"Os brasileiros não devem ser
enganados: além de suas visões sociais não liberais, Bolsonaro tem uma
admiração preocupante pela ditadura", alerta revista britânica para riscos
do candidato da extrema direita.
"Hoje em dia os brasileiros
devem se perguntar se, como a divindade no filme, Deus saiu de férias",
escreveu a revista britânica "The Economist", no artigo "Jair
Bolsonaro, a mais recente ameaça da América Latina", publicado nesta quinta-feira
(20).
A reconhecida revista não só
apresentou o candidato da extrema direita como ameaça em editorial, como também
estampou na capa da edição desta semana, com uma fotografia do presidenciável
nas cores do Brasil, com a manchete: "A
última ameaça da América Latina: BOLSONARO PRESIDENTE".
No texto, a publicação faz menção ao
filme "Deus é brasileiro", ao valorizar as riquezas naturais, a
música e a beleza do país, que agora tem tudo a perder. "O Sr. Bolsonaro
seria uma adição particularmente desagradável ao clube de populistas no mundo.
Se ele vencesse, poderia colocar em risco a própria sobrevivência da democracia
no maior país da América Latina", pontua.
A reportagem lembra que os grandes
índices de intenções de voto a Bolsonaro se devem às justificativas de uma
economia fracassada, com alto nível de desemprego, a corrupção do colarinho
branco, o descrédito da classe política deflagrado pela Operação Lava Jato, um
Congresso que torna a corrupção de Michel Temer impune, etc.
"Até então, ele era um
congressista de sete mandatos pelo estado do Rio de Janeiro, reconhecido de
longa data por ser grosseiramente ofensivo. Bolsonaro disse que não iria
estuprar uma congressista porque ela era 'muito feia'; que preferiria um filho
morto a um gay; que os quilombolas que vivem em assentamentos são gordos e
preguiçosos", enumerou.
"Mas, de repente, essa
disposição de 'quebrar tabus' está sendo interpretada como uma prova de que ele
é diferente dos padrões políticos da capital, Brasília", concluiu The
Economist: "E, assim, para os brasileiros desesperados por se livrarem de
políticos corruptos e traficantes de drogas assassinos, o Sr. Bolsonaro se
apresenta como um xerife sensato."
Sobre o recente ataque a Bolsonaro
durante um comício, a revista afirma que "só o tornou mais popular e o
protegeu de uma crítica mais minuciosa pela mídia e por seus
adversários".
Mas a edição pede cuidado, ao se
lembrar do que diz a própria história da América Latina. "Os brasileiros
não devem ser enganados: além de suas visões sociais não liberais, Bolsonaro
tem uma admiração preocupante pela ditadura".
Um dos exemplos citados é o caso da
ditadura no Chile de Augusto Pinochet (1973-1990), que misturou políticas
autoritárias com a economia liberal do "Chicago Boys". "Eles
ajudaram a estabelecer o terreno para a prosperidade relativa de hoje no Chile,
mas a um custo humano e social terrível", relembrou.
Por fim, o editoral sugere que os
brasileiros não devam se deixar levar por Bolsonaro, cujo lema poderia chegar a
ser "eles torturaram, mas agiram". "A América Latina conhece
todos os tipos de homens fortes, a maioria deles terríveis".
E os riscos são grandes, considerando
que "a democracia do Brasil ainda é jovem" e que "até mesmo um
flerte com autoritarismo é preocupante".
"Em vez de cair nas promessas
vãs de um político perigoso, na esperança de que ele possa resolver todos os
seus problemas, os brasileiros devem perceber que a tarefa de curar sua
democracia e reformar sua economia não será fácil, nem rápida. Algum progresso
foi feito - como a proibição de doações corporativas a partidos e o
congelamento de gastos federais. Muito mais reformas são necessárias. O senhor
Bolsonaro não é o homem que o fornece", finaliza.
GGN