Principal
financiador do filme sobre a Lava Jato, o empresário Sérgio Amoroso é um tipo
controvertido. Self-made-man, começou a vida como office boy, montou uma
companhia de venda de papéis e, em 1999 conseguiu assumir o controle do Projeto
Jari, que estava sob intervenção do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), pagando 1 real e assumindo as dívidas.
Desde
então, tornou-se uma espécie de Dr. Jekill e Mr. Hide do setor de celulose.
Numa ponta, recebeu vários prêmios de responsabilidade corporativa, apregoando
a defesa da sustentabilidade, as iniciativas em favor de crianças com câncer,
entre outras atividades meritórias.
Em uma
entrevista a uma revista de sustentabilidade, Amoroso deu a fórmula de
sucesso do grupo:
“Para
o Grupo Orsa, o desenvolvimento dos negócios deve ser um fator de transformação
da sociedade, por meio de ações economicamente viáveis, socialmente justas e
ambientalmente corretas. O compromisso com os funcionários, a cooperação com os
fornecedores, o apoio às comunidades e a preocupação com o meio ambiente
norteiam todas as decisões de negócio”.
No
silêncio da selva amazônica, as informações que poucas vezes chegavam ao
sudeste mostravam um perfil diferente.
No
dia 4 de dezembro de 2015, uma operação de Polícia Federal foi atrás
de agentes públicos do estado do Pará, da Secretaria do Meio Ambiente e do
Instituto de Terra do Pará, envolvidos em fraudes no sistema de comércio
florestal, beneficiando justamente o Projeto Jari. Houve buscas e apreensões em
41 endereços ligados a cinco empresas. Houve duas prisões preventivas e 16
temporárias.
Segundo
as investigações, 81% da madeira retirada do plano de manejo fraudulento tinha
sido destinada à Jari Florestal, uma das maiores empresas exportadoras de
madeira do país. Com o avanço das investigações, a Polícia Federal descobriu
que o mesmo tipo de operação com evidência de fraude ocorreu envolvendo a Jari
e outros planos de manejo.
O
golpe foi batizado de “lavagem de madeira”. Segundo a nota do Ministério
Público Federal do Pará, “a madeira retirada em desmatamentos ilegais na
Amazôniaentra nos sistemas de controle da comercialização de produtos
florestais por meio de fraude em planos de manejo aprovados pelo poder público,
geralmente em nome de laranjas. Comprada por grandes empresas exportadoras, a
madeira derrubada ilegalmente é vendida com aparência de legalidade para
compradores no exterior”.
Só
de um dos planos, segundo o Ministério Público, foram movimentados mais de R$
28 milhões em madeira ilegal entre dezembro de 2014 e fevereiro deste ano,
devido ao alto valor comercial do ipê.
Constatou-se
que 81% da madeira fraudada tinha sido destinada à Jari Florestal S.A., de
Sérgio Amoroso. Era tanta madeira que necessitava do equivalente a uma frota de
220 caminhões para ser transportada.
O
golpe da Jari se ampliou com a compra de créditos para comercialização de ipê
de sete empresas próximas a Belém. A fraude era tão escancarada que os
registros indicavam que a madeira levou 10 minutos para ser transportada de
Almerim a Belém, a 800 km de distância.
Foi
apenas o desfecho de uma aventura empresarial enganosa. Amoroso criava uma
falsa blindagem com seus projetos beneméritos. Mas desde a compra do Jari
mergulhou em vários problemas financeiros. Em uma de suas últimas crises,
contou com a ajuda de deputados do PT e do PSOL para obter ajuda do BNDES.
Sobram
denúncias de abusos cometidos na Amazônia. Montou um negócio de madeira em que
o plantio era de sitiantes. Aqueles que não concordavam em aderir ao plantio
eram ameaçados.
Em
duas ocasiões realizou demissões maciças de trabalhadores. Em 2008 recebeu R$
170 milhões do BNDES para o financiamento do plantio de eucalipto, com a
condição de manter os empregos. Para firmar posição a favor do emprego admitiu
800 trabalhdores. Mal recebeu o financiamento, demitiu 700.
Em
2016, contou com a ajuda dos senadores Davi Alcolumbre (DEM) e João Capiberibe
(PSB) e Paulo Rocha (PT) para solicitar novo apoio ao BNDES.
Este
ano, surgiram notícias de dificuldade de pagamentos a terceirizados, além de
alguns pedidos de falência.
Do GGN