Lentamente, muito lentamente, o país começa a acordar do
longo pesadelo representado pelo governo Temer e por sua equipe econômica.
Esta semana o STF (Supremo Tribunal Federal), através do
Ministro Ricardo Lewandowski, tomou a iniciativa de suspender os grandes
negócios que estavam sendo armados em torno da privatização da Eletrobras e da
Petrobras. Não se sabe por quanto tempo essa posição será válida, com o
Congresso submetido ao negocismo mais nefasto. Mas foi uma iniciativa de corte.
Na economia, nos últimos tempos, as únicas vozes de bom senso
na economia, entre os chamados economistas
de mercado, os ex-Plano Real Luiz Carlos Mendonça de Barros, Pérsio Arida e
André Lara Rezende, começaram a se manifestar, podendo impor uma influência
mais racional junto ao pensamento liberal.
Anos atrás, aliás, os telespectadores da Globonews se
surpreenderam com um debate em que o ex-Ministro Guido Mantega,
reconhecidamente um intelectual com limitações, foi imensamente superior ao seu
interlocutor Armínio Fraga. Este surpreendeu pelo amplo desconhecimento de
características básicas da economia interna a das relações internacionais. Não
conseguia enxergar um centímetro além da mesa de operações.
A era Armínio – como guru do mercado – já tinha representado
um rebaixamento radical do pensamento liberal, vários degraus abaixo do período
Bulhões, Simonsen e da era dos economistas do Real. Armínio levou a
simplificação analítica, e os bordões ideológicos liberais, aos níveis mais
baixos da história.
Atrás dele, veio a nova geração de liberais, representados
pelos inefáveis Henrique Meirelles, Alexandre Tombini, Ilan Goldjan (com
Temer), Joaquim Levy, praticando um ideologismo primário que, repercutido
diuturnamente pela mídia, desconectou o sistema dos princípios mais comezinhos
de gestão econômica.
E foi essa cultura da mediocridade que produziu uma sucessão
infindável de aberrações econômicas, pela combinação fatal dos cabecinhas de
planilha da equipe econômica, com o baixo clero do Congresso, todos mediados
pelo grupo que se apossou do Executivo.
Ontem, foi a vez do economista oficial da campanha de Geraldo
Alckmin, Pérsio Arida, disparar contra a Lei do Teto, mostrando ser impossível
engessar uma economia, dinâmica por definição, por vinte anos. Sempre foi
óbvio.
Também ontem, na CNI (Confederação Nacional da Indústria), o
candidato Ciro Gomes ousou criticar a reforma trabalhista, sendo alvo de vaias
de alguns grupos. Não recuou. Insistiu que não se constrói um país sem
estabilidade e sem renda. Prometeu trazer a bola de volta ao centro do campo
para uma discussão plural demonstrando uma característica essencial na
reconstrução política brasileira: a capacidade de sustentar propostas nacionais
sobre os interesses imediatistas de grupos.
De fato, a legislação em vigor continha amarras incompatíveis
com os tempos modernos, em que há a formação de cadeias produtivas integradas
para a fabricação do produto final.
Veja-se o caso de Nova Serrana (MG) que se tornou um polo
calçadista exemplar. Trata-se de um aglomerado de pequenas empresas, cada qual
participando de uma etapa da produção – o desenho, a tintura, o acabamento.
Tempos atrás houve uma autuação generalizada contra as empresas, acusando-as de
terceirizar sua atividade principal.
Já estavam em andamento negociações visando a modernização da
legislação. Tudo foi por água abaixo, atropelado por mudanças enfiadas goela
abaixo do país, precarizando de forma radical o trabalho e o emprego formal.
Com isso comprometeu-se a arrecadação fiscal e a própria Previdência Social,
que sempre foram ancoradas no desconto em folha e que já vinham sendo sangradas
pelas desonerações do período Dilma-Mantega.
A grande esperança é que esses pequenos ares de racionalidade
se transformem em um vento arejador, ajudando a fortalecer um pacto de
racionalidade no país.
Do GGN
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