensão de “um seletivo de saúde indígena”, onde somente “brancos” foram contratados.

“Criou revolta da maneira que foi feito e esperamos que esse seletivo seja cancelado. Que se faça um novo seletivo, mas de acordo com o critério básico das aldeias. Estamos abertos para diálogo”, desabafou Raimundo Guajajara.

Já outro líder Guajajara, Marciliano Clemente Guajajara, lembrou que as manifestações são legítimas e buscam o bem estar de todos. “A segurança não é somente pra gente, mas pros brancos também. É caso de estupro a esposa de caminhoneiros e assaltos. Sobre o seletivo para colocar profissionais de saúde nas aldeias, quero lembrar que temos profissionais de saúde capacitados, índios técnicos em enfermagem que podem cuidar da saúde nas aldeias”, finalizou Marciliano.

Do Imparcial