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quinta-feira, 5 de abril de 2018

A liberdade que não nos podem tirar., por Fernando Brito

Ontem, o país viveu um das últimos – e certamente o maior – obstáculo ao despenhadeiro do fascismo e da perda da institucionalização.
O maior, tenham em mente, desde o dia em que o circo da Câmara dos Deputados votou pela abertura do processo de impeachment da presidente democraticamente eleita, Dilma Rousseff.
Não se iluda por questões de legalidade constitucional, destas que há muito a maioria do Supremo deixou para trás e que fizeram soar patética a aula de constitucionalismo dada pelo insuspeito Celso de Mello em seu voto.
A Constituição é lana caprina, expressão que os advogados usam para dar nome a algo de pouco valor, tal como foi o impeachment sem crime de responsabilidade há dois anos.
Sob certos aspectos, porém, o que se deu ontem é pior, muito pior que o domingo da vergonha de 2016, porque ali apunhaláva-se o presente mas sobrevivia o futuro do processo eleitoral.
Agora, o que se fez foi matar a esperança de que  se pudesse voltar ao leito democrático em outubro.
Há um ar inescondível de tragédia.
Tintas de uma releitura do agosto de 1954, onde a cena trágica será ainda vivida, com as imagens mórbidas da condução de Lula à cadeia, num féretro que será festejado pelos corvos e abutres de uma classe média, enfim, condenada a roer a sua vida miserável pondo a culpa de todas as nossas mazelas no povo brasileiro, esta gente -para eles – indolente, desonesta, negra e parda, inferior ao ponto de merecer o nome de “povinho”.
O processo que começou com os udenistas de 2013, os do “padrão Fifa”, deságua na cena previsível, mais ainda pelo próprio Lula, ao resumir, na única declaração da qual, até agora, se tem publicada: ““Ninguém deu um golpe para me deixar candidatar.”
Ontem, antes do trágico espetáculo que Cármen Lúcia dirigiu no Supremo com o mesmo cinismo com que Eduardo Cunha comandou a apresentação circense – Luís Roberto Barroso, aliás, com seu demagógico discurso, encarnou uma versão “cult” daqueles que prometiam o Brasil dos céus ao votarem pela ruptura democratíca – o analista de pesquisas Antonio Carlos Almeida, autor do clássico “A cabeça do brasileiro”, escreveu o que se pode sentir no imaginário deste país:
Lula é politicamente grande porque tem voto, e isso é o fundamento da democracia. Lula tem voto para receber e transferir, quem trabalha com pesquisa sabe disso. Porque tem voto, ele motiva medo em seus adversários e esperança em seus seguidores.(…)Vale aqui novamente o contrafactual: se Lula não fosse do tamanho que é, não estaríamos nem escrevendo, nem lendo sobre ele, nem conversando nem ouvindo o que dizem dele, tampouco estaríamos preocupados com o desfecho dos julgamentos que a ele dizem respeito. Os ministros do Supremo, ao julgarem o habeas corpus de Lula, independentemente do resultado, apenas dizem o mesmo que esse artigo: Lula é politicamente grande. É importante que o país tenha consciência disso.
Na gente que não fala, que é o personagem ausente da polêmica política, fica algo que, nas pesquisas, só aparece nas intenções de voto, não em respostas explícitas: Lula é perseguido porque ousou fazer algo pelos pobres.
Esta é a sua resistência, como foi, há mais de 60 anos, a transformação de Getúlio Vargas em um fantasma a assombrar e maldizer a direita.
É preciso não fazer bravatas, cantar vitórias ou propor tolices.
A dor pode ser combustível de nossas chamas, mas não a mão que nos guia.
O primeiro passo é recusar o processo autofágico e recordar que tudo isso ocorre não pelos defeitos e erros do petismo ou de Lula, que existem, é claro.Ocorre por seu significado, ocorre pelo seu simbolismo, ocorre pelo que ele representa para o Brasil.
E não vai deixar de representar porque meia-dúzia, exatamente meia-dúzia, de algozes da elite negaram, por algum tempo, seu direito de ser um homem “externamente livre”.
Porque as nossas cabeças, as nossas idéias, os nossos pensamento e ações, a estes não há grades capazes de conter.
 Do Tijolaço

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Lições de Casa-grande & senzala para o Brasil atual, por Mário Lima Junior

A frase “A casa-grande surta quando a senzala vira médica” surgiu em 2016 com Suzane da Silva, jovem negra estudante de Medicina que sofreu ataques racistas na internet. E viralizou no ano seguinte a partir da postagem no Facebook de Bruna Sena, primeira colocada no vestibular de Medicina da USP de Ribeirão Preto e negra também. Casa-grande & senzala, obra-prima de Gilberto Freyre publicada em 1933, ajuda a entender o país onde vivemos e o protesto dessas estudantes.
Qualquer livro se torna um desafio em tempos de leituras rápidas usando o celular, imagine um livro de mais de 500 páginas. A leitura de Casa-grande & senzala é densa, afinal, o Brasil não é simples. Cansa menos se esconder atrás da ignorância e xingar nas redes sociais.
Na opinião de Darcy Ribeiro, outro gênio que se dedicou a interpretar o Brasil, Casa-grande & senzala é “o maior dos livros brasileiros”. A primeira lição dele diz respeito ao Presidente da República, pelo menos na 51ª edição, da Global Editora. Acompanha o livro uma poesia do autor chamada “O outro Brasil que vem aí”. Nela, Gilberto diz que um dia qualquer brasileiro poderá governar o Brasil, contanto que seja digno do governo. Michel Temer definitivamente não é esse brasileiro.
Casa-grande & senzala traz gentil e progressivamente uma enorme riqueza de detalhes sobre o período escravocrata. Os africanos acrescentaram à formação do Brasil uma cultura mais avançada que a indígena e alto conhecimento técnico, empregado inclusive nas minas. Havia escravos estimados como membros da família patriarcal, mas presos à condição de escravos. E outros tão mal tratados quanto animais.
Crianças brancas ganhavam de presente dos pais crianças negras da mesma idade e sexo. As brancas montavam nas costas das negras, as espancavam e humilhavam. Imoralidade demoníaca que durou séculos. Não raro uma pessoa negra é confundida com o porteiro ou motorista, alguém que deve obedecer incondicionalmente. Como a babá obrigada a levar os filhos dos patrões a uma manifestação política.
Freyre afirma que a colonização não seria possível sem mão-de-obra escrava. Pesa na avaliação sociológica a limitação de recursos humanos portugueses diante das adversidades do território (umidade, alagamentos, mosquitos famintos, seca), o que não significa aprovação pessoal das milhões de vidas massacradas.
O Brasil não superou o racismo e a exploração humana detalhados no livro, por isso Bruna e Suzane comemoraram bastante. Somente 8% dos adultos negros concluíram o curso superior. Negros ocupam menos de 5% dos cargos executivos das 500 maiores empresas brasileiras.
No passado, escravos recebiam a culpa pela disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, pelos maus hábitos das crianças brancas, pela sujeira e desordem. Um engano cometido até por sociólogos. O sistema escravocrata e o homem branco eram os culpados, Gilberto revela. Preconceituosos ainda dizem que hábitos ruins são “coisas de preto”.
A importância do ventre indígena no princípio da nossa sociedade é destacada no livro. A quantidade de mulheres europeias era insignificante e a força de trabalho, que consumiu índios antes de negros, principalmente masculina.
Dos índios herdamos a higiene apurada, o gosto pela rede de dormir, as superstições envolvendo animais monstruosos. Dos africanos, a forma efusiva e meiga de falar, o Candomblé, preferências alimentares como o azeite de dendê.
Características do povo português viabilizaram o sucesso da colonização. Quando chegaram ao nosso litoral, os portugueses já acumulavam um século de aventuras nos trópicos. A mistura sanguínea com mouros lhes deu resistência ao calor do clima e a plasticidade necessária à união sexual com outras raças.
O braço e a espada do particular, mais do que a ação oficial, construiu nossa sociedade. Prática criminosa onde encontrou inspiração a desembargadora que tirou seu filho da cadeia na marra.
A taxa de suicídio entre indígenas é três vezes maior que a média nacional. O nível de qualidade de vida dos negros está 10 anos atrasado em relação ao dos brancos. O Brasil está próximo da perdição, da falta completa de rumo político. Gilberto Freyre, um dos mais importantes pensadores do século 20, propõe o caminho do respeito mútuo ao escrever essas linhas:
– Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro.
GGN

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

O Marquês de Pombal e as eleições de 2018, por André Araújo

Sebastião José de Carvalho e  Melo,  Marquês de Pombal, foi o estadista português que restabeleceu a autoridade do Estado em Portugal, o que incluía o Brasil, Angola e Moçambique, Guiné, Goa e Macau. O Império estava  em processo de fragmentação de poderes como hoje está o Brasil. Pombal recentralizou o poder, colocou no seu lugar a nobreza e a Igreja, foi um poder respeitado,  temido, obedecido, de perfil autoritário, neutralizou a Inquisição e impediu que esse movimento derivado do Poder eclesiástico mandasse no Estado como vinha fazendo há dois séculos. Pombal em nome do Rei D.José I passou a governar Portugal como uma autoridade única e sem concorrência de outras.
Nesse sentido seguiu a linha dos grandes símbolos do Estado nacional moderno, Armand Louis du Plessis, o célebre Cardeal de Richelieu e Giulio Mazzarino, seu discípulo e continuador,  o Cardeal Mazarin, homens de Estado abaixo do Rei mas mais poderosos do que o Monarca de França, o primeiro grande Estado nacional de nossos tempos e modelo para os demais.
Richelieu, Mazarin e Pombal mostraram como é fundamental o poder central do Estado estar em mãos únicas e firmes, eliminando poderes concorrentes ao chefe de governo, os três enfrentaram a ferro e fogo a nobreza, que queria mandar no Estado acima do Rei.
O Estado centralizado promoveu a prosperidade e grandeza da França, as nações fragmentadas como a Alemanha e a Itália tornaram-se ingovernáveis e anárquicas até se recentralizarem tardiamente com Bismarck e Garibaldi e só depois disso prosperaram.
Pais algum se torna grande na fragmentação do poder, QUANDO TODOS MANDAM NINGUÉM MANDA, regra de ouro de milênios de História, estão à vista os desastres dos regimes fracos.
O Brasil está em processo de perigosíssima fragmentação com muita gente mandando e conflitando,  um novo Presidente precisa mandar ou será engolido pelos conflitos.
Países de todas as latitudes conhecem ciclos de fragmentação de autoridade à espera do Chefe que vai restaurar o poder central. Vargas em 1937 fez exatamente isso, ao queimar em praça publica as bandeiras dos Estados quis demonstrar que não existia mais o poder dos caudilhos locais, todos os governadores, agora chamados de Interventores, eram delegados do Presidente e subordinados a ele (só em Minas Gerais o titulo continuou como Governador).
O Brasil desde a redemocratização de 1946 não conheceu o nível de conflito de poderes que hoje fez regredir a governabilidade de um grande País ao nível de pequenos países tribais, cada tribo é um poder autônomo a litigar com os demais, o que leva o País ao caos.
O Judiciário passou a contestar continuamente o poder do Executivo com revisão sistemática de medidas administrativas, sobre as quais dá a ultima palavra e também invade o Poder Legislativo criando regramentos de atribuição do Congresso eleito, o único que pode votar leis.
A Policia Federal opera por contra própria baseada numa autonomia que ela mesmo se atribui. O Ministério Público atua como quarto poder quando não existe tal poder no modelo clássico do Estado de Direito, tanto que Pais algum tem Ministério Público com total autonomia. Nos EUA todos os procuradores federais são nomeados pelo Presidente sem mandato e sem concurso e podem ser demitidos a qualquer momento pelo Presidente sem motivo.
Não há no horizonte sinal de fim desse ciclo de fragmentação que desponta em um crescendo de anarquia institucional e a transferência do poder de legislar para os Ministros do Supremo, ao mesmo tempo que o Executivo não tem mais poder de iniciar obras públicas sem aprovação prévia do Tribunal de Contas da União, hoje também desgarrado do Congresso e atuando com uma autonomia que se auto concedeu como se fosse um poder judiciário autônomo e sem contrapeso, inclusive imune a investigações sobre seus próprios malfeitos.
A fragmentação do poder faz com que importantes decisões judiciais que afetam o Brasil sejam tomadas em cortes dos Estados Unidos como se isso fosse algo normal, enquanto o Departamento de Justiça em Washington se arroga jurisdição sobre empresas e cidadãos brasileiros relativa a atos praticados entre brasileiros no Brasil e em terceiros países, aceitando o governo do Brasil docilmente tal jurisdição extra territorial e até colaborando com ela. Enquanto isso o projeto econômico do Brasil é traçado e manejado de Nova York sendo as opiniões dos fundos e agências estrangeiros os regentes que decidem a economia brasileira, maneja de fora para dentro como se o Brasil fosse o antigo Congo Belga do Rei Leopoldo.
O Marquês de Pombal foi Primeiro Ministro de 1750 a 1777, 27 anos de despotismo esclarecido com enormes realizações, como a grande reforma na educação, a reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755, a expulsão dos jesuítas que dominavam a instrução, tornando-a leiga e sob controle do Estado,  desenvolvimento da indústria, regulamentação e grande impulso à produção de vinhos, transferência da capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro, refletindo a mudança do eixo econômico no Brasil Colonial. Pombal foi também um dos elos fundamentais na construção do Brasil, tinha uma visão geopolítica sofisticada e via no Brasil um grande destino quando poucos em Lisboa tinham esse alcance de alta politica.
Pombal tinha sido antes Embaixador em Londres, era excelente diplomata. Sem seu quarto de século de férreo governo em Portugal o Reino poderia ter sido tomado pela Espanha, o poder antes dele estava fragmentado entre o Rei, a nobreza (que o detestava) e a Igreja, Pombal concentrou o poder no Rei e sob o manto real governava em nome do Monarca.
Com a morte do Rei assume sua filha Dona Maria, depois conhecida como “A Louca”, que detestava Pombal. Acabou seu cargo e poder com a morte do Rei D.José I, mas Pombal deixou um Estado em boa ordem, o que permitiu a bem sucedida transferência da capital do Império para o Rio de Janeiro em 1816, quando do Brasil também se governava Angola e Moçambique.
Pombal casou duas vezes, ficou viúvo cedo, com a  segunda esposa, a Condessa de Daun, nobre austríaca, teve cinco filhos e sua descendência até hoje leva o titulo do Marquesado de Pombal e Condado de Oeiras, é a família Carvalho de Lorena e Daun. Recentemente o atual Marquês de Pombal ganhou uma batalha jurídica em Lisboa junto ao Tribunal da Relação para impedir que terceiros usassem a marca Conde de Oeiras em vinhos de mesa.
Pombal foi um grande estadista, um exímio praticamente da politica, com visão e projeto. Suas realizações foram fundamentais para o destino de Portugal e do Brasil, que nos sirva de exemplo, o Brasil tem raízes no despotismo esclarecido desse grande governante.
O próximo Presidente do Brasil só governará se recentralizar o Estado, hoje disperso entre Ilhas de poder auto concedido que geram um conflito permanente e irresolvível, caberá ao novo Presidente em fundamental aliança com as Forças Armadas recuperar o poder perdido pela Presidência sem o qual nenhum grande Estado cumprirá seu destino. Que a inspiração do Marques de Pombal, tão ligado à nossa Historia, nos sirva de inspiração e guia.
GGN

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Analfabetismo e falta de escolaridade no Brasil têm cor e lugar

Os dados da educação divulgados hoje pelo IBGE não são dos melhores: o Brasil tem quase 12 milhões de analfabetos e quase 25 milhões de pessoas entre 14 e 29 anos fora da escola. Ainda, 51% da população adulta no país concluiu apenas o ensino fundamental contra 15,3% que detém ensino superior.  
Mas os dados revelam que os baixos níveis de educação têm cor e localização geográfica: enquanto mais de 22% dos brancos tem nível superior, a porcentagem reduz para 8,8% na população preta ou parda. E as menores médias de anos de estudo estão no Norte (7,4 anos) e no Nordeste (6,7) do país. 
É no Nordeste também onde há a maior taxa de analfabetismo do Brasil, com a estimativa de 14,8% para pessoas de 15 anos ou mais, quase quatro vezes mais do que no Sudeste (3,8%) e no Sul (3,6%). Em todo o país, a porcentagem é de 7,2%, que em números reais são 11,8 milhões de analfabetos. Enquanto para pretos ou pardos a taxa foi de 9,9%, branco representam menos da metade, com 4,2%. 
Taxa de escolarização das pessoas de 18 a 24 anos de idade, por cor ou raça, segundo as Grandes Regiões - 2016 
Os valores proporcionais são superiores no caso de idosos, com 20,4% de analfabetismo no Brasil. A desigualdade em relação à cor também ocorre com o analfabetismo: enquanto 11,7% dos idosos brancos são analfabetos, idosos pretos ou pardos são 30,7%.
Distribuição das pessoas de 25 anos ou mais de idade, por cor ou raça, segundo o nível de instrução - Brasil – 2016.
Já nos números de frequência escolar, são alarmantes para principalmente duas faixa-etárias: Quase 70% das crianças até 3 anos de idade não frenquentavam a creche e a mesma porcentagem para jovens de 18 a 24 anos, que estão fora da escola.  
Em números gerais, de 14 a 29 anos, são quase 25 milhões de brasileiros que não foram à escola ou não concluíram o ensino. A justificativa é que mais da metade deles afirmaram estar trabalhando, outros 24,1% não tinham interesse em seguir nos estudos.  
Leia a íntegra do relatório abaixo:
Arquivo
GGN

domingo, 10 de dezembro de 2017

Brasil um pais que combate a corrupção e ao mesmo tempo tolera governo corrupto, por Janio de Freitas

Em artigo contundente, Janio de Freitas tenta resgatar o sentido de Brasil, de ser brasileiro. Um país em que ninguém pensa no amanhã, em seu lugar no mundo. Um país rico em recursos naturais que nunca teve política industrial, tornando-se refém de latifundiários e fazendeiros em política de privilégios desordenada. Torna-se difícil pensar o Brasil quando famílias se juntam para celebrar atos anticorrupção e se lixam para uma Presidência ocupada por indíviduo acusado de corrupção, formação de quadrilha e salvo por corrupção de deputados.
Janio, na Folha, vai mais longe nesse não entender. Acha difícil uma contradição tão corrosiva dormindo em berço esplêndido. Contradição que vai longe, quando lembra do golpe de 64, em que militares americanófilos e a classe dominante falaram em nome da democracia e instauraram a ditadura; quando esses mesmos foram parte da derrubada de Getúlio em 1945 e impuseram uma ditadura.
Democracia sempre foi sua pequena conveniência, diz Janio. Contradição sempre foi sua marca. Mas o Brasil é mais, diz ele, o Brasil é você, somos nós.
Leia o artigo a seguir na Folha: Este Brasil, por Janio de Freitas
Ninguém, parece mesmo que ninguém, tenta pensar o Brasil em seu pleno sentido e em seus possíveis amanhãs. É um país sem estratégia, sem ideia do que é e conviria vir a ser no mundo. Na grande tecitura internacional, não vive do que faça para uma inserção desejada, mas do que cada dia lhe traz. Segue adiante porque os dias se sucedem. Condicionado integralmente pelo mundo exterior, perplexo, lerdo, segue.
Com uma gama invejável de minérios, tantos outros recursos e grandes necessidades de consumo, nunca teve uma política industrial. País de latifundiários e fazendeiros, suas políticas agropecuaristas são mera distribuição discricionária de dinheiro e privilégios, de uso à vontade. E nem isso, para uma ciência coordenada com objetivos nacionais e contingências externas.
É difícil pensar um país assim. É difícil pensar mesmo o Brasil atual, o país de hoje. Já a partir do mais grotesco e rudimentar na situação imediata: como explicar, por exemplo, o convívio familiar entre a empolgação generalizada com os êxitos contra a corrupção e, de outra parte, a tolerância indiferente com a Presidência da República ocupada e usada por um político acusado de corrupção, formação de quadrilha, obstrução de justiça, e salvo de processos mediante a corrupção de deputados com cargos e verbas do Orçamento?
Presidência povoada por notórios como Moreira Franco, marginais como Geddel Vieira Lima, acusados como Eliseu Padilha, e deputados, senadores e ministros com lastros semelhantes na polícia e na Justiça?
É difícil pensar um país assim, capaz de contradição tão corrosiva.
Mas esse país é o da contradição em que militares americanófilos e a classe dominante deram um golpe em nome da democracia e por 21 anos aprisionaram a nação na ditadura. Muitos dos artífices dessa contradição ali completavam uma outra, de que foram parte quando em 1945 derrubaram o Getúlio para o qual deram um golpe e impuseram uma ditadura.
Convertidos à democracia, como diziam, em sua pequena convivência com oficiais americanos na Itália da Segunda Guerra, os derrubadores de Getúlio ajudaram a entrega do poder, por via de "eleição democrática", ao general que sustentou a ditadura até a queda. A vasta fraude que contribuiu para o resultado eleitoral, movida pelos "coronéis" do interior, foi silenciada a pretexto de não se desmoralizar a primeira eleição da "democracia".
Contradição em cima de contradição. O normal no país em que os primeiros bafejos de democracia vieram de uma ditadura, com a legislação social de Getúlio –inclusive as Leis Trabalhistas agora estupradas. 
É difícil desenvolver a compreensão desse Brasil, tão inculto, tão controvertido, tão amalucado. Esse Brasil exultante com as ações contra a corrupção e indiferente à ocupação de sua Presidência por uma declarada quadrilha de corruptos.
O Brasil é você. O Brasil somos nós.
GGN

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Há um esvaziamento do sentido dos direitos, alerta professor de Direito Constitucional Pedro Serrano

Brasilianas: professor de Direito Constitucional nota aumento de “medidas de exceção” em vários ambientes institucionais no país.
Em entrevista para Luis Nassif, no programa Brasilianas, produzido em parceria com a PUC de São Paulo, o professor de Direito Constitucional, mestre e doutor em Direito do Estado pela mesma instituição, Pedro Serrano pondera que em vários eixos da sociedade brasileira têm se observado um "esvaziamento do sentidos direitos" constitucionais.
Nos últimos anos, o pesquisador tem notado o aumento do uso de "medidas de exceção" em vários ambientes institucionais que apontam para um processo de rompimento do pacto humanístico estabelecido pela Constituição Federal de 1988, salientando que o Judiciário, em si, não é um autor desse fenômeno, mas tem atuado fortemente como agente facilitador.
"Esse processo [de medidas de exceção] é composto por uma situação social, ou seja, é um ambiente mais amplo do que a própria instituição [do Judiciário]. Ele acaba veiculando, vamos dizer, a opinião desse populismo de direita que, para se estabelecer, precisa muito do apoio popular e tem".
Assista a seguir a entrevista na íntegra, onde o professor pontua que não estamos vivendo um momento de "governos de exceção", mas sim o aumento de medidas com viés autoritário dentro das democracias onde o Judiciário vem se tornando um dos principais autores das medidas de exceção, usando como argumento principal a busca pela ordem com o apoio de órgãos da mídia na reprodução desse discurso.
Confira o vídeo.
Do GGN

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Os Vermelhos, os Rosas e os Roxos, por Fernando Horta

É preciso que paremos de assemelhar a Lava a Jato com a Operação Mani Pulite, na Itália. A Lava a Jato é o Macartismo brasileiro.​
Nos anos 50, o senador norte-americano por Wisconsin, Joseph McCarthy, dava forma a um movimento muito maior chamado “Red Scare” (Medo vermelho). Muita gente acha que Macartismo e o “Medo Vermelho” são a mesma coisa, e não são. Apesar de Wisconsin ser um estado do norte dos EUA (na região dos Grandes Lagos) e não do Sul (normalmente visto como mais agrário e conservador), McCarthy se elegeu com a maioria dos votos de agricultores e operários conservadores já tomados pelo “Medo Vermelho”, que vinha sendo propalado desde a Crise de 1929 e o New Deal de Roosevelt.
O Macartismo é, portanto, o resultado de uma intensa campanha contra os direitos sociais e qualquer forma contrária ao capitalismo mais selvagem. E todas as acusações de “paternalismo”, “ajudar vagabundos”, “ser comunista” foram lançadas originalmente contra Roosevelt e seu plano de recuperação da economia norte-americana. Entre 1945 e 1950, os EUA viram a URSS vencerem a guerra contra os nazistas, a China fazer sua revolução comunista (1949), a URSS explodir a sua primeira bomba nuclear (1949) e as Coréias entrarem em guerra, com vantagem decisiva para o norte comunista.
Assim, no prazo de cinco anos, o número de pessoas que viviam sob regimes comunistas saltou de pouco mais de 150 milhões em 1945 para mais de 850 milhões em 1950. O comunismo parecia imparável e o desespero norte-americano se fez sentir. Daí surge o bordão “Reds, Pinks and Lavanders” com o qual McCarthy (e inúmeros outros políticos como o governador de Nova Iorque na época Thomas Dewey) ganhou imenso poder político. Segundo o senador, era preciso livrar os EUA da ameaça vermelha (os comunistas), dos rosas (social democratas ou qualquer outro pensamento assemelhado à terceira via europeia) e os roxos (homossexuais). Desde o início a temática de unir os comunistas e os “depravados moralmente” esteve na gênese da propaganda macarthista.
McCarthy criou comitês de investigação comunista nos EUA e começou sua escalada ao poder anunciando que tinha uma lista de 57 nomes de altos funcionários do Estado e que eram ou comunistas ou informantes. Nesta lista estava até o nome do Secretário de Estado norte-americano Dean Acheson, que havia, junto com Roosevelt e depois Truman, participado de toda a orquestração internacional do final da guerra.
A estratégia do senador McCarthy consistia em acusar sem provas, usar a televisão e os canais de mídia da época para criar um clima de terror e apresentar-se como salvador moral do país. As televisões viam em McCarthy uma forma barata de conseguir audiência. Seus “interrogatórios” eram como shows de auditório, embora com muito mais audiência. Exatamente como é a Lava a Jato hoje. As televisões precisavam gastar milhões de reais com programas de baixo nível (como Big Brother, A fazenda e assemelhados) para conseguir menos audiência do que os shows da vara de Curitiba proporcionam, de graça.
Depois de criar o apoio midiático (bom para o senador e para a mídia), os “processos” se mostravam frágeis e sem nenhuma comprovação. O Macartismo criou a “culpa por associação”, exatamente como a Lava a Jato. Se o senador conseguisse mostrar, por qualquer meio esdrúxulo como uma jararaca picando uma cachorra, que o “réu” estava ligado – de alguma forma – a um núcleo comunista, não havia mais a necessidade de qualquer outra comprovação. O massacre midiático fazia com que o acusado perdesse o emprego e fosse agredido e aviltado. O que impressiona é que a Suprema Corte norte americana apoiou o Macartismo julgando os “Reds, Pinks and Lavanders” como não merecedores da segurança da primeira emenda da constituição (que fala da liberdade de expressão, de pensamento e religiosa). Em vários casos a Suprema Corte avalizou processos criminais e prisões contra professores, enfermeiros, artistas e etc. por cima da constituição. Exatamente como a Lava a Jato.
As gritantes injustiças e inconstitucionalidades tomaram eco pelo país todo, afinal se a Suprema Corte e o Senado podiam agir daquela forma, então, com muito mais violência, agiam os cidadãos e tribunais regionais. Pessoas passaram a ser perseguidas, agredidas em público, suas casas atacadas, filhos e família escorraçados apenas pela “delação” feita por algum desafeto. Bastava que houvesse uma “denúncia anônima” (como as que o MPF usa) para que a vida do denunciado estivesse acabada.
O ataque era violento contra professores (como o Escola sem Partido). Chandler Davis, professor de Matemática da Universidade de Michigan, foi um dos acusados. Levado “coercitivamente” a prestar depoimento, permaneceu em silêncio invocando a quinta emenda (a que constitui garantias contra o abuso de autoridade do Estado e permite o silêncio em qualquer interrogatório). Em 1960, três anos após a morte de McCarthy, a Suprema Corte americana mantinha ainda preso Davis porque entendeu que o silêncio seria comprovação de culpa. Exatamente como fazem juízes da lava a jato e outros hoje no Brasil.
Em 1954, a professora primária Anne Hale, diante do absurdo das acusações, decidiu não se declarar culpada (que era vista como uma forma de diminuir o sofrimento dos acusados injustamente) e disse: “Eu acho que será menor o prejuízo para meus alunos me verem defendendo aquilo que eu acredito ser verdadeiro do que me ver fugindo ou me escondendo”. Ela foi demitida de seu emprego na cidade de Wayland, nunca mais conseguiu qualquer emprego nos EUA. Todas as acusações contra ela se mostraram falsas. Quando morreu, em 1968, Hale trabalhava como professora voluntária ensinando crianças com disfunções cerebrais e fazia faxinas para poder ter o que comer.
Nenhuma acusação macarthista foi provada. Nem nunca precisou ser. Quando na falta de provas criava-se a “culpa por associação”, difamava-se política e socialmente usando a “perversão sexual e moral”  como forma de demonstrar a “depravação” que ameaçava os EUA. Exatamente como temos visto na Lava a Jato e nos movimentos que a apoiam. Todos com forte linguagem messiânica, baseados numa moralidade heterossexual branca e machista, violentos, agressivos e totalmente ignorantes. De Frota a Moro, passando por Dallagnol, Magno Malta ao silêncio do STF (acovardado) o roteiro é o mesmo do que ocorreu nos EUA. Inclusive com os mesmos trejeitos, linguagens, abusos e tudo mais exatamente igual.
McCarthy acusou de serem espiões comunistas Charles Chaplin, Orson Welles, Leonard Bernstein, Dean Acheson e até mesmo Robert Oppenheimer que havia sido o cientista chefe do projeto Manhattan, que criou a bomba atômica para os EUA. Em seguida, McCarthy lançou-se contra as forças armadas, denunciando o comunismo dentro do exército e foi necessário que o herói de guerra, general e presidente Eisenhower entrasse em disputa direta com o doidivano senador para que membros das FAs não fossem submetidos aos métodos da Lava a Jato. Perdão, aos métodos do Macartismo.
Milhares de pessoas agredidas, presas e com suas vidas destruídas. Duas mortes. Um país inteiro paranoico e voltado para o seu umbigo. Um antintelectualismo grosseiro e messiânico. O fortalecimento de políticos conservadores e religiosos espalhafatosos. O domínio dos Republicanos no Congresso. E nenhuma prova. Nenhuma prova. Ilações, relações, suposições, histórias estapafúrdias e o acovardamento inconstitucional da Suprema Corte. Este foi o caminho dos EUA, e está sendo o nosso, de forma assustadoramente idêntica.
GGN

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Quatro redes de TV detêm mais de 70% da audiência no Brasil

Repórteres Sem Fronteiras lista donos das 50 maiores empresas do país, pertencentes a 26 grupos econômicos. ONG denuncia que políticos são proprietários de veículos de comunicação, apesar de Constituição proibir.
Mídia no Brasil ainda é controlada por poucos, diz estudo
Repórteres Sem Fronteiras lista donos das 50 maiores empresas do país, pertencentes a 26 grupos econômicos. ONG denuncia que políticos são proprietários de veículos de comunicação, apesar de Constituição proibir.
Em pleno século 21, o mercado de mídia no Brasil é dominado por "dinastias familiares”, que concentram poder político e econômico e detêm uma ampla rede de poder, cuja malha se estende por todo o território brasileiro. Essa é a conclusão de um relatório divulgado nesta terça-feira (31/10) pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
"Nem a tecnologia digital nem o crescimento da internet ou esforços regulatórios ocasionais limitaram a formação desses oligopólios”, ressaltam os autores do levantamento, realizado pela RSF em parceria com a ONG brasileira Intervozes.
O Monitoramento da Propriedade da Mídia no Brasil – ou, em inglês, Media Ownership Monitor (MOM) – compara a concentração de mídia às propriedades de terra no país. 
"Assim como os ruralistas, antes chamados de latifundiários, os proprietários dos meios de comunicação possuem um vasto território nas ondas das TVs e das rádios, combinando interesses econômicos e políticos com o controle rigoroso da opinião pública”, acrescenta o texto.
Pior dos 11 países pesquisados
A pesquisa, financiada peloMinistério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha,revela o nível de concentração da mídia brasileira, mostrando quem são seus proprietários e sua atuação no setor da economia. A investigação, realizada durante quatro meses, abrange os 50 veículos de comunicação com maior audiência no Brasil e os 26 grupos econômicos que os controlam.
O Brasil ocupa a pior colocação dos 11 países já analisados pela RSF – Colômbia, Peru, Camboja, Filipinas, Gana, Ucrânia, Peru, Sérvia, Tunísia e Mongólia também foram alvo da pesquisa.
O país recebeu a pior nota em quase todos os indicadores, nos quais o estudo se baseia para medir os riscos para a pluralidade da mídia, avaliando itens que vão desde concentração de propriedades e de audiência, passando por regulamentação sobre propriedade de mídias, até o nível de transparência sobre o controle das empresas. Apenas um dos indicadores brasileiros não foi considerado como "de alto risco para a pluralidade da mídia”.
A falta de transparência no Brasil sobre o controle acionário das principais empresas de comunicação chamou a atenção. "Até agora, o Brasil foi o primeiro país pesquisado em que nenhuma das empresas respondeu a nossas perguntas sobre quem são os seus proprietários”, relata Olaf Steenfadt, diretor do projeto MOM e integrante da Repórteres Sem Fronteiras Alemanha, em entrevista à DW. "Isso, nunca tínhamos visto antes”, acrescenta.
A pouca transparência sobre a propriedade dos grupos de comunicação, segundo o levantamento, se deve também à falta de uma obrigatoriedade legal para divulgação da estrutura acionária, além da inexistência de um monitoramento pelo poder público. Alguns grupos de mídia se negaram a responder, alegando razões "estratégicas" ou relacionadas à concorrência.
Grandes redes de TV pertencem a grupos que também controlam emissoras de rádio, portais de internet, revistas e jornais.
Concentração
"Falta no Brasil um quadro regulador", diz Steenfadt. "As poucas leis que existem não são implementadas. E as empresas não veem motivo para se abrirem de alguma forma, para serem transparentes”, lamenta. "A mídia não é como qualquer outro setor econômico. É importante saber quem a controla", opina o especialista. "Os cidadãos têm direito de conhecer os interesses por trás dos meios de comunicação que consomem."
O MOM-Brasil disponibiliza esses dados em uma página de internet, em português e inglês. O site contém um banco de dados com os nomes dos proprietários dos veículos de mídia, revelando também as ligações deles com grupos econômicos e empresas em outros setores, sistematizando as informações e as tornando acessíveis não só a pesquisadores, como também ao público em geral.
O levantamento mostra haver concentração dos centros de poder da mídia nas regiões Sul e Sudeste do país. A sede de três em cada quatro desses grupos fica na maior cidade do país, São Paulo.
No segmento de televisão, mais de 70% da audiência nacional é concentrada em quatro grandes redes, das quais uma detém mais da metade da audiência: a Rede Globo. Essas grandes redes nacionais ampliam ainda mais seu poder sobre a informação, destaca o MOM, através do domínio adicional de múltiplos segmentos. Grandes redes nacionais de TV aberta pertencem a grupos que também controlam emissoras de rádio, portais de internet, revistas e jornais impressos, segundo o estudo.
"Coronelismo eletrônico”
A pesquisa constata que, embora a Constituição brasileira proíba que políticos controlem empresas de mídia, 32 deputados federais e oito senadores possuem meios de comunicação, ainda que não sejam seus proprietários formais.
"Outras famílias proprietárias, como os Câmara, Faria e Mesquita, também têm membros em cargos políticos”, diz comunicado divulgado pelo MOM-Brasil. "A família Macedo, que controla o grupo Record e a Igreja Universal do Reino de Deus, também domina um partido político, o Partido Republicano Brasileiro (PRB), que conta com um ministro no governo federal, um senador, 24 deputados federais, 37 deputados estaduais, 106 prefeitos e 1.619 vereadores”, contabiliza o levantamento.
O estudo chama a concentração de poder na mídia brasileira de "coronelismo eletrônico”. Os autores da pesquisa afirmam que em vários estados as afiliadas das grandes redes de televisão e rádio são controladas por empresas de políticos ou de famílias com tradição política.
"Um exemplo disso é o grupo do qual fazem parte a TV Bahia (afiliada da Rede Globo) e o jornal Correio da Bahia, controlado pela família Magalhães, do atual prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, e do ex-governador da Bahia, senador e ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães”, ressaltam os editores do levantamento.
GGN

domingo, 30 de julho de 2017

Lava jato acabou com 500 mil empregos no Brasil, diz levantamento recente de jornal

Os riscos da Operação Lava Jato para a economia, com a divulgação indiscriminada e aberta para o mundo sobre os esquemas de corrupção deflagrados na Petrobras, estatais e diversas empreiteiras brasileiras, ao contrário de fazer jus a sigilo de investigações em nome da soberania nacional, são expostos pelo GGN e imprensa alternativa desde o início dos avanços da força-tarefa de Curitiba. 

Mas agora que as apurações enfrentam boa parte da cúpula do governo de Michel Temer e caciques do PSDB, como o senador Aécio Neves (MG), a mídia tradicional começou a dar voz para os impactos na economia brasileira. Um deles foi diretamente no desemprego, contraditoriamente em momento que o atual governo peemedebista tenta convencer que sua gestão foi benéfica para geração de empregos.

Nesse sentido, levantamento feito pelo blog de Ancelmo Gois mostra que a Operação Lava Jato exterminou, pelo menos, 500 mil empregos no país. O repórter Tiago Rogero fez um cálculo com base na Petrobras, Sete Brasil, e nas principais empreiteiras na mira das investigações: a Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS, UTC, Engevix, além de outras empresas.

A publicação ressaltou que não foram somados às contas as demissões nas empresas: Queiroz Galvão, Alumini, Mendes Júnior, Iesa, Skanka Brasil, GDK, Carioca Christiani Nielsen Engenharia, MPE Montagens e Projetos, Tomé Engenharia, Construcap, Egesa, Aratec, Mossack, Jaraguá Equipamentos e Sanko Sider. Acompanhe, abaixo, a lista de cortes por essas empresas, privadas e estatais, após o avanço das investigações, reproduzido da coluna de O Globo:

- Com a venda de Alpargatas, Vigor e Eldorado, o grupo J&F, que hoje tem 270 mil funcionários, deve passar a contar com 240 mil;

- A Andrade Gutierrez tinha 60 mil empregados, em 2013 (a Lava-Jato começou em 2014). Em 2016, eram 20 mil;

- O grupo Odebrecht fechou 2016 com 85 mil, depois de chegado a quase 200 mil;

- A Petrobras foi afetada não só pela Lava-Jato, mas, como se sabe, também pela queda no preço do barril de petróleo. O número de empregados próprios caiu de 62,7 mil, em 2013, para 47,6 mil. O de terceirizados passou de 320,1 mil, em 2013, para 98,4 mil;

- A OAS tinha em seus quadros 120 mil pessoas; hoje, são uns 30 mil. Há quatro anos, eram 20 mil terceirizados; hoje, são 1,7 mil;

- Na UTC, o total passou de 27,3 para 1,5 mil;

- A Engevix, agora Nova Engevix, contava, em 2013, com 17,2 mil funcionários,
agora, são 1,1 mil. Eram 8,1 mil prestadores de serviço; hoje, são 1,5 mil;

- Na Promon Engenharia, eram 1.000; agora, são 300;

- A Eldorado Brasil foi na contramão: o número de trabalhadores passou de 2,9 mil, em 2013, para os atuais 4 mil;

- A natimorta Sete Brasil tinha 82 funcionários em 2013; hoje, tem sete. Eram 35 terceirizados; agora, são 25;
  
Do GGN

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Araújo: A monumental fraude do plano econômico Globo-Itaú

Foto: Antonio Cruz/EBC
Cemitério sem inflação - o completo fracasso de um plano econômico 

Um plano econômico que não poderia dar certo ameaça levar ao Brasil a uma depressão inédita, um dos países de economia historicamente mais dinâmica do planeta caindo nas profundezas de uma depressão gerada pela política econômica equivocada, sem lógica, sem nexo e sem ciência, manejada pelo sistema financeiro em seu próprio benefício.

O DEBATE DA POLÍTICA ECONOMICA

Nos anos 40, 50, 60 e 70, foi intenso no Brasil o debate na academia, na imprensa, nas associações empresariais sobre política econômica, sobre linhas doutrinárias, propostas, alternativas, custos e vantagens de cada variante da governança da economia do País.
Como dizia Keynes, a história da humanidade é a história do pensamento econômico e pouca coisa além disso. Discutir a política econômica de um grande País é tema central dos cidadãos.

Hoje se verifica um DESERTO completo nessa discussão, a imprensa pelos grandes jornais e noticiários de TV toma como ÚNICO o caminho apontado pelos “economistas de mercado”.

Nunca há um rumo único na política econômica, é uma política e, como tal, permite opções.

Uma safra de economistas robotizados que nasceu na esteira do Plano Real e que conhece um só  tipo de política econômica, o que é uma fraude, os caminhos podem ser muitos, a ciência econômica é  sempre plural, desde que existe a partir de Colbert no Século XVIII, o estudo da economia permite um cenário de amplas discussões sobre custos e benefícios avaliados no contraponto de alternativas, não há uma ciência econômica una e exclusiva, os modelos das duas maiores economias do planeta, EUA e China, são completamente diferentes e funcionam cada qual no seu contexto social e político, economia não é uma equação matemática.

No entanto essa imprensa desprovida de conhecimentos louva como uma divindade  uma “equipe econômica” como se, sem ela, o País não sobrevivesse. Um delírio, meia dúzia de mentes esquemáticas, sem brilho, tocadores de realejos concebidos fora do Brasil e carentes de formulações mais elaboradas, uma política medíocre e sem criatividade quando uma coisa é certa: política econômica tem que ser pensada dentro das condições de cada País, não há uma ciência econômica universal baseada em fórmulas matemáticas idênticas.

A mídia brasileira se recusa a participar de debates contraditórios sobre a política econômica, endossando em branco fórmulas como se fossem verdade divina revelada. Abstém-se a mídia, por exemplo,  de debater clivagens cruciais. Cito apenas  duas:

O catecismo religioso do plano assegura que, com a queda da inflação, devem cair as taxas de juros para a economia real. Tal não vem acontecendo desde 2015, as taxas não só não caem, como sobem, mesmo as que se mantém nominalmente iguais representam JUROS REAIS muito mais altos porque a inflação descontada agora é menor do que em 2015, do que resultam JUROS REAIS muito maiores e não menores, como reza a lógica anunciada da política econômica. Cai a inflação, deveriam cair os juros como consequência, não é essa a equação apresentada ao público?

MAS não caíram, os juros reais de hoje são muito maiores do  em 2015,  tanto na taxa Selic como nas operações com os tomadores privados, apesar da queda da inflação, DESMONTA-SE A LÓGICA DO PLANO.

O Banco  Central, dominado pelo sistema financeiro, abriu mão, pela Circular 3.691 de 2013, da FISCALIZAÇÃO E CONTROLE DE C MBIO, o Sistema FIRCE, cujas raízes têm mais de 80 anos. Agora os bancos se auto controlam, o que significa uma selva  no mercado de câmbio, nem em paraísos fiscais o câmbio é tão desprovido de controle.

Em consequência montou-se um “cartel do câmbio” que está sugando bilhões de Reais daqueles que precisam comprar ou vender moeda estrangeira, sob o olhar inexistente do Banco Central, que abriu mão do controle. A Associação Brasileira de Comércio Exterior está processando junto ao CADE esse “cartel de câmbio” onde os bancos fixam entre eles taxas de compra e venda com spreads enormes, muito acima da média internacional, auferindo espantosos lucros com a manipulação das taxas de câmbio. A ABCE pede um ressarcimento de R$70 bilhões extorquidos pelo “cartel do câmbio livre”, livre de qualquer controle, operam como em Cayman ou Mônaco.

Veja-se que a Associação dos Exportadores NÃO está reclamando no Banco Central e sim no CADE porque evidentemente não confia na isenção do Banco Central.

A imprensa brasileira, Globo, Estadão, Folha, Valor, se isentam de dar destaque a esses dois MEGA FUROS do plano econômico, só possível pelo domínio completo pelos bancos sobre a Autoridade Monetária, que não existe mais como mecanismo de governança em nome do País, o Banco Central é dos bancos e de mais ninguém.

TODOS os diretores do Banco Central que integram o COPOM são aprovados pelo ”mercado”, não há nenhum de centros de pensamento econômico alternativo, totalmente ao contrário da diretoria do Federal Reserve, onde cada um dos sete titulares vem de ESCOLAS DE ECONOMIA diversas, exatamente para haver debate.

O ATUAL PLANO ECONÔMICO

Como poderíamos denominar esse plano?

Plano econômico Globo-Itaú? O Itaú, como maior força do mercado, indicou o presidente do BC, mentor principal do plano e fanático das METAS DE INFLAÇÃO, modelo que justifica as mais altas taxas de juros básicas e na ponta do tomador entre qualquer das grandes economias. Taxas de juros que fizeram do Banco Itaú um dos vinte maiores do mundo em valor de mercado, R$225 bilhões de Reais, o dobro do que vale o DEUTSCHE BANK, maior banco da Europa e com 200 anos de história.

A GLOBO, pela alucinada defesa que o maior grupo de comunicação do País faz desta política,  O Plano Depressão do Brasil.

Plano econômico BOLETIM FOCUS? Nome que se justifica por esse questionário que consiste em perguntar toda semana ao agiota quanto ele quer de juros para ficar contente e a partir da resposta o Tesouro paga o que mercado quer de juros, por isso mesmo os mais altos do mundo, o Boletim FOCUS é a confissão de submissão do Banco Central ao mercado.

Enquanto nos EUA o mercado espera ansioso o que o FED vai resolver sobre juros, aqui não é preciso adivinhar: o mercado já sabe quanto o Tesouro vai pagar porque é ele quem decidiu.

Na realidade, é um plano gestado nos departamentos de economia dos grandes bancos privados para atender seus interesses e objetivos dentro da economia, não é um Plano Econômico para a população brasileira, suas necessidades e seu futuro.

Miremos no exemplo dos EUA, o grupo de sete pessoas que administra o banco central americano, o Board do Federal Reserve System, NÃO tem vinculação com o sistema financeiro, são professores de economia de alta reputação,  independentes e sempre foi assim, não se aceita banqueiros para gerir o Banco Central. Mais ainda, esses professores que compõem o Board do Federal Reserve são DE ESCOLAS DE ECONOMIA VARIADAS para não viciar a direção do FED com uma só linha de pensamento econômico.  Porque é assim?

Porque banqueiros vão formular um plano em benefício dos bancos, por isso o sistema não tem banqueiros na direção do FED, política monetária não pode ficar na mão de banqueiros.

O último grande banqueiro que geriu a economia americana foi Andrew Mellon,  Secretário do Tesouro de 1921 a 1932, Mellon por uma política restritiva e ultraconservadora levou os Estados Unidos à crise de 1929, é o pai da Grande Depressão, saiu execrado da vida pública, símbolo do capitalismo gerindo ele mesmo sem interesse pela população.

Assumindo a Presidência, Roosevelt reverteu política de Mellon, assim como demitiu seu chairman do FED, Eugene Meyer, no meio do mandato. Mellon e Meyer estavam aprofundando a recessão de 1929, que virou a Grande Depressão, faziam uma política muito similar ao do atual Plano Meirelles, pensavam em reduzir gastos e não em sair da recessão.

O ESCANDALO DOS JUROS REAIS MAIS ALTOS DO MUNDO

Juros reais altíssimos no  MEIO DA RECESSÃO, uma irracionalidade completa, a economia afunda, a inadimplência atinge 61 milhões de brasileiros com o nome sujo, dezenas de milhares de lojas fechadas pelo País a cada mês, a arrecadação federal, estadual e municipal caindo mês a mês, para espanto dos arautos desse plano que se “surpreendem” com a queda de arrecadação provocada por eles mesmos e já sugerem novos impostos para compensar, o que irá aumentar o rumo negativo da economia. Como alguém pode se surpreender com a queda da arrecadação, se isso é uma consequência natural da imposição da política recessiva?

O PLANO ECONÔMICO COMO CAUSA DA RECESSÃO

O atual plano econômico METAS DE INFLAÇÃO COM JUROS ALTOS EM PLENA RECESSÃO vai levar o Brasil a uma depressão profunda. Convoque-se dez Prêmios Nobel de Economia e nenhum endossará esse atentado contra a racionalidade e a ciência econômica.

PARA SAIR DA RECESSÃO É PRECISO ESTÍMULO MONETÁRIO, mais dinheiro na rua e não menos, como faz o plano recessivo, valorizando o  Real ao preço de operações que, só no primeiro semestre do ano passado, custaram R$ 207 bilhões de prejuízos ao Banco Central, cobrados do Tesouro, em nome de desvalorizar o dólar para atingir a sacrossanta meta de inflação, ÚNICO EIXO DA POLÍTICA ECONÔMICA, não há nenhum outro, não há meta de emprego, meta de crescimento, meta de investimentos públicos, só o controle de inflação.

Não se trata de escolas econômicas divergentes, é consensual em todas as escolas de economia,  ortodoxas, heterodoxas, do velho e do novo pensamento econômico.

Não se bloqueia dinheiro em plena recessão, agravando a crise e aprofundando o desastre.

Quem formula e  vende ao comando político um plano que agrava profundamente  a crise econômica e social demonstra não ter categoria de economista político, função que visa ajustar a economia com o menor sacrifício possível e levando em conta SEMPRE o conjunto da situação política do País, como fez Keynes em 1933, não só ele, outros grandes economistas souberam casar a realidade com a ciência para diminuir o sofrimento, do mesmo modo que faz a medicina que evoluiu do martelo para a anestesia para diminuir e não para agravar o sofrimento dos doentes.

Os inventores dessa política econômica que  identifica a cura com sofrimento estão desligados da realidade social do País, operam em cima do boletim FOCUS, excrescência que pergunta ao carrasco como ele quer manejar a lâmina, pergunta a quem deve ser regulado quanto ele quer ganhar, quando a função do Banco Central é liderar o mercado e não ser por ele liderado, o Banco Central não faz perguntas, o Banco Central dá a direção ao mercado.

Toda a lógica da política econômica do plano Meirelles é equivocada, centra como maior problema do País a inflação, quando o maior problema é o emprego que permitiria a sobrevivência da grande massa de desempregados e subempregados que não tem renda alguma. Nesse contexto do mal menor, a meta de inflação a níveis que chegam à depressão é um objetivo que significa menor valor para essa população do que ter emprego e renda.

A moeda supervalorizada é ótima para rentistas e nada significa para desempregados.

OS FUROS DO PLANO ECONÔMICO

A DESPESA maior do orçamento federal é a CONTA DE JUROS, que considera não só o Pagamento dos juros da dívida em títulos, mas também o carregamento das operações compromissadas do BC e dos swaps cambiais, todas despesas incorridas com um mesmo objetivo: atingir a META DE INFLAÇÃO. 

O conjunto das despesas chega a R$650 bilhões por ano, MUITO MAIS que qualquer outra despesa do orçamento federal, incluindo a previdência, é MUITO SUPERIOR ao déficit orçamentário federal que é a OBSESSÃO dos Mansuetos e Samueis. Só no primeiro semestre de 2016, o BC teve prejuízo de R$207 bilhões por causa dessas operações, custo repassado ao Tesouro, NENHUMA citação desse custo pela equipe econômica, mas citam incessantes despesas muito menores com benefícios sociais como se fossem o grande problema e não os juros pagos pelo Tesouro.

Para ajustar o orçamento federal pode-se seguir dois caminhos: cortar cada vez mais, inclusive despesas essenciais e obrigatórias  como ameaça Mansueto de Almeida OU pode-se aumentar a arrecadação federal através da recuperação da atividade econômica, processo mais racional do que a estupidez do corte linear.

A equipe Meirelles-Goldfajn ideologicamente prefere matar o País com corte de despesas e não aumentar a arrecadação pela reativação da economia.

Essa opção é ideológica, esse tipo de ECONOMISTA identifica como boa política econômica aquela que exige SACRIFÍCIOS, se não houver SACRIFÍCIO  a política não é virtuosa, aí existe um conteúdo religioso do SACRIFÍCIO como redenção dos pecados. 

Os economistas ortodoxos da Grande Depressão pensavam a mesma coisa, é preciso PURIFICAR os pecados, punir os ímpios pelo sacrifício, pela pobreza,  pela miséria, só assim  se pune os malefícios dos gastadores, dos que usufruem de bolsa família e seguro desemprego sem trabalhar. 

A PURGAÇÃO PELO SACRIFÍCIO

A reativação da economia por ESTÍMULOS MONETÁRIOS faz elevar a arrecadação e com isso reequilibrar as contas, mas isso não serve para os ECONOMISTAS DO SACRIFÍCIO, se não houver punição pelos gastos sociais que pagam a vagabundagem dos pobres, a política de ajuste não vale moralmente, é preciso que o povo sinta na pele a dor do sacrifício porque foram parceiros dos gastos dissipadores da Bolsa Família, da saúde gratuita dos SUS, das merendas nas escolas, tudo isso foi IRRESPONSÁVEL, segundo a visão ortodoxa, é preciso oficiar para expiar o mal da PURGAÇÃO no altar do neoliberalismo de mercado para  que eles, os punidos pela crise sejam sacrificados em nome dos financistas ricos no altar das oferendas em honra da AUSTERIDADE FISCAL, de preferência à moda grega, o mesmo programa que levou países europeus a grande desemprego e gerou crises sociais e políticas profundas.

A ironia é que aqueles países não tinham recursos, precisam importar comida e petróleo, enquanto o Brasil tem alimento e energia em abundância, não depende do exterior para sobreviver, como a Grécia, que sem crédito não consegue comer e gerar energia.

Não há maior algoz de pobre do que outro pobre, nada existe de mais patético do que POBRE DE DIREITA, um coitado que defende os privilegiados e os rentistas por convicção.

O atual PLANO ECONÔMICO é um desastre ideológico, nada justifica paralisar um País rico de recursos naturais em função de uma referência estatística que atende pelo nome ridículo de METAS DE INFLAÇÃO, um País jogado no abismo em benefício de uma estatística de frações de um por cento, coisa de mentes miúdas, de gente pequena, medíocre, canhestra, pedestre, pigmeus intelectuais, anões de cultura e de conhecimento do pensamento econômico renovado de nossos dias, a “política de ajuste” que eles pregam está FORA DE MODA até no Fundo Monetário Internacional, hoje com  uma visão crítica do ajuste grego e já sensível à renovação do pensamento econômico pós-2008 que atingiu até a outrora catedral do monetarismo, a Universidade de Chicago, onde um plano como esse não seria aprovado por calouros, tal a insensatez e insanidade de propor ações pró-recessão em um dos pais mais ricos do mundo em recursos naturais, agrícolas e energéticos.

KEYNES E A RECESSÃO

Na obra que o consagrou, a “Teoria Geral”,  Lord Keynes demonstra que em ciclos de profunda recessão o mercado não tem a capacidade de auto-ajuste, o mercado não tem essa ferramenta de reverter um ciclo continuado de queda da atividade econômica.

Nesta situação, só o Estado pode aumentar a demanda agregada que justifique novos investimentos em produção. Keynes especificamente apontou que a noção de que com a baixa da inflação e dos salários consequente ao desemprego, isso levaria a um estímulo para os empresários investirem, exatamente o que apregoam os “economistas de mercado” que sustentam o plano Meirelles. Keynes  demonstrou como isso é falso, que os empresários não vão investir se não há demanda para seus produtos. É exatamente o ponto onde se encontra o Brasil hoje. A equipe econômica aparentemente não leu e não aprendeu as lições de Keynes, operam com noções de uma economia ortodoxa desmentida pela Grande Depressão, tudo o que estão fazendo e pregando NÃO vai levar os empresários investirem e não vai tirar o País da recessão, esses cérebros são economistas pré-keynesianos, não sabem ou não aprenderam a lição da História econômica de crises recessivas anteriores da história do capitalismo.

O pano de fundo intelectual e ideológico desse plano de AJUSTE COM JUROS ALTOS E METAS DE INFLAÇÃO não é da formulação do Ministro da Fazenda, ele não tem bagagem para formular um plano econômico, é apenas um executivo de banco mediano, a formulação vem de outras cabeças, um pequeno círculo de economistas anacrônicos, fora do tempo e do espaço, formados muito antes da crise de 2008, com um pensamento monetarista démodé superado por outras reflexões sobre como lidar com economias em crise.

OS ERROS DO GOVERNO DILMA

A moeda de troca oferecida por esse pequeno grupo é reverter os erros da assim intitulada “Nova Matriz Econômica” do governo Dilma, algo que nunca existiu como política econômica consistente, não havia nenhuma política econômica, só uma série de improvisos ao sabor da conjuntura, essa “Nova Matriz” não era uma política construída e sim uma soma de medidas não articuladas. Os  desacertos do governo Dilma foram reais MAS não foram eles a causa principal  da longa recessão  estrutural que se projeta agora para mais de CINCO ANOS.

O conjunto desses erros poderia ser revertido a curto prazo, não teriam o poder de prolongar por tanto tempo a recessão a eles atribuída. Política de preços de combustíveis e de energia pode e já foi revertida e nem por isso a recessão se abateu, o déficit orçamentário de Dilma continua no governo sucessor, sem que se possa colar nele a recessão. A maioria dos governos do mundo, a começar pelo dos EUA, têm déficits por anos seguidos sem por isso entrar em recessão. O que faz e alimenta a recessão é a POLÍTICA MONETÁRIA do Banco Central.

A CAUSA REAL DA RECESSÃO

A causa estrutural da recessão é a DOMINÂNCIA do conjunto da política econômica pelos interesses exclusivos do mercado financeiro, centrado na imposição CONTRA A LÓGICA ECONÔMICA MAIS ELEMENTAR, de juros reais CINCO VEZES a média internacional, não só em relação a juros pagos por países ricos mas também em relação a JUROS PAGOS POR PAÍSES EMERGENTES, menores e com menos reservas cambiais em relação ao PIB do que o Brasil.

O Peru, por exemplo, paga juros reais em sua dívida pública que são MUITO ABAIXO do Brasil, assim como a Colômbia,  México, Índia, Paquistão, o Brasil está fora do passo em relação a maioria dos países emergentes, com relação aos países ricos o Brasil está pagando juros reais de QUATRO A CINCO vezes maiores, sem explicação à luz da teoria econômica.

Uma das consequências da dominância do mercado financeiro sobre o governo foi a extraordinária mudança de posição dos bancos privados em relação aos bancos públicos.

Nas três décadas nas quais o Brasil teve o maior crescimento econômico do planeta, de 1945 a 1975, o Banco do Brasil era maior que os dez maiores bancos privados somados.

Os grandes Estados tinham cada um seu banco estadual para financiar a produção regional, São Paulo tinha o poderoso BANESPA, de expressão internacional, Minas Gerais tinha três bancos públicos, a Guanabara tinha o riquíssimo BEG, que tinha tantos depósitos que não conseguia aplicar no Rio de Janeiro, outros Estados tinham seus bancos públicos.

Na histeria privatista do Plano Real quase todos os bancos estaduais foram vendidos, a maioria para o Itaú, alguns com o preço inferior ao crédito tributário que carregavam, todos sob o pretexto falso de que estavam quebrados, o valor da rede de agências não estava no balanço.

Hoje o BANCO ITAÚ vale no mercado R$225 bilhões e o Banco do Brasil um terço disso, R$75 bilhões, uma extraordinária transferência de capital bancário público para banqueiros privados, resultado óbvio do domínio do mercado sobre o Estado.

Esse processo levou à cartelização do sistema bancário privado, o Brasil tinha 600 bancos em 1975 e hoje basicamente três bancos dominam o mercado privado. Com esse processo esterilizou-se o crédito, caro e seletivo, os bancos se voltam para o mercado “exclusivo” para a classe média alta, afastando-se cada vez mais da economia real.

A DOMIN NCIA FINANCEIRA SOBRE A POLÍTICA ECONÔMICA

Ora, não há no mundo dos grandes países nenhum governo tão dominado pelo dito “mercado” na escala em que se encontra o Brasil. O “mercado” tem interesses específicos, que não são os da população como um todo. Nos EUA, a dominância excessiva do mercado levou à crise de 2008, salva pelo Estado e não pelo mercado, hoje o mercado perdeu peso, prestígio e importância no sistema de governança dos EUA, a eleição de Trump é uma resultante disso.

No Reino Unido, o “mercado” jamais optaria pela saída da União Europeia, isso prejudicaria extraordinariamente os negócios financeiros de Londres. Mas a população pensou de outra maneira e o “mercado” não foi atendido, o BREXIT foi contra o mercado.

O Brasil é hoje um caso único entre os grandes países do G-20, nenhum outro tem sua política econômica de tal forma dominada pelo “mercado”, que não fala pela população, fala apenas pelos rentistas e especuladores, pelos “gestores” de fortuna e banqueiros.

Essa dominância é INEXPLICÁVEL para um País com as dimensões do Brasil. O “mercado” não está preocupado com o desemprego, a desindustrialização, a perda da independência econômica, a miséria e o crime nas periferias das grandes e médias cidades, a precariedade dos serviços  de saúde e saneamento, a fragilidade da educação fundamental, a falta de oportunidade para toda uma geração de jovens entre 14 e 24 anos, onde o desemprego é de 30%, o dobro da já alta média nacional de 15%.

Nada disso diz respeito ao mercado, mas é ele que hoje rege a economia do País.

É inexplicável que um Estado poderoso como o brasileiro se deixe dominar pelo “mercado” de forma tão submissa, levando o País a uma recessão inédita na sua História, nem a crise de 1929, que abalou o mundo,  atingiu de forma tão profunda a economia brasileira da época.

NOVAMENTE OS ERROS DO GOVERNO DILMA COMO JUSTIFICATIVA

Para o diagnóstico correto da atual recessão é fundamental encontrar sua raiz, a nascente de onde parte o impulso negativo que leva a economia a andar para trás. É encontrando sua fonte que o remédio pode ser receitado, essa análise é necessária para a cura.

Não se use a desculpa que a recessão de hoje é ainda resultado dos erros do governo Dilma.

Os equívocos do governo Dilma são a explicação POLITICAMENTE conveniente da atual recessão, que se agravou após a queda de Dilma com mais 2,5 milhões de desempregados, mas esses erros foram conjunturais, os problemas estruturais da economia brasileira vem de muito mais longe, o tumor é mais profundo do que erros pontuais e o déficit público que já existe há décadas na economia brasileira, déficit que também existia em anos de grande crescimento,

NÃO é a causa da atual recessão, ao contrário, o déficit existe porque a arrecadação vem caindo e a maior parte das despesas são fixas e irredutíveis com a atual Constituição.

O maior de todos os déficits vem da conta de juros, que faz parte da atual política e essa conta é considerada intocável pela equipe econômica atrelada a essa política.

A raiz da recessão é mais profunda, vem da política monetária já praticada no governo anterior, recessiva por causa de juros reais muito acima do necessário e mais do que a economia pode suportar, juros praticados por um Banco Central descolado da economia real e capturado pelo mercado financeiro no seu âmago, o BC nunca esteve a serviço do conjunto da economia e sim a serviço do sistema financeiro, processo que vem desde o Plano Real.

O governo Dilma não teve uma política econômica firme e com objetivos racionais, foi uma política hesitante e oscilante, com medo ancestral do mercado, a  política já era a de METAS DE INFLAÇÃO, a mesma política que agora foi RADICALIZADA por fanáticos da deflação como ideologia e modus operandi, como crença e porque não sabem operar a economia de maneira mais racional e criativa, é mais confortável atender ao mercado do que enfrentá-lo.

A dominância da política econômica pelo “mercado” se consolidou no primeiro Governo Lula, com a entrega sem condições do Banco Central ao “mercado” na pessoa de Henrique Meirelles, essencialmente um delegado do mercado e não um formulador econômico.

 Foi o maior erro do Governo Lula e a causa do desastre final da política econômica nos doze anos do PT. O ovo da serpente da recessão de hoje estava sendo chocado com esse arrendamento do BC ao Boletim Focus como práxis e ideologia, o ponto de partida foi a gestão Armínio Fraga no BC, quando se inicia o Boletim Focus e a dominância do mercado.

Lula tinha capital eleitoral para seguir uma política muito mais independente, mas preferiu o comodismo de entregar por completo a política monetária e a política cambial ao arbítrio exclusivo do mercado sem reserva de poderes para contraditar a gestão do BC ou influir na política econômica. Deu certo no início porque as expectativas eram muito piores para seu governo e pelo favorecimento do ciclo de explosão de preços das commodities.

No Governo FHC até a gestão Armínio não havia essa dominância, tanto que a política cambial foi mudada por completo quatro vezes sem ser determinada pelo mercado, era o Governo que decidia o câmbio e não o mercado. Parece coisa simples, mas não é, o Governo FHC usava o mercado mas não era dominado por ele, o Governo se reservava o poder de decisão sobre o câmbio, isso começou a mudar com a gestão Armínio e o acordo com o FMI.

O Governo Lula, seguido pelo Governo Dilma, entregou POR COMPLETO E SEM RESTRIÇÕES, o Banco Central ao mercado, Meirelles jamais foi um estrategista como Gustavo Franco ou Armínio Fraga, apenas delegado do mercado no BC para atender o sistema financeiro daqui e de fora, seu papel é o de “representante” do mercado no BC.  Ele é produto do mercado.

No governo Dilma trocou-se o presidente do BC, mas manteve-se o modelo com uma diretoria  afinada com o mercado. Quando Dilma quis intervir na política de juros, caiu o mundo e ela teve que voltar atrás, já não tinha mais poder de enfrentar o mercado. Não foi a queda de juros reais imposta por Dilma que deu início à recessão, mas sim o retorno às taxas de juros reais várias vezes acima da média internacional. Essa baixa e volta à alta foi um desastre de percepção nos rumos da economia, somado a erros evidentes no tabelamento dos combustíveis e no desmonte do setor energético, atos irracionais sob qualquer ponto de vista.

A nomeação de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, nome indicado pelo mercado, agravou rapidamente o erro de ida e volta na política de juros e nessa gestão começa o ajuste fiscal improvisado, cujo único alvo foram as despesas mais essenciais de funcionamento do governo e os investimentos públicos, uma vez que as despesas com pessoal ativo e inativo são fixas.

Enquanto houver essa dominância pelo mercado da política monetária que necessariamente se atrela a política cambial, o Brasil não sairá da recessão, para o sistema financeiro cartelizado a depressão é ótimo negocio, baixa o preço dos ativos e o juro real sobe.

A ALTA CONTINUADA DOS JUROS REAIS E O NAUFRÁGIO DO PLANO MEIRELLES

Hoje os JUROS REAIS NO BRASIL são muito mais altos do que em 2015 e 2016, ao contrário do que dizem as Miriams e os Sardenbergs, os JUROS ESTÃO SUBINDO DESDE QUE COMEÇOU A RECESSÃO, tanto na taxa básica Selic como para tomadores privados.

O pior é que a leitura que se faz no Brasil sobre os rumos da economia mundial está defasada.

A economia mundial pós-2008 não é a mesma de antes, mas no Brasil se opera como se fosse.

A globalização financeira está sendo contestada por novos ativismos políticos que resultaram no BREXIT, na eleição de Trump, na revisão dos conceitos de ajuste fiscal pelo FMI e no nascimento de um novo pensamento econômico a partir da crise de 2008, que diminui a importância e o peso político do mercado financeiro sobre as economias e faz revisões contínuas de conceitos como o do “ajuste fiscal linear” que deu errado na Grécia.

Essas novas correntes de pensamento mudaram o foco e as teses das escolas de economia mais influentes, como a de Chicago e de Stanford e se cristalizaram em um novo e influente think-tank, o Instituto para o Novo Pensamento Econômico de Nova York. Nada disso afetou a cabeça dos “economistas de mercado” brasileiros, formados nos anos 90 e que não evoluíram em conhecimento de novas linhas econômicas, continuam atrelados fanaticamente ao velho monetarismo de Friedman, que já evoluiu na sua matriz intelectual, a Universidade de Chicago.

Políticas monetárias e orçamentárias mais flexíveis, como em Portugal, deram mais certo do que o brutal ajuste grego, que é o mesmo que se anuncia praticar no Brasil.

A preguiça mental e acomodação intelectual  dos economistas brasileiros da linha PUC Rio, Insper, FGV, todos atrelados ao “mercado” via consultorias e empregos e por reflexo pelo espaço que a GLOBO dá a essa ideologia “mercado-dominante” através da formidável massa de publicidade de bancos e gestoras financeiras, não apresenta nenhuma proposta que não seja mais ajuste, mais juros altos e mais Real valorizado, mais fanatismo na perseguição a uma meta abaixo de 3% mesmo que disso aumente os escombros da economia real.

Os “padrinhos da recessão”  estão em descompasso com o mundo, nossa política econômica virou uma jabuticaba rara, uma fruta genuinamente nacional, daquele tipo que só tem no Brasil, marchamos fora da partitura do mundo caminhando para o cadafalso da Grande Depressão, versão brasileira pela Globonews.

Um desafio lançado: que o Governo promova no Brasil um SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE POLÍTICA ECONÔMICA, convide nomes consagrados, alguns Prêmio Nobel de Economia com boa mescla de nomes de várias tendências, linhas e escolas, e proponha a eles sugestões sobre a economia brasileira. Muitos Bancos Centrais fazem isso continuamente, faz parte das funções de um banco central, que não pode ser caudatário de uma só visão de economia.

O próprio Prêmio Nobel de Economia é uma criação patrocinada pelo Banco Central da Suécia, gente que não tem medo de ouvir críticas e sugestões e não se consideram sábios inatacáveis.

Do GGN, André Araújo