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quinta-feira, 8 de junho de 2017

Xadrez da indústria da leniência e do compliance, Luis Nassif

Cena 1 – o procurador que mudou de lado
Marcelo Miller era procurador de ponta no Ministério Público Federal. Bem formado, com visão liberal da economia, conhecimento do mundo dos negócios e das offshores, conduziu a Operação Norbert que, atrás de um casal de doleiros no Rio de Janeiro, acabou identificando contas da família Neves em Liechtenstein.

Indicado Procurador Geral, um dos primeiros atos de Rodrigo Janot foi trazer Miller para sua assessoria pessoal, envolvendo-o também nas investigações da Lava Jato.

Causou surpresa a notícia de que, no início de março, largou o MPF por um contrato de advogado na Trench Rossi Watanabe, um dos maiores escritórios de advocacia do país, representante do influente escritório nova-iorquino Baker McKenzie.

O escritório defende a SAAB-Scania, alvo de uma operação do MPF conduzida pelo próprio Miller, visando apurar as circunstâncias da licitação FX da FAB. Apesar de ter sido conduzida de forma transparente, a licitação caiu nas garras do MPF e transformou uma denúncia vazia em um contrato de bom valor para a Trech Rossi Watanabe.

Vamos entender um pouco melhor esse jogo e como a indústria da leniência se transformou no negócio do momento para os escritórios de advocacia.

Cena 2 – a indústria dos acordos de leniência
As práticas jurídicas, acordos de leniência, acordos de delação, estimularam uma disputa feroz entre escritórios de advocacia e empresas de auditoria em todo mundo.

É uma indústria em franca expansão, na qual as estratégias consistem em se aproximar de órgãos públicos, cooptar procuradores, advogados com influência nos órgãos de controle, empresas de auditoria, atuando muitas vezes nas três pontas: nas empresas acusadas de corrupção, nas empresas vítimas da corrupção e nos governos nacionais.

É um mundo pouco conhecido, mas que mereceria um holofote em cima, para ser melhor entendido. E o caminho é analisar alguns episódios recentes envolvendo o mais influente dos escritórios do gênero, o Baker McKenzie.

Cena 3 – o acordo de leniência da Embraer
Confira-se o que ocorreu com a Embraer.

Em outubro de 2016, a Embraer assinou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o Ministério Público Federal. Era a finalização de um caso envolvendo corrupção em diversos países.

Nos Estados Unidos, a Embraer pagou mais de US$ 200 milhões de multa. No Brasil, a multa foi bem menor. Os termos do acordo geraram desconforto no MPF.

O procurador do caso era Marcelo Miller. O escritório que representava a Embraer, a Trench Rossi Watanabe; o escritório para os EUA, o Baker McKenzie.

Aqui (https://goo.gl/z8TFVb) as referências a Miller, no Brasil, e à Baker McKenzie nos Estados Unidos.

Cena 4 – o acordo de delação da JBS
A JBS decide fazer um acordo de delação com a Procuradoria Geral da República (PGR). Seu escritório é o mesmo Trench Rossi e Watanabe.

Desde fins de 2016, a JBS vinha se preparando para uma delação-bomba, que lhe permitisse arrancar um grande acordo de delação com a Procuradoria Geral da República brasileira, ao mesmo tempo em que negociava um acordo de leniência com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Um dia antes das gravações de Joesley Batista, da JBS, no presidente Michel Temer, o procurador pede afastamento do Ministério Público Federal e vai trabalhar na Trench Rossi e Watanabe.

Aqui, a forma de saída de Miller e a maneira como convenceu Janot a aceitar a delação (https://goo.gl/ubAHLX).

Miller foi contratado com salário de R$ 30 mil mensais mais bônus anual garantido de U$ 450 mil. Pouco aparece no escritório Trench Rossi Watanabe. O escritório saiu do acordo de leniência, mas continua trabalhando para a JBS em casos bastante lucrativos. O referral fee (o pagamento recebido pela indicação do cliente) do contrato é de Miller.

Nos EUA, a JBS conseguiu um acordo de leniência com o Departamento de Justiça sendo representada pela... Baker McKenzie, é claro (https://goo.gl/BiHVh4).

O procurador geral da Divisão do Ministério Público Norte Americano responsável pelo caso JBS é Trevor McFadden (https://goo.gl/jDWDBK). Onde Trevor trabalhava antes de assumir essa função? Até janeiro de 2017, na Baker McKenzie (https://goo.gl/kII9lv).

Cena 5 – as investigações na Petrobras
Odebrecht e Braskem são grandes clientes da Trench Rossi Watanabe e da Baker McKenzie. Essas informações foram omitidas da Petrobras, quando contratado para conduzir as investigações internas na empresa.

É um custo bastante alto, também omitido do site da empresa, provavelmente bem maior do que os valores recuperados pela Lava Jato.

A mesma Baker McKenzie foi contratada pela Braskem para celebrar a leniência nos Estados Unidos (https://goo.gl/vwEf7t).

Já em 2014, a Trench Rossi Watanabe foi contratada para investigações internas na Petros, o fundo de pensão da Petrobras. Nada encontrou sobre a JBS. Quem a assessorou foi a empresa de auditoria EY, autora de relatório controverso sobre a Eldorado Celulose, no qual não identificou nenhuma irregularidade (https://goo.gl/xiGvSv). Posteriormente, na delação o próprio Joesley admitiu as irregularidades (https://goo.gl/9H7afW).

Um de seus advogados era Dalton Miranda, ex-conselheiro do CARF (https://goo.gl/eUwKZI), denunciado em fevereiro de 2017 na Operação Zelotes (https://goo.gl/bifJKb). A sócia administrativa da Trench Rossi Watanabe é Simone Musa, que também contratou Marcos Neder, advogado bastante influente e controvertido que, a exemplo de Miller, passou a advogar para empresas investigadas por ele (https://goo.gl/FIId7).

Conclusão
Puxa-se uma pena, vem a galinha toda, já dizia o preclaro Ministro Gilmar Mendes.

Os dados acima são as penas e algumas partes da galinha. Indo mais a fundo, é capaz de aparecer o galinheiro completo.

Do GGN, Luís Nassif

sábado, 3 de junho de 2017

Polícia Federal prende Rocha Loures, o homem da mala de Temer por determinação do ministro Edson Fachin do STF

Foto: Câmara dos Deputados 
O ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-RR), ex-assessor especial do presidente Michel Temer (PMDB), foi preso pela Polícia Federal neste sábado (3) após determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).De acordo com a PF, Loures está na Superintendência Regional em Brasília, e não há previsão de transferência.

O ex-deputado foi gravado pelo empresário Joesley Batista, do grupo JBS, durante negociação de pagamento propina. Ele foi alvo de ação controlada da Procuradoria-Geral da República e foi filmado com uma mala com R$ 500 mil.

Rodrigo Janot havia pedido a prisão de Loures dentro da Operação Patmos, um desdobramento da Lava Jato. Fachin negou o pedido do PGR alegando a imunidade parlamentar, já que Rocha Loures havia assumido o mandato de Osmar Serraglio (PMDB-RR), que ocupava o cargo de ministro da Justiça.

Depois, Serraglio foi retirado da pasta e recusou assumir o ministério da Transparência, oferecido por Temer, e retornou para seu mandato para a Câmara, fazendo com que Loures perdesse a prerrogativa de foro privilegiado.

Janot pediu a reconsideração da prisão do ex-assessor de Temer, assim como em relação ao senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), argumentando que a prisão dos dois é “imprescindível” para garantia da ordem pública e instrução criminal.

Do GGN

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Ségio Guedes Reis: Corrupção não se combate com moralismo

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Corrupção se combate com redução da desigualdade e não com moralismo

Talvez seja possível afirmar que o debate sobre corrupção no Brasil jamais tenha ganho tanta repercussão como agora. A Operação Lava Jato parece ter feito emergir um latente sentimento punitivista em parte da sociedade brasileira, o qual se conecta, de forma inexorável, à noção de que a corrupção se apresenta como um problema de índole comportamental ou postural, a ser corrigido a partir de sanções rígidas, capazes de reprimirem a prática desse crime a partir do “exemplo”. Não é por acaso que, na página das chamadas “Dez Medidas Contra a Corrupção”, encampada por agentes do Ministério Público que compõem a Força Tarefa dessa operação, diagnostica-se que é a “impunidade” a causa fundamental desse mal.

Quando observamos outras manifestações recentes sobre como lidar com a corrupção, vemos que essa interpretação punitivista tem força e histórico: se olharmos para o chamado “pacote anticorrupção” lançado pela então Presidenta Dilma Rousseff quando ainda parecia ter alguma margem de manobra, observaremos a predominância de medidas voltadas a tipificar novos crimes relacionados à corrupção ou a ampliar a punição para práticas ilícitas já tipificadas.

Segmentos da sociedade civil organizada parecem corroborar esse entendimento: se formos analisar as propostas vencedoras no âmbito da primeira Conferência Nacional sobre Controle Social (a CONSOCIAL, realizada em 2012), notaremos a presença de várias diretivas voltadas a tornar mais duros os crimes relacionados a corrupção. Há ideias no sentido de se transformá-los em crimes hediondos, ou mesmo de aumentar a pena máxima possível para o limite de 50 anos (acima, portanto, dos limites máximos previstos em lei para quaisquer crimes). A força da rejeição social à corrupção também aparece em pesquisas de opinião recentes, que apontam para essa questão como o principal problema do Brasil. Como entender esse aparente paradoxo entre a ojeriza à corrupção e a sua persistência como questão e como prático? Esse é um dos debates clássicos sobre a condição brasileira. Pretendo apresentar algumas proposições para apoiar o debate, a partir de uma leitura que se quer progressista.

A hipótese básica que apresento é a de que a República é um projeto nacional bastante incompleto, na melhor das hipóteses

Seu melhor momento também foi aquele em que sua fraqueza constitutiva se tornou mais explícita: a Constituição de 1988, hoje sob risco de implosão. No mesmo documento em que se inserem algumas das mais ousadas tentativas de instituição de um Estado de Bem-Estar Social no Brasil estão manifestações e pontos de partida para a consolidação de corporativismos decisivos para explicar o nosso tempo – e a resiliência da corrupção.

Um componente intrínseco a uma República é a ideia da igualdade entre os sujeitos. Em uma cultura política republicana, não só a igualdade existe, mas ela é desejada pelos atores sociais. Nesse sentido, os espaços públicos – institucionais ou não – são aí marcados por uma pretensão de eticidade na qual os cidadãos avaliam suas pretensões com relação ao público a partir de apreensões individualizadas sobre o universal: o certo e o errado, o justo e o injusto, o tolerado e o não-tolerado. A ação política (em sentido amplo) é balizada nessa experiência (por vezes conflituosa) de como realizar o público a partir das sensibilidades particulares sobre esse público.

Entendo que esse tipo de encaminhamento sobre o público no Brasil se constitui como algo extremamente limitado. No lugar de uma eticidade produzida a partir das tensões concretas que encerram o processo de construção de uma sociedade igualitária (que depende de condições materiais e simbólicas de reconhecimento da alteridade para tanto), aqui vige outra lógica: a moralidade é um substituto pobre da ética, com suas máximas e seus juízos particulares. Por meio dela (ancorada em dogmatismos religiosos, mas também em sintagmas laicos, mas imateriais, como adágios e aforismos), o indivíduo julga os outros a partir de elementos absolutos e metafísicos. Como o “público” é pobre – mera negatividade do “meu” particular – eu não me insiro nesse juízo.

Nesse mecanismo, que separa a potência do ato, eu cindo a minha prática ilegal do meu próprio juízo, mas não faço a mesma operação com outras pessoas. Abre-se espaço para a incoerência, para a indignação seletiva – ou, se quiserem, para a hipocrisia. Não é difícil perceber como o punitivismo encontra guarida no interior desse raciocínio: é impossível a partir dele tratar o problema de forma sistêmica – o desvio é individual, comportamental, postural, de natureza humana, e precisa ser reprimido como tal.

No bojo desse processo está o que mais importa nesta hipótese: a aceitação popular da injustiça. Se no espaço público ético a justiça se consubstancia no desejo (e na busca pela produção de) igualdade, no espaço moral não há um universal concreto contra o qual a minha ação particular possa ser cotejada, a não ser o meu próprio juízo metafísico. Se cada um faz o mesmo, então temos infinitos juízos particulares os quais, ao fim, realizam um público sem métrica de equidade (ainda que haja leis). A desigualdade se torna modus operandi de realização do público. E a justiça possível nesse cenário é o justiçamento, que nada mais significa do que a introjeção ao juízo público dos valores morais de ocasião como critérios de deliberação.

Fundamentalmente, a desigualdade (em sentido amplo) é causa basilar da corrupção

E esse é, provavelmente, o fator mais negligenciado no debate sobre a questão, seja normativamente, seja como prática de política pública. Esse lapso é surpreendente se levarmos em conta que a desigualdade é, provavelmente, a preocupação normativa mais relevante em qualquer questão pública abordada por um prisma progressista. Lamentavelmente, em face de toda a crise política nacional montada a partir da publicização de escândalos de propina envolvendo a Petrobrás – fundamentais para derrubar Dilma Rousseff, ainda que formalmente sua queda tenha ocorrido a partir do sofrível argumento das “pedaladas” – há pensadores importantes que ainda concebem que a corrupção seja mero “discurso da direita” para enfraquecer a esquerda, sendo a desigualdade um fator muito mais relevante a ser considerado no debate público. Aqui, no entanto, consideramos que a conexão entre ambos é intrínseca – e é fundamental que a esquerda seja capaz de apresentar uma interpretação própria sobre a corrupção, sob pena de emular soluções conservadoras se estiver no governo, ou de não ser levada a sério por se abster de debater criticamente a questão.

Como causa explicativa, a desigualdade naturalizada (não apenas de classe, mas étnica, de gênero, religiosa, de poder, entre tantas outras clivagens) cria o caldo para a aceitação da injustiça e, portanto, para a estruturação de práticas sociais que adotem a ilegalidade ou para compensar a desigualdade, ou para reforçá-la – daí a ambiguidade, por exemplo, do chamado “jeitinho”, por tantas vezes compreendido como a razão da corrupção (e aqui admitido como possível sintoma dele). Se as instituições reproduzem essa falta de tratamento equânime, então não há porque acreditar na equidade como um caminho, e no público como um espaço desejável. Pelo contrário, o privado é aí o porto seguro das virtudes – repete-se aí o mesmo mecanismo de julgamento moral comentado antes: o público não é também “meu” ou de todos, mas simplesmente de “ninguém”. Na literatura internacional, são reiterados os estudos que apontam para o quanto a desigualdade impacta severamente a descrença social no governo e, mais amplamente, nas instituições, e o quanto ela estimula a racionalização da corrupção como uma prática legítima. O ímpeto que a desigualdade causa para a corrupção extravasa classes sociais: como cita Gunnar Stetler, ex-diretor da agência anticorrupção sueca em entrevista para a jornalista Claudia Wallin, “chega um momento em que o cidadão não se contenta com um Volvo e deseja um Porsche”.

Uma hipótese a ser testada é a de que a desigualdade no Brasil adquiriu força considerável o bastante para se constituir como uma espécie de valor ou direito, algo a ser desejado. Em sendo o caso, estaríamos no exato caminho contrário daquele a ser perseguido para a constituição de uma República, como mencionado no início deste ensaio. A pesquisa “Perigos da Percepção”, feita pela Ipsos Mori (2015) com cidadãos de 33 países traz dados que podem jogar luz sobre a questão, conotando a ela a devida complexidade: os brasileiros, integrantes da quarta nação mais desigual do grupo, foram um dos seis conjuntos de cidadãos que subestimaram o nível de desigualdade existente no país. Ao mesmo tempo, nossos nacionais foram aqueles que defenderam que o 1% mais rico deveria concentrar o maior percentual da riqueza nacional dentre todos os segmentos consultados: 33%. Por curiosidade, em países como Israel, Noruega e Holanda, esse range variou entre 14 e 16%. E mesmo em países mais desiguais do que o Brasil, como Índia, Turquia e Rússia, as opiniões sobre o quanto deveria ser essa fatia oscilaram entre 21 e 30%.

Se a desigualdade é questão profunda na narrativa brasileira, o privilégio é a representação mais eloquente de sua articulação com a corrupção. Como ponto de partida para repensarmos como lidar com esse problema, por sinal, precisaríamos efetivamente redefinir a noção de corrupção, para fazer com que ela comporte em si o privilégio.

Hoje, boa parte dos privilégios são assegurados legalmente, inclusive por alguns dos atores que são responsáveis por dizer o Direito, garantir a justiça e proteger o patrimônio público. Em meio a uma sociedade que ainda luta para lidar com a miséria, a presença de salários astronômicos (muito acima do teto constitucional, já extremamente elevado), a percepção de dezenas de penduricalhos (auxílio-moradia, auxílio-creche, adicional por tempo de serviço, adicional de comarca, auxílio-educação e tantos outros) e o acesso a mordomias (no Judiciário, 60 dias de recesso, motoristas particulares, automóveis públicos luxuosos, imóveis funcionais de primeira linha, pensões para filhas solteiras, etc) constituiriam nada menos do que um insulto à dignidade. São vistos por vários de seus beneficiários e por parte da sociedade, contudo, como expressões do mérito e como medidas necessárias “para se evitar a corrupção”.

No mundo privado, por óbvio, a situação não é diferente. Ela pode ser particularmente percebida a partir do sistema tributário: lucros e dividendos, que compõem a maioria da renda dos mais ricos, são pouco ou nada taxados; iates, helicópteros e aviões não sofrem incidência do IPVA; o percentual do PIB recolhido a partir de tributações ao patrimônio é cerca de dez vezes inferior ao observado em países desenvolvidos; o imposto sobre grandes fortunas ainda é uma ficção, e aquele cobrado sobre heranças possui uma das menores tarifas do mundo. Na mesma linha, vale citar o financiamento altamente subsidiado feito pelo BNDES ao empresariado – estratégia problemática não em si mesma, mas sim diante da escolha dos beneficiários em aplicar o dinheiro no mercado financeiro em vez de torná-lo produtivo. Não seria essa prática uma forma de corrupção? 

O grande ponto é que as gestões consideradas progressistas no Brasil atuaram, na melhor das hipóteses, de modo extremamente tímido no enfrentamento da desigualdade. Parece claro hoje que Dilma – e, principalmente, Lula – encararam como desafio nacional a eliminação da pobreza, jamais a mitigação da olímpica desigualdade. Se dados mais recentes (como as pesquisas de Marcelo Medeiros) apontam que a disparidade de renda no Brasil tem sido consideravelmente subestimada (e em patamar “estável”, e não em queda), há estudos (como os de Gubetti e Orair) que mostram como o Estado brasileiro tem contribuído para o aumento da desigualdade, dada a manutenção da distinção entre a previdência pública e a privada e, principalmente, a política de salários desenvolvida nos últimos anos a médios e altos funcionários do governo (não apenas os percebidos pela Magistratura e pela própria classe política, mas também para a assim chamada elite burocrática do Poder Executivo).

Para se ter uma ideia, enquanto a inflação acumulada entre 2002 e 2016 foi da ordem de 162%, a remuneração de carreiras como a de Especialista em Políticas Públicas e Auditor de Finanças e Controle subiu 393% (inicial de R$ 17 mil); a de Delegado da Polícia Federal, 187% (inicial de R$ 21,7 mil); a de Auditor da Receita Federal, de 547% (inicial de R$ 19,2 mil mais “bônus de produtividade” estimado em R$ 5 mil mensais, aprovado em Dezembro/2016). Há diversos outros exemplos. Os dados levantados pelos autores supracitados mostram que essa política salarial acaba por mais do que compensar o redistributivismo contido nas políticas assistenciais (Programa Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada, etc). Em outras palavras, o Estado tem acentuado a já rampante desigualdade, e isso a partir de uma consciente política de valorização salarial de segmentos do funcionalismo – justamente em um dos únicos momentos da história política brasileira em que fomos governados por forças progressistas. 

Se houve algum caminho preventivo à corrupção que foi adotado como solução de política pública pelos governos progressistas no Brasil, pode-se defini-lo como o da promoção da transparência e do controle social 

Há que se dizer que essas medidas corresponderam ao estado da arte internacional no enfrentamento a esse problema – em boa medida Lula e Dilma implementaram parte substancial das convenções internacionais de combate à corrupção. Não há dúvida de que tais aspectos contribuem para que contornemos um pesado histórico autoritário por meio de medidas que aproximem Estado e Sociedade e, com isso, potencializem a geração de um “público”. Mas como tornar esse processo efetivamente sistêmico – capaz, portanto, de gerar mudança cultural – em vista da precariedade monumental de serviços públicos e de infraestrutura (inclusive Internet) que nos assola, apesar dos avanços institucionais das últimas décadas? Como também comenta Gunnar Stetler, “Se uma pessoa tem que lutar diariamente por sua sobrevivência para ter acesso à alimentação, à escola e a hospitais, a questão do combate à corrupção na sociedade certamente não estará entre seus principais interesses. Mas quando uma pessoa se sente parte da sociedade à qual pertence, passa a não aceitar os abusos do poder”. Por evidente, não se defende aqui que os hackatons, a Lei de Acesso a Informação ou os Conselhos de Políticas Públicas sejam “perfumarias”, apenas que são suportes – e não razões de ser – para uma política efetivamente sistêmica de combate à corrupção.

Há, no entanto, alguns cânones os quais, por intocados, obstaculizam o avanço do debate, particularmente a partir de uma perspectiva progressista. Um deles é o de que um caminho fundamental para o combate à corrupção no Brasil passa pela autonomização dos órgãos e agentes que praticam a justiça e defendem o patrimônio público. Qualquer questionamento que ataque esse lugar comum é naturalmente visto como uma defesa do patrimonialismo, do clientelismo ou de outras gramáticas políticas as quais, historicamente, foram empregadas para interpretar o país.

A questão é que esse caminho da meritocracia, da profissionalização do burocrata e da sua defesa como ator neutro no processo político (um dever ser ao longo do tempo convertido em análise factual) nem sempre foi o único concebível. Por um bom tempo, particularmente nos Estados Unidos, a chamada burocracia representativa vigeu como método para a ocupação dos cargos públicos do governo. Por trás desse paradigma se encontravam pressupostos como a ideia de que os postos deveriam ser preenchidos por cidadãos comuns, e que a composição da máquina pública com base nos diferentes interesses sociais que representavam a agenda do governante eleito exprimiria uma tecnologia gerencial ao mesmo tempo justa e coerente. Essa prática não era sinônima do “toma lá, dá cá”, simplesmente porque não se tratavam de negociatas ou de interesses divergentes a serem pactuados a partir de um cargo: o político e o funcionário não eram partes contrárias, mas agentes vetorizados à realização de um mesmo fim público. Por evidente, esse princípio operativo não afastava a corrupção, mas não era visto como sinônimo dela. Na verdade, esse sistema de espólio se inseria como o mecanismo de convergência possível entre burocracia e democracia à época, em meados do século XIX.

Foi principalmente com Woodrow Wilson que esses entendimentos foram transformados em nome da ideia de que política e burocracia precisam ser separados – questão que ensejou uma importante reforma administrativa nos EUA do século XIX e em praticamente todo o mundo desde então. Em vez de representação, o que informava esse novo modelo burocrático era a superioridade técnica, a meritocracia. Em paralelo, na medida em que não representavam interesses populares – pois não eram cidadãos comuns, mas sim experts – esses novos burocratas seriam neutros. Ao longo do tempo, essa neutralidade foi sendo associada ao republicanismo, sem se questionar a viabilidade em si de uma ação axiologicamente neutra, nem a real identidade entre um comportamento apolítico e uma práxis republicana. Por sinal, como comenta Cecília Olivieri em artigo sobre os controles políticos sobre a burocracia, no Brasil a relação entre política e burocracia sempre foi abordada pela literatura como sendo conflitante – nesse sentido, a autonomia dos burocratas aparece como um devir, uma estratégia a ser perseguida para se evitar a captura do Estado por interesses econômicos (ou políticos).

Foi justamente esse o encaminhamento dado pelas gestões Lula e Dilma aos setores burocráticos críticos do Estado brasileiro, notadamente aqueles voltados a combater a corrupção: prestígio e autonomização. Vimos anteriormente a extensão da política de valorização salarial adotada nos últimos anos; vale mencionar a realização de diversos concursos públicos – em oposição ao período FHC.

Outras marcas de valorização, como a nomeação de técnicos para postos-chave de Direção e Assessoramento Superior (até mesmo com a instituição de cotas mínimas de cargos a serem ocupados por servidores efetivos), a aprovação de denominações específicas como símbolos de distinção (“autoridade tributária” para Auditores Fiscais, “excelências” para Delegados da Polícia Federal, etc), também foram sancionadas nesse período. A autonomização, demanda constante dessas carreiras de Estado, também veio a cabo: listas tríplices para a seleção de Procuradores-Gerais do Ministério Público, de Diretores Gerais da Polícia Federal, entre outros cargos importantes; a desvinculação institucional da Defensoria Pública da estrutura do Poder Executivo Federal; a alocação prioritária de recursos para o desempenho de Operações Especiais, etc.

Por outro lado, essas medidas jamais foram acompanhadas por um eventual incremento do controle social sobre a burocracia. Ainda que nos governos do Partido dos Trabalhadores tenham sido desenvolvidas mais de uma centena de conferências e tenham sido criados dezenas de conselhos de políticas públicas, há que se observar que os esforços jamais estiveram direcionados para realizar accountability sobre os agentes públicos, especificamente. A alta burocracia permaneceu francamente autônoma e crescentemente empoderada. Por sinal, a disfunção entre as expectativas da literatura nacional e a realidade material atingiu seu auge quando o próprio Ministério Público, por meio de seus agentes, passou a liderar uma campanha nacional pela aprovação das supracitadas “10 medidas contra a corrupção”. O lobby pela aprovação de uma agenda que restringia direitos individuais em nome do aumento da capacidade discricionária dos próprios burocratas (uma forma de autonomização) converteu-se em “advocacy” legítimo aos olhos da mídia e de parte da sociedade.

De forma mais concreta, vimos na Operação Lava Jato o Judiciário, o Ministério Público e agentes da Polícia Federal, dentre outros, atuarem à margem da lei e em rechaço à Constituição – a qual os alçou, em sua origem, como alguns dos segmentos mais importantes a defendê-la (o que percebemos agora como um ímpeto corporativista, em face das prerrogativas e exclusividades a eles conferidas). Como razão para esses arbítrios, o “bem maior” do combate à corrupção. Sem respostas proativas, a esquerda apenas reforçou sua defesa da autonomia dos órgãos de defesa do Estado, do “apure-se o que tiver de ser apurado”, da integridade pessoal e moral da Presidenta da República (até hoje incontestável, frise-se). Ou seja, apenas seguiu adiante no caminho que acabou por levá-la à derrocada diante de uma direita muito mais articulada em evocar na esfera pública a moralidade particular como juízo.

Hoje, o Presidente da República, citado nominalmente em delações de executivos da Odebrecht, nomeia seu próprio Ministro como Ministro do STF – a julgar casos em que o próprio Chefe de Governo constará como réu –, e simplesmente não há freios e contrapesos institucionais ou “morais” para barrar essa agenda.

Talvez essa seja uma das marcas da fragilidade do legado das administrações petistas no combate à corrupção, justamente em virtude das crenças e das escolhas feitas: não reformar nevralgicamente as institucionalidades e as formas de produção dos espaços públicos, mas sim levar “ao limite” a agenda wilsoniana de profissionalização de certa burocracia.

Até encontrar, dada a inação na frente das reformas eleitorais e na frente da governabilidade, o paroxismo essencial: desenvolver e insular uma burocracia não-responsabilizável e corporativista para fiscalizar agentes políticos tão fundamentais à sustentação da base de apoio quanto versados na operacionalização da máquina “à moda antiga”. Não há legado possível aí porque nem a burocracia é neutra, nem qualquer administração mais “realista” virá a conceder o mesmo nível de independência funcional.

Quando se leva em conta a hipótese da fragilidade do republicanismo e da força constitutiva da desigualdade na formação da nossa sociedade, compreende-se quão perniciosa para o combate à corrupção é a ideia de se fortalecer e insular agentes e instituições. Se dar autonomia e salários astronômicos constituem formas de privilégio social, se os privilégios expressam o casamento entre desigualdade e corrupção, se a desigualdade brasileira é fator crucial para explicar a fragilidade dos espaços públicos, e se essa fragilidade cria obstáculos fundamentais para a produção de um desejo mínimo de equidade entre cidadãos, então transformar certos segmentos em “castas meritocráticas” parece ser a solução mais inadequada possível.

Pensar o combate à corrupção a partir de um ataque transversal à desigualdade e à injustiça tem o potencial de se constituir como um programa de governo e uma agenda de Estado possíveis para que os progressistas disputem a política institucional no contexto mais conservador das últimas décadas. Para tanto, a esquerda precisa de fato disputar o significado da corrupção, da ética e da justiça na realidade brasileira. Ela tem muito a dizer e a propor, mas precisa revisar seus conceitos e sua abordagem.

No fundo, o PT dos anos 80 e o PSOL de hoje, dentre outras forças relevantes, contiveram em seu ideário alguns elementos que dialogam com o proposto aqui. A declamação ética de agentes políticos desses partidos, contudo, é pontual, sem constituir uma agenda sistêmica: tratam de posturas individuais, de mandamentos, de comportamentos idealizados. Estão presas, na verdade, às moralidades mencionadas no início desse ensaio, ainda que eventualmente virtuosas.

É preciso ir além, propondo sistêmica e institucionalmente formas de transformação dos espaços públicos, nos domínios mais localizados (vizinhanças, parques, praças, igrejas, ônibus/metrôs, etc) e mais amplos (a grande política, as decisões judiciais, as políticas públicas, a produção da cidadania ativa etc). Trata-se de reverter com força o processo de abandono do público promovido pelo Estado ao longo dos últimos 30 anos – que deu vazão, como comentou Christian Dunker em entrevista recente para a BBC, a vazios ocupados pelo privatismo – favelas, condomínios fechados, prisões – ou meras zonas de passagem, marcadas por experiências vazias de sentido. É preciso, para isso, acreditar que a gestão pública um campo privilegiado para a produção, viabilização e potencialização de experiências de dignidade, de realização das capacidades humanas, de civismo. Algo que, lamentavelmente, boa parte da esquerda também se furtou de elaborar, preservando as velhas crenças positivistas sobre a neutralidade da técnica.

Não há como não desempenhar tais tarefas históricas sem disputar profundamente o significado da corrupção no Brasil, sem deixar de afirmar e comprovar que a corrupção é uma manifestação da desigualdade, e que a desigualdade é, sim, uma manifestação da corrupção – e isso não é uma tautologia, mas sim um círculo vicioso, que nos aponta para a profundidade do nó górdio em questão. Acreditar nessa conexão é permitir ao campo progressista ir além na crítica à meritocracia como um fim em si mesmo – ninguém pode ser bom o bastante para ser socialmente tão mais prestigiado do que os demais – e na compreensão de que o compromisso com a equidade e com a isonomia devem ser inegociáveis – meia-justiça, afinal de contas, nunca significou menos do que uma injustiça em dobro.

Sérgio Roberto Guedes Reis é mestre em Políticas públicas pela FGV e bacharel em Relações Internacionais pela USP. Atua no serviço público federal brasileiro desde 2012, como Auditor de Finanças e Controle.

GGN/Justificando, por Sérgio Guedes Reis

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Desembargador Rogério Favreto: o Judiciário vai pagar caro por atração pelos holofotes da mídia

No dia 22 de setembro de 2016, a Corte Especial do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) manteve, por 13 votos a um, o arquivamento de uma representação contra o juiz federal Sérgio Moro encaminhada por um grupo de advogados contra o magistrado que conduz os processos da Operação Lava Jato. Na avaliação desses advogados, Moro teria cometido ilegalidades ao violar o sigilo de gravações de conversas telefônicas envolvendo a então presidenta Dilma Rousseff e vazar essas conversas para meios de comunicação. Além disso, questionaram a realização de interceptações telefônicas sem autorização judicial. Na ocasião, o relator do processo, desembargador Rômulo Pizzolatti, rejeitou o pedido alegando que a Lava Jato constituía “um caso inédito no Direito brasileiro, com situações que escapam ao regramento genérico destinado aos casos comuns”.

O voto isolado contra esse entendimento majoritário partiu do desembargador Rogério Favreto que criticou a invocação da teoria do estado de exceção para defender a conduta de Moro. “O Poder Judiciário deve deferência aos dispositivos legais e constitucionais, sobretudo naquilo em que consagram direitos e garantias fundamentais. Sua não observância em domínio tão delicado como o Direito Penal, evocando a teoria do estado de exceção, pode ser temerária se feita por magistrado sem os mesmos compromissos democráticos do eminente relator”, assinalou Favreto em seu voto. Mais de oito meses depois, o debate levantado pela decisão do TRF da 4a. Região prossegue atual, com o avanço do argumento do estado de exceção, em especial no crescente processo de retirada de direitos e de criminalização de movimentos sociais.

Em entrevista ao Sul21, o desembargador Rogério Favreto fala sobre o voto que em novembro de 2016 e o contextualiza no presente que ele qualifica como muito perigoso para o futuro da Democracia e do Estado Democrático de Direito no país. Além disso, critica o protagonismo exacerbado que o Judiciário teria assumido, invadindo atribuições de outros poderes e contribuindo para desestabilizar o sistema político do país. Favreto também critica a transformação de magistrados em super heróis ou salvadores da pátria, mantendo uma relação íntima com a mídia e com outras instancias do sistema de Justiça que não possuem as mesmas atribuições, como o Ministério Público e a Polícia Federal.

Sul21: O Poder Judiciário assumiu no Brasil um papel protagonista, não só nas suas atribuições constitucionais no âmbito do sistema de Justiça, mas também no sistema político. Na sua avaliação isso é algo positivo ou negativo para a democracia brasileira?

Rogério Favreto: Em primeiro lugar, cabe assinalar que essa ocupação de espaços faz parte de um processo de judicialização da política e de outras áreas. Esse processo, por um lado, tem um marco na Constituição, na busca de normatização dos novos institutos criados em 1988 e de instrumentos para a defesa e recuperação de direitos. Além disso, há outros dois fatores que alimentam esse processo. Um deles é a omissão legislativa que faz com que o Judiciário assuma um papel mais ativo. O outro é o fato do Executivo não cumprir políticas que deveria executar. Temos assim uma judicialização ampla, que abrange as relações pessoais e coletivas, indo do direito básico até a política, envolvendo a própria gestão do Estado. Esse fenômeno vem tomando uma dimensão preocupante. O Judiciário não é preparado para dar conta de tudo isso e, pela autonomia funcional dos seus membros, não tem uma organicidade nesta manifestação.

Sul21: Essa ocupação de espaços que, em tese, são de atribuição do Executivo e do Legislativo, não acaba produzindo um desequilíbrio entre os poderes, o que contribui para desestabilizar o funcionamento do sistema político como um todo?

Rogério Favreto: Com certeza. Se, por um lado, os outros poderes contribuem para que isso aconteça, por outro, há preceitos constitucionais sobre a necessária harmonia entre os poderes que devem ser observados. Se a nossa corte constitucional balizasse esse processo, poderíamos diminuir esse risco. Mas o que vemos hoje é uma lentidão do Supremo Tribunal Federal no que diz respeito a essas questões de fundo que envolvem questões estruturais da política. Há temas muitos delicados aí. Vemos hoje membros da magistratura e do Ministério Público assumindo funções que são atribuições dos gestores públicos. Uma coisa é corrigir um rumo em função de alguma ilegalidade ou da quebra de um preceito de uma boa gestão. Outra bem diferente é o Judiciário assumir a escolha de uma determinada política, o que é próprio do governante.

Há uma quebra desses preceitos que está nos levando para um caminho muito perigoso. Eu combino essa preocupação com outros elementos, como uma crescente atração pelos holofotes e pelo apoio popular midiático. Muitos agentes do sistema de Justiça, que vai desde a Polícia até o Ministério Público, estão sucumbindo a essa atração. A Magistratura e o Ministério Público não estão preparados para dar conta desse fenômeno e acabam tomando parte em muitos temas onde deveriam ter um equilíbrio e uma certa serenidade, violando com isso a sua imparcialidade.

Sul21: Esses temas vêm sendo objeto de debate dentro do Judiciário? Existe uma preocupação com essa ampliação desmedida de atuação, invadindo espaços dos outros poderes, ou a maioria está gostando desse aumento de protagonismo?
Rogério Favreto: Infelizmente, as entidades corporativas, que poderiam assumir esse debate, não o estão fazendo. As associações seguem com um papel muito corporativo, o que também é sua atribuição, é verdade, mas não deveria ser tudo. Ao mesmo tempo, vende-se na mídia mais convencional a figura de agentes da Justiça como herói, super homem e salvador da pátria. Isso está mexendo com o ego de integrantes da Magistratura e do Ministério Público, que foram mordidos pela mosca dos holofotes, impedindo que seja feito o debate devido. Nós temos uma entidade, a Associação dos Juízes pela Democracia, que está procurando fazer um pouco esse debate, mas as entidades nacionais da Magistratura e do Ministério Público não estão fazendo. O que mais preocupa hoje, fundamentalmente, é a existência de muitos casos de perda de parcialidade na atuação dos agentes da Justiça.

Sul21: No ano passado, ocorreu um julgamento aqui no TRF da 4ª Região, sobre algumas condutas do juiz Sérgio Moro, que acabou ganhando repercussão nacional. Por 13 votos a 1, o Tribunal considerou essas condutas corretas, assinalando que a Operação Lava Jato estaria tratando com uma situação excepcional e isso justificaria medidas de exceção. O seu voto foi o único contrário a esse entendimento. Há quem diga que nós já estamos vivendo um estado de exceção no Brasil? Qual sua avaliação sobre isso?

Rogério Favreto: Naquela ocasião nós tratávamos apenas da abertura de um processo disciplinar contra o juiz Sérgio Moro, motivados por uma denúncia feita na Corregedoria sobre a conduta do magistrado no episódio envolvendo o vazamento das gravações envolvendo a então presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. O voto do relator afirmava que estávamos vivendo uma situação excepcional, o que justificaria um tratamento excepcional. Eu não posso concordar com isso e acho que muitos colegas não concordam. Nós temos preceitos fundamentais da Constituição e do nosso ordenamento legal, como a presunção da inocência, a proibição de prova ilícita, a isonomia processual e, fundamentalmente, a imparcialidade do julgador. O meu voto foi conduzido por isso.

Há um segundo plano envolvido aí também. O magistrado precisa se manter reservado, não se antecipar e não fazer manifestações públicas sobre processos que está julgando, ferindo a sua imparcialidade. Obviamente que todos, incluindo os magistrados, têm opiniões sobre a política, sobre a vida, a sociedade e o Estado. Agora, precisamos julgar de acordo com a Lei, a Constituição e a partir de provas. Quando um juiz participa de eventos com determinados segmentos políticos que fazem oposição a outros segmentos que estão no governo e está julgando um processo que envolve esses grupos, a imparcialidade é gravemente ferida. O mesmo ocorre quando um magistrado passa a convocar militância política. Quando o juiz se despe da toga, ele vira um militante político. Esse não é o papel do magistrado. Aí ele começa a perder a credibilidade. O juiz deve atuar com sobriedade, serenidade e com reserva.

É claro que é preciso haver transparência de modo que a sociedade possa acompanhar o que está acontecendo. Mas uma coisa é você ter divulgação de informações após as decisões, outra é termos vazamentos antes das decisões acontecerem. Eu tenho dúvida inclusive se o magistrado pode ficar comentando tanto temas envolvendo processos que ainda estão em curso. O magistrado que conduz a Operação Lava Jato continua palestrando no mundo inteiro falando dos resultados de suas decisões. Eu acho isso um pouco temerário porque vai criando junto à opinião pública um sentimento de que esses julgamentos já são definitivos.

Eu tenho uma opinião um pouco diferente sobre a relação do Judiciário com o tema da corrupção. Acho que não é papel do Judiciário ser o condutor e o protagonista do combate à corrupção. É até difícil falar isso porque as pessoas vão achar que eu sou contra esse combate. É óbvio que não sou contra, mas é preciso ter uma visão clara acerca dos papéis das instituições neste processo. O Ministério Público tem a prerrogativa de ter iniciativas nesta área, pode fiscalizar administrativamente, fazer inquéritos, ações civis públicas, termos de ajustamento de conduta, entre outras coisas. Já o Judiciário cabe atuar no processo. Os magistrados não podem vestir uma capa como se fossem super-heróis combatentes da corrupção. Não são. Existem órgãos para isso. Nosso papel é atuar no processo.

Há uma confusão hoje alimentada pela concepção de que o juiz deve seguir a visão majoritária da opinião pública e com setores da mídia que vendem um determinado discurso. Isso é muito perigoso, pois vai ferindo gravemente preceitos do Estado Democrático de Direito. Esse comportamento leva a uma distorção do papel do Judiciário e a um risco de autoritarismo muito grande. O magistrado não está submetido ao controle que os políticos estão, pela via do processo eleitoral. O nosso controle e avaliação de penalidades ainda é muito protetivo e corporativo.

Sul21: Após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, o governo Michel Temer começou a implementar uma série de medidas que estão retirando muitos direitos, previstos na Constituição, atingindo principalmente setores mais fragilizados da sociedade. Levando em conta a postura majoritária que o Judiciário vem adotando a quem esses setores podem recorrer para defender esses direitos? Em que medida o Judiciário pode ser um espaço para essa defesa hoje?

Rogério Favreto: A judicialização da política, quando envolve a concretização de direitos de minorias e de setores excluídos da sociedade, não se manifesta. Aí o Judiciário é conservador, não é ativista nem tem uma visão afirmativa e de vanguarda. Isso é preocupante. O Judiciário deveria estar muito atento a esse tema da retirada de direitos. Pelo andar das reformas Trabalhista e da Previdência, o próprio Judiciário poderá ser atingido em suas prerrogativas. Se essas reformas passarem, a Justiça do Trabalho vai caminhar para a extinção. Mas não são só os direitos trabalhistas que estão sendo atingidos. Os sindicatos também serão fragilizados e a negociação coletiva será colocada acima da lei. Obviamente, que o mais fragilizado vai perder. O mesmo vale para a questão da Previdência. Por razões corporativas, alguns setores do Judiciário começam a se preocupar com isso. Mas a razão principal não deveria ser essa. O Judiciário deveria ter uma posição de vanguarda na defesa dos direitos fundamentais de natureza social e que protegem a dignidade da pessoa humana.

No entanto, neste ponto, falta uma coisa fundamental à magistratura hoje. Os nossos novos operadores do Direto e mesmo alguns dos mais antigos não têm conhecimento sobre a vida social, sobre as pautas dos movimentos sociais e sobre a realidade na qual essas pessoas vivem. Em nosso trabalho cotidiano, todos os dias temos que tomar decisões que envolvem a vida dessas pessoas e de suas famílias. A grande maioria não está preparada para tomar tais decisões. Pode estar preparada tecnicamente, mas não tem conhecimento da vida social, não sabe quais são as dificuldades da vida dessas pessoas. Há uma onda muito grande de criminalização dos movimentos sociais por uma visão conservadora e por um desconhecimento da realidade social.

Sul21: Ao falar sobre esse a judicialização da política, o senhor se referiu ao papel da mídia na oferta de holofotes para os operadores do Direito e também na formação de uma opinião pública majoritária sobre determinados temas, que acabam orientando decisões de magistrados? Qual é a dimensão desse fenômeno, na sua opinião?

Rogério Favreto: É preocupante. Há uma condução muito parcial e seletiva. Os grandes meios de comunicação têm uma influência de massa por meio de sua atuação. Isso combinado com algumas medidas que os órgãos da Justiça vem tomando, como o vazamento seletivo e ilegal de informações, agrava ainda mais a situação. Isso tem efeitos danosos do ponto de vista individual, social e político. O que coloca alguns freios e levanta algumas interrogações sobre esse processo de manipulação são as mídias alternativas e as redes sociais, embora estas também se prestem à prática de desvios e manipulações. Esse trabalho consegue abrir algumas brechas nesse muro e as pessoas começam a perceber que existem outras visões e interpretações, mesmo dentro do Judiciário que não é formado apenas por super-heróis e salvadores da pátria.

Quando eu participei da direção da Associação dos Magistrados do Brasil, disse em um debate que a Magistratura e outros setores do sistema de Justiça vão pagar muito caro por esse momento de protagonismo, de atração por holofotes e de ter medo de ser contra-majoritário. O juiz não tem que ter medo de ser contra-majoritário, ele não tem que agradar. É um equívoco brutal colocar, como algumas revistas fizeram, um magistrado e um réu em um ringue. O magistrado não está nesta posição. Quem está é o Ministério Público. Isso já revela uma distorção muito grande.

Eu já disse também que nós pagaremos muito caro pela perda das prerrogativas. Será uma perda dupla. O Judiciário vai perder como instituição, porque que quem tem essa preocupação de atuar serena e sobriamente estará desprotegido. E vai perder a sociedade que não vai mais confiar no Judiciário. Como é que as pessoas poderão confiar no sistema de justiça se um magistrado ou um integrante do Ministério Público se manifesta antes da conclusão de processos, inclusive nas redes sociais com ódio, preconceito e pré-julgamentos? Os diversos setores da Justiça estão gravemente atrasados em perceber as conseqüências dessa onda de manipulação. Estamos sendo tragados por um caminho muito perigoso que trará muitas dificuldades, inclusive para recompor algumas prerrogativas de respeito que são intrínsecas ao trabalho de quem tem a atribuição de julgar processos envolvendo a vida das pessoas.

Sul21: Junto com esse processo de retirada de direitos, vem crescendo também a criminalização de movimentos sociais e de suas lutas. Já temos vários integrantes desses movimentos presos no país acusados, entre coisas, de integrarem organizações criminosas, no caso os movimentos aos quais pertencem. Na sua avaliação, estamos diante do risco de um fechamento político ainda maior no Brasil?

 Rogério Favreto: Infelizmente, parece que esse risco é muito forte. Como eu referi antes, temos um desconhecimento de grande parte dos operadores do Direito sobre o papel dos movimentos sociais. Além disso, há uma tendência na sociedade hoje de achar que os problemas vão se resolver aumentando o número de prisões. Muita gente só se dá conta do que isso representa quando alguém próximo acaba sendo preso. Costumo dar o exemplo do sentimento daquele pai, cuja filha ou filho sai uma noite para uma festa, conhece alguém, anda no carro desta pessoa que, sem ele ou ela saber, é traficante e acaba sendo presa por tráfico. O filho ou filha desse pai acaba sendo presa também e acusada, entre outras coisas, de formação de quadrilha, e vai ficar um ano ou dois presa preventivamente, como está ocorrendo agora na Lava Jato.

Para muita gente, quando solta alguns desses políticos que estavam presos preventivamente, a Justiça está cometendo uma barbaridade. Essa forte onda punitivista, combinada com o desconhecimento da realidade dos movimentos sociais pelos operadores do Direito ajuda a explicar esse aumento da criminalização. Esses movimentos são a expressão dos setores da sociedade que lutam pelos seus direitos. A maioria dos nossos direitos foi conquistada com luta social, com greves. Mas a maioria do sistema de Justiça é muito conservadora. Antes de ingressar em uma carreira jurídica, ainda nos cursos de formação, as pessoas teriam que conhecer essa realidade social de perto, conhecer a realidade de um acampamento de quem luta pela terra, de uma ocupação urbana e assim por diante.

Sul21: O STF é o guardião último da Constituição. A Constituição de 1988 vem sendo modificada em temas relacionados a preceitos e direitos fundamentais que, em tese, deveriam ser protegidos pelo Supremo. Isso, no entanto, até agora não vem acontecendo. Como o senhor avalia o papel que o STF vem desempenhando neste último período?

Rogério Favreto: Acho que, infelizmente, está ocorrendo uma grande omissão por parte do nosso Supremo Tribunal Federal. Tínhamos expectativas em alguns ministros, por sua formação, história e por algumas decisões recentes importantes na área de demarcação de terras, de quotas sociais, de direitos de minorias. Mas essas expectativas estão sendo frustradas, em meio a esses desvios que estão ocorrendo na condução de processos, desde o inquérito policial até a atuação do Ministério Público e de alguns magistrados. Outro problema é que não está havendo uma separação muito clara entre o trabalho do Ministério Público e da Magistratura. Em alguns momentos parece até que há uma atuação conjunta, quando cada um deveria estar fazendo a sua parte. O Ministério Público está muito junto com o magistrado em alguns casos. Acho que, às vezes, os colegas não se lembram que o Ministério Público é parte no processo, a Magistratura não.

O Supremo demorou muito para agir e criou-se um conceito que, agora, parece que não pode mais ser alterado. O exagero da prisão preventiva é um exemplo disso. A condução coercitiva é outro, envolvendo uma coisa que deveria ser óbvia. Alguém só pode ser conduzido coercitivamente quando se negar a comparecer perante a Justiça. Se isso não acontecer, estamos diante de uma violação. Outro exemplo é o uso da prisão preventiva para forçar delações. Há uma pauta da mídia montada para que isso ocorra. O Supremo não atuou no momento em que devia para impedir isso, para estabelecer limites segundo os marcos constitucionais. Não precisava nem inovar muito para fazer isso. A sua jurisprudência já era suficiente. Agora, parece que alguns ministros tem medo de ir contra a opinião pública ou opinião midiática.


O STF está faltando com seu papel. Ele poderia ser um grande pacificar em todo esse processo, estabelecendo os marcos constitucionais e garantindo que tudo ocorra dentro desses parâmetros e segundo a ordem processual. Não tenho muita esperança de que isso vá acontecer, mas ainda há tempo. A Suprema Corte poderia assumir esse papel de balizamento e de defesa de direitos fundamentais que a nossa Constituição garante.

Do GGN

domingo, 14 de maio de 2017

As pedras no xadrez dos autos de delação de dona Candinha Mexericos

Luís Nassif
Autos da Delação de Candinha Mexericos na ação promovida no ano de graça de 2027 pela Procuradoria Geral da República contra Persigo Janota, Egrégio Mouro e os ex-procuradores da Lava Rápido por crime de lesa-pátria.

Dona Candinha foi interrogada de acordo com os métodos desenvolvidos pela Lava Rápido em 2017, a partir do relevante depoimento de Crônica Moura, esposa do marqueteiro de Dilma -- "´Dilma não confia em ninguém e acha todo mundo burro´, diz delatora”" (https://goo.gl/L0srs1) – que definiu um novo padrão de delação, aprimorando em muito a adaptação dos ritos judiciais às pautas da imprensa da época.

Naquele momento, redefiniu-se toda a jurisprudência e os inquéritos ganharam, finalmente, a área nobre de onde nunca deveriam ter saído: as páginas de celebridades e de fofocas dos jornais.

Delação de Candinha Mexericos

Senhores procuradores,

Posso assegurar que é verdadeira na essência, a possível, suposta e eventual existência dos mexericos que passo a relatar, embora não possa garantir que sejam verdadeiros.

Mas como me ensinou meu advogado René Ariel Trote, os mexericos são importantes para mostrar a alma oculta dos réus. E ele falou de um modo tão peremptório, que soltei o palavrório seguindo a sua lição.

Como não há necessidade de jurar por mexericos, sigo a regra criada pela gloriosa equipe da Lava Rápido e pelo insigne Perseguidor Geral: todo exagero é venial, se é para  nos livrar do mal.

(Estou lendo muito depressa, doutores?)

(Continue e pare de lengalenga, fofoqueira).

Continuando
Segundo os mexericos que ouvi, o dr. Pinhossol queria incluir na delação da dona Crônica a história da sapatada que a presidente deu na empregada. Mas ficaram com receio de aparecer a empregada e dizer que era mentira e devolver-lhes a sapatada.

Então falaram para a dona Crônica mexericar sobre o temperamento da dona Dilma. Os procuradores saíram da sala coçando o saco, gargalhando esmurrando o ar e gritando yesss, isso eu vi, mas como estávamos só eles e eu naquele momento, não tenho como apresentar provas.

Um colega perguntou porque essa alegria? E eles disseram, imaginamos uma nova sacanagem contra a Dilma. E, nos seus grupos de WhatsApp, espalharam a mensagem com um kkkkkkkkk no meio, que eles aprenderam com seus colegas de Harvard. E os colegas comemoravam, dá-lhe machão kkkkkkkk.

(Tem provas?)

Isso eu não sei, doutor. Só sei que foi assim.

Eu ouvi muito mais mexericos naqueles tempos.

Me disseram que o dr. Persigo Janota tinha lautos jantares com o Ministro dr. Zé Resguardo. No jantar, falavam da vida, de vinhos e de raparigas. Persigo se jactava de sua casa no lago e da filha com doutorado nos States. Depois da quarta garrafa falavam muita besteira , mas que recuso a contar.

(É bom mesmo, senão sua delação já era).

As risadas era tão ostensivas – e, cá para nós, tão fesceninas – que uma insigne Ministra da Suprema Corte foi indagar da presidente Dilma mexericos sobre as aventuras de Zé Resguardo. Dona Dilma dizia que nada disse e nada diria nem sob tortura. E resistiu mesmo quando a ameaçaram  4 horas trancada ouvindo as pregações religiosas do Dr. Pinhossol.

Ouvi muito mais, que não posso dizer, doutor . Mas como a condição para a aceitação da delação é revelar mexericos, me vejo na obrigação de, mesmo filtrando, mexericar, pois quem não conta o mexerico nunca mais mexericará, nem no ninho dos mafagafos.

Ouvi também que o dr. Memorial de Ayres ligou para a dra. Mefitângela, e disse doutora, em nome de nossa velha relação jurídica, e do presente que nos deu Mefistófeles,  diga ao dr. Egrégio que consegui ser contratado como advogado de defesa de várias delações. Agradeço ao casal. A comemoração vai ser no sábado em casa. Vinhos de primeira.

No jantar, antes de celebrar o vinho, Memorial recitou a oração, com a credibilidade que lhe foi conferida pelos admiráveis religiosos de sua genealogia : "Ao PAE, ao Filho e ao Espírito Santo e ao Egrégio e ao Tio Flávio , que me trouxeram a prosperidade e a pax".

Também diziam na época que venderam para a doutora Mefitângela um aplicativo de espelho mágico, desenvolvido especialmente para os interrogatórios na Justiça de Curitiba.

Toda manhã, o dr.  Egrégio levantava, ligava o aplicativo e perguntava: "Aplicativo meu, tem algum juiz mais durão que eu?".

Um dia o espelho vacilou, porque apareceu em Brasilia um juiz dono de um cursinho – que empregava juizes, procuradores e desembargadores para cursos in Company – e, necessitando de marketing para o curso -- e não há melhor marketing do que convencer recalcitrantes que não se deve dizer não a um juiz armado de raios --, resolveu promover-se fechando o Instituto Crustáceo. O aplicativo ousou dizer que talvez o tal juiz fosse mais durão que o Egrégio.

Imediatamente foi despachado para a cela do Eduardo Mumunha que, toda manhã, perguntava: "Aplicativo, aplicativo meu, tem ego maior que o meu?". E o aplicativo, sem poder fugir da verdade: "O dr. Egrégio".

E vocês me perguntam: como o deputado Mumunha conseguiu um celular?

Isso eu não sei, doutor. Só sei que foi assim. A gente aumenta, mas não inventa.

Ouvi mais, doutor.

Diziam que descobriram que o escritório do dr. Faquinha continuava atuando em ações contra o estado. E que o dr. Glamouroso continuou à frente do seu escritório, ou melhor por trás porque na frente estavam parentes seus.

E tem mais. Me contaram que viram o dr. Vilmar Dentes sair no corredor da Alta Corte e bater os sapatos no chão, para tirar o barro da sola. O dr. Faquinha saiu em desabalada carreira, pensando que era com ele e gritando por socorro.

Repito, doutor, era verdade que havia esses mexericos, embora não possa garantir que nenhum mexerico fosse verdadeiro.

O que? Os senhores estão achando que minha delação não trata a Operação Lava Rápido com a solenidade devida? Mas foram vocês que começaram. E está aí a dona Crônica que não me deixa mentir.

Do GGN

terça-feira, 9 de maio de 2017

MPF destruíram as empresa e agora chamam procuradores franceses para acabar com o projeto do submarino nuclear

Depois de paralisar a construção do submarino nuclear por dois anos, a Lava Jato se organiza para destruir completamente o projeto, varrendo do mapa qualquer anseio do Brasil de entrar no seleto mercado dos países com esse tipo de tecnologia.

A notícia mostra que membros da Procuradoria Geral da República, como sempre agindo de maneira ilegalmente autônoma, sem participação do congresso ou do Ministério da Justiça, estão trazendo procuradores franceses para o Brasil, com objetivo de encontrarem problemas que justifiquem o cancelamento do projeto do submarino nuclear brasileiro.

A ação da PGR, é bom lembrar, é vinculada às investigações e ao modus operandi da Lava Jato.

A ação evidencia que o Brasil, se quiser voltar a ser uma nação soberana, precisa mudar completamente o seu Ministério Público, submetendo-o ao governo e ao interesse nacional.

As instituições jurídicas não democráticas do Estado se tornaram inimigas do nosso desenvolvimento tecnológico e soberano.

A Lava Jato capricha na destruição de qualquer veleidade brasileira de se desenvolver.

Os fundamentos para as ações da Lava Jato / PGR são, como sempre, as delações arrancadas à força dos executivos da Odebrecht.

O resultado é desemprego, atraso tecnológico e convulsão social.

Os prejuízos causados pela paralisia das obras e por seu eventual cancelamento são infinitamente superiores a qualquer suposto desvio, que aliás são sempre exagerados, para legitimar o espetáculo midiático. Mas ninguém pensa nesse detalhe.

Só não pode, claro, faltar dinheiro para pagar o salário de procuradores e juízes, que anda na média (somando as regalias) de mais de R$ 100 mil ao mês.

Franceses investigam projeto de submarino brasileiro, do Estadão

Procuradores do país europeu estão no Brasil para apurar suspeitas de irregularidades em negócio bilateral com participação da Odebrecht.

O Ministério Público Financeiro da França investiga a construção de estaleiro para montagem de um submarino de propulsão nuclear no Brasil – projeto lançado em 2008 e chamado de Prosub. Uma equipe de procuradores franceses está no Brasil para apurar, além do suposto esquema de compra de votos de membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) para a realização dos Jogos Olímpicos no Rio, conforme revelou o Estado nesta manhã, 8, as obras do projeto ligado ao submarino.

Anunciado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Prosub foi uma “parceria estratégica” entre Brasil e França. A empresa francesa DCNS ficou responsável pela transferência de tecnologia ao País e escolheu como parceira a Odebrecht. Não houve licitação.

Em dezembro, o Estado revelou que o Ministério Público Federal no Distrito Federal investiga sobrepreço de 100% na obra, que teria subido de R$ 5 bilhões para cerca de R$ 10 bilhões. O MPF aponta que os pagamentos saíram do Tesouro Nacional.

O Prosub também aparece nas delações de executivos da Odebrecht. Em delação premiada, o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior disse que a empresa pagou 40 milhões de euros para o lobista José Amaro Pinto Ramos para estabelecer a parceria com a DCNS para a construção de cinco submarinos, sendo um deles movido a energia nuclear. Foram pagas propinas, segundo o delator, ao ex-presidente da Eletronuclear Othon Pinheiro e para o PT.

Ao receber os franceses no Brasil, nesta manhã, o Secretário de Cooperação Internacional da Procuradoria-Geral da República (PGR), Vladimir Aras, disse que a viagem ao Brasil tem como objetivo aprofundar apurações sobre dois casos, sem detalhar as investigações.

“Nós temos alguns casos importantes com a França, mas essa missão deles diz respeito a dois casos, um do Rio de Janeiro e outro de Brasília”, afirmou Aras, que não comentou casos concretos em razão do sigilo. Os representantes franceses irão participar de reuniões com as equipes de investigação de Brasília e do Rio de Janeiro sobre o assunto. “São reuniões de trabalho justamente para troca de dados de inteligência tanto para aprofundar investigações lá como aqui”, completou Aras.

O caso sobre o submarino é conduzido pelo procurador Ivan Marx, do MPF do Distrito Federal. As revelações da Odebrecht sobre o caso do submarino foram encaminhadas inicialmente ao Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2), sediado no Rio de Janeiro, pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. Em razão da existência de uma investigação em andamento em Brasília, no entanto, os trechos da delação devem vir para Brasília.

Comitiva. Estão no Brasil para as reuniões a procuradora nacional para assuntos de crimes financeiros, Eliane Houlette; o procurador nacional adjunto Jean-Yves Lourgouilloux; e o comissário-chefe da unidade nacional de polícia contra crimes financeiros, Thomas de Ricolfis. A Procuradoria-Geral da República e a Embaixada da França sediaram um evento com participação da equipe do chamado Parquet Financier francês, criado em Paris para apurar crimes de corrupção e evasão fiscal.

Ao abrir o encontro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, destacou a cooperação internacional entre os dois países e mencionou a possível criação de uma equipe conjunta de investigação entre os Ministérios Públicos dos dois países.

“Já tive oportunidade de estar no Parquet Financier francês quando tínhamos interesse em obter documentos que interessavam em investigações em curso no Brasil. Fomos profissionalmente atendidos, pessoalmente bem recebidos e ao final e ao cabo obtivemos os documentos que nos interessavam. Recebo com muito prazer a equipe francesa”, afirmou Janot.

Após o Estado revelar que um dos casos de interesse dos franceses é a apuração da compra de votos para que o Rio sediasse os Jogos Olímpicos, o procurador nacional adjunto do país disse que eles possuem elementos que levam a crer que votos podem ter sido comprados. A vinda ao Brasil, segundo ele, tem como objetivo apurar se os elementos colhidos na França condizem com os elementos que os brasileiros possuem.

Do GGN