segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Os “governantes vitalícios” do Maranhão inspiram a bandidagem, diz Zeca Baleiro


 
Zeca Baleiro

Leio com assombro as notícias que chegam do Maranhão. Imagens e relatos dolorosos e repugnantes despejados em tempo real em sites, jornais e telejornais, escancarando a nossa vergonha e impotência diante de barbaridades que já extrapolam nossas fronteiras e repercutem mundo afora.

Como todos, estou pasmo. Mas nem tanto. Nasci no Maranhão e sei que a barbárie (a todos agora revelada de um modo talvez sem precedentes) já impera há anos na prática de seus governantes vitalícios, que agem como os velhos donos das capitanias hereditárias do passado.

Se o crime organizado neste momento dá as cartas e oprime o povo com ameaças e ações dignas dos mais perigosos terroristas, é porque há uma natural permissão -a impunidade crônica dos oligarcas senhores feudais, que comandam (?) o Estado com mãos de ferro há 47 anos (a minha idade exatamente) e que, ao longo desse tempo, vem cometendo atrocidades sem castigo, com igual maldade, típica dos grandes tiranos e ditadores.

Esses donos do poder maranhense (e nunca dantes a palavra “dono” foi empregada com tanta adequação como aqui e agora) são exemplo e espelho para que criminosos ajam sem nenhum medo da punição.

Pois a miséria extrema que assola o Estado há décadas, o analfabetismo estimulado pela sanha dos coiotes ávidos de votos, a cultura antiga de currais eleitorais, a corrupção mais descarada do mundo e o atentado ao patrimônio histórico de sua bela e triste capital são crimes tão hediondos quanto os cometidos no complexo penitenciário de Pedrinhas.

A diferença crucial é que, enquanto os bandidos que agora aterrorizam (e matam) a população aos olhos assustados da nação estão em presídios infectos e superlotados, os criminosos de colarinho branco (e terninho bege) habitam palácios.

No meio do caos, soa tão patética quanto simbólica a notícia veiculada dias atrás neste jornal sobre abertura de licitação para o abastecimento das residências oficiais da governadora.

A lista de compras é de um rigor e de uma opulência espantosos. Parece coisa da monarquia francesa nos dias que antecederam sua queda.

No presídio de Pedrinhas, cabeças são cortadas. Resta saber se, para além dos muros da prisão, alguém um dia irá para a guilhotina.

Do Blog do Garrone

Os Sarney & Cia descrito pelo famoso blogueiro de O Globo Ricardo Noblat

Em família, por Ricardo Noblat (chamada original)

Roma falou. Ou melhor: Brasília.

A crise da segurança Pública no Maranhão agravou-se desde o mês passado. Finalmente, na última sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff postou sete mensagens consecutivas em seu twitter.

Roseana Sarney

Para dizer que acompanha a crise, que despachou para São Luís seu ministro da Justiça e que providências para controlá-la começaram a ser tomadas. Citou algumas. E voltou a se calar.

Todo cuidado é pouco. Dilma é candidata à reeleição. Há quatro anos, depois do Amazonas, foi o Maranhão, feudo da família Sarney há meio século, o Estado a lhe conferir a maior vantagem de votos sobre Serra (PSDB) – 79% dos válidos no segundo turno.

Primeiro cacique a se incorporar em 2002 à campanha de Lula, José Sarney foi o único a acompanhá-lo no avião que o devolveria a São Paulo oito anos depois.

Lula aprendeu a gostar dele. No passado, em comício no Maranhão, chamou Sarney de “ladrão”. No governo, encantado com seu apoio, batizou-o de “homem incomum” e fez-lhe quase todas as vontades.

A crise da segurança pública que provocou até aqui a decapitação de presos, atentados contra delegacias e a morte de uma criança queimada por bandidos, veio em má hora para os Sarney – e, por tabela, para Dilma.

Há um candidato favorito ao governo do Maranhão e ele é adversário da família – Flávio Dino, advogado, ex-deputado federal, filiado ao PC do B e atual presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur).

No plano nacional, o PC do B está com a candidatura Dilma e não abre. No Maranhão, Dino está com a candidatura a presidente de Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco. E também não abre.

Ali, na mais recente eleição municipal, o PSB apoiou Edivaldo Holanda Junior (PTC) para prefeito de São Luís, e indicou seu vice. Eduardo participou ativamente da campanha de Edivaldo. Que agora é eleitor de Dino.

Em Pernambuco, empurrada por Lula e Eduardo, Dilma teve três quartos dos votos. Agora não terá mais.
Minas Gerais presenteou-a no segundo turno com quase 60% dos votos válidos.

O candidato majoritário de Minas Gerais à vaga de Dilma é o senador Aécio Neves (PSDB). Que espera colher em São Paulo, com a ajuda do governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, uma vitória igual ou maior do que a de Serra em 2010.

A luz amarela está acesa nos bastidores da campanha por ora informal de Dilma. Vê só por que ela aparenta estar alheia ao que acontece no Maranhão?

Alguém viu por aí a ministra dos Direitos Humanos? Ela não deveria ter viajado ao Maranhão? Roseana vetou – e Dilma acatou o veto.

O procurador geral da República deverá pedir intervenção federal no Maranhão. A ministra dos Direitos Humanos empenhou-se para que seus conselheiros não pedissem. Foi bem-sucedida.

Roseana deixará o governo em abril próximo para ser candidata ao Senado.

Somente na semana passada ela quebrou o silêncio e falou sobre a crise.

Foi um desastre. Agrediu o bom senso. Revelou-se despreparada para o exercício do cargo que ocupa pela segunda vez. Traiu a arrogância de quem está acostumada a não dar satisfações ao distinto público.

Cometeu a frase desde já candidata à frase do ano: “Um dos problemas que está piorando a segurança é que o Estado está mais rico”.

O Maranhão tem a pior renda per capita entre os 27 Estados brasileiros. Está em 26º lugar em matéria de Índice de Desenvolvimento Humano. Quase 40% de sua população são pobres.

Ali, manda a família comum de um homem incomum.

 Do Blog do Cutrim

Operação policial no PI prende quadrilha que furtava o almoxarifado do TJ/PI

Operação Depeculatus apura desvio de mercadorias no sistema judiciário.

 James Guerra ao lado do prédio do TJ/PI

A maioria do material que se encontrava no almoxarifado estava sendo levado e revendido.
Material desviado
 
Uma operação intitulada 'Depeculatus' está sendo realizada pela polícia civil do estado do Piauí para apurar e investigar denúncias de desvios de mercadorias no judiciário estadual.

De acordo com informações prestadas pelo delegado geral, James Guerra, ao programa Bom Dia Meio Norte, da TV Meio Norte, a ação ocorria pelo menos há uns três a quatro meses. Segundo ele, a maioria do material que se encontrava no almoxarifado estava sendo levado e revendido.

A operação que foi deflagrada nesta segunda-feira (13/01) já prendeu quatro pessoas acusadas de envolvimento no crime. A quadrilha era liderada segundo o delegado, por um subtenente que estavam desviando boa parte do material que se encontrava no almoxarifado do TJ-PI (Tribunal de Justiça do Piauí).

O delegado afirma que o subtenente tinha informações privilegiadas do TJ, e que por isso era quem comandava. A quadrilha já havia levado uma grande quantia de materiais de importância considerável, entre eles, geladeiras, mesas e cadeiras.

Até o momento quatro prisões foram realizadas, mas ele não descarta novas prisões até o fim dos desdobramentos. 

Com informações da mídia do PI

domingo, 12 de janeiro de 2014

O presidente da OAB nacional busca apoio do coronel Sarney para o STF

Sarney e Marcos Vinícius

Presidente nacional da OAB tem recebido críticas sobre suposta ligação com o ex-presidente Sarney.

O jornalista Elio Gaspari, na coluna País, do jornal O Globo, insinua que o atual presidente da OAB, Marcus Vinícius Coêlho, tem espaço de ação reduzido diante da crise penitenciária no Maranhão. O motivo: ele buscaria o apoio do senador José Sarney (PMDB-AP) para concorrer a uma vaga no Supremo Tribunal Federal.

O presidente nacional da OAB tem recebido críticas sobre suposta ligação com o ex-presidente Sarney. A coluna Painel da Folha de São Paulo acusou o presidente de ter fechado os olhos para a crise e permanecido em silêncio por interesses particulares. Para quem não sabe, Marcus Vinícius, que é maranhense mas fez carreira na área do judiciário piauiense, conseguiu fazer os Sarneys voltarem ao Poder.

Em abril de 2009 o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou a cassação do então governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), e de seu vice, Luís Carlos Porto, e determinou que o governo seja imediatamente assumido pela senadora Roseana Sarney (PMDB), segunda colocada na eleição de 2006. 

Marcus Vinícius foi elogiado por fazer a defesa oral e usar de argumentações suficientes para superar os adversários do clã Sarney. Desde então o atual presidente da OAB nacional carrega esse fardo. Muito embora tal argumentação já fosse esperada pelo comandante de dessa vengona nacional, o relator do preocesso então Ministro Eros Grau. (acrescentou-se).

Com informações de O Globo  e outros

sábado, 11 de janeiro de 2014

Mulheres tentam entrar com celulares e drogas no presídio de Pedrinhas

Uma delas é esposa de um preso condenado por assalto e homicídio.

Mulheres estão no Plantão Central da Vila Embratel.

Duas mulheres foram presas neste sábado (11) ao tentar entrar no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, com celulares, chips e drogas. Na quinta-feira (9) outras duas mulheres foram presas tentando entrar com cartõesde memória, chips e loló. E na quarta-feira (8) uma mulher foi presa tentando entrar com celulares, serras e maconha.

Victoria de Moura Silva, de 18 anos, moradora do bairro Parque Timbiras, em São Luís, estava com cinco chips de aparelho celular e foi presa no Presídio São Luís I. Ela é esposa do preso condenado por assalto e homicídio Marcos Antonio de Carvalho.

Valquiria Silva dos Santos, moradora da Raposa, na região metropolitana de São Luís, tentava entrar com quatro celulares, 10 chips, três carregadores de celular e quatro trouxas de cocaína. Elas foram conduzidas para o Plantão Central da Vila Embratel.

Outras prisões
Samia Bruna Freire de Sousa, de 24 anos, foi presa com um vidro de aproximadamente 500 ml com loló. Segundo a Polícia Militar ela iria levar a droga para o detento Anderson Bruno Santos Lima.Iranjaguer Raimunda Pacheco dos Santos, de 38 anos, foi presa com 12 chips de celulares, 11 cartões de memória de celulares, um adaptador e um par de brincos. Segundo a PM, ela tentava levar este material para o preso Hilton Torres.

Segundo o comandante do Batalhão de Choque da PM, Tenente Coronel Sá, elas foram conduzidas para o 12º Distrito Pedrinhas.

Uma mulher, identificada como Francineide Lavras, de 31 anos, foi presa na tarde dessa quarta-feira (8),  ao tentar entrar no presídio São Luís II com serras, celulares e drogas. O material foi encontrado durante revista a familiares de presos dentro de uma caixa de remédio. Segundo a polícia, a suspeita disse que a pessoa, seu marido, assaltante de banco no interior, estava doente e precisava do medicamento. Na hora, a segurança vistoriou a caixa e encontrou quatro serras, dois celulares e 500 gramas de maconha.

Fonte: G1 MA

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O movimento Acorda Maranhão realiza manifestação nesta sexta em São Luís

Manifestantes

O Movimento ‘Acorda Maranhão’ realiza, nesta sexta-feira (10), manifestação com concentração, às 16h, em frente a Biblioteca Benedito Leite, no Centro de São Luís. Na internet, quase sete mil pessoas já confirmaram presença no protesto.

Em repúdio aos últimos acontecimentos em São Luís, quando ônibus foram incendiados por facções criminosas e delegacias atacadas, gerando grande convulsão social devido o colapso no sistema de segurança do estado, os manifestantes vão às ruas da capital exigir providências enérgicas do governo.

Entre as reivindicações, a renovação da cúpula da Secretaria de Segurança Pública (SSP), que não consegue administrar e nem diminuir a criminalidade; reestruturação imediata do sistema carcerário estadual, pelo fim da superlotação, mistura de presos e insalubridade nos presídios; expansão e reestruturação da Polícia Militar, que hoje convive com o dilema da vontade de trabalhar x falta de estrutura; e intervenção federal (o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve enviar o pedido ao Supremo Tribunal Federal, responsável pela decisão final). A intervenção federal afasta temporariamente a autonomia do estado.

“O evento será um grito de socorro aos recentes ato de violência e brutalidade no estado e a omissão do Governo do Estado, o movimento será apartidário e pacífico“, afirmam os organizadores.

Eles enfatizam que o ato social é apartidário, contínuo e gradativo que acredita na reconstrução sociocultural da sociedade, feito por pessoas dispostas em participar da construção do movimento nas ruas.

No dia 22 de junho de 2013, mais de 20 mil pessoas foram às ruas do centro histórico de São Luís para protestar contra a corrupção e a falta de investimentos na saúde, educação e segurança e outros.

Do Blog do Cutrim

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Secretário do MA foi guarda-costas de Sarney e fez arapongagem no Estado

Aluísio Mendes, secretário de Estado de Segurança Pública do Maranhão, era guarda-costas de Sarney.

 No epicentro da crise de violência no Maranhão, o secretário de Segurança Pública do Estado, Aluísio Guimarães Mendes Filho, resiste no cargo graças à proximidade com o senador José Sarney (PMDB-AP), chefe do poderoso clã e pai da governadora Roseana (também do PMDB). Ele foi segurança de Sarney, comandou a arapongagem no Maranhão e obteve emprego para a filha no Senado.

Ex-agente da Polícia Federal, Aluísio é ligado ao senador desde a década de 90. Em 2003, Sarney o escolheu para ser um dos oito funcionários de confiança remunerados com verba pública a que todo ex-presidente da República tem direito. Nomeou Aluísio para ser seu segurança pessoal. O ato foi publicado no Diário Oficial da União em 23 de abril de 2003.

Hoje ele enfrenta, no comando da Segurança Pública do Estado, aumento de 17,4% da taxa de homicídio de 2011 a 2012 –último dado disponível –, incêndios propositais em ônibus urbanos e uma disputa sangrenta entre duas facções criminosas.

Aluísio fez a segurança pessoal de Sarney até 3 de setembro de 2009, quando sua lealdade foi recompensada e acabou alçado ao cargo de subsecretário de Inteligência do Maranhão. O posto lhe deu o comando do sistema “Guardião” do Estado, capaz de grampear 300 celulares e 48 linhas fixas simultaneamente.

Um ano antes, um grampo havia colocado Aluísio na mira de um inquérito da PF (Polícia Federal). Ele teve conversas telefônicas interceptadas e foi alvo de um pedido de prisão preventiva no âmbito da Operação Faktor (ex-Operação Boi Barrica), negado pela Justiça.

Os policiais e o Ministério Público Federal suspeitaram que Aluísio aproveitara seus contatos na PF para repassar informações sigilosas a Fernando Sarney, filho do senador, que estava sendo investigado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e tráfico de influência.

Por falta de provas, a Justiça determinou o arquivamento do inquérito contra Aluísio. Em abril de 2010, ele assumiu o posto máximo da Segurança Pública maranhense no governo Roseana.

Filha no Senado
O vínculo de benefício mútuo entre Aluísio e os Sarney vai além do campo da pasta da Segurança. Em janeiro de 2007, a filha do ex-agente da PF, Gabriela Aragão Guimarães Mendes, então estudante, ganhou um cargo de confiança no gabinete de Sarney no Senado.

A nomeação foi assinada pelo ex-diretor-geral da Casa, Agaciel Maia, exonerado em 2009 após a imprensa divulgar que ele costumava nomear parentes de senadores para cargos por meio de atos secretos, não publicados no Diário Oficial.

O jornal “O Estado de S. Paulo” divulgou, à época, que Gabriela seria “funcionária fantasma” e não aparecia no trabalho. Sarney negou e disse que a jovem cumpria seu horário “com assiduidade”.

Aluísio também foi chefe de gabinete da presidência do CJF (Conselho da Justiça Federal), órgão supervisor e corregedor das varas e tribunais da Justiça Federal no país, na gestão de Edson Vidigal –ex-assessor jurídico de Sarney na Presidência da República e nomeado por ele ministro do Superior Tribunal de Justiça, em 1988.

Para exercer o cargo, Aluísio obteve licença do posto de segurança pessoal de Sarney de julho de 2004 a outubro de 2005. Vidigal se aposentou em março de 2006.

“Dívida”
O deputado federal Domingos Dutra (SDD-MA), adversário histórico dos Sarney no Maranhão, afirma que Roseana manterá Aluísio no cargo pois o clã “tem uma dívida” com o ex-agente da PF. “Como o Aluísio era da comunidade de informações da Polícia Federal, ele alertou o Fernando [Sarney] sobre vários procedimentos, inclusive no caso da Operação Boi Barrica”, afirma.

Do Uol

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Relatos do CNJ revelam atos violentos e sugerem intervenção em pedrinhas - MA

Documentos que servirão de base para pedido de inédita intervenção federal indicam que situação no Complexo Prisional de Pedrinhas, em São Luís, está sem controle.

Se depender do conteúdo dos dois relatórios de vistoria sobre a barbárie que tomou conta do Complexo de Pedrinhas, o procurador Geral da República, Rodrigo Janot terá motivos suficientes para pedir intervenção federal no sistema penitenciário do Maranhão.

Os documentos produzidos pelos juízes Douglas Martins, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e Alexandre Saliba, do Conselho Nacional do Ministério Público, são contundentes: o governo estadual não tem mais condições de conter a onda de violência e o sistema, fora de controle, virou uma ameaça pra a população. Saliba chega a escrever que a solução para o caos é a intervenção federal.

Gilson Teixeira/ASCOM/SSP
O Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, local onde ocorreram 60 mortes em 2013

Martins ilustra seu relatório com imagens chocantes gravadas no interior da prisão pelos próprios presos: as mais fortes são as fotos de um detento picado em dezenas de pedaços e, para completar o cenário de horror, um vídeo em que os supostos autores das execuções manipulam cabeças de outros quatro detentos decapitados nos episódios ocorridos antes do Natal. O vídeo foi feito pelo celular de um detento e revela uma macabra espetacularização dos assassinatos ocorridos às vésperas do Natal.

Durante a vistoria, os juízes também tiveram acesso a uma cela superlotada, onde estavam abrigados 17 doentes mentais que deveriam estar recolhidos em um manicômio judiciário. O detalhe é que há dez meses, por determinação da Justiça, esses mesmos detentos haviam sido transferidos para o Instituto Nina Rodrigues, de São Luiz, justamente para ficarem longe dos demais presos. Não se sabe por qual razão, foram levados de volta e colocados numa ala de segurança máxima, em frente a unidade em que estão os detentos mais violentos.

O preso cujo corpo foi seccionado é Antônio Rodrigues de Lima Filho. Os pedaços estavam acondicionados num saco de lixo e foram descobertos por um agente penitenciário quando eram jogados pelos próprios presos na caçamba que recolhe o lixo no complexo. Há suspeitas de que outro detento, desaparecido, também tenha sido picado e levado pelo caminhão de lixo.

As mortes, as fugas, os atos de violência extrema - como as decapitações - e a constatação de que a onda de crimes ordenado por presos ganhou as ruas demonstram, conforme os relatórios, a incapacidade do governo estadual em controlar a massa carcerária do Maranhão.

O sistema é dominado por três facções que disputam o poder: Anjos da Morte, Primeiro Comando do Maranhão (PCM) e Bonde dos 40, a mais forte delas, formada por jovens na faixa de 21 anos, responsáveis pela maioria das mortes e atos de violência extrema, como as decapitações. Integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC), a facção que domina as prisões paulistas, têm aliança com o PCM, mas são poucos no sistema maranhense e também são caçados pelos rivais do Bonde dos 40.

Os integrantes do Bonde dos 40 barbarizam os corpos dos inimigos e fazem questão de gravar as imagens para assustar adversários, aterrorizar a população e convencer os detentos mais fracos ou criminosos que estão nas ruas a atenderem as ordens. Entre seus alvos estão detentos originários do interior do Estado.

Agência Brasil
Ônibus incendiado por criminosos na última sexta-feira, em São Luís

Foi de integrantes do Bonde dos 40 que partiu a ordem para a onda de violência que aterroriza a população de São Luiz. A facção tem influência também sobre as áreas pobres da periferia de São Luiz. Sempre que são presos, seus integrantes fazem questão de sinalizar que pertencem a facção, formando com os dedos das mãos o número 40.

A hipótese de intervenção federal no Maranhão, medida que seria inédita no País, é um dos assuntos de Brasília nesse recesso e pode se transformar numa nova zona de atrito entre os poderes. Opedido de vistoria em Pedrinhas foi feito antes do Natal pelo ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF e do CNJ, que se disse preocupado com os rumos da violência no Maranhão.

Barbosa, que saiu de férias, aguarda uma posição do procurador Rodrigo Janot para só então, depois do recesso, encaminhar ao plenário do STF as medidas que devem ser adotadas. Caso a opção seja mesmo a intervenção, o ministro deve definir o formato e nomear um interventor com amplos poderes e recursos necessários para uma ação cirúrgica no sistema penitenciário maranhense. A decisão seria então executada pelo Ministério da Justiça. E abriria precedente para uma ação em outros Estados cujos presídios também são controlados por facções.

Além da perda de controle do sistema, outro argumento favorável a intervenção é o risco de a onda de violência se espalhar para outros Estados. No protocolo do STF há pedidos de intervenção nos sistemas carcerários do Mato Grosso e de Rondônia.

Do IG

O número de homicídio cresce 460% no MA. O Estado falhou, diz secretária

Com informações do Estado de São Paulo – A barbárie nos presídios do Maranhão é o ponto alto de uma crise cujos sintomas já se revelavam nos dados de segurança do Estado. Os homicídios em São Luís e na região metropolitana cresceram 460%. Foram 807 mortes em 2013. Contribuiu para a epidemia de violência o fato de o Maranhão ter a menor relação de policiais por habitante no Brasil: 1 para cada 710 moradores, proporção que em Brasília, a mais alta, é de 1 para 135 pessoas.

O descaso, a falta de vagas e de investimento no sistema penitenciário também já vinham sendo apontados pelas autoridades, como nos mutirões feitos pelo Conselho Nacional de Justiça. As penitenciárias são precárias e superlotadas. Há 1,9 preso por vaga no sistema maranhense, o que coloca as prisões do Estado no 7.º lugar entre as mais lotadas do País.

Familiares ajudam no resgate de detento ferido durante rebelião 

Apesar da superlotação, contudo, o Estado tem 100,6 presos por 100 mil habitantes, a menor proporção do Brasil. “O modelo de segurança no Estado está falido”, diz o advogado Luiz Antonio Pedrosa, da Comissão de Direitos Humanos da OAB do Maranhão. “As facções criminosas se formaram e conseguiram um amplo espaço para avançar em um Estado com problemas sociais dramáticos.”

O problema da violência no Maranhão dentro e fora dos presídios se agravou a partir de 2010, quando foi anunciada pelos presos a criação do Primeiro Comando do Maranhão (PCM) (veja mais na página A10). A facção rival, Bonde dos 40, surgiu logo na sequência. O enfrentamento entre os grupos se acentuou nos meses seguintes, em um ambiente penitenciário sem controle.

Erro. A secretária estadual de Direitos Humanos e Assistência Social, Luiza de Fátima Amorim Oliveira, admite o que o governo errou. “Infelizmente, nós falhamos, houve um erro de gestão nesse sentido”, disse ela, que foi ao enterro ontem da menina Ana Clara de Sousa, de 6 anos, que estava em um ônibus incendiado por criminosos e teve 95% do corpo queimado.

Luiza afirma que a ajuda do governo federal e de outros órgãos é fundamental. “Não tem como resolver sozinho essa situação. É preciso conjugar esforços, para que não aconteça mais”, disse. O governo estadual tenta mostrar que faz a sua parte prendendo suspeitos.

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), Maria do Rosário, disse ontem caber ao governo do Maranhão solucionar a violência dentro e fora dos presídios. Para ela, as medidas de autoridades locais foram “insuficientes para preservar a vida” dos presos, apesar de sucessivos alertas do governo federal, e cabe a elas a “retomada adequada do controle”. Conforme a ministra, a SDH recebeu, desde 2011, relatos de 31 situações graves em Pedrinhas, repassadas ao Estado.

A ministra disse ainda que o governo federal está disponível para ajudar, mas o restabelecimento de uma situação de normalidade é tarefa das autoridades do Estado, comandado pela governadora Roseana Sarney (PMDB). “É uma situação gravíssima, dentro das penitenciárias e fora. Estamos dispostos a contribuir, mas não somos os gestores do sistema.”

Críticas. Nas prisões, parentes de suspeitos de participar dos ataques acusam o Estado de fazer prisões arbitrárias para dar uma resposta à sociedade. A cozinheira Lucicleide Melônio do Nascimento, de 39 anos, afirma que o filho dela, Luís Gustavo, de 18, foi preso injustamente sob suspeita de atirar em uma delegacia. “Ele ia prestar concurso. Agora, apareceu em rede nacional, já foi condenado.”

‘Isso aqui vai explodir’
O Complexo Prisional de Pedrinhas, em São Luís, passou a ser comparado a um açougue. É que a morte por ali virou rotina. Em 2013, foram 60 homicídios. O índice supera o de várias cidades do País, como Diadema, na Grande São Paulo, que registrou 49 mortes em 2012.

A reportagem do Estado foi até lá e conseguiu entrar em uma das oito unidades prisionais do complexo, de onde saem as ordens para queimar ônibus e atacar policiais na capital maranhense.

Na porta das unidades, as mulheres dos presos se aglomeram para saber se seus maridos e filhos continuam vivos. O medo é que virem mais um dos corpos exibidos em carnificinas filmadas com celular pelos presos e repassadas desde o ano passado para boa parte da cidade.

Hoje, o complexo tem 2.196 detentos, 426 a mais do que sua capacidade permite. “Isso aqui vai explodir logo, logo”, diz J., de 40 anos, mulher de um dos detentos. “Ele não é de facção nenhuma, como muitos aí dentro, mas pode morrer a qualquer momento.”

Trabalho
Quem sempre continua, apesar das más condições de trabalho, são os agentes penitenciários. “Somos só 400 no Estado. É muito pouco”, reclama um deles, que diz temer pela segurança. Para ele, os monitores colocados pelo governo do Estado para substituí-los não são capacitados para fazer a função dos agentes. “Você pode colocar um agente para dez presos que ele é respeitado. Esses monitores não são.”

No ano passado, os presos fizeram uma das rebeliões mais violentas da história do complexo. Vários foram decapitados.

“Neste ano já foram dois mortos lá. Se continuar desse jeito, vamos superar o ano passado”, avisa José Maria Ribeiro Jr., presidente da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos.

Do blog do JP