Não havia praça; era o “Largo do Seu Bom”;
era o campo improvisado do futebol infanto-juvenil, no início da segunda metade
do século passado. Abria-se, ali, uma larga avenida, chamada Coronel Lago. Na
cabeceira do campo de barro, um extenso muro ligado ao casarão de dona Nenem
Chaves. Seguia-se a fileira de casas, lado a lado. Do “Seu Bom”, do
“Seu Sissimundo”, do “Seu Luiz Barbeiro”, do “Seu Yoyô”, do prédio da
Prefeitura e Câmara Municipal e da Escola Reunida Municipal; do “Seu
Clodoaldo”, do “Seu Bena”, de dona Maria Helena, do “Seu Manoel Ferreira”, do
“Seu Biná”, do “Seu Wilson”, da “Casa Faria” e, no início da Praça Felinto
Faria, a casa de dona Angélica. Do outro lado, a casa do telegrafista Marinho,
o mercado único, a casa do “Seu João Caixeiro”, o sobradão do “Seu Benu
Mendes”, a que se seguiam as casas da dona “Gracinda”, do “Seu Horocídio”, do
“Seu Máximo Lopes”, do “Seu Tunoca”, e o casarão de calçada alta do “Seu João
Pio”. Do outro lado da praça – que era o “Largo da Igreja”, onde a meninada
também transformava em campo de peladas domingueiras, após o catecismo, (com
balizas de pedras guarnecidas por goleiros intrépidos) , erguia-se, imponente e
bela, a Igreja de N.S. Sant`Anna”, a que se seguia a casa do “”Seu Joaquim
Lima”, e o Cine Teatro Municipal. Frente à frente com o casarão/hotel do “Seu
João Pio”, outro, não menos imponente, casarão do “Seu Osvaldo”, também de
calçadas altas. Esses dois monumentos constituem, sem dúvida, Patrimônio Histórico de uma cidade que
se prenunciava pujante, altaneira e aconchegante. Eram – como ainda devem ser –
esteios
monumentais fincados para sempre, para segurarem uma praça indestrutível,
que se estende em canteiros, como um colorido e providencial tapete de um Templo Sagrado.
Era esse o cenário. Alguém iluminado
concebeu a inusitada ideia de enfeitar a avenida com palmeiras de pati, lado a
lado, de ponta a ponta, formando um passarela em plena rua. Um menino travesso
do “Seu Horocídio” (Raimundim) resolveu sacudir um cacho de uma das palmeiras,
aurificando o chão tosco, como se fossem pétalas de rosas amarelas derramadas.
Valeu-lhe uma reprimenda pedagógica. Um incidente infantil, apenas isso!
Iniciou-se o cortejo. Noivos, à frente,
com sorrisos justificados, acenavam para uma assistência sem convite formal, postada
nas janelas e calçadas. Ninguém queria perder o espetáculo insólito. A charanga do “Seu Paulino”, de pratos
metálicos em batidas estridentes e repetidas, abafava os cochichos previsíveis
dos assistentes embevecidos. Era a banda sonorizando os ares da alegria
prevista. O pistom do “Seu Gonzaga”, a clarinete do “Seu Eneas”,
o sax do “Seu Mariano” e a bateria do “Seu Leonide” davam o tom da marcha
nupcial. Era o “Casamento do Século”.
E, contritos, ao pé do altar, ouviu-se o
juramento esperado, que alegraria uma igreja lotada. Os aplausos ali
produzidos em euforia espontânea, soavam como cantos de andorinhas
em voos livres sob o teto, enriquecidos
pela sonoridade dos sinos, no alto da torre. As testemunhas formais e a
assistência de admiradores ratificaram o maior rol de testemunhas já visto num
casamento, espalhadas nas janelas e calçadas deixadas.
Afinal, celebrava-se o casamento da
filha da matriarca Nenem Chaves, mãe do seminarista Benedito e do estudante João. A professora recém formada, de alcunha
carinhosa MUNDIQUINHA, unia-se a FARIDES, em juramento irrevogável.
- Eu
os declaro marido e mulher, até que a morte os separe” – proclamava o celebrante.
Por
Benedito Ferreira Marques
* Crônica escrita
na madrugada do dia 13 de junho de 2024 – Dia de Santo Antonio, o “santo
casamenteiro”, em homenagem à “Família Chaves”, principalmente à saudosa
madrinha do meu também saudoso pai, a quem também reverenciávamos como
“MADRINHA NENEM”.
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