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domingo, 10 de junho de 2018

XADREZ DA ALIANÇA CIRO GOMES-LULA, por Luis Nassif

Nas próximas eleições há apenas duas balas na agulha para interromper o desmonte do país e o fantasma de Bolsonaro: um candidato indicado por Lula ou Ciro Gomes, mas ambos os grupos caminhando juntos no segundo turno.
Há toda uma engrenagem montada em torno do impeachment, pronta a detonar “inimigos”. É o arco constituído pelo mercado, mídia e sistema judiciário. Mesmo assim, o aprofundamento da crise e o risco Bolsonaro estão tornando dois candidatos gradativamente palatáveis ao epicentro do golpe, em São Paulo: Fernando Haddad e Ciro Gomes.
Não significa necessariamente que Haddad será o candidato de Lula. Há também os nomes de Jacques Wagner, Celso Amorim e Patrus Ananias. Mas são as duas hipóteses levantadas pelas últimas pesquisas.
A disputa tem três tempos.
O primeiro turno, para definir quem será o candidato da centro-esquerda.
O segundo turno, e as alianças que resistirem à disputa do 1º turno.
A estratégia depois de eleito, assegurando a governabilidade.
Peça 1 – a estratégia de Lula
Para as eleições, a estratégia aparente de Lula consiste em manter sua candidatura até o último momento. Perto do prazo fatal, ficando claro que o golpe não permitirá que se candidate, haverá a indicação do vice, que assumirá seu lugar na chapa como seu candidato.
A lógica é clara.
Primeiro, manter viva a chama do lulismo e conseguir o impacto da proibição de se candidatar, em um momento em que cada vez mais cai a ficha da opinião pública sobre a perseguição política de que é vítima. Com isso, aumenta seu cacife e do PT para negociar alianças.
Depois, porque se o vice for apresentado antes, será fuzilado pela estrutura Lava Jato-mídia-Judiciário.  Em cima da bucha, o PT terá o horário gratuito para defender-se dos ataques.
Para ser vitoriosa, no entanto, essa estratégia depende de algumas variáveis indefinidas ainda:
A capacidade de Lula de transferir votos.
O tiroteio que se abaterá sobre seu candidato.
É um jogo de apostas. Se a estratégia der errado e houver o segundo turno com dois candidatos de direita, serão destruídos os últimos pontos de resistência das esquerdas e da incipiente social-democracia brasileira.
Daí as últimas orientações de Lula – após encontro com Jacques Wagner – de mandar emissários conversarem com Ciro, para esvaziar as tensões acumuladas entre ele e o PT. A orientação de Lula foi a de tratar Ciro Gomes como parceiro do mesmo lado político.
Tem lógica.
Peça 2 – a estratégia Ciro Gomes
Ciro Gomes vai montando sua estratégia política dentro da seguinte lógica:
Estratégia da redução de dano: a esquerda não o vê como um dos seus, nem a direita do DEM e assemelhados. Mas, para a esquerda, é garantia de suspensão do desmonte montado por Temer e, para a direita do DEM, a possibilidade de compor um novo bloco de coalizão, papel desempenhado pelo DEM com FHC e MDB com Lula.
Identificação dos inimigos externos, de forma alinhada com a opinião pública de esquerda e centro: a quadrilha Michel Temer, o MDB e Bolsonaro.
Recuperação de propostas desenvolvimentistas e interrupção da destruição empreendida por Temer.
Apropriação do discurso anticorrupção, tentando uma vacina contra o antipetismo. Mas, com isso, criando resistência junto à militância do partido, que Lula tenta diluir.
Um discurso articulado. Ciro tem na ponta da língua o manual dos bons princípios da social-democracia, assim como Fernando Haddad. A diferença é que, até agora, Haddad tem evitado se expor.
Cada vez mais tenta se apresentar como o anti-Bolsonaro, usando a retórica virulenta do seu opositor. É uma briga de machos-alpha, claramente definida para arrostar Bolsonaro no seu único terreno: a truculência.
A fala impositiva, autoritária até, em um momento em que parte relevante da opinião pública clama por um mínimo de disciplina institucional, só possível com a recuperação do protagonismo pelo Executivo.
Ao contrário do que muitos podem imaginar, Ciro não está disputando o espaço político com Lula, mas com Geraldo Alckmin. O espaço em questão consiste em juntar setores mais liberais, assustados com a hipótese Bolsonaro, os órfãos do velho PSDB; e, na hipótese de um segundo turno com Bolsonaro ou Alckmin, o apoio das esquerdas.
A provável frente que se desenha na cabeça de Ciro, caso sua candidatura decole, ficará mais ou menos assim:
Apoio dos governadores nordestinos, que temem a demora na definição do lulismo.
Possível adesão de parcelas relevantes do PSDB, órfãos de uma liderança forte, depois do esvaziamento da banda barra-pesada – Serra-Aécio-Marconi-Richa.
Aproximação com o clube dos bilionários e com os grandes grupos paulistas que sabem o desastre que seria Bolsonaro, e não tem confiança no fôlego e na competência de Alckmin.
Com o discurso anticorrupção, aproximação com o Partido do Judiciário, que será crucial em dois momentos: para garantir votos da parte punitiva do eleitorado; e como aliados na guerra mortal contra o MDB.
Montagem de um novo bloco de coalizão, com o DEM e outros partidos menores fornecendo a base de apoio, mas com uma incógnita sobre com quem dividirá a governabilidade: se com o PT ou um bloco mais alinhado com o PSDB.
Analistas respeitáveis sustentam que, a exemplo de outras eleições, na reta final do primeiro turno vencerão os candidatos que tiverem atrás de si mais estrutura partidária. Ou seja, haveria a reedição da disputa PSDB, com Alckmin, e PT, com o candidato indicado por Lula.
Mas será que os tempos atuais repetem as mesmas características de outras eleições? Têm-se o PT e o PSDB baleados junto a parcelas da opinião pública; novas formas de mobilização com as redes sociais, e um eleitorado consolidado de Bolsonaro. A rigor, há duas únicas forças se movimentando: o lulismo e o antilulismo.
Peça 3 – os fatores de instabilidade
Além disso, há um conjunto de fatores aleatórios no ar. Têm-se um quadro de caos, um cenário aberto para novas tentativas de instabilização.
Graças à Globo e ao Supremo Tribunal Federal (STF) o país experimenta a situação esdrúxula, de estar sendo governado por um presidente que será preso, assim que deixar o cargo, mas com plena liberdade até lá para continuar montando negócios.
Do lado do grupo de Temer, a contagem regressiva para a prisão induzirá a novas tentativas de endurecimento político. Até agora, duas delas foram tiro n’água graças à baixíssima credibilidade do grupo: a intervenção militar no Rio de Janeiro e a tentativa de militarização na greve dos caminhoneiros.
Mesmo assim, se tem no STF uma presidente inconfiável, como ficou claro no episódio de desengavetamento do julgamento do parlamentarismo. Logo depois, Carmen Lúcia o tirou novamente de pauta. Imaginou-se que tivesse recuado devido às críticas recebidas, mas foi apenas porque o propositor da ação, deputado Arlindo Chinaglia, a retirou.
Continua pendente no ar a possibilidade de um novo golpe jurídico-midiático, mesmo porque o STF está dominado pela politização, com os Ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Luiz Fux, Alexandre Morais, Rosa Weber e Carmen Lúcia atuando com despudor, e o antipetismo explícito condicionando a atuação dos garantistas Celso de Mello e Gilmar Mendes.
De qualquer modo, o fator Temer promoveu um desgaste também no coração do impeachment – a própria mídia.
Ao contrário de outros tempos, as tentativas de desenhar cenários esbarra em fatores de imprevisibilidade inéditos. Ninguém pode ter certeza de nada.
do GGN

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Os dilemas do PT, por Luis Nassif

O PT hoje enfrenta alguns dilemas, mas apesar de todos os percalços, continua sendo o partido de esquerda mais estruturado, mais popular e com maior penetração no sindicalismo e nos movimentos sociais. E possui a maior liderança popular do país, Lula.
A prisão de Lula promoveu um pacto inédito entre os partidos de esquerda. Por outro lado, cada qual procura se viabilizar. E aí, se esbarra na grande incógnita: a candidatura de Lula a presidente.
Do lado do arco do golpe há um esforço ingente para isolar o PT e Lula. Do lado dos aliados, a dúvida: ficar com o PT, caso a candidatura Lula se viabilize; ou montar estratégias visando se apropriar da herança petista?
A candidatura de Lula será mantida a ferro e fogo por vários motivos.
O primeiro, é que qualquer movimento gera ataques especulativos ao PT e exposição desnecessária não só do PT mas dos movimentos em geral.
O segundo, porque a saída de Lula deflagraria uma guerra interna, no próprio PT, de consequências imprevisíveis, por não haver consenso nem sobre o nome do partido que segurará o bastão, nem sobre o nome fora do partido que vier a ser apoiado.
O terceiro, porque reforçaria a tentativa dos aliados de tentar tirar do PT qualquer protagonismo, inclusive com exigências de abrir mão da cabeça de chapa, além de significar a desmobilização dos movimentos sociais e de todos os grupos inspirados pelo lulismo.
A ideia básica é inscrever Lula candidato e levar a candidatura até o fim, mantendo a mobilização e o seu cacife eleitoral. Candidato, Lula poderá participar do horário gratuito, ou com seu discurso atual ou, na impossibilidade, com vídeos já gravados e depoimentos de terceiros. Nessa hipótese, seria eleito e caberia ao STF (Supremo Tribunal Federal) o ônus de impedir a posse.
Há confiança na vitória de Lula, baseados nos três vetores principais para a definição do votos.
O primeiro vetor é o econômico, talvez a principal dimensão do voto. Ali, Lula e PT nadam de braçadas graças aos anos de ouro da economia.
O segundo vetor é a dimensão dos valores. O PT e Lula já estiveram em situação bem pior. Com a perseguição a Lula, e a blindagem dos adversários, houve uma comoção que reverteu parte do desgaste. Nesse campo, a direita não ganha mais.
Finalmente, na dimensão política, o PT avançou nas coligações e frentes.
Por outro lado, há a possibilidade de que a candidatura de Lula seja inviabilizada. E, aí, haveria um tempo exíguo para montar uma segunda estratégia.
Há convicção interna de que o PT não se isolou da frente de esquerdas. Com o centro, não há espaço para conversa. Mas com a esquerda, sim, inclusive passando por cima de mágoas recentes, com o PDT, que teve vários deputados votando a favor do impeachment, e com o PSB, que fechou questão pró-impeachment.
Por outro lado, a Fundação Perseu Abramo conseguiu convencer fundações dos partidos aliados a esboçar um mini-programa com ideias consensuais. Só não se transformou em manifesto mais expressivo porque o PSB ponderou que acordos não deveriam ser apenas programáticos, mas políticos, conduzidos pelos partidos.
GGN