Foto: Fellipe Sampaio - STF
Ao declarar, de forma altissonante, que não se dobra a
pressões, a Ministra Carmen Lúcia encontrou sua melhor tradução. A física diz
que a característica de todo corpo não submetido a pressão é a inércia.
A inércia sempre foi a maneira de Carmen Lúcia agir.
Teve em suas mãos a decisão sobre as “pipelines”, a jogada
dos laboratórios internacionais de renovar patentes já vencidas. Se aceitasse a
tese da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PDFC) e não reconhecesse
as patentes, haveria um amplo impacto sobre o custo dos medicamentos para o
SUS. Como não se submete a pressões, Carmen Lúcia não disse sim, nem não:
engavetou a ação. Engavetando disse SIM aos grandes laboratórios sem precisar
dizer NÃO ao SUS.
Como ninguém, Carmen Lúcia representa o estereótipo mais
negativo do mineiro, sintetizado no brado de Magalhães Pinto ante o golpe de
64: “Minas está onde sempre esteve e daqui não arredará pé”. Do mineiro não
preservou a sagacidade, a compreensão do mundo a partir do seu canto, a
sabedoria das decisões analisadas e a capacidade de dar um boi para não entrar
na briga, e uma boiada para não sair.
Carmen Lúcia é do tipo mais comum de pessoa: a que não se
dobra às pressões dos mais fracos. Da parte de Lula, a pressão maior é
solicitar direitos concedidos a qualquer pessoa. Da parte contrária a Lula, a
pressão maior é expor os pontos fracos da Ministra à opinião pública,
valendo-se dos expedientes conhecidos de taxar qualquer crítica ao arbítrio
como concessão à corrupção. Ou relembrando os macaquinhos guardados no sótão de
Carminha.
Assim, a brava Carmen Lúcia se dobra à pressão do mais forte,
não se dobrando à pressão do mais fraco. Transfornou o recuo em relação ao mais
forte com um grito retumbante de independência em relação ao mais fraco.
É pos-doutorada na técnica da tergiversação.
GGN
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