TV
Cultura pede menos discurso de ódio, após participação de Villa
Decisão
da entidade que administra o canal público ocorreu exatamente um dia após a
participação espalhafatosa do historiador.
A participação do comentarista Marco Antonio Villa no Jornal Da
Cultura levou o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta a emitir nova
orientação os programas e telejornais para reduzir "discurso de ódio"
e procurar favorecer mais pluralidade. É o que conta Mauricio Stycer em sua
coluna na Folha de S.Paulo.
A
decisão da entidade que administra o canal público do Estado de São Paulo
ocorreu exatamente um dia após a participação espalhafatosa do historiador que
fez diversos comentários atacando de frente vários políticos durante a edição
do dia 3 de abril do Jornal da Cultura, usando frases como "Dá nojo! Nojo
da gente ver, como brasileiro que tem sangue nas veias, que um bandido, um
ladrão como Lula", ou "desembargadores ladrões", e ainda:
"Eu sei até o nome do ministro que ele [Sérgio Cabral] comprava quando era
do Tribunal de Justiça e que hoje tá lá em Brasília. É bom lembrar: um carioca
que tem um cabelo com topete".
Trechos
de sua participação, inclusive, onde ataca de forma violenta outros políticos
como o Senador Roberto Requião (PMDB-PR), foram cortados da edição.
O
"Jornal da Cultura" registrou no último dia 3 de abril média de 1,1
ponto em São Paulo (cada ponto no Ibope equivale a 199,3 mil indivíduos).
Apesar da baixa audiência, a edição se tornou item de colecionador entre
advogados.
O
comentarista Marco Antonio Villa estava especialmente "bravo" naquele
dia, como notou o apresentador William Ferreira. Ao comentar o convite do
governador de Minas, Fernando Pimentel, para que o ex-presidente Lula
participasse das celebrações do 21 de abril, em Ouro Preto, Villa disse:
"Dá nojo! Nojo da gente ver, como brasileiro que tem sangue nas veias, que
um bandido, um ladrão como Lula vai homenagear Tiradentes. É a segunda morte de
Tiradentes!"
Falando
sobre a situação calamitosa das finanças do Estado do Rio, Villa observou:
"O Tribunal de Justiça está comprado pelo governador". Disse ainda
que há vários "desembargadores ladrões" no Estado.
E
acrescentou: "E olha que vai ter repercussão em Brasília com a delação do
Sérgio Cabral. Eu sei até o nome do ministro que ele comprava quando era do
Tribunal de Justiça e que hoje tá lá em Brasília. É bom lembrar: um carioca que
tem um cabelo com topete. Vocês vão pensando quem é."
Em
outro trecho, suprimido pela TV Cultura da versão hoje disponível em seu site,
Villa falou do senador Roberto Requião (PMDB-PR), a quem chamou de "a
Maria Louca do Paraná": "É aquele cara que você não compra um carro
usado, que pode dar uma nota de três reais pra você ou bater a sua
carteira".
Uma
semana depois, no dia 10, o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, ao
qual a TV Cultura está vinculada, se reuniu. Do encontro, saiu uma reflexão
sobre os comentários de Villa, encaminhado à direção da emissora, no qual se
lamenta que o comentarista esteja se manifestando por meio de "verdadeiros
discursos de ódio e de incitamento à violência".
Mais
importante, o conselho aprovou novas diretrizes para o jornalismo da TV
Cultura. O documento, ao qual este colunista teve acesso, faz recomendações
óbvias, mas que não vêm sendo cumpridas pela emissora. O texto diz, por
exemplo, que a pluralidade político-ideológica "deve efetivar-se nas
escolhas das pautas e das reportagens, na seleção e na orientação dos
entrevistados e dos entrevistadores".
O
Conselho Curador observa, ainda, que âncoras, apresentadores e editores
precisam "garantir a sua credibilidade pelo exercício da isenção
crítica". O documento pede também "mais debate, mais diferença, mais
contraposição de ideias".
E,
por fim, observa que "o jornalismo público de qualidade" não pode
servir de "tribunas para a divulgação de ofensas, denuncismos e discursos
de ódio".
Em
artigo publicado na Folha nesta quinta-feira (20), três membros do Conselho
Curador, o jornalista Jorge da Cunha Lima e os advogados Belisário dos Santos
Jr. e Rubens Naves, cobram algo semelhante da TV Cultura: "Deve manter
compromisso igualmente firme com a diferenciação entre comentários e análises
acolhidos e protegidos sob o princípio da liberdade de opinião e os denuncismos
inconsequentes".
As
recomendações do Conselho Curador à direção da TV Cultura ocorrem no mesmo
momento em que, após revelação da Folha, a emissora reconhece publicamente ter
censurado um programa musical, o "Cultura Livre", apresentado por
Roberta Martinelli, para "não difundir ideias ou fatos que incentivem a
polarização".
Os
excessos cometidos pelo comentarista político são apenas a ponta visível de um
problema maior. A TV Cultura está diante de um grande desafio, que é reverter a
sua perda de relevância.
Com
informações do GGN