Joesley
Batista contou na Época o que todo o mundo com meio neurônio já sabia: Temer é
um chefe de gangue.
No
entanto, cheios de amor e de esperança, querendo agradar seus patrões a todo
custo, jornalistas fizeram previsões furadas e propaganda desse governo,
baseados no mais puro wishful thinking e, eventualmente, canalhice.
A
ideia era vender a ideia de o golpe não era golpe e que a destituição
de Dilma “ia tirar o Brasil do buraco”, tese consagrada por Eliane
Cantanhêde, uma espécie de porta voz terceirizada de Temer.
Em
abril, numa entrevista a uma rádio, ela disse seguinte: “Conversei com o Michel
Temer nessa semana. Ele está muito seguro e muito sereno. Fala que está pronto
para assumir a responsabilidade, que é tirar o país do buraco. O Michel Temer,
por ter mais gás, parece ter chances de conseguir”.
Confira
uma seleção de 12 promessas que a mídia fez e os midiotas acreditaram.
1. O pior que não ficou no retrovisor
Míriam
Leitão publicou em 16 de julho a coluna “O
pior pelo retrovisor”, no Globo. Num tom otimista, traçava um panorama da
economia brasileira baseado apenas na valorização dos papéis da Petrobras e na
alta das bolsas de valores.
E
acrescentava: “O resultado reflete a percepção de algumas melhoras, inclusive
regulatórias, na economia e a avaliação de que a recessão está perdendo força,
apesar de estar claro que não haverá a volta rápida do crescimento”.
As
contas do governo Temer tiveram um déficit de R$ 38,4 bilhões em novembro, o
pior resultado para o mês desde
1997. No mesmo mês do ano passado, com o governo sob Dilma, o saldo
negativo foi de R$ 21,2 bilhões. Parece que o pior da economia está longe de
sair do retrovisor, seja dos investidores ou dos cidadãos comuns.
2.“Pior que tá, não fica”
Em
maio de 2016, quando o impeachment caminhava para minar o poder de Dilma
Rousseff, Eliane Cantanhêde publicou várias colunas no Estadão dizendo
que é “pior sem ele”.
No
mês de dezembro, o Datafolha divulgou que 58% das pessoas consideram Michel
Temer pior do que Dilma. Parece que ficou pior do que estava.
3. Previsão de crescimento de 1% que
sumiu
Uma
reportagem do site
da Exame de setembro apontou que a economia sob Michel Temer poderia
crescer 1% em 2016. A previsão foi traçada pela consultoria em negócios
internacionais e políticas públicas Prospectiva, levando em conta até mesmo a
Lava Jato.
O
chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou em
dezembro deste ano que a previsão para 2016 é de recessão
de 3%, com queda na oferta de crédito bancário. Parece que as consultorias
de estimação estão perdendo crédito em suas análises em menos de seis meses.
4. “Golpe contra o impeachment”
Antes
de ficar famoso nacionalmente por perguntar a Temer como ele conheceu a mulher
numa farsa no “Roda Viva”, Noblat escreveu um artigo bonito acusando um “golpe
contra o impeachment”.
O
texto faz denúncias de uma compra de votos contra o afastamento de Dilma
Rousseff — para variar, sem apresentar provas. Teriam ocorridos
pixulecos de R$ 1 milhão por voto “não” e R$ 400 mil pelas ausências.
Parece
que o golpe contra o golpe não se concretizou. Noblat nunca explicou como é que
essa operação milionária fracassou.
5. “Interrupções presidenciais
têm impacto positivo”
Merval
Pereira falou no dia 17 de janeiro de um estudo de um economista chamado Reinaldo
Gonçalves, da UFRJ. O especialista tentava provar que o impeachment de
Dilma poderia ser positivo.
Segundo
o texto reforçado por Merval, o impedimento reverteria a recessão em 2017 e
impulsionaria a economia em 2018.
Nenhum
dos sinais dessas medidas com “impactos positivos” foram vistos com
Michel no poder. Merval Pereira aproveitou a coluna para alfinetar
advogados que criticaram a Operação Lava Jato. Nunca mais citou o tal Reinaldo.
6. Cunha “não tem nada a ver com
o impeachment”
Merval
também dá suas cacetadas no Jornal das 10 da GloboNews.
No dia 13 de dezembro de 2015, ele soltou no programa que o então presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, não tinha relação com o golpe. Um santo.
“Eduardo
Cunha não tem nada a ver com o impeachment. O Eduardo Cunha foi o presidente da
Câmara que aceitou, viu que tecnicamente havia condições de aceitar aquele
processo, aquele pedido. Então ele não tem nada a ver com isso, quem vai
decidir mesmo é o plenário da Câmara”.
Merval
jogou a responsabilidade num Congresso que tem maioria com pendências na
Justiça só para tentar livrar a cara de um processo conduzido por um notório
corrupto. Em 2016, consumado o golpe, Cunha foi preso. Merval Pereira nunca
mais tocou no assunto.
A equipe de ilusionistas da GloboNews
7. “Impeachment ou caos”
O
economista Rodrigo Constantino, o amigo do Pateta que foi demitido da Veja e do
Globo e hoje tem coluna na Istoé, publicou um artigo em abril com o título: “impeachment
ou caos!”.
Era
baseado em teses esplêndidas como a de que o presidente Temer faria um
“governo suprapartidário” caso o golpe prosperasse, usando aspas do professor
de filosofia Denis Rosenfield.
Para
Constantino, o governo Temer seria um sucesso porque não teria vermelho em sua
bandeira. O único golpe possível era o que o PT estava fazendo, seja lá o que
isso signifique.
8. Golpe “cristalizado”
Quando
o impeachment foi consumado, em setembro, Eliane Cantanhêde afirmou em texto
que o governo Michel Temer sofre com protestos mas “termina
em pé”. Comparou-o a Itamar Franco.
“A
palavrinha mágica ‘golpe’ ajudou a cristalizar, talvez em milhões de pessoas, a
percepção de que o impeachment de Dilma foi ilegal e ilegítimo, a ‘jornada de 12
horas’ ajuda a oposição a ratificar que Temer vai retroceder nos direitos e
abandonar os pobres à própria sorte. Em vez de falar esse absurdo, o governo
bem que poderia ter usado e abusado, a seu favor e a favor da verdade, dos
resultados do Ideb, que configuram o fracasso da ‘pátria educadora’ de Dilma”,
diz Eliane no jornal.
9. A “revolta armada” do PT que não
existiu
O
ex-presidente Lula publicou uma cartilha criticando os procedimentos da
Operação Lava Jato. Na cabeça do colunista Reinaldo Azevedo, a carta afirmava
que o PT ia optar por uma “revolta armada”, segundo sua coluna na Folha
de S.Paulo em agosto.
Dilma,
segundo Reinaldo, era a “Afastada”. “Que bom que a ópera petista chega ao
último ato, com o próprio partido chamando os inimigos por seus respectivos
nomes. É o PT quem me dá razão, não os que concordavam comigo”, diz ele, sem
explicar como se daria a revolução do partido de Lula em curso.
10. O editorial que mais curtiu o
impeachment
“Impeachment
é o melhor caminho” é o editorial de apoio ao golpe mais
explícito publicado na imprensa. Feito pelo mesmo time do Estado de
S.Paulo que chamou o jornalista Glenn Greenwald de “ativista
petista” e pediu sua expulsão do Brasil, o texto é rico em previsões
furadas sobre o governo Temer já em abril de 2016.
As
propostas de novas eleições “são fórmulas engenhosas para resolver um problema
complicado. Pena que sejam todas, pelas mais variadas razões, impraticáveis”.
Hoje,
a notícia é de que a maioria da população apoia eleições diretas segundo
absolutamente todos os institutos de pesquisa.
11. “A saída da crise”, segundo Paulo
Skaf
Nenhuma
lista dessa natureza ficaria completa sem as revistas da Editora Três, aquela
que concedeu a Temer o título de Brasileiro do Ano.
Em
março, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, estava na capa da IstoÉ Dinheiro com
a chamada “A reação dos empresários”.
“O
impeachment de Dilma é a saída mais rápida da crise”, falou. A reportagem
destacava a atuação dele para conseguir a adesão “de boa parte da classe
empresarial, da indústria ao varejo”.
De
acordo com Skaf, a “economia está indo mal por causa da crise política. Há
confiança no Brasil, mas não há confiança no governo”.
Ah,
sim: o industrial sem indústria é um dos citados na delação da Odebrecht.
12. As instituições funcionam
O
Globo, que defendeu o golpe militar de 64 e só se desculpou 50 anos depois,
defendeu o impeachment com unhas e dentes em vários editoriais.
Num
deles em especial, de 30 de março, a família Marinho mandou ver: “Na estratégia
de defesa e nas ações de agitação e propaganda de um PT e de uma presidente
acuada no Planalto, a palavra ‘golpe’ ganha grande relevância”.
O
impeachment de Dilma, fomos informados, “transita pelas instituições sem
atropelos. Em 64 seria diferente”.
E
finalizava: “Aceite quem quiser que políticas de supostos benefícios aos pobres
podem justificar a roubalheira. Não num país com instituições republicanas
sólidas”.
Pois
é.
Do
DCM