Mostrando postagens com marcador investigação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador investigação. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 21 de junho de 2017

FHC se beneficiou por compra de imóvel “subfaturado” vendido pelo operador de propina de Michel Temer

Edgar Safdié, apontado pela PF como o homem que seria acionado por Rodrigo Rocha Loures para receber propina da JBS, foi sócio da empresa que vendeu apartamento a FHC por 43% de seu valor de mercado. Seu pai, Edmundo Safdié, foi réu por lavagem de dinheiro em favor de Celso Pitta e teve seu banco envolvido no trensalão tucano

O Edgar que a Polícia Federal apontou em relatório ao Supremo Tribunal Federal como principal suspeito de ter sido acionado por Rodrigo Rocha Loures (PMDB) para receber propina da JBS em esquema envolvendo Michel Temer foi sócio da empresa que vendeu, em 2005, um apartamento ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Edgar Rafael Safdié e seu pai, Edmundo Safdié, falecido no ano passado, controlavam a empresa Bueninvest, criada em 1990. Segundo informações da junta comercial de São Paulo, Edgar só deixou a sociedade em 2010, cinco anos após a venda de um imóvel em Higienópolis para FHC.

Em 2013 o GGN mostrou, em reportagem de Luis Nassif, que havia indícios de subfaturamento no apartamento adquirido pelo ex-presidente. Com pouco mais de 500 metros quadrados e quatro vagas para automóvel, a unidade foi arrematada por R$ 1,1 milhão, quando seu valor de mercado, à época, poderia chegar a R$ 2,5 milhões. Ou seja, FHC teria desembolsado cerca de 43% do valor de mercado.

A reportagem embasou representação ao Ministério Público Federal em São Paulo em março de 2016. A iniciativa foi dos deputados João Paulo Rillo e Teonílio Monteiro da Costa, ambos da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Estado.

No pedido de investigação, os parlamentares destacaram que as suspeitas sobre FHC não poderiam ser ignoradas diante da devassa imposta ao ex-presidente Lula pela Lava Jato, por conta do sítio e do triplex que foram reformados pela Odebrecht e OAS.
O procedimento investigatório criminal (PIC) chegou a ser instaurado em julho de 2016, mas o procurador da República Gustavo Torres Soares decicidiu arquivar a apuração contra FHC e Edmundo, por sonegação fiscal, lavagem de ativos e falsidade ideológica, em 30 de janeiro de 2017.

Soares alegou que relatórios solicitados à Receita Federal e ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) não apontaram nenhum indício de fraude nas contas de FHC. Além de arquivar, o procurador determinou o sigilo dos autos por causa das informações fiscais do tucano.
Nesta quarta (21), a assessoria do deputado Rillo sinalizou ao GGN que pretende recorrer da decisão de arquivamento e solicitar a reabertura da investigação, com base nas revelações feitas recentemente pela Lava Jato.

Apesar de não ser conclusivo, o relatório da Polícia Federal coloca Edgar Safdié como suspeito de ser acionado por Rocha Loures para operacionalizar o recebimento de propina junto a Ricardo Saud, executivo da JBS. Em conversa gravada pelo delator, Loures afirma que Edgar seria a "alternativa" para a transação, já que "outros caminhos estavam congestionados".

À PF, Edgar negou que seja o homem procurado pela Lava Jato. Ele admitiu que fez uma doação à campanha eleitoral de Loures em 2006 e que tem relacionamento pessoal com o ex-assessor de Temer - a imprensa divulgou troca de mensagens de ambos sobre aulas de ski para crianças -, mas negou que tenha operado financeiramente para políticos ou partidos. 

O relatório destacou, contudo, que Edgar Safdié esteve com Loures na véspera do encontro do peemedebista com Ricardo Saud. "De relevante, apenas, a informação de que esteve reunido com Rodrigo da Rocha Loures no dia 23/04/17, em São Paulo, véspera do nome 'Edgar' ter sido ofertado para operar valores advindos da JBS. Não houve tempo hábil para um maior aprofundamento dessa questão particular", diz trecho do documento.

TRENSALÃO TUCANO

Na reportagem de 2013, Nassif destacou que o pai de Edgar, Edmundo Safdié, mantinha relações com tucanos que iam além de FHC. Edmundo chegou a ser investigado pela Polícia Federal porque o banco Leumi Private Bank da Suiça, antigo Multi Commercial Bank (da família Safdié), mantinha uma conta com o codinome "Marilia", que abastecia o cartel dos trens de São Paulo. Alstom e Siemens depositavam nela a propina do esquema que desviou recursos públicos durante governos do PSDB no Estado.

"Veterano conselheiro de políticos", Edmundo também foi réu por lavagem de dinheiro para o ex-prefeito Celso Pitta, em processo sigiloso.

Segundo informações recebidas pelo GGN, Edgar Safdié é hoje sócio de pelo menos 12 empresas:

        * BUENA ESPERANCA PARTICIPACOES EIRELI

        * OSCAR 585 DESENVOLVIMENTO IMOBILIARIO SPE LTDA.

        * LCP - LATOUR CAPITAL PARTNERS DO BRASIL LTDA.

        * LC1 DESENVOLVIMENTO IMOBILIARIO LTDA

        * LATAM WATER PARTICIPACOES LTDA.

        * LATOUR PROPERTIES PARTICIPACOES LTDA

        * ILA GESTAO E ASSESSORIA HIDRICA LTDA.

        * FLORIDA LATOUR I PARTICIPACOES LTDA

        * LATOUR CAPITAL DO BRASIL LTDA

        * OSCAR FREIRE PARTICIPACOES LTDA.

   * LATOUR SECURITIES - SECURITIZACAO IMOBILIARIA S/A - EM LIQUIDACAO

        * LATOUR REAL ESTATE INVESTIMENTOS LTDA
  
A IDENTIDADE DE EDGAR

A identidade de Edgar foi questionada a Michel Temer na lista de perguntas enviada a ele pela Polícia Federal. Isso porque, na conversa com Saud, Rocha Loures sinalizou que Edgar seria um homem de confiança do presidente e que trabalha a partir de São Paulo. Temer, assim como Loures, nada disse à PF sobre as revelações feitas pela JBS no processo. 

O GGN apontou, no início de junho, que Temer tem outro Edgar entre seus amigos. Trata-se do advogado Edgar Silveira Bueno Filho, que dividiu escritório com Temer nos anos 1990, em São Paulo. 

O advogado é desembargador aposentado do Tribunal Regional Federal de São Paulo e foi presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais) em 1993.

Hoje, ele apresenta-se como especialista em "agências reguladoras e concorrenciais", justamente o assunto que causa dores de cabeça à JBS em órgãos como o Cade - onde Temer deu aval a Joesley Batista para sugerir mudanças, junto a Henrique Meirelles, de acordo com suas conveniências. Leia mais aqui.
  
Arquivos
*     
Do GGN

terça-feira, 13 de junho de 2017

As falcatruas de Aécio em entrevista a Rogério Correia

Rogério Correia, que há 13 anos investiga: Como funcionava e quem blindava a turma de Aécio; sob a Lei Kandir, Minas perdeu R$ 135 bi em arrecadação
Rogério Correia (à esquerda): “Todos sabiam das denúncias contra o Aécio, só que preferiram ignorá-las solenemente e blindar o senador de forma absurda”. No topo, da esquerda para a direita: ministro Gilmar Mendes, juiz Sérgio Moro, PGR Rodrigo Janot. Na coluna à direita, de cima para baixo: ex-PGR Roberto Gurgel, ex-procurador de MG  Alceu José Torres Marques, Danilo de Castro. No pé, Oswaldo Borges da Costa, Oswaldinho, e Danilo de Castro com Antonio Anastasia.

Ao disputar a presidência da República, em 2014, Aécio Neves, queridinho da Globo, Veja, Isto É, Época, Estadão, Folha, recebeu apoio maciço da grande mídia, que prontamente incorporou o slogan dos marqueteiros dele — “o homem preparado para governar o Brasil”.

Neto do doutor Tancredo, bonitão, tucano.

Um perfeito menino do Rio, com “brasão” tatuado no braço.

Um príncipe.

No início da noite de 17 de maio, assim que caiu na rede a reportagem de O Globo, revelando grampos-bomba, ele começou a se transformar:

* Joesley Batista, dono da JBS, havia gravado uma conversa de 30 minutos com o senador e presidente nacional do PSDB, pedindo-lhe R$ 2 milhões.

*O dinheiro vivo, entregue a um primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, foi depositado na conta de empresa do senador Zezé Perrella (PMDB-MG).

Na manhã do dia seguinte, 18 de maio, ao olhar-se no espelho, ele viu um sapo.

O primo Fred e a irmã, Andrea Neves, tinham sido presos em suas casas, na Grande Belo Horizonte.

Andrea é considerada operadora do irmão nas irregularidades investigadas pela Lava Jato. Fred foi o administrador financeiro da campanha de Aécio à presidência.

O seu gabinete no Senado, a casa em Brasília, o apartamento no Rio de Janeiro e o em Belo Horizonte foram alvo de busca apreensão pela Polícia Federal (PF).

O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o afastamento imediato de atividades parlamentares, mandou apreender o passaporte e o proibiu de ter contato com outros investigados.

No final da tarde, menos de 24 horas após a denúncia vir a público, Aécio pediu o afastamento da presidência do PSDB. Em comunicado oficial, disse:

“Me dedicarei diuturnamente a provar a minha inocência e de meus familiares para resgatar a honra e a dignidade que construí ao longo de meus mais de 30 anos de vida dedicada à política e aos mineiros, em especial”.
A cada dia, novas denúncias são divulgadas. Aguarda-se para breve a delação de Oswaldo Borges da Costa, o Oswaldinho, principal operador de Aécio, inclusive na Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig).

O príncipe virou irremediavelmente cururu. Aquele que, quando morre, nem formiga come.

Pesquisa da CUT/Vox Populi divulgada na segunda-feira passada (06/06) sobre intenção de voto para presidência da República em 2018 aponta nessa direção. Aparece com zero por cento de intenção de voto.

“Aécio ludibriou os brasileiros”, disse há alguns dias o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

“Judiciário, Ministério Público, imprensa e mesmo boa parte dos eleitores tinham conhecimento das denúncias envolvendo o senador Aécio”, rebate o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG), em entrevista exclusiva ao Viomundo.

“Eu mesmo entreguei a essas instituições — em alguns casos várias vezes — documentos demonstrando improbidade administrativa, corrupção, truculência contra os que dele discordavam, entre outros crimes do senador Aécio”, atenta Rogério.

“Assim como eu sempre passei amplamente à grande imprensa essas denúncias”, frisa.

“Só que todos preferiram ignorá-las solenemente e blindar Aécio de forma absurda”, põe o dedo na ferida.


Continue lendo, segue a íntegra da entrevista, AQUI.

Vi o Mundo

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Patmos da Lava Jato encontrou indícios importantes de destruição de provas por suposto laranja de Temer

Foto: Lula Marques/PT

No dia 18 de maio, quando deflagrou a operação Patmos, na Lava Jato, a Polícia Federal vasculhou endereços do coronel da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, mais conhecido como Coronel Lima, e encontrou indícios de obstrução de provas que interessam à operação.

Segundo reportagem da Folha, isso bastaria para a força-tarefa fundamentar um pedido de prisão contra o amigo de décadas de Michel Temer. Porém, por "questão de estratégia", a Lava Jato decidiu não ir para cima do Coronel.

Lima é amigo de Temer desde os anos 1980, quando o hoje presidente era secretário de segurança em São Paulo. Na Lava Jato, ele é suspeito de ser o laranja do peemedebista, tendo sido acusado pela JBS de operar o recebimento de R$ 1 milhão em propina que a empresa de Joesley Batista teria destinado à campanha de Temer, em 2014. O total em caixa 2 era de R$ 15 milhões.

De acordo com a Folha, a PF encontrou no apartamento do Coronel "documentos rasgados, com informações sobre a reforma da casa de uma filha do presidente Michel Temer".

"Os rasgos nos papéis, feitos nos sentidos horizontal e vertical da folha, aparentemente com uma régua, sugerem que alguém queria destruir a documentação, na interpretação dos investigadores que participaram da operação de busca."

Lima estava na sala quando as folhas foram encontradas pela PF e teria dado sinais de "irritação e contrariedade" com a descoberta.

"Destruição de provas é considerada um crime grave pela Justiça. É uma das justificativas previstas para a decretação de prisão. A Procuradoria-Geral da República, segundo a Folha apurou, não pediu a prisão de Lima Filho neste primeiro momento por razões estratégicas", ressaltou o jornal.

Além de papéis relacionados à reforma do apartamento da filha de Temer, em São Paulo, a Lava Jato também encontrou, entre outros documentos sob sigilo, alguns que indicam que o presidente teve despesas pagas pelo Coronel.

Quando a imprensa divulgou, na semana passada, que a Argeplan teria participado da reforma da residência da filha de Temer, o Planalto negou a informação mas, depois, voltou atrás e reconheceu que Coronel Lima até fiscalizou a obra entre 2014 e 2015.

Folha lembrou que o amigo de Temer é dono da Argeplan, empresa que, ao lado do grupo finlandês AF Consult e outras empresas brasileiras, contruiu a usina de Angra 3. O valor do negócio é de R$ 162,2 milhões.

No ano passado, a Engevix relatou à Lava Jato ter repassado R$ 1 milhão para a campanha de 2014 de Temer como "retribuição pelo contrato com o grupo finlandês". Mas a força-tarefa rejeitou o pedido de delação "por motivos não declarados".

Temer e Coronel não quiseram comentar a reportagem sobre a obra no imóvel da filha e a eventual destruição de provas, respectivamente.

Do GGN

sábado, 10 de junho de 2017

É Tarde para o MPF arrepender-se da opção política e ideológica de investigar a corrupção, Bob Fernandes

Temer fica na presidência da República, decidiu o TSE nesta sexta-feira, 9. Milhões e milhões lamentam profundamente a decisão. Outros esguicham lágrimas. De crocodilo.

Há 900 e poucos dias o PSDB pediu cassação de Dilma e Temer. “Pra encher o saco do PT”, confessou há meses o autor da ação, Aécio Neves.

Presidente do TSE, Gilmar Mendes agora também confessa: a ação só andou porque ele quis. Quis porque à época os alvos eram Dilma e PT.

Hoje, mesmo diante de uma torrente de provas, o ministro Gilmar não queria mais. Porque se tornou interlocutor, senão conselheiro, do acusado: Temer.

Esse julgamento no TSE escancara como, cada vez mais, o Sistema Judiciário faz  política. Não a política cotidiana, inerente às ações humanas.

Faz política valendo-se do vácuo produzido pela avacalhação e auto-avacalhação de políticos e partidos.

O “Impeachment Tabajara”, certeira definição de Joaquim Barbosa, acelerou drasticamente essa decomposição. E o vale tudo.

O Judiciário se contaminou ao emprestar ares de legalidade formal ao processo de disputa política e ideológica. E o vírus se espalhou.

Dallagnol, um Procurador da República, reproduziu ontem posts no seu Twitter. Com desabafos contra um ministro do Supremo Tribunal, Gilmar Mendes.

Gilmar Mendes, nos posts, é acusado de “comportamento ilegal”, “ética negativa” e “escândalos”.

Gilmar também desabafa. Disse: “Aparentemente” procuradores combinaram com a JBS a versão de propina nas delações.

Durante a sessão final do julgamento, nessa sexta, Gilmar atacou o vice-procurador, Nicolao Dino, e o Ministério Público:

-As instituições têm de se conter, não podem usar poderes do estado como se fossem selvagens…

E bateu ainda mais:

-Suspeito que essa mistura de delatores com o Ministério Público esteja contaminando esse ambiente de maneira negativa, fazendo uma osmose que não condiz com a realidade.

Também nesse mesmo Dia do Juízo Final, Carlos Fernando dos Santos Lima, procurador na Lava Jato, foi ao Facebook e atacou.

Disse o procurador que “Cinismo é a cegueira intencional da maioria dos ministros do TSE em relação à corrupção”.

Carlos Fernando desabafou: “Cinismo é fingir que tudo está superado apenas porque o PT saiu do governo…”

Disse ainda:

-A corrupção é multipartidária e institucionalizada. Ela é a maneira pela qual se faz política no Brasil desde sempre.

As amigas e os amigos sabem o que repetimos aqui ao longo de seis anos:

-A corrupção político-partidária-empresarial é sistêmica. O DNA disso sempre esteve nos computadores e dados das empreiteiras, que não tratavam apenas do assunto Petrobras.

A óbvia escolha, opção de até há pouco, de investigar apenas uma banda do Sistema foi política e ideológica…

…Com fartíssimo vazamento cotidiano, por anos, e consequentes espetáculos e julgamentos via manchetes e Mídias.

Essa temerária opção, político-ideológica, atiçou profundos estigmas e divisões. Produziu resultados econômicos e eleitorais, com graves consequências sociais.

Desabafos e troca de chumbo, agora, são apenas… tardios. E inúteis. Confira também no vídeo:

Tijolaço

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Eduardo Guimarães: JN me cita sem me ouvir me deve direito de resposta

Na noite da última terça-feira, 6 de junho de 2017, o Jornal Nacional voltou a noticiar a investigação que me envolve no âmbito da Lava Jato. Confira, abaixo, reportagem da Globo que volta a me citar como autor de “aviso” ao ex-presidente Lula de operação da PF que o tinha como “alvo”.
 Como se vê, o Jornal Nacional informa que teve novo andamento a investigação da Polícia Federal sobre eu ter avisado o ex-presidente Lula de que seria alvo da 24ª fase da Lava Jato, mas não informa que o processo ficou parado mais de 60 dias por conta de eu ter pedido a suspeição do juiz Sergio Moro para me julgar por ele estar me processando como pessoa física e, assim, não poder ser meu julgador.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Delegado Federal que investigava morte do Ministro Teori Zavascki do STF é assassinado em Florianópolis

Dois delegados da Polícia Federal foram assassinados na madrugada desta quarta-feira, 31, em Florianópolis. Elias Escobar, 60 anos, e Adriano Antônio Soares, 47 anos, estavam em uma casa noturna quando houve um desentendimento e os tiros foram disparados. Uma pessoa ficou ferida no tumulto.

Adriano Antônio Soares era o responsável por investigar as circunstâncias da queda do avião que matou o ministro Teori Zavascki, então relator da operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, e outras quatro pessoas em Paraty (RJ) janeiro deste ano. Soares, que atuava como chefe da Polícia Federal de Angra dos Reis desde 2009, havia sido designado para investigar o caso ainda em janeiro.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Jornalista Eduardo Guimarães: Moro reconhece ser suspeito para me julgar e sai do processo

Moro se declara suspeito para julgar o blogueiro Eduardo Guimarães

O juiz ainda disse que não lembrava que mandou a Polícia Federal investigar Guimarães por questão pessoal quando a Lava Jato pediu quebra de sigilo e condução coercitiva contra o blogueiro

O juiz Sergio Moro aceitou, no último dia 26, um recurso apresentado pela defesa de Eduardo Guimarães e se declarou suspeito para julgar o editor do Blog da Cidadania no âmbito da Lava Jato.

O recurso sustentava que entre Moro e Guimarães existe "inimizade capital e notória" já que, através da Associação Paranaense dos Juízes Federais, Moro acionou a Polícia Federal para investigar Guimarães por suposta ameaça e injúria nas redes sociais. A iniciativa só ocorreu após o jornalista representar no Conselho Nacional de Justiça contra os eventuais abusos do magistrado.

Na decisão em que declarou suspeito, Moro argumentou que simplesmente esqueceu que acionou a PF contra Guimarães por uma questão pessoal quando a Lava Jato pediu quebra de sigilo e condução coercitiva contra o blogueiro. O próprio Eduardo Guimarães escreve sobre o episódio, confira aqui.

O Jornal GGN apontou, em artigo assinado por Luis Nassif, que a ação da Lava Jato autorizada por Moro caracterizam uso de cargo público para vingança pessoal. (Leia mais aqui)

Na decisão em favor do recurso de Guimarães, Moro fez um malabarismo: alegou que não tinha nenhum motivo para se declarar suspeito de julgar o blogueiro na Lava Jato, mas decidiu se afastar do caso para evitar críticas ou dúvidas a respeito da "lisura do processo".

"(...) esclareço que (...) este julgador sequer ser lembrou dos fatos que eram objeto do inquérito policial 503195709.2015.4.04.7000 [ameaças na internet]", disse Moro. "Se tivesse lembrado", acrescentou, "teria se afastado do processo. Não porque exista causa legal para suspeição, mas sim para evitar qualquer questionamento de que este julgador estivesse agindo por motivos pessoais."

"Então, nessa linha, embora não exista causa legal para suspeição, a fim de evitar qualquer dúvida quanto à lisura do realizado e da continuidade do processo, acolho, pelo motivo elencado, a exceção de suspeição."

Moro ainda deu a desculpa de que não foi ele quem acionou a Polícia Federal contra Guimarães por causa de postagens na internet - inclusive de outros internautas - mas sim a Associação Paranaense. Embora isso só tenha ocorrido com a autorização do magistrado, Moro tentou se colocar como um polo passivo nesse processo.

"Então é falsa a alegação do Excipiente de que este julgador teria manifestado a sua vontade para que ele fosse denunciado por ameaça ou injúria. Não é este o texto expresso da petição encaminhada pelo Juízo, na qual se solicita a apuração do fato e que este julgador fosse novamente consultado para avaliar se seria o caso de representação."

"Quanto à aludida representação disciplinar junto ao Conselho Nacional de Justiça, este julgador, salvo equívoco, sequer tomou conhecimento dela, tendo ela provavelmente sido arquivada de plano", disse Moro.

O juiz ainda tentou inferiorizar Guimarães, ao lembrar a discussão em torno da sua caracterização como jornalista - para a Lava Jato, o blogueiro é apenas um comerciante com aspirações políticas - e dizendo que o Blog do Cidadania é "desconhecido".

Guimarães rebateu o juiz afirmando que o Blog é tão desconhecido que a Lava Jato adiou a operação Aletheia contra Lula quando ele divulgou a informação, em meados de março de 2016.

Um ano depois, o blogueiro virou alvo de uma investigação, até aqui conduzida por Moro, que tem como pano de fundo a acusação de obstrução de Justiça. A Lava Jato alega que por causa da divulgação dos dados da Aletheia por Guimarães, a equipe de Lula teve tempo de apagar provas de supostos crimes.

Moro determinou a redistribuição do inquérito contra Guimarães.

A decisão está nesse link aqui.

Do GGN e outros

sexta-feira, 26 de maio de 2017

STF na iminência de rediscutir prisão em segunda instância

A polêmica decisão de que um investigado pode ser preso antes que se esgotem todas as suas chances de recursos na Justiça Brasileira pode voltar à cena das discussões. O Supremo Tribunal Federal (STF) fixou esse entendimento no ano passado, mas ainda não é consenso a todos os ministros.

Um habeas corpus analisado nesta terça-feira (23) trouxe o tema à toma novamente. A Segunda Turma do Supremo, a mesma que analisa os processos da Operação Lava Jato, uma outra interpretação foi aberta no Tribunal.

Ao se manifestar sobre o tema, o ministro Gilmar Mendes disse que o entendimento feito pelo Tribunal no ano passado era de "permitir" a prisão a partir da segunda instância, mas não a tornar obrigatória.

A controversa entre "possibilidade" e "obrigação" pode trazer o tema em nova discussão. O próprio ministro Gilmar Mendes admitiu: "Aproveito, senhores ministros, inclusive para registrar a posição que o ministro Dias Toffoli inclusive já enfatizou e nós também enfatizamos no plenário quando falamos da desnecessidade do trânsito em julgado. Nós admitimos que se permitiria a prisão a partir da decisão de segundo grau. Mas não dissemos que ela fosse obrigatória".

Nesta análise, segundo ele, haveria uma possibilidade de uma alternativa intermediária entre a decisão de acatar a condenação de um réu desde o despacho da segunda instância. Outros ministros, além dele, entendem que a Constituição garante ao investiga o esgotamento dos recursos, antes da pena, seja ela uma prisão ou não.

Nessa linha, Gilmar afirmou: "Hoje já há precedentes de vários colegas. Acho que de do ministro [Dias] Toffoli, também meu, do ministro Celso [de Mello]. Então, a rigor… Mas esse é o entendimento que nós externamos majoritariamente, pelo menos em plenário. Depois, inclusive, o ministro Toffoli fez um avanço que eu estou a meditar se não devo também seguir, no sentido de exigir pelo menos o exaurimento da matéria no STJ".

A tese aventada é de que o próprio Superior Tribunal de Justiça emita um posicionamento sobre a prisão a partir de condenação em segunda instância. "Nós tínhamos aquele debate sobre a defensoria pública que dizia que muda muitos julgamentos ou consegue uniformizar em sede de STJ. De modo que esse é um tema que nós temos que talvez que revisitar", disse Gilmar.

Em entrevista ao JOTA, o ministro esclareceu o seu posicionamento. Disse que ainda há "muita confusão" sobre o assunto e que levantou a revisão porque o Supremo estava "admitindo os recursos de maneira muito alongada". O intuito, lembrou, era de definir melhor sobre os alongamentos dos processos, que chegam a atingir 10 anos em tramitação.

"Mas, o que nós dissemos, que em uma decisão de segunda instância é possível já autorizar a prisão, isso que nós dissemos. Não dissemos que ela se torna obrigatória. e acho que está havendo uma ceta confusão em torno disso".

Entretanto, apesar de o Supremo emitir esse posicionamento, a medida já criou jurisprudência e permitiu que réus condenados ainda pela segunda instância já fossem presos. De acordo com Gilmar, o STF deve debater de forma mais específica as consequências do entendimento tomado no último ano.

"Eu chamei atenção para os absurdos que poderiam estar acontecendo. Nós temos uma população carcerária de quase 700 mil presos, isso excede em mais de 100% as vagas que temos e é preciso que isso seja contemplado. É claro que isso tem que ser feito com devidos ajustes, se for o caso com o próprio STJ, para que ele de a celeridade devida a esses processos", afirmou.

Leia a entrevista na íntegra concedida ao JOTA:

Jornalista: O senhor abordou nesta semana a questão da revisão da prisão em 2ª instância

Gilmar:  Eu acho que tem muita confusão em torno desse assunto. Fui eu até que suscitei inicialmente a revisão desse tema, porque eu acho que nós estávamos admitindo os recursos de maneira muito alongada, tinha aqueles casos de recursos aqui no Supremo que ficaram por dez anos… Então eu propus, vamos fazer uma revisão dessa jurisprudência e nós fomos nesse sentido.

Mas, o que nós dissemos, que em uma decisão de segunda instância é possível já autorizar a prisão, isso que nós dissemos. Não dissemos que ela se torna obrigatória. e acho que está havendo uma ceta confusão em torno disso.

Na revisão que tivemos a oportunidade de fazer eu até recebi os defensores públicos do rio de janeiro, e eles vieram com um argumento, de que no STJ eles colhem bons resultados com recursos especiais, e eles conseguem revisar questão de dosimetria, muitas vezes foi condenado ao regime fechado, consegue ir para o regime semi-aberto. Me parece que isso está ocorrendo. Ministro Toffoli trouxe essa argumentação e nós estamos fazendo essa análise, e eu me balançaria, eventualmente, na oportunidade de se colocar no plenário, de fazer uma revisão…

Jornalista: Quando esse debate deve ocorrer?

Gilmar: Temos que ver a questão… eu quis só pontuar porque estava havendo muita confusão. No meu caso, a pessoa respondia solto porque havia sido concedido HC, relaxamento de prisão, e quando foi sentenciado voltou à prisão. Eu chamei atenção para os absurdos que poderiam estar acontecendo. Nós temos uma população carcerária de quase 700 mil presos, isso excede em mais de 100% as vagas que temos e é preciso que isso seja contemplado.

É claro que isso tem que ser feito com devidos ajustes, se for o caso com o próprio STJ, para que ele de a celeridade devida a esses processos.

Jornalista: Alguns pontos ficaram nebulosos na decisão do STF?

Gilmar: Eu acho que o STF foi claro. Não sei o que está na ementa. O STF foi claro. As posições majoritárias, inclusive a minha, não havia obrigatoriedade da prisão, era possível, porque aí a pessoa recorre mas não precisa estar recorrendo em liberdade, não precisa se recolher à prisão para apelar. Se for necessário esclarecer, a gente esclarecer. O problema é que esta havendo enxurrada de casos, há recursos plausíveis e se decreta desde logo a prisão. Isso  estamos dispostos a rever. Na turma tem o voto do ministro Dias Toffoli, ministro Ricardo Lewandowski, e ministro Celso de Mello até mais radical.

Jornalista: Se isso ocorrer, seria retrocesso ou caso de reduzir para o STJ…

Gilmar: Manteria o mesmo entendimento só que colocaria mais uma instância que examina essas questões. Quem me  impressionou muito foi o grupo da defensoria que mostrou resultados estatístico muito plausíveis e estamos falando de réus pobres.

GGN

domingo, 21 de maio de 2017

Entendendo a lógica e o tempo de poder da lava jato

Foto: Reprodução

Os destinos do país em 2018

Primeiramente, a crise está de volta às ruas. "Fora, Temer!" e "eleições diretas, já!" são as palavras de ordem.

Para aprovar as diretas, é preciso uma proposta de emenda à Constituição. Uma PEC, mesmo que aprovada a jato, cumprindo rigorosamente a Constituição e o regimento das duas casas do Congresso, demandaria de 4 a 6 meses. A PEC do teto de gastos (PEC 55/2016), aprovada a toque de caixa e com forte pressão do governo Temer, então com amplo respaldo congressual, foi votada em 6 meses.

A organização das eleições pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pode ser feita em 70 dias. Esse foi o prazo informado pelo TSE, em 2013, quando se cogitou fazer, às pressas, um plebiscito da reforma política. Mas se essa organização, preventivamente, for feita de forma concomitante à tramitação da PEC das diretas, as eleições poderiam ser realizadas quase imediatamente após a promulgação da emenda. Com sorte e, principalmente, muita pressão popular, teríamos um novo presidente em dezembro de 2017. O eleito governaria por cerca de um ano.

Enquanto isso, o país seria governado por um presidente interino, por 30 dias, e, em seguida, por um presidente com mandato tampão, até dezembro de 2017 ou até que um novo presidente seja eleito, se houver emenda das diretas aprovada. Na prática, a emenda das diretas reduziria o mandato desse presidente tampão. Ele saberia que não tem legitimidade nem tempo para promover grandes reformas, principalmente, sendo escolhido pelos deputados e senadores que passarão para a história por terem elegido Cunha, derrubado Dilma, empossado Temer e sido denunciados na Lava Jato.

Como se sabe, o presidente interino, que governaria por trinta dias, pode ser, conforme a linha de sucessão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e se esse não vier a assumir, o presidente do Senado, Eunício Oliveira. Maia e Eunício estão totalmente metidos em denúncias. Se um dos dois resolver pagar a aposta e assumir, pode ser rapidamente impedido, caso vire réu no Supremo. Para isso acontecer, basta o Procurador-Geral pedir e o ministro Fachin aceitar, ou levar a decisão ao pleno do STF. Fachin tem mostrado que age muito facilmente sob a pressão das ruas e da imprensa - o que for mais forte.

Caso nem Maia nem Eunício assumam, a Presidência da República seria ocupada pela atual presidenta do Supremo, Carmem Lúcia. Quem passaria a comandar o Supremo seria seu vice, Ministro Dias Toffoli, até o retorno de Carmem após a eleição indireta de um novo presidente.

Duas coalizões se digladiam pelo poder. Nenhuma delas é popular

O destino do país e da Presidência da República depende fundamentalmente do povo nas ruas, mas, neste momento, há duas coalizões principais que se digladiam na disputa pelo poder. Nenhuma delas é popular. Nenhuma cogita eleições diretas já.

Uma coalizão é a do grande acordo nacional. Essa é a coalizão comandada por Temer, que assumiu o comando do país com o afastamento de Dilma e que tem como base política o PMDB, o PSDB e o DEM, e como base jurídica o grupo do Supremo conformado por Gilmar e Alexandre de Moraes. Essa coalizão tinha como programa "estancar a sangria" dos políticos e do mercado. Estancar a sangria política seria encerrar a Lava Jato, controlar o Supremo, o Ministério Público e a Polícia Federal. Estancar a sangria econômica seria estabilizar a economia do País e aplicar um programa de reformas que transfira renda dos trabalhadores para as empresas, por meio de duras reformas.

O sonho dessa coalizão seria implantar o parlamentarismo no país. Desmoralizada perante a opinião pública, sobretudo pela presidência de Cunha e Renan, pelas reformas da Previdência e trabalhista e pelas sucessivas denúncias de corrupção, essa coalizão esperava no mínimo preparar o terreno para a eleição de um candidato em 2018 que continuasse esse programa impopular - Alckmin ou Doria.

A outra coalizão é a da Lava Jato, que tem como agenda principal fortalecer o poder do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário sobre os destinos do País. O que quer essa coalizão? O mesmo que os políticos, guardadas as devidas proporções: poder, prestígio e dinheiro. O mote principal desse projeto é o combate à corrupção, mas o interesse fundamental desses grupos é garantir o controle sobre decisões essenciais ao país e a remuneração de suas corporações em níveis que, internacionalmente, não têm paralelo.

Ambas as coisas estão interligadas. Quanto mais poderosas essas corporações se tornam, impulsionadas pela agenda do combate à corrupção, maior a justificativa para que elas sejam muito bem remuneradas e blindadas inclusive quanto a relações promíscuas que estabelecem com o setor privado.

O caso de juízes que vendem sentenças; a prisão de um dos procuradores, descoberto por vender segredos da Lava Jato para a JBS; dos procuradores cujos parentes têm escritórios cuidando de investigados e a situação, quase inimaginável, de procuradores licenciados para advogarem para empresas denunciadas por eles mesmos demonstra o quanto o poder absoluto que o Ministério Público ambiciona abre espaço para práticas espúrias, tão corruptas quanto as que denuncia.

O mercado, comandado pelos bancos e outras grandes corporações, é sócio da maioria dos políticos. Financia suas campanhas e compra suas decisões a peso de ouro. Se alinha facilmente a qualquer grupo no poder que queira fazer política como negócio. O mercado esteve com Temer até que ele começou a falhar em entregar as reformas.

A velha mídia, cuja força hegemônica é das organizações Globo, segue a lógica do mercado, de quem faz parte. A velha mídia é composta por grandes empresas, não tão grandes quanto as que lhe financiam, e vende seus produtos (notícia e entretenimento) com base em sua audiência e na aderência à defesa dos interesses do mercado.

Para entender a lógica e o timing das revelações sobre Temer e Aécio

As revelações contra Temer e Aécio têm como propósito principal fortalecer a posição do Ministério Público e a manutenção de seu Procurador-Geral, Rodrigo Janot, no momento em que era ameaçado nas três frentes - Executivo, Legislativo e Judiciário.

Janot tem até o final deste mês para decidir se concorre ou não a um novo mandato. A votação dos procuradores deve ocorrer ao final de junho. Só faz sentido para Janot entrar na lista se for para ganhar. Para isso, precisa se manter em evidência entre os procuradores e ter força suficiente para intimidar o Congresso e o presidente da República a aceitá-lo goela abaixo.

A fratura exposta de Temer e Aécio veio, coincidentemente - se é que alguém ainda acredita em coincidências -, no dia seguinte em que o presidente revelou que não estava disposto e comprometido a indicar o primeiro da lista de procuradores para ser o chefe do Ministério Público. Ou seja, Temer insinuou que iria rifar Rodrigo Janot.

Também por coincidência, a revelação contra Aécio veio uma semana depois de Janot ter trocado farpas com o ministro Gilmar Mendes. Gilmar é quem manda hoje no Supremo, e não Carmem Lúcia, que se tornou mera figura decorativa e cujo principal papel é produzir gafes e jantares.

Mais do que isso, é público e notório, e é assim entendido no Ministério Público, que Gilmar é quem dá a linha no PSDB sobre como tourear procuradores e as demais instâncias do Judiciário. Se, como dizia Jucá, Temer é Cunha; Gilmar é Aécio. Gilmar é, no STF, a figura central do "grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo", e costurava a estratégia de recolocar o MP sob controle, como nos velhos tempos de Geraldo Brindeiro - conhecido como o engavetador-geral da República.

O PSDB, sócio principal do governo Temer e com um presidente de partido que, por baixo dos panos, costurava ativamente contra o Ministério Público, confiava em Gilmar para servir de anteparo. Esqueceram apenas de combinar o jogo com os russos, no caso, Fachin, que se indispôs com Gilmar e foi criticado por ser um juiz pouco interessado na lei e na Constituição e mais em obedecer ao MP. Fachin acabou de provar que é isso mesmo. Está lá à disposição para cumprir esse papel.

Para entender a Globo

A Globo, como ela própria confessou em editorial, era entusiasta do governo Temer por sua agenda de reformas e também, isso inconfessado, pelas generosas verbas de publicidade que Temer liberou para as mídias decadentes e que tanto precisavam de dinheiro nesse momento de crise.

A reviravolta das revelações contra Temer e a opção editorial da Globo pela renúncia ou impeachment se dá por duas razões claras. Em primeiro lugar, a Lava Jato é hoje a principal notícia do país. A Globo, desde o início, é o veículo preferencial dos vazamentos. Essas notícias rendem grande audiência e verbas que ampliam sua publicidade.

Recusar os vazamentos levaria a Globo a perder sua preciosa fonte. A entrega das informações do MP ao jornal O Globo e à emissora de tevê foi feita na ofensiva de Janot contra Temer e Aécio para derrotar esses dois adversários. Os vazamentos são inseparáveis da estratégia do Procurador-Geral, pois são por ele controlados. Para a Globo, era pegar ou largar. Ela precisava dar sustentação a Janot em sua briga ou perderia a primazia nos vazamentos.

Outro fator essencial é dado pelo mercado financeiro. A situação de Temer frustrou qualquer expectativa de que o governo consiga levar as reformas adiante. Ao contrário, já se considerava que Temer estava enfraquecido no Congresso e demonstrando grandes dificuldades na tramitação da reforma Previdenciária e mesmo em aprovar a reforma trabalhista no Senado.

Temer não interessa mais à Globo porque, no mercado, é considerado incapaz de entregar o que prometeu.

O "gran finale": condenar Lula

Outro propósito essencial das revelações é o de fazer crer que a Lava Jato é baseada em provas, e não em convicções, e que seria isenta e apartidária, atingindo a todos indiscriminadamente, sejam eles o presidente da República ou até mesmo o senador tucano queridinho de delegados da operação - aqueles que lhes fizeram declarações de amor no Facebook - e com quem Moro trocou conversas ao pé do ouvido. Esse propósito é fundamental para o passo seguinte e mais importante da Lava Jato: condenar Lula.

A convivência pacífica costurada por Lula com o mercado, em seus dois mandatos, acabou rompida no governo Dilma, quando Unibanco, Santander, Fiesp, montadoras de automóveis, os conglomerados de comunicação e tantas outras grandes corporações passaram abertamente a atacar o PT, a financiar Cunha e a conspirar pelo impeachment.

A condenação de Lula é líquida e certa desde quando o inquérito foi remetido a Moro. Estamos há um mês para o dia D da Lava Jato, quando ocorrerá a condenação de Lula pela suposta propriedade de um triplex, apenas com base em delações.

Em seguida, o processo seguirá para a segunda instância, dessa vez colegiada, e que selará a pá de cal sobre a candidatura Lula em 2018, tirando do páreo quem é, disparado, o candidato mais popular em todas pesquisas.

A coalizão da Lava Jato já decidiu: Lula precisa ser condenado, e o será. É uma questão de honra e de autoafirmação. A única dúvida é se ele será conduzido a um presídio ou se será determinada a prisão domiciliar e a aplicação de uma tornozeleira eletrônica. Essa segunda opção proporcionaria um ar de ponderação e isenção à Lava Jato, em vista da idade de Lula e de sua condição de ex-presidente.
O relevante para a coalilzão da Lava Jato é desmoralizá-lo e mitigar o risco de transformá-lo em vítima pelo encarceramento, cumprindo o essencial: evitar que ele dispute 2018.

Pós-Lula

Não há hoje uma coalizão democrática e popular devidamente articulada, com lideranças com suficiente protagonismo para conduzir uma solução capaz de ser institucionalizada e tornar o país mais democrático, mais justo e menos corrupto. A Lava Jato também demonstrou que não tem projeto de país e sequer é capaz de combater efetivamente as práticas corruptivas. Mesmo Cunha, preso, conforme reconhecem os procuradores, continuava atuando.

As mobilizações de rua e a articulação de movimentos populares são a única possibilidade de surgir um fermento social capaz de implodir a lógica do atual sistema político, provocar mudanças e romper com os riscos de um país tutelado por uma burocracia judicial que, se não for controlada, pode se tornar um poder autoritário e corrupto que não deixa nada a dever aos atuais partidos dominantes.

Mas as forças populares estão fracas e dispersas. Apesar do retorno das mobilizações e da unificação das lutas em torno das bandeiras do "Fora, Temer!" e "Diretas, Já!", o fato é que não há nem coalizão popular, nem comando e nem projeto devidamente coerente, consistente e articulado.

O país precisaria não só barrar a reforma da Previdência, reverter a reforma trabalhista e a PEC dos gastos. Para rivalizar com a coalizão do "grande acordo nacional", seria preciso um projeto capaz de reformar o atual sistema partidário e eleitoral e reconstruí-lo em novas bases, mais democráticas, mais participativas, de maior controle sobre os eleitos e renovação de seus quadros.

Boa parte das lideranças sociais que despontaram na crise deveria formar uma nova geração de políticos intimamente conectados às suas bases, superando o descolamento atual que se vê nos partidos, e com uma agenda de reformas de controle social sobre a política.

Para rivalizar com a coalizão da Lava Jato, seria importante um programa para fortalecer o Estado, "desmamar" as corporações de seus privilégios e criar instrumentos para blindar o Estado rigorosamente da promiscuidade com o setor privado. Para tanto, é preciso que surja uma maior coordenação com juízes, procuradores e policiais federais que fortaleça, sem mordaça, o propósito democrático e republicano dessas corporações.


Do contrário, o país continuará à mercê de seus predadores, sejam eles políticos, empresários, burocratas ou mídia. Como se vê, o Brasil tem sido vítima da ação perversa desses quatro cavaleiros do apocalipse. Enquanto isso persistir, o poço continuará sem fim.

Do GGN, Antonio Lassance é cientista político. Artigo publicado originalmente na Carta Maior.