quarta-feira, 31 de outubro de 2018
terça-feira, 30 de outubro de 2018
XADREZ DE HADDAD E CIRO, O NEGOCIADOR E O GUERREIRO, POR LUIS NASSIF
Peça 1 – o antipetismo
e o antibolsonarismo
Depois do golpe que depôs Dilma Rousseff, o único fator de
coesão dos seus articuladores foi o antipetismo. Era a bandeira maior, em nome
da qual deixavam-se de lado diferenças em relação aos temas nacionais.
Agora ocorrerá o foco inverso. Com a vitória de Jair
Bolsonaro para a presidência da República, há um motivo maior que deverá unir
todas as forças democráticas, jogando para segundo plano quizílias pessoais,
diferenças em relação a políticas econômicas e políticas públicas em geral: a
defesa da democracia.
O grande pacto nacional pela democracia foi firmado nos
últimos dias de campanha. Alguns jornais celebraram o fracasso do pacto, pela
recusa de Fernando Henrique Cardoso e Ciro Gomes em aderir à candidatura Haddad.
Bobagem! O pacto foi firmado de maneira horizontal, juntando petistas,
antipetistas, ciristas, ex-ciristas, tucanos tendo em comum a defesa da
democracia.
Mesmo com a derrota do candidato Fernando Haddad, a última
semana de campanha ficará indelevelmente na mente de todos os que participaram,
da mesma maneira que os comícios das diretas e outros momentos cruciais da vida
nacional.
Esse movimento eclodiu devido a uma série de ameaças à
democracia, às declarações de filhos de Bolsonaro contra o STF (Supremo
Tribunal Federal), às ameaças de Bolsonaro no comício da Avenida Paulista, às
invasões de universidades por juízes dos Tribunais Regionais Eleitorais.
Parece ter caído a ficha do STF, da Procuradoria Geral da
República, do próprio Alto Comando das Forças Armadas, sobre os riscos à
democracia da partidarização das respectivas corporações.
O resultado foi uma ADPF (Ação de Descumprimento de Preceitos
Fundamentais) da PGR, para impedir a repetição das invasões de universidades. A
ADPF foi aceita pela Ministra Carmen Lúcia, depois de constatar que grande
parte de seus pares, mais a mídia, haviam se insurgido contra as violências
praticadas e contra as tentativas da base – juízes e promotores de primeira
instância, delegados, policiais em geral – de passar a formular suas próprias
leis, seguindo o exemplo do Supremo.
Foi um despertar tardio, posto que não impediu a vitória de
Bolsonaro. Mas antes tarde do que nunca, ficam postas na mesa política as
condições para o grande pacto nacional, juntando partidos políticos, movimentos
sociais, e instituições ameaçadas, como o STF e a própria mídia, em defesa da
democracia.
Peça 2 – o formato do
pacto
Nos próximos dias, haverá um debate intenso – e infrutífero –
sobre os culpados por jogar o país nos braços do atraso.
A mídia insistirá nos erros de Lula e do PT – que, para
manter o protagonismo político nas esquerdas, minimizaram o antipetismo.
Há uma enorme conta a ser assumida pela própria mídia, que
criou o fantasma da guerra fria, do radicalismo de esquerda e outros factoides
que ajudaram a alimentar o exército das trevas. Usou as prerrogativas da mídia,
em uma democracia, para ajudar a destruir a democracia. Só no final da campanha
se deu conta de que, em um ambiente de exceção, ela fica a reboque.
Nada será cobrado de Fernando Henrique Cardoso, porque a
única coisa que teria a oferecer, caso apoiasse Haddad, seria sua
impopularidade. Mas a idade ajudou a acentuar as piores características de sua
personalidade, um egocentrismo vazio e uma inveja profunda.
A grande questão é a maneira como irá se montar o pacto em
defesa da democracia. Haverá fusões de partido, em função das cláusulas
de barreira – que impõem condições para partidos terem acesso aos fundos
partidários. Mas especialistas não veem condições, no curto prazo, para o
aparecimento de um grande partido social democrata. Ou mesmo para uma
refundação do PT, único partido que sobreviveu ao cataclismo das eleições,
abrindo espaço para aliados de outros partidos.
O pacto se dará em torno de bandeiras comuns, das quais a
mais relevante será a defesa da democracia, dos direitos sociais. Não haverá
condutores de povos, mas organizadores do pacto, tarefa que exige sabedoria,
discernimento, desprendimento e humildade.
Nesse quadro, despontam dois candidatos a liderar a oposição,
ambos com perfis diametralmente oposto: Fernando Haddad, se propondo a ser o
pacificador; e Ciro Gomes, pretendendo-se o condutor dos povos.
Peça 3 – o papel de
Haddad, o conciliador
Nas últimas semanas de campanha, Haddad assumiu uma envergadura
pública inédita.
Conhecidos os resultados das eleições, fez um discurso
histórico, de improviso, conclamando à união de todos contra as ameaças de
arbítrio representadas por Bolsonaro.
Relembrou seus antepassados, em uma lição pedagógica de que o
país pelo qual se luta é resultado da construção de gerações que fincaram
princípios, depois seguidos pelos filhos que os repassaram para os netos. Por
isso, a luta é também por respeito aos nossos antepassados. No fundo, a grande
batalha será entre os descendentes daqueles que plantaram sementes
civilizatórias, de boa vontade, de respeito ao próximo, contra os bárbaros e os
desinformados.
Levantou bandeiras comuns a todos os democratas, ampliou a
conclamação para todas as forças da Nação, não apenas para o PT, ofereceu
amparo aos que sentem medo. Antes, na fase final da campanha, mostrou
desprendimento ao insistir no apoio de Ciro Gomes – sabendo que, em caso de
derrota, Ciro seria candidato certo a disputar a liderança dos democratas.
Em suma, comportou-se como um líder nacional.
Peça 4 – Ciro e a
estratégia dos conflitos
Já sobre Ciro Gomes recairá uma conta pesada, por ter exibido
um personalismo, um egocentrismo incompatível com o que se espera de um grande
líder nacional.
E aí entram embates e interesses específicos que ajudaram a
enterrar (momentaneamente) os avanços democráticos no país.
Desde o início, o PT pensou em Ciro como seu candidato. Mas
pretendia apoiá-lo mantendo o controle do processo político – como vice de
Lula, posteriormente como candidato. Tinha esse direito, na condição de único
grande partido brasileiro que resistiu ao desmonte político.
De seu lado, Ciro e seu irmão Cid sempre foram refratários a
partidos políticos. Seu voluntarismo, ainda que esclarecido, não cabe no
figurino de um partido político. Aceitar a proposta do PT significaria se
submeter a pactos com a Executiva do partido.
Tudo era uma questão de negociação. Mas elas não aconteceram.
Nem se atribua a vitória de Bolsonaro à ausência de Ciro: os
ciristas votaram em peso em Haddad; o grande pacto aconteceu, mesmo com a
ausência do líder. A falseta de Ciro foi contra seus próprios apoiadores.
A última semana de campanha foi um momento histórico na vida
de todos os democratas, período em que aflorou uma solidariedade do nível dos
grandes comícios pelas diretas, com artistas, intelectuais independentes,
juristas, youtubers se irmanando em uma ação emocionante contra o arbítrio. Foi
um momento inesquecível de solidariedade democrática, marcando o nascimento do
novo contra o atraso do governo Bolsonaro e suas milícias.
Depois de um primeiro turno brilhante, Ciro seguiu para Paris
abandonando seguidores, artistas e, especialmente, governadores aliados. Não
atendeu sequer os telefonemas de governadores aliados. Enquanto isto, no
Twitter, sua candidata a vice-presidente, Katia Abreu, dirigia todos seus
ataques a Lula e ao PT, com uma falta notável de senso de oportunidade, não
entendendo que a grande bandeira, aos olhos de seus seguidores, é a resistência
a Bolsonaro, não a disputa por espólios da oposição.
A estratégia de Ciro será dividir a oposição, para cavalgar o
antipetismo contra o antibolsonarismo, mostrando notável capacidade de
dispersão de energias. O que pretende?
Caso tivesse se empenhado no segundo turno, conseguiria
juntar o antipetismo democrático com o petismo agradecido. Teria muito mais
condições que Haddad para consolidar o grande pacto nacional pela democracia,
por não carregar a herança petista.
Mas, enfim, preferiu o caminho solitário de quem não negocia:
comanda. A incapacidade de negociar o impediu de ser presidente e dificultará
bastante suas pretensões de liderar a oposição.
GGN
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
LAVA JATO AJUDOU BOLSONARO, MAS HADDAD "SAIU MAIOR", DIZ KENNEDY ALENCAR
O candidato do PT Fernando Haddad perdeu a eleição, mas
"saiu maior" da disputa do que entrou, avaliou o jornalista Kennedy
Alencar na noite de domingo (28), quando o professor universitário perdeu a
eleição para o deputado de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL), por 55% a 44%.
No texto, Kennedy lembrou do papel da Lava Jato no pleito.
HADDAD VENCEU NA MAIORIA DAS CIDADES BRASILEIRAS
Apesar de não ter sido eleito no domingo (28), Fernando
Haddad saiu vitorioso na maioria das cidades brasileiras. Segundo informações
do UOL, o candidato do PT venceu em 2.810 municípios, contra 2.760 de Jair
Bolsonaro. O deputado de extrema direita, do PSL, foi eleito com 57 milhões de
votos (55% dos votos válidos), ante 47 milhões de Haddad (44%).
Em 2014, Dilma Rousseff foi reeleita com 51,6% dos votos.
Isso significa que Bolsonaro teve 3,2 milhões de votos a mais que a presidente
deposta com o golpe parlamentar de 2016.
Na eleição de 2018, disparou o número de votos brancos, nulos
e abstenções. Na corrida com Dilma contr Aécio Neves, em 2015, esse nicho
somava 27,7%. Desta vez, Bolsonaro venceu com brancos, nulos e abstenções
somando 30,8%.
"O total de eleitores que não escolheu candidato neste
segundo turno corresponde a 73% de todos os votos em Bolsonaro e 90% dos votos
em Haddad", destacou a CartaCapital.
GGN
sexta-feira, 26 de outubro de 2018
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
A DIFUSÃO DE NOTÍCIAS FALSAS NO BRASIL NÃO TEM PRECEDENTES, DIZ OEA
A presidente da missão de observadores da Organização de
Estados Americanos (OEA) para as eleições brasileiras, Laura Chinchilla,
disse hoje (25) que o Brasil enfrenta um fenômeno “sem precedentes”
em relação a difusão de notícias falsas. Segundo ela, o fato preocupa o grupo
de especialistas que deu o alerta já no primeiro turno das eleições.
“Outro fator que tem nos preocupado, e isso alertamos desde o
primeiro turno, e que se intensificou neste segundo, foi o uso de notícias
falsas para mobilizar vontades dos cidadãos. O fenômeno que estamos vendo
no Brasil talvez não tenha precedentes, fundamentalmente, porque
é diferente de outras campanhas eleitorais em outros países do mundo.”
Laura Chinchilla, que é ex-presidente da Costa Rica,
reuniu-se hoje, em São Paulo, com o candidato do PT à Presidência,
Fernando Haddad, a vice na chapa dele, Manuela d’Ávila, e o chanceler
Celso Amorim. A reunião foi solicitada pela Coligação O Povo Feliz de
Novo.
O grupo de observadores reúne 48 especialistas de 38
nacionalidades. Eles vão se dividir entre o Distrito Federal e 11 estados para
o acompanhamento do segundo turno das eleições. Ao final,
será elaborado um relatório.
Denúncias
A presidente da missão afirmou que recebeu por escrito as
denúncias sobre o esquema supostamente financiado por empresários para o envio
em massa de notícias anti-PT utilizando o WhatsApp. Ela disse que repassou as
informações para as autoridades eleitorais e policiais brasileiras.
Laura Chinchilla disse que pretende se reunir ainda com a
procuradora-geral, Raquel Dodge, para discutir essa disseminação de fake news
na internet e em aplicativos. Ela não afirmou, entretanto, quando será o
encontro.
Análise
Para a presidente da missão de observadores, o uso do
aplicativo de mensagens particulares dificulta o controle das autoridades em
relação à disseminação de informações falsas, por ser uma rede privada e
protegida.
“Se está usando uma rede privada, que é o WhatsApp, que
apresenta muitas complexidades para ser investigada pelas autoridades. É uma
rede que gera muita confiança porque são pessoas próximas que difundem as
notícias e é a mais utilizada, com um alcance que nunca se tinha visto antes.”
Segundo Laura Chinchilla, o controle está na concientização
do eleitorado brasileiro. “Continuaremos insistindo na necessidade que os
cidadãos aprendam e façam um grande esforço para distinguir o que é certo e o
que não é. Existem muitas iniciativas que estão tentando colocar isso na mesa.
Iniciativas que estão se organizando na sociedade civil, nas universidades e
nos meios de comunicação.”
Violência
Laura Chinchilla disse que além das fake news, preocupa a
missão o tom utilizado em alguns discursos incitando a violência a partir de
divergências políticas. Apesar de episódios isolados, ela afirmou que não
houve irregularidades registradas no primeiro turno.
“Temos que reconhecer que esse processo eleitoral, onde não
encontramos nenhum tipo de irregularidade no primeiro turno e esperamos que
seja assim no segundo, foi fortemente impactado por alguns fenômenos ligados ao
clima político, sobretudo o discurso, que alertamos, tende a dividir, tende a
incentivar a violência política.”
Edição: Lílian Beraldo/Agência Brasil.
GGN
AGÊNCIA TERIA CRIADO GRUPOS DE WHATSAPP PARA OS BOLSONARO, DIZ REVISTA
Foto: Folhapress
A revista Época publicou uma entrevista nesta quarta (24) que
revela que a família Bolsonaro criou artificialmente inúmeros grupos no
WhatsApp, há mais de 2 anos, para disparar em massa mensagens
"politicamente incorretas", trabalhar o repúdio da população à
corrupção e aos projetos do PT, e influenciar o eleitorado a compactuar com as ideias
de Jair Bolsonaro.
A reportagem conversou com um funcionário da agência que
começou produzindo imagens para serem utilizadas na redes sociais. Depois,
passou a receber pedidos para criar, dividir em nichos e administrar grupos de
WhatsApp.
Quando a célula, com mais de 100 pessoas, estava consolidada,
a administração era transferida para algum voluntário pró-bolsonaro mais ativo.
Ou seja: a estrutura montada profissionalmente era fundida com a militância
orgânica, graças aos novos apoiadores de Bolsonaro, caracterizando o que
especialistas têm chamado de guerra híbrida.
O caráter da estrutura de comunicação montada por Bolsonaro
no WhatsApp está sendo estudado por pesquisadores da Universidade Federal
Fluminense, que acrescentaram ainda que os membros mais ativos dessas células
têm números internacionais. A fonte anônima da agência revelou que recebia
chips da Argentina, Portugal e outros países para fazer suas operações. Esses
chips eram fornecidos em reuniões fechadas. O mesmo ocorreu com a entrega das
listas de contatos do deputado.
O então funcionário, que pediu para não ter seu nome e nem o
da agência revelados, relatou que o serviço foi rompido somente no início deste
ano, quando a empresa percebeu que Bolsonaro teria chances de disputar e ganhar
a eleição presidencial. Ele acrescentou ainda que a agência estava incomodada
com a distribuição de muitas fake news.
Na semana passada, a Folha de S. Paulo revelou que empresas
anti-PT estão comprando pacotes de disparos em massa no WhatsApp às véspera do
segundo turno. Bolsonaro afirmou que não controla seus "apoiadores
voluntários."
Leia a matéria completa aqui.
GGN
terça-feira, 23 de outubro de 2018
BOLSONARO É FASCISTA! NOSSA TAREFA ESSA SEMANA É MOSTRAR AO BRASIL O QUE É FASCISMO, DIZ SERRANO
O discurso do jurista Pedro Serrano, em evento da campanha de
Fernando Haddad (PT), no auditório do TUCA, em São Paulo, na noite de 22 de
outubro de 2018.
***
"Estamos aqui todos estarrecidos. Como pode a metade da
sociedade brasileira, por causa de um antipetismo abstrato, votar num sujeito
que idolatra outro sujeito, que colocou rato na vagina de mulheres para fazer
elas confessarem. Que comandou um órgão que torturou crianças de 1 ano, como o
filho do jornalista Demir Azevedo. É um impacto moral que atravessa todos nós.
Isso se dá por uma palavra que a gente precisa falar em alto
e bom som. Isso se dá por fascismo. Bolsonaro é um fascista! Isso quem fala não
somos nós, é a direita europeia usando isso com legitimidade.
Parece difícil a gente conseguir virar até lá. Porque, na
realidade, uma grande parcela das pessoas que convivem conosco criaram um muro
no ouvido. Não querem ouvir. Porque o fascismo tem uma característica
interessante, ele dialoga muito bem com o senso comum.
O senso comum é aquele senso que entende a verdade pelas
aparências. Nós temos a condição de virar isso porque lutamos contra o senso
comum todos os dias.
Aqui temos homens da ciência. A ciência fala para o senso
comum: 'você está vendo estrelas?' Não, ela responde, o que você está vendo é a
luz de uma estrela que morreu há centenas de milhões de anos. Olha a dificuldade
que é fazer isso, mas todo dia o cientista, de alguma forma, vence.
O esporte, desde as Olimpíadas gregas, mostra para as pessoas
que disputar faz parte da vida, mas que eu disputo de forma agônica, não
antagônica. Eu disputo com adversários, não com inimigos, porque todos merecem
a existência e o direito de competir.
Nós temos artistas, gente do belo, mas que incomoda muito o
senso comum porque mostra que harmonia e equilíbrio nem sempre está na ordem,
muitas vezes está no caos, porque o caos representa melhor essa vida contínua
caótica que a gente tem do que a eventual ordem. É a beleza que está perante a
gente que coloca cotidianamente o senso comum em choque e atenção.
Temos aqui as religiões que, independente de suas divindades,
ensinam para nós que não basta ter respeito, não basta ter ponderação, que é
importante ter compaixão, amar o outro, e amor ao outro é pular no abismo pelo
outro.
Senhores, a nossa tarefa, de todos aqui, é mais simples que a
tarefa que a gente tem no cotidiano. Precisamos mostrar ao povo brasileiro que
o fascismo é contra toda sabedoria, todo conhecimento, toda disputa com
respeito, toda beleza e toda forma de amor entre os homens. É essa a nossa
tarefa até a semana que vem." Veja o vídeo AQUI.
GGN
PESQUISADORES APONTAM PROFISSIONALIZAÇÃO DA REDE DE FAKES PRÓ-BOLSONARO NO WHATSAPP
Pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ) que acompanharam 90 grupos de WhatsApp ao longo das eleições afirmam que
os núcleos que apoiam Jair Bolsonaro atuam de maneira "orquestrada"
na difusão de fake news. As notícias falsas, ainda por cima, seriam produzidas
por profissionais e direcionadas a vários setores do eleitorado.
Segundo a reportagem da Agência Pública, grupos de apoio a
Ciro Gomes, Marinas Silva, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad também foram
monitorados, mas em menor quantidade. Foi nos grupos em favor de Bolsonaro,
contudo, que os pesquisadores detectaram profissionalismo e técnicas para
engajar o discurso em favor do capitão da reserva.
O estudo mostra, ainda, que de 30 mensagens disparadas em
favor do Bolsonaro, 1 veio de exterior. As fake news são produzidas e jogadas
em grupos que possuem até 250 pessoas como membros. Uma parte dessas pessoas,
voluntariamente, leva a notícia falsa de um grupo para outro. Com o prefixo do
número de celular, é possível criar grupos que atinjam todas as regiões do
País.
As mensagens são personalizadas para cair mais fácil no gosto
dos internautadas. Os principais temas abordados colocam o PT como um risco
para a família tradicional, como uma ameaça comunista, e exploram também a
questão da segurança, garimpando apoiadores à bandeira de Bolsonaro: o
armamento da população.
Segundo a Pública, a informação é que a ideia do Brasil virar
uma Venezuela caso o PT volte ao poder está sendo trabalhada por esses grupos
ao menos há 2 anos.
Há também casos em que os bolsonaristas se infiltram em
grupos de adversários, fingindo que são simpatizantes, e depois de ascenderem à
posição de administrador, deletam o grupo. Aconteceu com Marina Silva, por
exemplo.
Além disso, a pesquisa da UERJ mostra que há internautas
coordenando a mensagem que deve ser espalhada. Isso ficou claro após o primeiro
turno, quando discursos atacando o Nordeste pipocaram. Esses direcionadores
chegaram a deletar quem fazia ataques aos nordestinos, alegando que Bolsonaro
precisa de votos na região para vencer.
Leia a matéria completa aqui.
GGN
segunda-feira, 22 de outubro de 2018
XADREZ DA GRANDE BATALHA CIVILIZATÓRIA, POR LUIS NASSIF
PEÇA 1 - 2018 E
1968
Em 1964, derrubou-se um presidente da República e promoveu-se
uma eleição indireta que resultou na posse do Marechal Castello Branco. Do
mesmo modo, em 2015 houve outro golpe que derrubou uma presidente eleita.
As semelhanças entre os dois momentos foram desautorizadas
por quem comparava 2015 com 1968. No pós-68 houve tortura, agora, não. A
comparação, na verdade, é com 1964. Sem 64, não teria havido 68 e os demais
anos de chumbo.
Derrubado o governo, foram promulgados vários Atos
Institucionais, em uma escalada crescentemente repressiva. O primeiro, de
08/04/1964, dava ao governo militar o poder de alterar a constituição, cassar
leis legislativas, suspender direitos políticos por dez anos e demitir, colocar
em disponibilidade ou aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que tivesse
atentado contra “a segurança do país, o regime democrático e a probidade da
administração pública”.
A ideia inicial era permitir eleições diretas em 1966 e uma
nova Constituinte.
Em 27/10/1965 foi promulgado o AI-2 dissolvendo os partidos
políticos, aumentando de 11 para 16 o número de Ministros do STF (Supremo
Tribunal Federal), reabrindo as cassações e autorizando o governo a decretar
estado de sítio por 180 dias sem consultar o Congresso.
Em 05/02/1966 é promulgado o AI-3, instituindo eleição
indireta para governador, prefeitos das capitais indicados pelos governadores.
Em 07/12/1966, o AI-4, convocando o Congresso Nacional a
definir uma nova Constituição.
No dia 13/12/1968, o AI-5, concedendo ao Presidente da
República o poder de cassar mandatos, intervir em estados e municípios,
suspender os direitos políticos de qualquer pessoa, inclusive o direito ao
Habeas Corpus para crimes políticos.
No dia 01/02/1969 o AI-6, reduzindo de 16 para 11 o número de
Ministros do STF e cassando dois deles, que haviam se colocado contra a
cassação de um colega. Definiu também que os crimes contra a segurança nacional
seriam julgados pela justiça militar. Com base dele, houve inicialmente uma
lista de 33 cassações de deputados.
PEÇA 2 – O QUADRO ATUAL
PRÉ-68
Há um conjunto de fatores sugerindo que se entrou na fase
pré-68.
As listas e a deduragem
Na semana passada, a criação da Força-Tarefa de Inteligência
para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil – entendido como tudo que
possa comprometer a segurança nacional – foi indicativo óbvio do que será
feito. Tratei
o fato como o AI-1 do novo regime
Ontem, em seu discurso para os manifestantes da Avenida
Paulista, Bolsonaro anunciou que MST e MTST, entre outras organizações, serão
tratados como organizações terroristas em seu governo.
Um dos capítulos mais infames do período militar foram as
listas de suspeitos difundidas por jornalistas, intelectuais, professores,
contra seus próprios colegas, e que teve como personagem-símbolo Cláudio
Marques, o delator de Vladimir Herzog.
Ontem, em sua coluna do Estadão, Eliana Cantanhede inaugurou
formalmente a nova etapa Cláudio Marques, ao divulgar uma lista de diplomatas
“suspeitos” de contaminação esquerdista. Outros colegas a acompanharão.
Saliente-se que apenas repete o que grandes veículos fizeram
anos atrás com jornalistas que ousavam fazer o contraponto.
A naturalização da
violência
Em muitos veículos tenta-se minimizar a violência,
comparando-a a dos embates entre torcidas de futebol, mesmo estando disseminada
por todo o país.
Instituições
intimidadas
Outro indício claro é a intimidação das instituições. O filho
do candidato a presidente Jair Bolsonaro diz que para fechar o STF (Supremo
Tribunal Federal) basta um cabo e um soldado. Dois Ministros de manifestam em
on – Celso de Mello e Marco Aurélio de Mello. Os demais reclamam em off,
justificando a necessidade de apenas uma voz por todos, a do presidente da
casa, Dias Toffoli. Fontes ligadas a Toffoli avisam que ele prefere não se
manifestar para não colocar mais lenha na fogueira. Na verdade, a manifestação
ajudaria a jogar água na fervura, mas o bravo Toffolli ficou com receio de ser
atingido por algum respingo de água quente.
Celso de Mello alertou para o óbvio: é função da Constituição
assegurar que o poder de maiorias eventuais não se sobreponha aos princípios da
lei e aos direitos individuais. Aliás, foi o princípio central de determinou a
evolução de todas as constituições no pós-guerra, depois que se comprovou que
os nazistas se valeram dos instrumentos democráticos para compor uma maioria
que liquidou com a democracia, e que consagrou o papel do STF como contra
majoritário – isto é, contra eventuais ditaduras das maiorias (e obviamente das
minorias).
Nos últimos anos, no entanto, o STF – através de Luís Roberto
Barroso e Luiz Fux – se tornou o defensor da máxima de que o tribunal deve
atender às expectativas das maiorias. O constitucionalista Barroso se tornou o
principal propagandista do princípio que impulsionou o nazismo.
Ontem à tarde, em comício na Avenida Paulista, Bolsonaro
disse pelo telão que, eleito, mandará prender ou expulsar do país todos os
esquerdistas e mandará prender políticos da oposição. Não mereceu uma
admoestação sequer da Procuradoria Eleitoral, pelo claro desrespeito à ordem
legal.
Por outro lado, pesquisas internas do PT identificaram nos
programas denunciando a tortura o discurso mais eficaz contra Bolsonaro. Mas o
TSE suspendeu a veiculação dos programas que levantavam o tema.
PEÇA 3 – A GUERRA
DIGITAL
Há muitos pontos em comum na atual guerra digital com o que
ocorreu na época da Telexfree, a super pirâmide digital que deixou mais de um
milhão de vítimas no Brasil e arrecadou alguns bilhões de reais dos incautos.
Fui alertado para a coincidência após uma ameaça feita pelo Facebook por um
ex-vendedor da Telexfree, sugerindo que seu principal líder no país, Carlos
Costa, teria se acertado com Bolsonaro - provavelmente confundindo com o
economista homônimo.
Não se trata apenas do uso da informação em massa pelas redes
sociais – na época, a Telexfree usava uma metodologia eficaz para aparecer na
primeira página das pesquisas do Google -, mas também de interferir no
funcionamento de portais e blogs e até nos computadores pessoais dos
jornalistas e blogueiros visados. Aqui, no GGN, temos sofrido ataques similares
de DDoS e interferência nos computadores dos jornalistas. No primeiro turno,
conseguiram inviabilizar compartilhamento de artigos no Facebook.
A montagem da rede de Bolsonaro é trabalho antigo. Há mais de
dois anos era visível o trabalho em rede. A cada crítica feita à Lava Jato
apareciam enxames de bolsominions com um mesmo padrão de texto: caixa alta,
erros grosseiros de português e agressividade explícita, usando principalmente
o Facebook e o youtube. Mas com uma capacidade notável de ataques
sincronizados. No Twitter, a atividade maior sempre foi através de perfis
falsos – facilmente identificados pelo reduzido número de seguidores e por uma
numeração no nome, para facilitar a criação de novos perfis, sempre que os
anteriores fossem bloqueados.
Pouco antes, na véspera da reportagem da Folha sobre fakenews,
o Procurador Geral Eleitoral Humberto Medeiros minimizava o fenômeno: apenas
10% das mensagens do WhatsApp são em grupo, dizia ele. Dois dias depois, depois
que o caso se tornou escândalo mundial, o WhatsApp desabilitou 100.000 contas
suspeitas de propagar fakenews.
Só aí Medeiros trouxe informações de sua conversa com os
diretores do WhatsApp. No México e Índia ocorreram fenômenos semelhantes e a
empresa criou aplicativos permitindo identificar as notas mais compartilhadas,
enviá-las a agências de checagem e transmitir a contra-informação para toda
conta que recebeu a notícia falsa.
Ou seja, o fenômeno já havia se espalhado por vários países,
havia literatura sobre o tema e um tribunal que deverá custar R$ 10 bilhões no
próximo ano, sequer se preocupou em contratar estudos ou especialistas para se
preparar para enfrentar o fenômeno. Menos ainda os partidos políticos vítimas,
desde 2006, desse tipo de armação digital.
PEÇA 4 – A REDUÇÃO DE
DANOS DAS INSTITUIÇÕES
Em Brasília, há dois movimentos generalizados das
instituições: ou adesão a Bolsonaro ou política de redução de danos. Significa
fugir dos confrontos com os hunos, aprofundar a aproximação com o Estado Maior
das Forças Armadas, confiando que irá se comportar com mais racionalidade que
Bolsonaro, principalmente porque a proliferação das declarações violentas, e a
adesão de quadros militares a Bolsonaro, poderão colocar em risco, inclusive, a
hierarquia militar.
A única reação, portanto, será através do voto.
PEÇA 5 – A GRANDE LUTA
CONTRA A SELVAGERIA
A pesquisa CNT/MDA divulgada hoje mostra o seguinte quadro:
Intenção de voto para presidente (total):
- Jair Bolsonaro (PSL): 48,8%
- Fernando Haddad (PT): 36,7%
- Branco/Nulo: 11,0%
- Indeciso: 3,5%.
Nos últimos dias multiplicaram-se as declarações do grupo de
Bolsonaro sobre o que poderá esperar o país em caso de sua vitória.
Todo o quadro, explicado acima, poderá se concretizar, ou ser
evitado. Nos próximos dias haverá uma luta dantesca da civilização contra a
barbárie. Há sinais de que a onda Bolsonaro estabilizou e começa a recuar,
ainda que lentamente. O grande desafio será o de aprofundar o conhecimento
geral sobre Bolsonaro.
Se a esperança vencer o medo, será possível evitar o mais
profundo retrocesso civilizatória da história do país.
GGN
domingo, 21 de outubro de 2018
BREVE LISTA DE PERGUNTAS SIMPLES PARA DESPERTAR A RAZÃO DEMOCRÁTICA, POR ION DE ANDRADE
Foto Carta
Maior
Os manipuladores querem atiçar as emoções para obter
dividendos políticos e o ódio é a grande ferramenta para produzir
convencimento. Ele é irracional, fácil de atiçar e é o distintivo mais evidente
dos fascismos ao longo do tempo.
Aos democratas cabe o esforço de fazer despertar da hipnose
esses milhões tomados pela fascistização em marcha. E isso não pode ser feito
com uma outra manipulação de sentido contrário, temos que "quebrar o
encanto", trazendo as pessoas à razão. Não é fácil, porém só uma verdade, não
manipuladora, tem o poder de trazer de volta à consciência essa multidão de
hipnotizados, numa lógica inicial que talvez tenha que ser simples e de fácil
compreensão, como comida leve para doentes graves.
Sem ambição de ser exaustivo, e outras perguntas poderiam ser
incluídas nessa breve lista, seguem abaixo algumas delas, simples e fáceis,
para o diálogo com aqueles que queremos despertar desse sono hipnótico que pode
nos conduzir ao desastre.
Mulheres
- Você acha realmente que a licença maternidade deve ser
reduzida? Por que se o país está mais rico do que em 1988 quando foi aprovada?
Como fica o aleitamento materno dos bebês?
- Você acha que ter filhos, desejo de todo casal e
necessidade para de qualquer nação, deve onerar apenas as mulheres com uma
redução de salários? Os filhos são importantes apenas para as mulheres? Nesse
sentido as mulheres devem ganhar menos realizando o mesmo trabalho que o homem?
- As mulheres, em média menos fortes fisicamente que os
homens são particularmente vulneráveis a todos os tipos de violência. Você
realmente acha que o estupro deve se tornar uma forma de ameaça e punição às
mulheres, mesmo apenas na retórica?
Trabalho, saúde,
educação e direitos sociais
- Você acha realmente que o décimo terceiro salário deve ser
suprimido? Como fica o Natal? Como ficam os empregos no comércio no fim de ano?
- Você acha que o adicional de férias do trabalhadordeve ser
abolido para aumentar a margem de lucro dos patrões?
- Você acha que deve trabalhar mais tempo para se aposentar
do que você já trabalha? Você é a favor de uma Reforma da Previdência que
obrigue o trabalhador a trabalhar praticamente até morrer? Você realmente
concorda em perder, o que inclui os seus filhos e netos, direitos
previdenciários duramente conquistados?
- Você realmente acha que a assistência à saúde vai melhorar
com menos dinheiro?
- Você acha que com 20 anos de congelamento do SUS teremos
mais empregos para os profissionais de saúde?
- A mortalidade infantil e a materna já começaram a crescer
novamente, não deveríamos voltar a investir na saúde?
- Você realmente acha que uma criança de cinco, seis anos
pode ter como estratégia pedagógica para aprender a ler a Educação à Distância?
Você não acha que isso pioraria os níveis educacionais, sobretudo entre os mais
pobres? Você inscreveria o seu filho ou filha nessa proposta de ensino?
Violência e Minorias
- Você acha que estará mais seguro se o dono do carro que
você acabou de abalroar no trânsito estiver armado?
- Você acha que os seus filhos estarão mais seguros na escola
quando os colegas de turma puderem furtar as armas dos seus pais e levar para a
sala de aula?
- O casamento de Estado Mínimo e facilitação da compra de
armas significa que você estaria sendo terceirizado para cuidar da sua própria
segurança, até porque o que se promete é que não haverá concursos públicos por
cinco anos, o que significa não reposição de policiais e menos policiamento.
Você acha isso positivo?
- Você acha que a polícia deve realmente ter carta branca
para matar e não possa ser processada se vier a matar inocentes? E o que
faremos com os assassinos e psicopatas que já estiverem infiltrados na polícia?
E o que faremos quando o jovem voltando para casa de noite, vindo do trabalho,
do estudo ou da casa da namorada, for morto porque caiu nas mãos de maus
policiais?
- Vivemos numa sociedade racista onde ser negro evoca
preconceitos longamente sedimentados por uma mentalidade ainda escravocrata,
por isso não é raro que jovens negros sejam mortos pela polícia confundidos com
bandidos. Você realmente acha que dar à polícia carta branca para matar,
tornaria esse problema menos grave? Você não acha que isso aumentaria o
sofrimento de famílias já sofridas?
- Você acha que os índios, depositários de uma cultura
ancestral e primeiros seres humanos a viver no Brasil não merecem mais nem 1
(hum) centímetro de terra? Quem perde com isso? Como ficam as crianças?
- Você realmente acha que um homossexual pode ser assassinado
apenas pela sua opção sexual? Lembre que você deve ter parentes e amigos que
serão alvos potenciais dessa violência.
- Você acha que a tortura, contra a qual a civilização cristã
luta há mais de dois mil anos deve se tornar algo corriqueiro e os torturadores
mais brutais serem tidos como heróis nacionais? O que esses valores ensinarão
aos nossos filhos? São valores que você ensina em casa?
Campanha
- Você acha que um candidato pode ser eleito sem ter passado
por nenhum debate de ideias? Você realmente concorda com isso?
- O debate é o raro momento em que os candidatos se apertam
as mãos, o que é um símbolo do respeito recíproco. Você concorda que um
candidato trate os seus opositores como inimigos, prometendo, por retórica ou
não, inclusive metralhá-los?
- Você acha que um candidato pode fazer pose de moralista e
ter sido beneficiado por doações empresariais proibidas via caixa 2 quando há
pessoas de outros partidos que estão presas pelo mesmo motivo?
A hipnose fascista é simplificadora e torna as pessoas
facilmente avessas a discursos complexos. A volta à realidade talvez tenha que
ser feita em doses homeopáticas com lógicas simples que possam trazer à
consciência os valores da civilidade, da solidariedade e do respeito mútuo que
estão reprimidos mas não desapareceram.
Temos que dialogar.
GGN