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sábado, 17 de junho de 2017

Fernando Horta: Críticas, temperança e o Brasil de hoje

No final da década de 70 e início da de 80, existia uma série chamada “Ilha da Fantasia”. Ricardo Montalban fazia o papel do “senhor Roarke”, o anfritrião de uma ilha-resort que tinha seus encantos e uma boa dose de filosofia. Auxiliando o Sr. Roarke, Hervé Villechaize fazia o papel de Tatoo, um simpático faz-tudo que, normalmente, trazia a história para a realidade.

Enquanto Roarke era o pensamento mágico das coisas que aconteciam sem explicação, mas sempre com uma finalidade, Tatoo era o fechamento materialista. Como um condutor dos indivíduos novamente à sua realidade. Desta viagem, os diversos indivíduos que se submetiam, levavam como prêmio apenas o conhecimento, que era desvelado em algum diálogo próximo do fim.

Na Academia somos treinados para vivermos uma eterna viagem à Ilha da Fantasia. A partir de uma determinada base de conhecimento teórico, deixamos o pensamento alçar voo para, em seguida, tentar captura-lo dentro da realidade objetiva, a qual nos cabe viver e conviver. Nas últimas horas eu publiquei quatro textos sobre o mesmo tema. Minha posição é que os EUA não são o “cérebro” articulador por trás das vicissitudes brasileiras desde 2013. Veja que não digo que não colaborou, não digo que não tenha se beneficiado, não digo que não tenha efetivamente participado de alguma forma, não digo. Apenas questiono uma linha de interpretação histórica que remonta à Guerra Fria. No primeiro texto (http://jornalggn.com.br/blog/blogfernando/nao-foram-as-listras-nem-as-estrelas) apresento uma série de argumentos teóricos que fazem parte das críticas que a própria ciência Histórica vem fazendo sobre si mesma. No segundo texto (http://jornalggn.com.br/blog/blogfernando/texto-2-o-velho-senhor-do-pijama-listrado) apresento uma série de argumentos mais empíricos voltados especificamente contra o senso comum.

Neste debate, apresentei um terceiro texto (http://jornalggn.com.br/blog/blogfernando/texto-1-a-culpa-e-das-estrelas), com o qual não concordo, sinalizando por meio de um quarto texto (http://jornalggn.com.br/blog/blogfernando/sal) que haveria uma escolha a ser feita. Os argumentos centrais dos dois textos são excludentes e eu fiz, de propósito, a apresentação dos dois juntos, para verificar a posição dos leitores. O texto “A culpa é das estrelas” é recheado de afirmações de senso comum, sem dados concretos e termina com a apresentação de um argumento de autoridade (do historiador Moniz Bandeira). Este tipo de texto não seria aceito na Academia, pois ele se utiliza de tudo o que a boa prática científica condena e que ensinamos os alunos e não fazerem. Moniz Bandeira é um dos grandes historiadores brasileiros, mas ninguém deve ser usado como argumento de autoridade.

Hoje, uma outra colunista, competente e muito criteriosa, também publica texto no sentido de acusar os EUA de “estarem por trás” (seja lá o que isto quer dizer) das nossas mazelas. Apresenta como evidências um email da embaixadora Ayalde (quando ainda no Paraguai) recusando-se a emprestar reconhecimento democrático a Fernando Lugo, e um curso partícipe do projeto norte-americano “Pontes”, que Moro compareceu no Rio de Janeiro como palestrante. O documento, desvelado pelo Wikileaks (https://wikileaks.org/plusd/cables/09BRASILIA1282_a.html) sequer é marcado como “restrito” ou “secreto”. As duas evidências apresentadas são tremendamente fracas. Vários diplomatas de vários países negaram-se a emprestar a Temer qualquer legitimidade democrática e não se tem notícia de que estejam planejando golpes contra o Brasil. Vários presidentes, incluindo dois dos EUA, também se recusaram a aparecer ao lado de Temer, isto significam que estão preparando golpes? Não, apenas mostram que por motivos seus não concordam que Temer seja legítimo. A evidência sobre o “curso” de Moro é ainda mais fraca. O próprio documento mostra que a duração do encontro foi de cinco dias. Se em cinco minutos me convencem a trair minha esposa, é provável que a vontade de trair fosse anteriormente minha.

A verdade é que estamos nos tornando especialistas em julgar sem provas. Estamos nos tornando experts em montar narrativas com mínimos (quando existentes) pontos de apoio empíricos e verificáveis. Tudo fica no campo do “pode ser”, “eu acho”, “não tem como ser diferente”, “li em algum lugar” e por aí vai. A seguir por esta senda, em alguns dias estaremos nos preparando para a invasão Anunnaki ao planeta Terra, que deve ocorrer em setembro. Se chancelamos este tipo de raciocínio, estamos dando força a Moro. Das inúmeras inverdades que já levantaram contra ele (que seria filiado ao PSDB, que seu pai seria fundador do PSDB em Maringá, que seria um agente norte-americano) nenhuma é minimamente palpável e acabam por enfraquecer as reais objeções que temos a ele: de que é parcial, de que não se atém à constituição e às leis e que faz de sua formação conservadora e de um anticomunismo atávico uma bandeira de luta contra a esquerda.

Ademais, o mesmo raciocínio que leva alguém a pegar um curso de cinco dias no RJ que ele compareceu para dizer que é “agente americano”, faz com que ele considere dois pedalinhos, caixas escritas “praia” e “campo” e um contrato sem assinatura como “provas” contra Lula. Percebam que é exatamente o mesmo caminho epistemológico. Com provas fraquíssimas entram em campo nossas convicções. “Dalhanholmente” provadas. A Lava a Jato tem inúmeras inconsistências, apontadas por pessoas muito mais qualificadas no Direito do que eu, mas não é por cursos (como diz Moniz Bandeira) frequentados por um juiz, entre mais de 17 mil no Brasil, que vamos “provar” que os EUA estão coordenando uma força de mais de 500 pessoas (entre policiais, promotores, jornalistas, políticos, juízes e etc.), em diversas instituições, para destruir o país.

O que me impressiona não é que estejamos neste ponto. A esquerda tem sofrido demais, o ar está irrespirável no Brasil. Todo dia temos desprotegidos mortos e assassinados, direitos sendo retirados, privilégios escorchantes criados ou mantidos. Todo dia o fascismo tem avançado. Estamos à “flor da pele”, respondendo mais do que pensando. O que me impressiona é que estamos fazendo exatamente o que a direita faz. Esta direita que acusamos de inculta, paranoica, ignorante e burra.

Se é verdade que sem o Senhor Roarke e toda sua capacidade imaginativa não somos humanos, é preciso reconhecer que sem Tatoo também não. Temos que manter os pés no chão e aguentar a tempestade. Muitas vezes, defender um ponto de vista contra a multidão parece insólito, mas é o que pretendo fazer, sempre que acreditar que tenho base para isto. E defendo o seu direito de não concordar. Fico chateado, confesso, por ter virado um “lacaio do capitalismo americano” como chegaram a me chamar, mas ultimamente no Brasil, tenho tido companhias ilustres como condenados digitais. Precisamos respirar, precisamos voltar a ser o que nos distinguia politicamente: um coletivo racional de cidadãos capazes de pensar antes de agir e que defende um Brasil menos desigual, mais próspero e justo.

Por via das dúvidas, estoquem água e comida. Alguns dizem que os Anunnakis chegarão em setembro deste ano.

Do GGN

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Ion de Andrade: A esquerda e a questão republicana

Raramente um fato aparentemente tão desimportante quanto o episódio que envolveu Miriam Leitão num vôo foi alvo de tanto interesse público. Por que? O que houve por trás disto que justificou tamanha atenção. Sabe-se que o que atrai a atenção dos passantes num acidente de trânsito é que ele encerra uma verdade que deve ser entendida por razões de sobrevivência. Se um fato, aparentemente menor, atraiu tanta atenção é porque algo tem a ensinar.

Habituada a agredir petistas e pessoas ligadas ao campo progressista em enterros, internamentos hospitalares, restaurantes e nas ruas, a turba fascista em que se converteu a direita tradicional no Brasil, nunca recebeu reprimenda de nenhuma das suas organizações políticas de referência e, como quem cala consente, essa expressão de ódio tornou-se o comportamento normal, o modus operandi daqueles que aspiram a governar e estão governando o Brasil. Como já disse alguém, no Brasil não temos esquerda e direita, mas Casa Grande e Senzala, o que insere esses ódios novos a uma velha tradição nacional que relega aos de debaixo, o pó.

O que ocorreu no episódio Miriam Leitão/Gleisi Hoffmann foi o magnífico ensaio do que deve ser clara e ostensivamente a nossa conduta. Militantes petistas, e depois ficou provado que não se excederam, foram acusados, pela suposta vítima, Miriam Leitão, de agressão pessoal e política num vôo comercial. Não sei se alguma vez a colunista sentiu-se incomodada com agressões sofridas por gente de esquerda em, limitemo-nos a essa circunstância, enterros de seus mortos. Não vem ao caso, independente disto, baseado numa exigível presunção de inocência, a presidente nacional do PT pediu-lhe desculpas e sinalizou, como lhe pareceu o seu dever, aos que teriam participado da suposta agressão como também ao conjunto da militância e ao país, que esses não eram nossos métodos, e que não podíamos nos igualar à Globo.

Depois disto, inúmeros testemunhos demonstraram que os fatos não haviam sido como narrados por Leitão e eram outros, que as agressões em nenhum momento foram a ela, mas à Globo que ela de direito ou de fato representa, e que tratou-se de um mal decorrente da sua notoriedade e da sua assumida parcialidade, a que, aliás, tem direito, respeitada a integridade moral dos seus alvos... poderiam ter sido aplausos se mais distinta fosse a clientela do voo. Reconheça-se também que, provado não ter havido agressão à pessoa da colunista, e por vivermos, ainda, num país que garante a liberdade de expressão, nada há contra os militantes que gritaram palavras de ordem. Há, portanto, espaço para que a própria Gleisi enquanto presidente do PT possa analisar se vai ou não processar a dita colunista por calúnia e difamação.

Feita essa consideração voltemo-nos a Gleisi. Legítima representante de uma das maiores forças políticas do Brasil, força esta não somente portadora de valores, de uma tradição de lutas e de respeito à democracia, mas que governou e pretende novamente governar o Brasil, Gleisi se limitou a exprimir no episódio o ideário que a sua força política abraça. E, sim, admoestou os seus. Magnífico exemplo. A possível mentira da colunista enobrece ainda mais a sua atitude desprendida e corajosa. E os militantes repreendidos, embora tenham o direito de mostrar quem é Miriam Leitão, têm o dever moral de entender o que a presidente do partido quis dizer. Não é uma questão doméstica, como querem os que acham que ela deveria ter perguntado aos militantes antes de agir. É uma questão pública, um ótimo momento de dizer a que viemos. E, naturalmente, os militantes devem ser ouvidos .

A questão republicana não pode ser confundida com ingenuidade, ela opera no interesse das maiorias e é uma ferramenta muito poderosa de organização das expectativas políticas, conformando, portanto, a cultura a nosso favor.

Há pesada crítica aos governos petistas por ter assegurado sempre a escolha do primeiro da lista do Ministério Público para uma definição, privativa do Executivo, dos Procuradores Gerais da República. E de fato houve aí erro e ingenuidade. Por que? Porque a escolha do primeiro da lista nem sempre atendeu ao respeito à República. Foi o primeiro da lista Janot? Foi republicano? A escolha do primeiro da lista é demagógica e não republicana. A escolha republicana deveria, sempre, ter sido a escolha do mais fiel à isenção e à honra das instituições acima dos interesses específicos, o que, óbvio ululante, não ocorreu. Deveriam ter sido escolhidos promotores reconhecidos por sua grandeza e apego à justiça, e não por sua vaidade, partidarismo, corporativismo ou por sua canalhice, pessoas que fossem reconhecidamente capazes de processar o (a) presidente por causas reais e não casuísiticas.  Não se pode escolher a primeira raposa da lista para tomar conta do galinheiro esperando, em nome dessa estupidez que, por reconhecimento, não devore galinhas. Da mesma forma que seria perverso escolher alguém alinhado ao PT para a PGR.

Critica-se também o PT por ter convertido a Polícia Federal numa força sem comando e aí se atribui a isso o seu republicanismo. Porém observemos, Cardozo ministro e Dilma presidente, nesse particular foram republicanos ou omissos? E Aragão quando prometeu punição para conduções coercitivas desrespeitosas da lei teria sido antirrepublicano? Não, na verdade, a atitude de Cardozo foi lesa-pátria e a de Aragão republicana.

Não podemos desejar um Estado que em nome de uma parcialidade política enviesada em favor da esquerda deixe de buscar a isenção necessária no tratamento da coisa pública. É óbvio que, como construções sociais em meio a uma sociedade dividida entre explorados e exploradores, garantir o caráter republicanos das decisões será sempre um terreno de lutas e de interpretações bem difíceis. E temos lado. Podemos entender como republicano coisas que a direita considere que não são. Vamos enfrentá-los.

Porém, o que está claro é que as forças conservadoras no Brasil não têm, dados os compromissos que estabeleceram com o mercado, com o proveito próprio, ou com o crime organizado, como está escancarado à luz do dia, a menor condição de gerir o Estado com qualquer espírito republicano, compreensão que é estratégica para o campo progressista que deve afirmar-se aí também. O que se constata ,porém, é que o governo da direita no Brasil é, na verdade, um espetáculo dantesco e que, ainda que com ingenuidade e demagogia, somente a esquerda demonstrou poder ser republicana.

Nunca esqueçamos que o Estado democrático de direito é a casa das maiorias e que ele é também a República. Construir e consolidar esse caráter republicano, estratégico para nós, não será coisa nem para demagogos, nem para frouxos. A República é a ordem da casa. Só empunha essa bandeira a força que aspira e pode ser hegemônica. A esquerda democrática, que se opõe à direita plutocrática deve ser tão republicana quanto a direita é antirrepublicana, oligárquica, coronelista, senhorial ou escravagista...

Na sua aparente fragilidade Gleisi fez a coisa certa. A República é um cavalo bravo que não se deixará domar por demagogos que queiram jogar para a plateia. A sua condução exigirá punhos de aço, desapego e sede de justiça, mas as maiorias não precisam temer a República, os privilegiados sim.

No Tarot a República bem que podia ser representada pela carta da Força, aquela onde uma moça de aparência frágil calmamente domina o Leão.

Possa Gleisi estar à altura.

Do GGN

domingo, 4 de junho de 2017

Entendendo a "nova esquerda", a "nova direita" e os movimentos de rua, no conturbado momento atual

Em entrevista ao Justificando, a professora da Universidade Federal de São Paulo Esther Solano fala das manifestações que ocupam as ruas desde os protestos de 2013 - principalmente em São Paulo - e sobre o perfil dos seguidores ou entusiastas da direita e esquerda e seus novos discursos.

A Professora da Universidade Federal de São Paulo, Esther Solano, falou sobre as novas frentes das ideologias, o “populismo de esquerda”, e partidos de esquerda e direita que surgem no país. 

Cada vez mais as pessoas estão interessadas na política, mas qual leitura fazer dos novos movimentos que têm alterado profundamente o cenário atual? Novas frentes e toda uma geração que vem sem pedir passagem para falar sobre seu futuro a partir de si própria, sem contar mais com a mediação dos espaços disponibilizados para que protestem dentro do limite. Exemplos disso, são os movimentos de secundaristas e as novas manifestações.

“(…) A esquerda constitucional e a esquerda de base: a militância de base que está muito mobilizada, então você tem milhões de movimentos sociais que estão realmente pulsando”, explica Solano.

De outro lado, a direita traz o discurso antipolítica como marca de sua nova geração, e Solano fala um pouco sobre isso nesse programa. Assista abaixo:
GGN/Justificando

terça-feira, 30 de maio de 2017

Luís Roberto Barroso faz mea-culpa mas não assume que o STF apoiou deliberadamente o GOLPE

Impeachment de Dilma “gerou uma sociedade que guarda cicatriz e ainda está dividida”, diz Barroso.

Tímido ensaio para uma autocrítica do Supremo

O Supremo Tribunal Federal tem uma dívida para com a democracia brasileira: não impediu, com argumentos jurídicos e com sua autoridade de guardião da Constituição, que fosse politicamente consumado pelo Congresso um golpe contra a presidente eleita Dilma Rousseff, deixando ir em frente um processo de impeachment viciado. Da composição que homologou o golpe, talvez nenhum dos 11 ministros venha a reconhecer isso em vida, mas a História cobrará. Nesta segunda-feira 29, o ministro Luís Roberto Barroso fez um tímido ensaio de autocrítica: admitiu que a remoção de Dilma deixou uma cicatriz na vida política brasileira, dizendo que o STF não interferiu no processo por  acreditar que não devia fazer uma opção política numa sociedade divida. Desculpe o ministro, mas esta é uma explicação errada para uma atitude errada. O Supremo poderia ter barrado o golpe com fundamentos jurídicos, apontando as inconsistências do processo, o que não significaria uma opção política pelo governo eleito em 2014. Hoje, o Brasil seria muito agradecido ao STF e seus ministros.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

O chorume vazado da lavanderia de Reinaldo e Mainard

Reinaldo e Diogo lavam roupa suja em público

"Breve apanhado de correspondência imensa revela que Diogo passou a me considerar um mau sujeito só depois de 'O Antagonista'", escreve Reinaldo Azevedo, divulgando emails do ex-amigo, que disse, num passado recente, que sua vida havia ficado "mais pobre" longe de Reinaldo.

A direita continua lavando roupa suja na internet. Neste domingo, Reinaldo Azevedo publicou em seu blog na Veja e-mails trocados com o ex-amigo Diogo Mainardi.

"Breve apanhado de correspondência imensa revela que Diogo passou a me considerar um mau sujeito só depois de 'O Antagonista', escreve Reinaldo, destacando mensagem de Diogo, num passado recente, que disse que sua vida havia ficado "mais pobre" longe de Reinaldo.

Os dois passaram a divergir desde que Reinaldo Azevedo se tornou crítico dos excessos da Lava Jato. Na última semana, Diogo mandou Reinaldo "dar a bunda" após o colunista de Veja ter criticado o juiz Sergio Moro em razão do depoimento do ex-presidente Lula. 

 Confira  aqui.

domingo, 14 de maio de 2017

Personagens de Veja e Antagonista se digladiam na mídia

Ex-amigo, Reinaldo diz que Antagonistas são detratores profissionais

Depois que Diogo Mainardi o mandou "dar a bunda" no Twitter, Reinaldo Azevedo, de Veja, conta que chegou a ser convidado por ele e por Mário Sabino, com uma "proposta irrecusável", a participar do site O Antagonista, que é metade da corretora Empiricus; ele promete, no entanto, aos leitores: "Não vou deixar de lado as questões sérias sobre o país e o mundo para me ocupar de um site, de uma corretora e de uma dupla de detratores profissionais"

O blogueiro de Veja Reinaldo Azevedo escreveu uma resposta a quem chamou de "dupla de detratores profissionais" - Diogo Mainardi e Mario Sabino -, dona do site O Antagonista, que é metade da corretora Empiricus - que faz campanha terrorista contra o ex-presidente Lula.

A resposta aconteceu depois que Mainardi mandou Reinaldo "dar a bunda". O colunista de Veja promete, no entanto, aos leitores: "Não vou deixar de lado as questões sérias sobre o país e o mundo para me ocupar de um site, de uma corretora e de uma dupla de detratores profissionais".

Confira a íntegra:

Diogo e Mario me queriam como sócio. Recusei. Então virei inimigo
Sim, eles me convidaram. E até lastimaram a minha recusa. Aí passaram a atacar um amigo, sem nem rompimento prévio. Questão de mercadores...)
  
Vejam como são as coisas. No dia 20 de abril, o site de humor & negócios "O Antagonista" — metade pertence a uma corretora chamada "Empiricus" — publicou um de seus costumeiros ataques contra mim. Escrevi um texto em resposta. E não publiquei.

Por quê? Já nos seus primeiros dias, Diogo Mainardi e Mario Sabino deixaram claro que, para se estabelecer, a página precisava investir contra mim. Em vez de ampliar, então, o espaço das ideias não esquerdistas, eles preferiram se comportar como (de)predadores de um amigo antigo, com quem nem mesmo houve rompimento formal.

Responder por quê? Minha mulher e minhas filhas eram, e são ainda, as mais firmes: "Ignore! É visível que eles o atacam só para ganhar espaço". E, mais uma vez, silenciei. Nesta quinta, diante de nova investida, dei uma resposta educada e bem-humorada. E Diogo Mainardi resolveu sacar uma arma política mortal: "Vai dar a bunda, Reinaldo".

Dizem-me que, quando o fez — sempre há alguém que conta —, a estratégia do tuitaço já estava armada. Faz sentido. Um argumento político dessa natureza merece circular nas redes. Não me importo, não! Acho é bom! Quero que saibam que esse é o melhor argumento de Diogo Mainardi e de seu Leporello.

Na sequência, vai boa parte daquele texto que não publiquei e outras coisinhas. E fiquem calmos os leitores! Não vou deixar de lado as questões sérias sobre o país e o mundo para me ocupar de um site, de uma corretora e de uma dupla de detratores profissionais.

Sócio
Os dois que agora me demonizam me chamaram para ser sócio do empreendimento. Fosse essa uma calúnia, teria como provar. Disse "não" por uma penca de razões então silenciadas. Afirmei apenas que já tinha sido patrão, que não havia gostado da experiência e que eu não estava disposto a abrir mão da segurança que tinha.

Naquele texto do dia 20, eu os (leitores) poupava de detalhes da conversa que mantive com Mario ao telefone. Agora revelo porque, acreditem, tem a sua graça. Aquele que nunca se conformou em ter deixado de ser o meu "chefe" (na cabeça dele ao menos) me fez uma proposta irrecusável (rsss), que vinha acompanhada de elogios, ainda que à moda Sabino.

Esse empedernido antagonista da razão sugeriu qual seria a tarefa de cada um: Diogo entraria com o nome (???); ele, Mario, seria o comandante-geral e cuidaria, vamos dizer, do lado empresarial; e eu escreveria — como ele disse então, "Escrever, para você, é fácil". Ainda que eu não tivesse reservas de outra natureza, não poderia aceitar um convite em que um entra com a fama, o outro se dedica a jantares e afazeres sociais, e eu, ao trabalho. Mario queria voltar a ser meu chefe, nem que, para tanto, formalmente, eu fosse um sócio.

De resto, na análise política, quem tinha e tem um nome firmado, gostem ou não, sou eu. Diogo — que escreve muito bem; não me arrependo de elogios que fiz a seu texto e os mantenho — está mais para uma celebridade. Trata-se, reitero, de algo até injusto com sua escrita — quando ele não opta por telegrafar. Mas é visível que ele gosta desse papel. Se eu tivesse topado, seria prudente que cuidasse dos textos. Diogo é muito ruim de análise. Erra todas. Sim, é um cara culto, lido. Mas nada sabe de política.

Testemunha
Fui testemunha de defesa do antigo "enfant terrible" de Veneza (está envelhecendo mal) em dois ou três processos (como não é uma delação premiada, permito-me a imprecisão). Sem que tenha havido briga ou rompimento, começaram a me atacar pouco tempo depois de inaugurada a página. Entendi: "Ou é nosso sócio ou é nosso inimigo". As pessoas fazem suas escolhas. O que falei de ambos até hoje está em arquivo. Consultem no Google. Jamais os destratei. Nem quando me transformaram num alvo diário de baixarias.

Passei a ignorá-los porque entendi que tomavam unilateralmente a decisão de romper uma amizade com o propósito de se estabelecer. Era uma disputa de mercado. Fazer o quê? Eu continuaria a fazer o meu trabalho, como continuei. Não me dedico nem ao humor nem aos negócios.

Lava Jato
Quando surgiu "O Antagonista", eu já havia tornado públicas algumas críticas à Lava Jato. A dupla viu ali a oportunidade de me atacar. Os dois se tornaram lava-jatistas fanáticos, e os que ousassem criticar esse ou aquele aspectos da operação seriam vendidos.

Era tal o ânimo de me perseguir — e parece que o meu silêncio mais lhes assanhava o ódio — que chegaram a inferir, ainda que de forma oblíqua (até onde sei), que as letras "RA" que apareciam nas notas de um aparelho celular de Marcelo Odebrecht designavam "Reinaldo Azevedo". Não. Referiam-se ao executivo da empresa "Rogério Araújo".

Sabino e a Odebrecht
Eles sabiam muito bem que nunca tive nenhuma relação com a Odebrecht ou com o Odebrecht. Não é o caso de Sabino. Quando a revista "Piauí" publicou que ele atuara por algum tempo, na condição de profissional do ramo de assessoria, como conselheiro de Marcelo, indo à sua casa, em companhia de Eduardo Campos, então governador de Pernambuco, fiquei quieto. E instruí Ricardo Jensen, que cuida dos comentários: "Não publique nada a respeito".

Está relatado na "Piauí" o que teria sido o início de Sabino em sua nova profissão:

"Aconteceu, então, que Sabino começou a trabalhar. Participava de reuniões com clientes da casa, às vezes com o patrão, às vezes sem. Já estava 'do lado de lá'. Mas mantinha o figurino antigo, inclusive na afetação de certa arrogância, comum a quase todos os jornalistas, teatral e exacerbada no caso dele. Um exemplo vazou: na reunião com o principal cliente da casa, Sabino empalideceu os presentes — Marcelo Odebrecht entre eles — ao sugerir, muito senhor de si, que a empresa deveria mudar de nome — como é que ninguém pensou nisso antes? Participava do jantar, no apartamento de Odebrecht em São Paulo, o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto no ano passado."

Sabino foi hábil em espalhar a versão de que a Secretaria de Comunicação da Presidência havia exigido a sua demissão.

Questões e jantar no Gero
Não publiquei nada sobre aquela ocupação de Sabino, mas me perguntei à época e me pergunto agora o que teria feito "O Antagonista" se houvesse sido eu a me encontrar com Marcelo Odebrecht, na casa do próprio, em companhia de Eduardo Campos, que, convenham, vivo ou morto, não faz boa figura na Lava Jato. E não era um encontro de jornalista com a fonte. Era uma reunião, no fim das contas, de negócios.

Há alguns dias, sites de esquerda, históricos detratores de Mario, Diogo e Reinaldo, resolveram explorar o trecho do depoimento de um dos delatores da Odebrecht. Este afirmou ter visto Diogo no restaurante Gero, no Rio, em companhia de Aécio Neves, Alexandre Accioly e Dimas Pimenta. Nesse dia, Dimas teria se levantado da mesa e passado ao delator, segundo seu próprio testemunho, um papel com o número de uma suposta conta secreta de Accioly em Cingapura para depósito de uma parcela de dinheiro que Marcelo Odebrecht teria prometido ao então governador de Minas.

Na sequência, veio a conversa, sobre a qual não me ocupei, de que a empresa do marqueteiro de Aécio estaria na raiz de criação de "O Antagonista". Ignorei, de novo, os dois assuntos, como vocês sabem. Mais uma vez, não permiti que um só comentário vazasse a respeito. Até porque, ainda que fosse tudo verdade — Diogo nega que tenha havido o jantar —, tais eventuais ocorrências provariam o quê, além de nada? Mas me indaguei outra vez o que não teriam feito os meus ex-amigos se, em lugar de "Diogo Mainardi", o delator tivesse pronunciado as palavras "Reinaldo Azevedo".

Mais: eu não faria baixa exploração do episódio, e não estou fazendo agora, porque eu mesmo já disse aqui que a Lava Jato aplica a Aécio Neves critérios e procedimentos distintos daqueles dispensados a outros investigados. A Justiça vai dizer se ele é culpado ou inocente. Eu acho que há um trabalho deliberado e organizado de desconstrução da sua imagem. Rodrigo Janot, por exemplo, pediu a abertura de três inquéritos sobre um mesmo episódio.

Por quê? Obsessão!
Por que eles agem como agem e eu como ajo? Temos moralidades distintas, está posto. A minha não permite fazer com os dois o que a deles permite que façam comigo. E não lembro agora alguns episódios para tentar vinculá-los a isso ou àquilo. Eles se sentem bem no papel de policiais, promotores e juízes — desde que não seja do próprio comportamento. Tanto é que vivem "prendendo Lula amanhã". Eu sou jornalista.

Eles sabem o que é viver sob ataque permanente de uma tropa organizada. Lembro-me da consternação de Sabino quando os sites de esquerda publicaram que ele havia manipulado a lista de "Livros Mais Vendidos" da VEJA.

Sempre que foram atacados, saí em sua defesa. Eles preferiram se juntar aos que me atacam. Um pragmático amoral diria se tratar de "uma questão de mercado".

Acho que é coisa de mercadores.

Do 247

segunda-feira, 1 de maio de 2017

“Dória, o prefeito de uma facção radical”, por Fornazieri

Foto: Andre Bueno/CMSP/Fotos Públicas 
Dória: um prefeito faccioso

A cada dia que passa, João Dória se revela menos o prefeito de todos os paulistanos e mais o prefeito de uma facção radical. Prima pelo desrespeito a adversários, a cidadãos, a sindicalistas, a trabalhadores e ao seu próprio secretariado. Manifesta uma clara vocação para humilhar os outros. Mais ofende do que agrega; mais agride do que une. Despreza um princípio que deveria ser cardeal na conduta de todo governante: promover a concórdia dos governados, a paz e o entendimento com todos. Como principal magistrado do município, deveria buscar sempre a mediação racional para resolver os conflitos. Mas faz o contrário: os estimula, com práticas de arruaça política. Se, pela sua esperteza e inteligência, Dória deixava dúvidas e esperanças acerca de seu potencial de evoluir para a condição de um líder político efetivo, aos poucos, pela atitudes agressivas e facciosas com que se conduz, vai consolidando a impressão de que trilhará cada vez mais o caminho dos vaidosos e dos inconsequentes. 

No contexto da greve geral que parou o Brasil, Dória verbalizou várias agressões contra grevistas, trabalhadores e sindicalistas. Classificou-os de preguiçosos e vagabundos, entre outros tipos de ofensa. Cultiva um solene desprezo pela alteridade, pelo outro, pela diferença. Vangloria-se de acordar cedo, definindo-se, desde a campanha eleitoral, como um trabalhador. Esmera-se em aparecer vestido de gari e de outras fantasias para criar uma imagem de algo que não é.

Há uma indignidade na conduta de Dória ao travestir-se, por mero proselitismo político, de trabalhador. Embora possa acordar cedo, ser hiperativo e trabalhar muito, pelas categorias analíticas da sociologia e da economia, ele, na condição de empresário, é um capitalista. Possui meios de produção e aufere (ou auferiu antes de ser prefeito) a sua renda desses meios. 

Trabalhador, de fato, é um conceito amplo que, de modo geral, indica aquele que vive da sua força de trabalho, vendendo-a. Nos tempos modernos, trabalhador veio sendo considerado, legal e formalmente, como aquele que realiza uma atividade a partir de um contrato de assalariamento, de acordo com a lei, na medida em que as relações de trabalho foram cada vez mais legalizadas e reguladas pela ordem estatal. Aqui também está implicada a venda da força de trabalho.

O empresário ostentação e o capitalista asceta
Definitivamente, Dória não é um trabalhador. A indignidade desta comparação reside no fato de que as condições de vida de Dória comparadas com as dos trabalhadores são drasticamente distintas, brutalmente desiguais. Como empresário e capitalista, Dória tem um capital declarado próximo dos duzentos milhões de reais. Vive numa mansão nos Jardins, tem empregados como serviçais e já chegou a ser processado na Justiça do Trabalho. Dispõe  de muitos recursos e meios de vida, de deslocamento, de fruição em termos de viagens, cultura, lazer, gastronomia etc. Dispõe de helicóptero e jatinho, segundo noticiário da imprensa.

O verdadeiro trabalhador não tem nada disso de que o Dória dispõe. Vive uma vida de sacrifícios e de carecimentos. Se acorda às 4 ou 5 horas da manhã para trabalhar, não o faz por decisão própria e por prazer, mas porque é obrigado. Vive cansado, dorme pouco, perde horas no trânsito. O trabalho exaure as suas forças e energias com o passar dos anos. Chegará à velhice e terá uma aposentadoria miserável, que será ainda mais precária se a reforma da previdência, que Dória apóia, for aprovada. Dória não tem por que se preocupar com aposentadoria, com plano de saúde, com as vicissitudes da velhice. Terá recursos para enfrentar tudo isto sem o temor de ter uma vida indigna nos tempos finais da existência.

Enquanto Dória vive no conforto de uma mansão luxuosa e frequenta a opulência das festas dos salões dos Jardins, milhões de trabalhadores não têm casa, pagam o aluguel ou prestações intermináveis da casa própria. Muitas vezes, falta-lhe o pão na mesa, a alegria nos rostos, o brilho nos olhos, porque suas vidas são de padecimentos e angústias. Diante dessas e de muitas outras diferenças, Dória deveria sentir vergonha na cara e não declarar-se mais o "João trabalhador". Que se declare empresário e gestor, e isto estará certo. 

Já que não dá para comparar o empresário e capitalista Dória a um trabalhador verdadeiro, tome-se como termo de comparação o proselitismo e a vanglória que ele faz de si mesmo por trabalhar muito e acordar cedo, com a conduta e as atitudes de Antônio Erminio de Morais, conhecido pela sua austeridade, pelo seu despojamento, por trabalhar mais de 12 horas por dia e ainda por fazer hora extra no Hospital da Beneficência Portuguesa, já que dedicou boa parte de sua vida à assistência social. 

Ao que se sabe, Antônio Erminio nunca teve o desplante hipócrita de declarar-se trabalhador ou mesmo de vangloriar-se por acordar cedo e trabalhar muito. Teve um estilo de vida marcado pela ascese e foi avesso ao luxo e às festas dos altos círculos da elite branca dos Jardins. Usava ternos surrados, era econômico em pares de sapatos por ter apenas dois pés, dirigiu por décadas seu próprio carro para ir ao trabalho e dispensava seguranças. Sabia que era empresário e capitalista e honrava a sua condição com humildade, sem a vaidade e a ostentação de um Dória. 
Dória não é gentil, nem como prefeito e nem como homem.

Ao receber flores de uma moça, neste domingo, dia 30 de abril, em "homenagem aos mortos das marginais", ele atirou-as ao chão, faltando com o respeito tanto com a moça, quanto com os mortos. Com essas atitudes agressivas e belicosas, ele vai deixando um rastro de perplexidade nos munícipes, que passam a vê-lo como um arrogante, como um chefete medieval que se considera dono da cidade. Ao demitir Soninha Francine da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social impôs-lhe uma humilhação pública. Passa por cima de secretários, desrespeitando-os, quase que diariamente.

Declarando-se fiel a Alckmin, manipula todos os cordões da infidelidade, estimulando sua candidatura presidencial, seja pela via do MBL, seja nos salões da ostentação nos Jardins ou seja, ainda, através dos empresários seus amigos do Lide, com a promessa de abrir-lhes as portas de negócios fabulosos no futuro.

 Dória não mostrou ainda a que veio. Vangloria-se de ter zerado a fila das consultas, mas os hospitais públicos estão mandando pacientes que precisam de cirurgia para casa, pois não tem vagas, não tem equipamentos, não tem médicos e nem remédios. A cidade não está nada linda: esburacada, com semáforos queimados para todos os cantos e com a violência crescendo assustadoramente. Moradia, educação e assistência social enfrentam vários problemas. Programas sociais e culturais vão sendo podados. 

O marketing e o proselitismo podem muita coisa, mas não podem tudo. Aos poucos, os paulistanos vão caindo na real e percebem que a vida no bairro não mudou ou está mudando para pior. Banheiros perfumados podem mudar as aparências e o odor, mas não mudam o esgoto a céu aberto de vários bairros, a falta de zeladoria e o lixo espalhado. O marketing e o proselitismo político têm data de validade e o João precisará fazer bem mais do que a ostentação do título de "trabalhador" se quiser manter parte do seu capital político e eleitoral e o benefício da dúvida que muitos paulistanos ainda lhe concedem.

Do GGN, Aldo Fornazieri

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Moro pode prender lula para agradar sua própria torcida, diz Reinaldo Azevedo

O colunista Reinaldo Azevedo, direita raivosa, que tem adotado uma postura crítica em relação à Lava Jato, diz que o juiz Sergio Moro pode usar a delação de Léo Pinheiro para decretar a prisão do ex-presidente Lula, alegando obstrução judicial; no entanto, ele questiona a estratégia; "De certo modo, Sérgio Moro também está num impasse. A pressão de seu imenso público para que mande prender Lula é grande. Por outro lado, sabe que existe o risco de a decisão ser revista em instância superior — talvez não no TRF4 — o que não seria, certamente, positivo para a narrativa que a Lava Jato vem construindo".

O colunista Reinaldo Azevedo, que tem adotado uma postura crítica em relação à Lava Jato, diz que o juiz Sergio Moro pode usar a delação de Léo Pinheiro para decretar a prisão do ex-presidente Lula, alegando obstrução judicial.

No entanto, ele questiona a estratégia; "De certo modo, Sérgio Moro também está num impasse. A pressão de seu imenso público para que mande prender Lula é grande. Por outro lado, sabe que existe o risco de a decisão ser revista em instância superior — talvez não no TRF4 — o que não seria, certamente, positivo para a narrativa que a Lava Jato vem construindo".

Surge a chance da preventiva de Lula, como exige torcida de Moro, Reinaldo Azevedo

Léo Pinheiro diz que Lula mandou destruir provas; juiz já decretou prisão preventiva em situação semelhante. Mas o magistrado também está num impasse.

Sim, meu caros, agora sim! Dadas as escolhas do juiz Sérgio Moro e o modo como ele entende e aplica os fundamentos do direito, surgiu a possibilidade de ele decretar a prisão preventiva de Lula, uma reivindicação conhecida de seus — do juiz —  admiradores. Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS e tido como um dos amigões de Lula entre os empreiteiros, fez até agora a mais grave acusação contra ele. Já chego ao ponto. Antes, algumas considerações.

Escrevi um post hoje de manhã afirmando que Lula havia se encalacrado um pouco mais na história do sítio. Cinco delatores da Odebrecht asseguraram: era a família Lula da Silva quem cuidava da coisa. Notei, no texto, que documentos de fé pública dão conta de que o apartamento de Guarujá pertence à OAS e de que o sítio de Atibaia é propriedade de dois sócios de Lulinha, filho do ex-presidente. Quase ninguém acredita nisso. Nem eu.

E afirmei o que sabe qualquer operador do direito, que tenha um mínimo de compromisso com a verdade: apenas testemunhos e circunstâncias não seriam suficientes para manter uma condenação num tribunal superior — STJ ou STF a depender do andamento. Será preciso que o MPF produza outras provas.

Muito bem! Um desses sites obcecados por mim — no caso, é de extrema-direita; há os de esquerda — resolveu me atribuir uma torcida. Eu estaria dizendo, vejam que espetáculo!, que Lula “deve” ser absolvido justamente por ter lavado bens, oriundos da corrupção… Santo Deus! E aquele tipo de bobagem que nem errada consegue ser…

Não! Eu estava dizendo, e estou, ancorado no direito, que a prova de que Lula é dono dos imóveis terá de ser apresentada. Pode ser condenado em primeira instância; pode ser em segunda, mas não costuma bastar a um tribunal superior. Os senhores procuradores sabem disso.

A coisa ficou feia
Assim, ainda que a afirmação de Leó Pinheiro de que Lula era mesmo o proprietário possa fazer um mal imenso à sua reputação, do ponto de vista do direito, é um testemunho a mais. A prova provada, reitero, terá de ser produzida. A coisa grave do dia não está aí.

O risco da decretação da prisão preventiva está na afirmação de Léo Pinheiro, segundo quem Lula o teria orientado a destruir as provas de que a empreiteira pagava propina para o PT.

Não se esqueçam do bilhete que deu a Moro, e a outros tribunais, a justificativa para manter a prisão preventiva de Marcelo Odebrecht: “Destruir e-mail sondas”. Os defensores do empreiteiro ainda tentaram argumentar que a mensagem fora passada a um policial para que este entregasse aos advogados, que o acusado sabia que as mensagens passavam por um filtro e que, pois, não haveria lá a orientação para destruir provas; o empreiteiro estaria falando de outra coisa. Ninguém acreditou.

Com o que seria, no direito, o correspondente à licença poética na literatura, Moro pode entender que estão dados os motivos para a preventiva de Lula? Pode! A destruição de provas caracteriza “ameaça à ordem pública” e prejuízo “à instrução criminal”, dois requisitos para a decretação da prisão cautelar.
Mais: se pediu para destruir provas de casos que estão em curso, por que não estaria ainda empenhado em tal prática?

“Ah, mas Léo Pinheiro não precisa apresentar provas de que isso aconteceu?” Nessa fase, não! Basta que o juiz, com base nas circunstâncias e nos dados de que dispõe até agora, esteja convencido da necessidade. Afinal, existem as outras instâncias, não?

O passado
Léo Pinheiro já tinha dado início à sua delação premiada, vocês se lembram. Foi anulada por Rodrigo Janot. Ninguém sabe, até agora, por quê. Outra está em curso.

Cristiano Zanin, advogado de Lula, diz que Pinheiro  está mentindo e faz tais afirmações só para ter aceita a sua delação premiada. Afinal, ele está condenado a imodestos 26 anos de cadeia. Os que fizeram delação arcam, no máximo, com uns três. Seria uma troca e tanto!

Moro em um impasse
De certo modo, Sérgio Moro também está num impasse. A pressão de seu imenso público para que mande prender Lula é grande. Por outro lado, sabe que existe o risco de a decisão ser revista em instância superior — talvez não no TRF4 — o que não seria, certamente, positivo para a narrativa que a Lava Jato vem construindo.

Está claro?
Síntese das sínteses? Pois não!
1: nos dois casos em tela, apartamento e sítio, o MPF ainda tem de produzir a prova inequívoca. A minha convicção? É tudo dos Lula da Silva. Mas nem a minha convicção nem a de outros sites e blogs quaisquer condenam ou absolvem pessoas.

2: Moro tem em mãos um trunfo que, segundo os critérios que seguiu em outros casos, lhe permite decretar a prisão preventiva de Luiz Inácio Lula da Silva.

A questão agora é saber se ele terá essa coragem e se aceita correr o risco de ter a sua decisão revista.

Do 247

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Por que a direita está tão desesperada para aprovar a reforma trabalhista?

A reforma trabalhista não é uma obsessão de Temer e de seus comparsas por acaso. É parte de um conjunto de decisões de política econômica pautada num tripé: i) reestruturação produtiva, mercantilização do trabalho humano e fragmentação da solidariedade de classe; ii) desregulamentação financeira e laboral; iii) hegemonização ideológica neoliberal pautada no individualismo e na competitividade.

É a receita proposta como alternativa à crise de demanda da década de 1970. Esse receituário, somado a outras medidas previstas no Consenso de Washington, foi o responsável por 124 crises financeiras sistêmicas(https://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/2008/wp08224.pdf) em mais de 90 países, no período de 1970 até 2007, conforme denuncia o estudo de Luc Laeven e Fabian Valencia, publicado pelo “insuspeito” FMI.

Em português: foi o receituário responsável pela maior crise financeira e monetária que o mundo moderno já viu. É a racionalidade que nos condena a uma desigualdade social irreversível acaso triunfe definitivamente.

Paradoxalmente – mas não por acaso – a saída sistêmica para a crise do próprio sistema capitalistatem sido radicalizar esse receituário.

Países periféricos como Espanha, Grécia e Brasil, por exemplo, são obrigados por credores ocultos (poder transnacional, difuso e incontrolável),que se valem de políticos ilegítimos e apontados pela própria mídia como corruptos, a: i) desprezar a democracia; ii) privilegiar o pagamento da dívida pública, em detrimento de gastos primários (saúde, educação, seguridade social); iii) desregulamentar as relações de trabalho para reduzir salários diretos, indiretos (direitos sociais atrelados ao trabalho) e diferidos (pensões), bem como aniquilar a representação sindical; iv) ampliar os privilégios de uma classe social em detrimento da maioria da população; v) manter intocada a desregulamentação do mercado financeiro.

 O que isso tem gerado?
Concentração de riqueza como nunca se viu. Empobrecimento crescente da maioria dos sete bilhões de seres humanos. Ampliação das tensões sociais e ressurgimento de movimentos populistas, xenófobos, racistas e antidemocráticos de extrema direita. Abandono de agendas de respeito ao meio-ambiente. Desprezo absoluto pela democracia e pelos Direitos Humanos. Em síntese: o capital está ganhando.

A reforma proposta por um governo ilegítimo,que é levada adiante por um parlamento composto por políticos eleitos com dinheiro de propina e Caixa 2 – antidemocraticamente eleito, portanto – retira a centralidade que o trabalho tem na sociedade brasileira.

Devolve as brasileiras – principalmente elas – e os brasileiros que ascenderam socialmente na última década ao estado de miséria e fome que os maculava historicamente.

A classe média brasileira – majoritariamente trabalhadora – experimentará um estado de instabilidade social e empobrecimento crescente e verá os “afortunados” cada vez mais ricos e poderosos. Não haverá investimento suficiente em “empregabilidade” – seja lá o que isso for – que seja capaz de alterar sistemicamente esse quadro.

As dúvidas são:
Estes trabalhadores perceberão que o problema é coletivo ou se enclausurarão na ideia equívoca de que o problema é individual, de que o insucesso e o infortúnio é problema de cada um?

Virão para as ruas, para o espaço público, e lutarão por direitos que lhes garantam dignidade ou permanecerão inertes, dominados pela paralisia decorrente da máxima thatcherista de que não há alternativa?

Parte significativa dos que vivem de sua força de trabalho já perceberam a magnitude do problema e estão lutando. Outros, todavia, ainda não. Para aqueles, há alternativa, e ela passa por radicalizar a democracia e os direitos humanos, bem como por desmercantilizar o trabalho humano, a natureza e o próprio dinheiro.

No caso brasileiro, passa por ir imediatamente às ruas. Posicionar-se contra os maiores ataques aos Direitos Sociais desde a CLT. Lutar agora, e não amanhã, contra a reforma trabalhista e contra a reforma da previdência.

A direita sabe disso e por isso tem pressa. Só em um Estado de Exceção como o que estamos vivendo é possível aprovar reformas como estas. Nas últimas quatro eleições presidenciais esse projeto foi rechaçado.
É hora de eleições gerais e diretas já. Do contrário o gosto amargo da derrota permanecerá por muito tempo na boca das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros.

Do Cafezinho