Parlamentar recorre ao contraventor para obter patrocínio de R$ 7 mil para uma sondagem de intenções de votos à Prefeitura de Goiânia.
O deputado federal Sandes Júnior (PP-GO) pediu ao contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, ajuda financeira para bancar pesquisa eleitoral. Numa conversa gravada pela Polícia Federal, o parlamentar recorre ao contraventor para obter patrocínio de R$ 7 mil para uma sondagem de intenções de votos à Prefeitura de Goiânia.
Dida Sampaio/AE
O deputado Sandes Junior pedia patrocínio de R$ 7 mil para a sondagem
O inquérito da Operação Monte Carlo mostra que a quadrilha de Cachoeira, com interesse em contratos no município, trabalhava para emplacar a candidatura do senador Demóstenes Torres (sem partido, GO) nas eleições deste ano. Sandes fazia lobby para ser vice do parlamentar, apontado como favorito em levantamentos internos de partidos aliados.
"Cê não arruma um patrocinador pra uma pesquisa do Serpes (instituto de pesquisas que atua em Goiás), não? É R$ 7 mil", diz o deputado ao contraventor, num telefonema de 22 de agosto de 2011, interceptado pela PF. "Vê se fala com uns amigos seus lá de Anápolis. Sete mil conto, bem feita. Mil e cem entrevistados. Margem de erro é (de) dois por cento", explica.
Sandes informa a Cachoeira que a pesquisa simularia dois cenários, um com e outro sem Demóstenes. Consegue do contraventor uma promessa: "Tá, eu vou olhar, tá bom?"
Os dois falam sobre a possibilidade de Demóstenes ser candidato e o interesse de Sandes de compor a chapa. "Eu quero ser o vice dele, a não ser que ele não queira", avisa o deputado. " Ele quer ocê de vice, rapaz!", emenda Cachoeira. "Melhor do que eu não tem, não", gaba-se o parlamentar.
O Serpes informou ao Grupo Estado que Sandes Júnior costuma encomendar levantamentos, mas, no ano passado, nenhum foi feito. "Ele faz orçamentos, solicita relatórios. Mas não houve nenhuma em 2011. Em março, abril deste ano é que fizemos uma para ele. Foi sondagem para a prefeitura", explicou Antônio Lorenzo, um dos responsáveis pela empresa, sem dar detalhes sobre o pagamento. Segundo ele, a pesquisa não foi divulgada ou registrada na Justiça Eleitoral.
Em laudo da PF, uma das sócias da Serpes, Ana Cardoso de Lorenzo, aparece como beneficiária de um repasse de R$ 56 mil da Alberto e Pantoja Construções, empresa acusada de lavar dinheiro no esquema do contraventor, como revelou o Estado este mês.
Lorenzo disse nesta sexta-feira, 27, que o valor consta do extrato bancário de Ana, que é sua mulher, mas não soube explicar o motivo: "Encontrei um depósito da Pantoja. O que pode ter sido, não tenho a mais mínima certeza. Naquela época, vendi lotes, mas não foi por R$ 56 mil".
Sandes diz ter recorrido a Cachoeira por causa da proximidade do contraventor com empresários de Anápolis, importante centro financeiro de Goiás, mas, por fim, o patrocínio não teria se concretizado. Segundo ele, o contraventor seria apenas um intermediário, por causa da sua proximidade com empresários: "Sou de Goiânia e ele é um cara que nasceu em Anápolis, conhece todas as pessoas, os industriais. Mas encontrei com ele depois, num restaurante, e ele falou que estava muito cedo para a pesquisa", explicou.
"Poder na mão". A PF também fez gravações que mostram que as articulações de Cachoeira em favor da candidatura de Demóstenes acontecem desde o início do ano passado. Em registro do dia 13 de março de 2011, o contraventor conversa com o vereador Santana Gomes (PSD), que propõe um café da manhã para o dia seguinte, a fim de combinar "estratégia beleza" para estruturar a candidatura do senador.
O vereador, que chama Cachoeira de "chefe", é objetivo em relação ao propósito da candidatura do senador: "O Demóstenes vai ser nosso prefeito, não vai? Nós temos que ter alguém com o poder na mão, chefe", diz o vereador.
Com informações do Estadão