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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

MANGABEIRA E OS ERROS QUE TIRARAM A PRESIDÊNCIA DE CIRO, POR LUIS NASSIF


As duas entrevistas de Roberto Mangabeira Unger – ao Valor (clique aqui) e à  Folha (clique aqui)– esclarecem de vez as razões objetivas que levaram ao racha das esquerdas e à eleição de Jair Bolsonaro.
Mangabeira confirma o relato de Fernando Haddad, de que foi oferecido a Ciro o papel posteriormente desempenhado pelo próprio Haddad, de ser o vice-presidente na chapa de Lula e assumir a candidatura quando Lula fosse impedido.
Teria sido a fórmula ideal. Ciro seria imediatamente catapultado para a liderança e com sua retórica eficiente teria condições de vencer Bolsonaro no 2º turno.
Ciro esbarrou mais uma vez em seu grande defeito político. É bom para as grandes estratégias e péssimo para as definições táticas, prisioneiro de um temperamento forte, com uma autossuficiência deletéria, não se enquadrando nos limites dos pactos partidários. Quando a estratégia é bem-sucedida, entra em alpha e considera que tem a força. E não consegue identificar os limites políticos para entrar na etapa seguinte.
Sua visão era a de que o período Lula estava definitivamente encerrado e caberia a ele, Ciro, inaugurar o novo tempo, sem depender do lulismo. Como Mangabeira deixa claro, Ciro confundiu posições táticas com estratégicas.
No plano estratégico, era mais que hora do lulismo ceder espaço a uma nova etapa, diluindo o protagonismo excessivo do PT, principal combustível do pacto político mídia-Judiciário, e trabalhando as novas classes que surgiam – e que Mangabeira corretamente identifica como o novo empreendedorismo.
Ora, esse movimento era claro para o próprio Lula. Quando tentou a aproximação com Eduardo Campos, sabia a dificuldade para o PT superar a matriz original e abrir espaço para o novo temp.
No plano tático, no entanto, abrir mão do cacife eleitoral de Lula foi um gesto de arrogância mortal. Não adiantou Haddad alertar Ciro, que estava minimizando não apenas a influência de Lula, mas 70 anos de tradição trabalhista no Brasil. Como pretendia montar uma frente deixando de lado o principal ator político das oposições nas últimas décadas?
Sua visão estratégica foi bem-sucedida. Desenvolveu o discurso mais eficiente de oposição à direita racional, de Geraldo Alckmin, e, depois, à direita insana de Jair Bolsonaro, um discurso denso, com propostas racionais e criativas, e uma retórica de guerra adequada para desmontar a agressividade vazia de Bolsonaro.
Na frente tática, esboroou-se.
Depois que perdeu as eleições, a ira posterior de Ciro contra o PT, foi apenas uma tentativa psicológica de enfrentar a ideia insuportável de que foi ele próprio que jogou fora a presidência por um gesto mal pensado.
Nenhum de seus argumentos se sustenta:
1.    A alegação de que não queria comprometer seu projeto de país com o do PT.
Como bem lembra Mangabeira, uma coisa é aliança tática, visando ganhar as eleições e impedir o mal maior. Outra coisa, o projeto de governo, que é atribuição exclusiva do presidente da República. Ele seria o líder inconteste do projeto.
2.    A alegação de que o PT não era aliado confiável.
Como assim? Alianças se formam em torno de propostas, conceitos e campos de interesse. Havia um amplo campo de interesses comuns para consolidar alianças com os partidos de esquerda, incluindo o PT, assim como um amplo arco de partidos de oposição, de centro-direita, para contrabalançar. Um político habilidoso deitaria e rolaria em um quadro desses. Seria um quadro confuso apenas para políticos com dificuldades para dialogar.
As acusações de que foi esfaqueado pelas costas, com o acordo do PT com o PSB não se sustentam.
Queria o quê? Que depois de esnobado por Ciro Gomes, o PT abrisse mão de alianças estratégicas, para não melindrar o adversário? E porque foi possível uma aliança, conduzida por Lula, que interferiu nas eleições de Pernambuco e Minas Gerais? E por que estados como a Bahia e o Maranhão que, em circunstâncias normais estariam com Ciro, mantiveram-se fiéis ao candidato do PT? Por conta do prestígio político de Lula, que Ciro minimizou.
Esses embates ajudaram a realçar  a posição desprendida de Haddad que, em todos os momentos, colocou os interesses do país acima de seus interesses pessoais: quando apoiou a indicação de Ciro; e, depois, quando encarou o desafio de conduzir uma campanha presidencial perigosa.
A nova etapa da política
Mangabeira tem uma virtude e uma fraqueza nas utopias que desenha para o país.
As virtudes são uma visão de futuro aprofundada, um desenho sintético do que seria uma civilização tropical moderna.
No governo Lula, ele exercitava o papel de espécie de grilo falante, identificando em cada Ministério propostas esquecidas, que se enquadravam nesse desenho, dando-lhe publicidade.
A fraqueza, fruto de seu distanciamento do dia-a-dia do país, é não acompanhar de perto o que ocorreu nesses anos todos. Foi assim quando assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Dilma, incumbindo-se da tal Pátria Educadora, sem noção algum dos avanços e das ideias modernizantes que sacudiam o setor.
Com seu estilo de dar plena liberdade às iniciativas dos seus Ministros, os dois governos Lula foram laboratórios riquíssimos de experiências que poderiam ter marcado a etapa seguinte de desenvolvimento.
Muitas das propostas levantadas, agora, por Mangabeira, já tinham sido iniciadas no governo Lula, inclusive as políticas de fortalecimento das pequenas e microempresas com o MEI (Microempreendedor Individual), os movimentos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e das fundações de amparo à pesquisa em torno das startups. As movimentações iniciais do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) na gestão Carlos Lessa, de fortalecimento de arranjos produtivos locais. E
Dentro dessa linha, o fortalecimento da Apex (Agência de Promoção das Inovações) definindo planejamentos sofisticados para o comércio exterior, e da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), como futuro fórum de discussão de políticas industriais, desenvolvendo diagnósticos e amarrando nas estratégias do BNDES e da Finep.
Toda essa dinâmica, em relação aos novos tempos da economia e das políticas sociais, foi interrompida pelo estilo excessivamente centralizador de Dilma Rousseff, pela nova lógica do BNDES e seus campeões nacionais, e pelo início da crise econômica.
Em 2014, o CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) fez um levantamento precioso das propostas existentes nas universidades, centros de pesquisa e governo para os diversos temas de políticas públicas. Mas o tempo político de Dilma já havia se esgotado.
O grande desafio do PT será alargar os horizontes do partido, e se abrir para as novas ideias, já testadas com sucesso no governo Lula, e para as novas militâncias.
GGN

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

LAVA JATO AJUDOU BOLSONARO, MAS HADDAD "SAIU MAIOR", DIZ KENNEDY ALENCAR

O candidato do PT Fernando Haddad perdeu a eleição, mas "saiu maior" da disputa do que entrou, avaliou o jornalista Kennedy Alencar na noite de domingo (28), quando o professor universitário perdeu a eleição para o deputado de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL), por 55% a 44%. No texto, Kennedy lembrou do papel da Lava Jato no pleito.

HADDAD VENCEU NA MAIORIA DAS CIDADES BRASILEIRAS

Foto: Ricardo Stuckert
Apesar de não ter sido eleito no domingo (28), Fernando Haddad saiu vitorioso na maioria das cidades brasileiras. Segundo informações do UOL, o candidato do PT venceu em 2.810 municípios, contra 2.760 de Jair Bolsonaro. O deputado de extrema direita, do PSL, foi eleito com 57 milhões de votos (55% dos votos válidos), ante 47 milhões de Haddad (44%). 
Em 2014, Dilma Rousseff foi reeleita com 51,6% dos votos. Isso significa que Bolsonaro teve 3,2 milhões de votos a mais que a presidente deposta com o golpe parlamentar de 2016. 
Na eleição de 2018, disparou o número de votos brancos, nulos e abstenções. Na corrida com Dilma contr Aécio Neves, em 2015, esse nicho somava 27,7%. Desta vez, Bolsonaro venceu com brancos, nulos e abstenções somando 30,8%. 
"O total de eleitores que não escolheu candidato neste segundo turno corresponde a 73% de todos os votos em Bolsonaro e 90% dos votos em Haddad", destacou a CartaCapital.
GGN

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

POR QUE VOTAR EM HADDAD?, POR ALDO FORNAZIERI

Muitos brasileiros têm motivos fundados para não votar no candidato do PT. Menos por Fernando Haddad e mais pelo PT. Afinal de contas, o partido, que foi combativo, vigoroso e defensor da ética na política se omitiu em certos pontos. Se é verdade que os dois mandatos do presidente Lula ficarão entre os mais exuberantes e exitosos da história do Brasil, também é verdade que o governo Dilma deixou muito a desejar e, em parte, está na raiz da atual crise. Mas se tudo isto for colocado nos pratos da balança da história é possível perceber que há um saldo mais positivo do que negativo em favor dos governos petistas.
Combate a corrupção
Ademais, na própria questão da corrupção, foi sob os governos petistas que se criaram os mais poderosos instrumentos de combate à mesma, sem os quais o Brasil estaria ainda mergulhado no lodaçal que degrada os governantes e as instituições e desacredita os cidadãos. Foi dada autonomia à Polícia Federal, foi fortalecido o Ministério Público, foi sancionada a Lei da Delação Premiada e foi criada a Controladoria Geral da União. Não bastasse isto, não há nenhuma acusação séria contra a gestão de Haddad pelos quase sete anos à frente do MEC e sua gestão na Prefeitura de São Paulo foi marcada pelo desbaratamento da máfia dos fiscais e pela recuperação de milhões de reais desviados desde os tempos de Maluf.
Defesa da Democracia
Quiseram os caprichos da história e da Fortuna destinar a Haddad a tarefa de enfrentar o maior perigo para o frágil processo de construção da democracia desde o início da redemocratização. Perigo expresso em tudo o que a candidatura de Bolsonaro representa. Assim, todos os eleitores que não gostariam de votar no PT e, mesmo, muitos eleitores que votaram em Bolsonaro, movidos por uma justa raiva e tristeza, estão postos diante de uma terrível encruzilhada: votar em Bolsonaro e levar o Brasil por caminhos escuros e escorregadios que o conduzirão aos abismos do ódio entre irmãos, entre familiares, à violência política e, quiçá, à guerra civil ou votar em Haddad para que se possa divisar uma luz no fim do túnel, para que se possa disputar eleições com um convívio pacífico e para que se inicie um novo processo de construção da democracia, com justiça, liberdade, direitos e igualdade. 
Bolsonaro e a Barbárie
Em política, a palavra, as promessas e as ações dos líderes sacramentam o conteúdo das alianças que eles fazem com o povo, com os eleitores. A campanha de Bolsonaro tem pregado a violência generalizada, tem estimulado o estupro, tem pregado mais pregos nas mãos e nas almas dos negros e negras que carregam uma cruz histórica desde os tempos da escravidão. O candidato votou contra as empregadas domésticas, contra os direitos dos deficientes, contra as demandas dos trabalhadores. As suas votações no Congresso contribuíram para espezinhar os mais fracos, os humildes, aqueles que mais sofrem. Em quase trinta anos de mandato, ele não produziu nenhuma obra contra a corrupção e apenas usufruiu das benesses do poder. 
Bolsonaro se diz patriota. Mas o que é a pátria? A pátria é o povo que vive em um lugar e que tem uma cultura, uma língua, uma identidade. Não se pode ser patriota sem amar o povo, sem defender os seus direitos, a igualdade e a sociedade justa. Não se pode ser patriota e defender os ricos, as injustiças, a opressão e a discriminação. Não se pode ser patriota e semear a violência, a discórdia e a inimizade entre o povo. Ninguém  que é injusto, impiedoso, cruel e desumano é patriota.
Bolsonaro proclama "o Brasil acima de tudo", mas não diz o que isto significa. O Brasil acima de tudo só pode significar o povo acima de tudo, um povo com educação, cultura, saúde, moradia, trabalho, direitos e civilidade. O Brasil estará acima de tudo se suas riquezas forem postas a serviço do bem estar do seu povo, se o meio ambiente for preservado, se o desenvolvimento for sustentável se as gerações presentes deixarem como herança boas condições de vida ambientais e materiais para as gerações futuras. Bolsonaro afirma que defenderá a família. Mas como defenderá a família semeando a violência? Como defenderá a família não defendendo os direitos de igualdade das mulheres, inclusive a igualdade salarial? Como colocar Deus acima de todos e querer a desigualdade e a injustiça entre os seres humanos? Todas as religiões dizem que Deus é justo.
Chamamento a razão
Em nenhum outro momento da história, o povo brasileiro foi chamado a votar com a razão, com a reflexão e com a ponderação como neste momento. O povo terá que escolher entre a destruição e a possibilidade de um novo recomeço da democracia. A ira do povo é justa, não há dúvida sobre isto, pois os governantes tiram muito do povo e devolvem pouco. Mas raiva não pode deixar o povo  surdo e mudo quanto às advertências e os perigos que a escolha de Bolsonaro representam. A ira do povo não pode atrair o mal sobre o próprio povo. É preciso restabelecer o diálogo com o povo irado, mostrar-lhe, sem sectarismo e sem rancor, onde está a verdade, onde está a justiça, onde está a fé, onde estão os remédios para superar este presente triste e onde está a esperança por um futuro melhor.
Mais uma vez, os caprichos da história e da Fortuna quiseram que Haddad representasse esta fé, esta razão e esta esperança porque se há um sentido de justiça e de bem estar nesta disputa, este sentido está em Haddad. Votar em Haddad é perdoar os pecados dos outros, perdoar o PT. Mas o PT também precisa pedir perdão à sociedade. Votar em Haddad é dar uma chance para que o sistema político brasileiro, com seus partidos, se reconstrua em bases éticas, em bases orientadas para a justiça, em bases onde as instituições se tornem mais eficazes na solução dos problemas do povo e do Brasil.
Um povo irado pode querer um líder irado, é compreensível. Mas um capitão descontrolado pode levar o barco a pique em meio à tempestade. Bolsonaro pode ser irado, mas a sua ira não é nem santa e nem justa pelo que prega e pelo que votou no Congresso. A ira santa e justa é aquela que defende os humildes e os humilhados, os oprimidos e os espezinhados pelas injustiças. Não há como ter uma ira santa e justa sem defender e colocar-se ao lado dos pobres, dos negros, das mulheres e dos jovens - essas imensas maiorias que não conseguem se dar um destino porque as condições materiais e espirituais injustas o impedem.
Nesse momento de tormenta da vida política brasileira, o Brasil e o povo precisam de um líder prudente, corajoso, comprometido com a salvação do país. Para que a ira do povo se transforme na espada luminosa a guiá-lo rumo a um futuro melhor, rumo à terra prometida, a ira precisa se transformar em razão, em luz que ilumina as escolhas. A razão clama o voto em Haddad, pois ele é este líder prudente e sensato em meio aos tormentos do sofrimento e do medo.
O proselitismo do mal
Nada de digno, nada de edificante, nada de justo surgirá sobre a montanha de mentiras, da falta de escrúpulos, da falta de moralidade erguida pela campanha de Bolsonaro. Trata-se de uma campanha que está semeando a semente do mal e da violência e disto não poderá frutificar nenhum bem. Todos os limites do aceitável foram rompidos quando se trata de exigir parâmetros mínimos de respeito aos critérios democráticos da disputa. O PT ficou 13 anos no governo e em nenhum momento a democracia foi ameaçada, nenhuma violência foi cometida contra cidadãos. Em contrapartida, bolsonaristas agridem e matam pessoas que declaram voto em Haddad, cravam a ponta de faca a suástica nazista em jovem que discordam deles e picham  igrejas com a mesma suástica. Amanhã agirão para impô-la sobre a bandeira do Brasil.
Não chega a ser estranho que a Justiça Eleitoral e outras autoridades se calem covardemente ante os atentados que vêm sendo cometidos contra as regras democráticas. Autoridades que rasgaram a Constituição não se guiam pelo metro das leis. É vergonhoso que autodenominados democratas se calem e fiquem neutros ante a ameaça que paira sobre o Brasil e seu povo. A neutralidade é uma forma de adesão neste momento. A neutralidade é a face covarde que escolhe essa fúria negativa e obscurantista que erguerá escombros do que resta desta democracia doente. Repudiando essas condutas é preciso ter uma resolução firme e escolher a prudência corajosa representada por Haddad. Não basta escolher, é preciso anunciar a escolha e lutar por ela.
Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).
GGN

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

TSE DERRUBA MAIS FAKE NEWS CONTRA HADDAD

Foto: Divulgação PT
Em duas decisões, o ministro Carlos Horbach, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou que seja retirada da internet postagens com conteúdos falsos sobre o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad.
Em uma das representações, a coligação O Povo Feliz de Novo, de Haddad, solicitou a retirada de 222 conteúdos do ar, espalhados por redes sociais como Twitter e Facebook, alegando que tais publicações seriam inverídicas, difamatórias e injuriantes.
Horbach concedeu a retirada de apenas uma postagem, que para o ministro é manifestamente falsa e potencialmente lesiva à honra de Haddad. Na publicação, o candidato do PT é associado a uma suposta estratégia de disseminação de notícias inverídicas sobre o adversário Jair Bolsonaro (PSL). 
Em relação às demais postagens, Horbach considerou que estariam aptas a continuar no ar por serem uma expressão da opinião do eleitor, reproduções de matérias jornalísticas ou críticas à urna eletrônica.
“Tais conteúdos, por óbvio, não se enquadram entre aqueles cuja remoção é autorizada pela legislação eleitoral, o que faria com que a eventual concessão da liminar pleiteada consubstanciasse inconstitucional ato de censura”, escreveu o ministro.
Em outra decisão anterior, ele determinou a retirada do ar de conteúdo disseminado nas redes sociais pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), filho de Jair Bolsonaro. Nas postagens, feitas no Facebook e no Twitter, o vereador diz que logo depois de uma visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba, Haddad disse ter convidado Lula a subir a rampa do Palácio do Planalto junto com ele para a cerimônia de posse, caso vencesse a eleição. A publicação, no entanto, veicula um vídeo antigo, como se fosse recente, de Haddad fazendo a declaração.
"Ainda que o vídeo seja verdadeiro e contenha declarações reais de Fernando Haddad, sua utilização é descontextualizada, de modo a transmitir ao eleitor informação equivocada, induzindo-o a percepções potencialmente lesivas aos representantes", escreveu o ministro Carlos Horbach, do TSE. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

IBOPE DE HOJE HADDAD VAI A 22% E GANHA NO SEGUNDO TURNO, BOLSONARO EMPACA EM 28%

Pesquisa ainda registrou a vitória de Haddad contra Bolsonaro em um segundo turno, por uma diferença de 6 ponto percentuais. O candidato da extrema direita só empata com Marina Silva, perdendo para todos os presidenciáveis em segundo turno.
A mais recente pesquisa eleitoral aproxima Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência da República, ao até então líder isolado Jair Bolsonaro (PSL). Haddad aparece com 22% das intenções de voto e o presidenciável da extrema direita mantém 28% no IBOPE, divulgado há pouco. 
A pesquisa também mostra que, agora, Haddad ganha de Bolsonaro em um segundo turno, com 43% contra 37%, respectivamente. O candidato do PSL perde de todos os presidenciáveis questionados em segundo turno, empatando apenas com Marina Silva (Rede). 
O candidato do PT apresentou um crescimento de três pontos percentuais, em comparação à pesquisa anterior, feita a menos de uma semana atrás. Já Bolsonaro mantém a liderança com o mesmo nível de expectativa de votos do dia 18 de setembro. 
Os resultados do candidato escolhido por Lula demonstram, também, um isolamento na possibilidade de ir a segundo turno contra Jair Bolsonaro. Isso porque até então empatado com Haddad no IBOPE, o presidenciável Ciro Gomes (PDT) mantém os 11%, sem crescimento. 
Assim, Fernando Haddad agora registra o dobro das intenções de voto que marca Ciro. Já o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin mantém as baixas intenções de voto, com 8%. E Marina Silva, da Rede, cai um ponto percentual para 5%.
Abaixo, os resultados da pesquisa IBOPE: 
Jair Bolsonaro (PSL): 28%
Fernando Haddad (PT): 22%
Ciro Gomes (PDT): 11%
Geraldo Alckmin (PSDB): 8%
Marina Silva (Rede): 5%
João Amoêdo (Novo): 3%
Alvaro Dias (Podemos): 2%
Henrique Meirelles (MDB): 2%
Guilherme Boulos (PSOL): 1%
Cabo Daciolo (Patriota): 0%
Vera Lúcia (PSTU): 0%
João Goulart Filho (PPL): 0%
Eymael (DC): 0%
Branco/nulos: 12%
Não sabe/não respondeu: 6% 
E os questionamentos para o segundo turno: 
Haddad 43% x 37% Bolsonaro (branco/nulo: 15%; não sabe: 4%)
Ciro 46% x 35% Bolsonaro (branco/nulo: 15%; não sabe: 4%)
Alckmin 41% x 36% Bolsonaro (branco/nulo: 20%; não sabe: 4%)
Bolsonaro 39% x 39% Marina (branco/nulo: 19%; não sabe: 4%) 
A pesquisa divulgada hoje ouviu 2.506 eleitores entre este sábado e domingo (23) e apresenta um nível de confiança de 95% da população, com margem de erro de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
GGN

terça-feira, 11 de setembro de 2018

LULA INDICA HADDAD PARA PRESIDENTE E MANU PARA VICE

A Executiva Nacional do PT aprovou, por unanimidade nesta terça-feira (11), o nome do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad como novo candidato do partido a presidente.
A posição da deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) como vice também foi aprovada pelo partido.
Nas redes sociais, petistas já têm usado as expressões “somos todos 13 de Lula” e “Lula é Haddad e Manu 13”. Além dos membros da Executiva do PT, participaram da reunião a ex-presidente Dilma Rousseff, os governadores Fernando Pimentel (MG) e Wellington Dias (PI), entre outros nomes.
Deles, Dilma foi a mais assertiva ao dizer que seria interessante esperar por alguma decisão do Supremo. O partido, porém, tem até as 19h de hoje para formalizar a troca junto ao TSE.
Nova vice, Manuela D’Ávila estava a caminho de Curitiba no começo da tarde. A presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, também se deslocou para a capital paranaense e participou de reuniões de seu partido.
Aliado na coligação, o PCdoB também precisa comunicar ao TSE que haverá uma alteração na chapa. A troca da candidatura precisa ser oficializada junto ao TSE.
A partir disso, Haddad poderá se apresentar no horário eleitoral como candidato a presidente, e não a vice, como vinha fazendo.
Para decidir sobre a nova chapa, a Executiva do PCdoB se reuniu mais cedo em São Paulo. O outro partido da coligação, o Pros, também se reuniu para deliberar a respeito da nova formação.
Os encontros dos partidos são necessários em razão da necessidade de uma ata que precisa ser entregue ao TSE para formalizar a troca. O anúncio oficial será feito na tarde desta terça na Superintendência da PF (Polícia Federal) em Curitiba, onde Lula cumpre sua pena em função do processo do tríplex.
Haddad tem 9% no Datafolha. Ele visitou Lula na prisão na segunda (10) para acertar os detalhes do roteiro do anúncio. Mesmo ungido por Lula, Haddad nunca foi unanimidade entre lideranças do PT e continua desconhecido de boa parte do eleitorado.
Se o ex-prefeito for confirmado hoje como candidato, serão postos à prova o poder de Lula como fator de união do PT e como cabo eleitoral.
Em pesquisa Datafolha divulgada ontem, Haddad teve 9% das intenções de voto, atrás de Jair Bolsonaro (PSL) e empatado tecnicamente com Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB).
No Datafolha de 22 de agosto, último em que seu nome apareceu, Lula tinha 39% e liderava com folga.
No momento, os advogados de Lula e de sua coligação têm três recursos no STF. Em um deles, cujo relator é o ministro Edson Fachin, a defesa de Lula pede a revisão da decisão do magistrado em que negou um recurso anterior, no qual os advogados pediram o afastamento de qualquer impedimento à candidatura do petista.
O recurso tem como argumento um pedido do Comitê de Direitos Humanos da ONU para que o Estado brasileiro, com base em tratados internacionais assinados pelo Brasil, garanta os direitos de Lula como candidato até que o caso do tríplex, pelo qual ele foi condenado em segunda instância, passe por todas as instâncias da Justiça.
Em outro recurso, a coligação formada por PT, PCdoB e Pros busca ao menos ganhar tempo. Os partidos pedem que o prazo de substituição de Lula seja suspenso até que o recurso contra o veto à candidatura do ex-presidente seja analisado no STF, respeitado o limite do dia 17 de setembro — prazo da lei eleitoral para a troca de candidatos.
O pedido está com o ministro Celso de Mello. No último recurso, cujo relator também é Celso de Mello, a coligação contesta a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que barrou a candidatura de Lula com base na Lei da Ficha Limpa no dia 31 de agosto, e pede urgência na análise do caso pelo STF.
Em todos os casos, Fachin e Celso de Mello podem tomar decisões sozinhos, remeter os recursos à Segunda Turma do STF ou mesmo levá-los ao plenário da Corte. No entanto, não há prazo para que eles tomem qualquer decisão.
Em nota, a defesa de Lula na esfera eleitoral diz que ainda aguarda uma decisão do STF e argumentou que não se poderia “admitir que as portas do processo eleitoral sejam fechadas a Lula sem que o STF fale”. “Que o STF dê ao Brasil a chance de escolher seu caminho”, traz a nota da defesa.
 Blog da Cidadannia

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O HOJE E AMANHÃ É O BATIZADO DE HADDAD COMO LULA PARA PRESIDENTE, POR FERNANDO BRITO

Estão começando os movimentos finais da corretíssima estratégia política de Lula, algo milagrosa se considerarmos que está sendo comandada por um homem recolhido a uma cela, com acesso limitado a informações e diálogos e quase que completamente impedido de se manifestar por sua própria voz.
A recusa da Ministra Rosa Weber de que fosse concedido o prazo do dia 17 (que está na lei, esta que parece pouco importar) para a substituição da candidatura da coligação do PT, esta madrugada, dá o mote para que a substituição formal da cabeça de chapa, com a designação de Fernando Haddad como candidato à presidência seja feita com o significado que tem: a saída heroica para enfrentar a conspiração político-econômico-midiática e judicial para calar o povo brasileiro pela exclusão de Lula nas urnas.
Haverá ainda o recurso ao STF, sobre o qual não haverá quase esperanças, mas ainda reforçará o absurdo da cassação do líder, disparado, das preferências do eleitorado, que só terá o condão de reafirmar a perseguição e o martírio a que o submetem.
A fonte da legitimidade da candidatura do ex-prefeito de São Paulo fica assinalada: é representar Lula enquanto o impedem de vir em socorro do povo brasileiro.
Um povo arruinado, triste, embrutecido pela ação de elites que, incapazes de se sustentarem pelo voto ou pelo sucesso de suas fracassadas políticas atirou-se no projeto de manter o poder pela força e pelo arbítrio.
Se ainda fosse preciso argumentar sobre a correção do caminho político apontado por Lula, eu me serviria do que diz Ignácio Godinho Delgado, da Universidade Federal de Juiz de fora e professor visitante da  London School of Economics and Political Science
Se Lula tivesse saído de cena desde o início, com o PT indicando outro candidato ou apoiando Ciro, teria se convertido num banido esquecido em Curitiba, com pouca capacidade de influenciar no processo eleitoral. Ao esticar a corda até o limite, cresceu e, junto, o potencial que tem de transferir votos.
Esticando a corda, Lula tornou ainda mais evidente a injustiça cometida contra ele, o que colaborou para consolidar a intenção de voto em seu nome (e a capacidade de transferir votos para outro candidato), além de evitar um recuo e uma rendição que favoreceriam as forças golpistas e o desmoralizaria junto aos milhões de brasileiros que seguem sua liderança.
A candidatura Haddad, até agora virtual, desce ao mundo real e passa, de verdade, a ser, de fato, a candidatura de Lula, na forma em que o arbítrio, pela via do Judiciário, não pode impedir.
Ou melhor, não parece poder impedir, pois já não há limites para o papel de censores que os juízes assumiram, ao agirem para tutelar o eleitorado.
Tampouco a mídia terá a liberdade de escondê-lo: a Globo, ainda que minimamente, terá de cobrir sua movimentação, ele participará dos debates televisivos e terá a autonomia para falar de Lula – só concedida, até agora, a seus adversários, para criticá-lo – na propaganda eleitoral.
Os que se apavoram com um suposto ritmo lento de transferência dos votos vão se surpreender com a velocidade com que isso se dará, ainda que as pesquisas, provavelmente, não o registrem de imediato.
Hoje e amanhã são os dias do batizado, para lembrar a frase da Inconfidência Mineira. Desta vez, porém, com um Tiradentes que não irá mansamente ao patíbulo.
Do Tijolaço

sábado, 8 de setembro de 2018

XADREZ DA ÚLTIMA CARTADA DA GLOBO, COM BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Cena 1 – o retrato atual das eleições
Há um desenho nítido, com o esperado crescimento de Fernando Haddad e a consolidação da candidatura de Jair Bolsonaro. Desenha-se um segundo turno entre ambos. Haverá um confronto entre o anti-petismo e o anti-bolsonarismo, com boa possibilidade de o fator Bolsonaro garantir a vitória de Fernando Haddad.
Até agora, os personagens-chave do jogo se posicionam assim:
1. Mercado: aproximando-se de ambos e, especialmente de Haddad. A gestão de Haddad no Ministério da Educação e na Prefeitura são o seu principal aval. Em ambos os casos, foi uma gestão eminentemente técnica, fiscalmente responsável, com portas abertas para movimentos sociais e ONGs empresariais e foco claro na defesa das minorias.
2. Classe média: assustada com os arroubos de Bolsonaro, contra mulheres, minorias e a favor da violência, refletindo-se no aumento de suas taxas de rejeição.
Pesquisas recentes indicam que pelo menos 40% dos eleitores de Geraldo Alckmin poderiam votar em Haddad. Gradativamente foi caindo a ficha que nem o horário eleitoral seria suficiente para colocar Alckmin no segundo turno. E o crescimento das taxas de rejeição de Bolsonaro poderiam garantir a vitória de Haddad.
É por aí que se explica o reposicionamento dos principais atores políticos, resolvendo apostar suas fichas em Bolsonaro. E também o vídeo de João Doria Jr com a derradeira traição ao seu padrinho Alckmin: admitindo a ida de Bolsonaro para o segundo turno.
Cena 2 – o pacto Bolsonaro-Globo
Pouco antes do incidente em Juiz de Fora – no qual um alucinado enfiou a faca em Bolsonaro – o candidato deu declarações mencionando um fato novo relevante na eleição. Muitos imaginaram, depois, ser um anúncio do suposto atentado. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas de novo, mesmo, foi o pacto firmado com a Globo. Bolsonaro teve uma reunião com os herdeiros de Roberto Marinho onde, aparentemente, foi selado o pacto para o segundo turno.
As três entrevistas da Globonews, com Katia Abreu, vice de Ciro Gomes, Fernando Haddad e o general Hamilton Mourão, foram a prova definitiva do acordo.
Com Haddad, pressão total, com os entrevistadores fazendo questão, em todos os momentos, de enquadrá-lo no estereótipo do petista clássico, justamente para enfraquece-lo junto ao centro, que o vê como administrador racional e inclinado a pactos de governabilidade. É só anotar a quantidade de vezes, na sabatina da Globonews, em que foi invocado o adjetivo “petismo”, para cravar o estereótipo na testa de Haddad,  ou a maneira como se tentava mudar de tema cada vez que Haddad demonstrava seu estilo de gestão responsável. Como na inacreditável cena em que ele mostra que a Prefeitura de São Paulo recebeu o grau de investimento das agências de risco, e Mirian Leitão tenta mudar de assunto alegando que se estava discutindo “política econômica”. Grau de investimento é o Santo Graal do mercado.
No caso de Katia Abreu, Mirian recorreu ao padrão tatibitate de seu colega Luis Roberto Barroso, dividindo os agricultores entre os “do bem” – que respeitam o meio ambiente – e os “do mal”, representados por Katia Abreu. Nos dois episódios, levou invertida, mas revelou a nova estratégia da Globo.
Ontem, pelo contrário, os entrevistadores implacáveis montaram um convescote, levantando sucessivamente a bola para que o general pudesse mostrar a face racional e humana do bolsonarismo.
Cena 3 – a reconstrução da imagem de Bolsonaro
A entrevista e o suposto atentado a Bolsonaro deixaram evidentes a estratégia de reconstrução da imagem do candidato, com vistas ao segundo turno. Será apresentado como o impulsivo boa-gente, cujas declarações mais chocantes são apenas um reflexo da informalidade. E, por trás dele, haverá duas forças racionalizadoras: na parte econômica, Paulo Guedes, na parte institucional as Forças Armadas, tendo como representante oficial o general Mourão que, no final da entrevista à Globonews, se declarou um telespectador e seguidor fiel das lições diárias da emissora.
A facada em Bolsonaro caiu como uma luva nessa estratégia. As próprias declarações do candidato – “nunca fiz mal a ninguém” – demonstram essa estratégia de vitimização, apresentando-o apenas como um boquirroto do bem.
Alguns fatos chamam atenção:
1. Quatro advogados imediatamente assumiram a defesa do agressor. É evidente a intenção de criar uma blindagem. Quem os banca?
2. A investigação ficará a cargo da Polícia Federal de Minas Gerais, a mais partidarizada, depois do Paraná. É a mesma PF que alimentou durante um ano a imprensa com denúncias contra o governador Fernando Pimentel, tomando por base apenas uma delação permanentemente requentada. Como dois e dois são quatro, nos próximos dias serão levantadas supostas ligações do acusado com organizações de esquerda.
3. O Facebook do agressor, com postagens recentes contra Bolsonaro. E sua insistência em explicar a agressão pelo seu perfil no Facebook. É como se as postagens tivessem sido colocadas apenas como álibi para o ataque.
4. As declarações iniciais do filho de Bolsonaro, de que os ferimentos foram superficiais, porque o pai estava protegido por coletes.
Por enquanto, são apenas indícios, mas que merecem ser aprofundados.
Cena 4 – o que seria um governo Bolsonaro
Não é preciso nenhum talento especial para imaginar o que seria um futuro governo Bolsonaro.
Nele, haveria a reconstrução do pacto de 1964 – Forças Armadas, sistema Globo, arrastando consigo o Partido do Judiciário e Partido do Ministério Público-Lava Jato. O fator de união será o combate ao inimigo-comum. O país será cada mais dividido entre o Tico “do bem” e o Teco “do mal”, como Luis Roberto “só faço o bem” Barroso, e a Globonews “só defendo o bem contra o mal”.
Ao primeiro sinal de impasse com o Congresso, a estratégia óbvia já está montada. A Globo criará midiaticamente o clima de caos, como fez em vários momentos com Brizola – superestimando arrastões de praia – ou na própria campanha do impeachment. E esse clima servirá de álibi para a presidência invocar a Lei de Segurança Nacional e convocar as Forças Armadas. Quem os enfrentaria? O Supremo Tribunal Federal? A Procuradora Geral da República? O Congresso?
Chegou-se a esse estágio de barbárie justamente devido à falta de coragem dos poderes em relação a um movimento ainda com face indeterminada. São esses valentes que enfrentarão o poder armado?
É sintomático a descrição do G1 sobre o momento mais tenso da entrevista, quando Mourão trata o coronel Brilhante Ustra como herói militar:
"Meus heróis não morreram de overdose, e Carlos Alberto Brilhante Ustra foi meu comandante quando era tenente em São Leopoldo. Um homem de coragem, um homem de determinação e que me ensinou muita coisa. Tem gente que gosta de Carlos Marighella, um assassino, terrorista. Houve uma guerra [no regime militar]. Excessos foram cometidos? Excessos foram cometidos. Heróis matam". Diante da resposta, houve silêncio dos jornalistas”.
A partir dali, submissão total ao entrevistado, mesmo estando na banca um ex-guerrilheiro, Fernando Gabeira, e uma ex-torturada, Mirian Leitão. Nem a menção a Ustra alterou os olhares apaixonados de Gabeira às declarações de Mourão, e as declarações amistosas de Mourão em direção a Gabeira.
Dentro da “legalidade”, haverá liberdade total de retaliação dos procuradores ligados ao MBL e da Polícia Federal contra os recalcitrantes, incluindo até colegas – fenômeno que já ocorre hoje em dia, em todos os níveis, ante o silêncio dos grupos de mídia.
Se terá o ápice da ditadura legalizada, com os jovens turcos tendo o respaldo oficial das Forças Armadas. Fora da “legalidade”, a participação ativa de grupos paramilitares, estimulados pela caça aos inimigos.
Cena 5 – civilização x barbárie
Para combater a radicalização, a estratégia de Haddad deverá ser em duas frentes. Externamente, a de continuar propondo o diálogo, de se mostrar a alternativa civilizatória contra a barbárie e, cada vez mais, disputar o centro racional. Internamente, isolar os provocadores.
É tradição dos grupos de direita recorrer aos agentes infiltrados - utilizado não apenas em 1964, mas nas manifestações contra a globalização em Seattle. Os Cabos Anselmos visam não apenas construir álibis para a repressão, mas, ao mesmo tempo, atrapalhar as tentativas de criação de consenso contra a radicalização.
Será uma batalha épica em que estará em jogo o futuro do país. Esse será o maior estímulo à resistência democrática até 7 de outubro, quando ocorrem as eleições do primeiro turno, e 28 de outubro, quando se vota no segundo turno.
GGN

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

O REGIME DE EXCEÇÃO DEU RAZÃO A LULA, POR GUILHERME SCALZILLI

O Regime Judicial de Exceção vem fazendo de tudo para impedir a vitória do PT na disputa presidencial. Sistemático e articulado, esse esforço atua em confronto direto com os interesses de Lula. Desde as penas aumentadas no TRF-4 até a proibição de visitas ao cárcere, passando pelas manobras do STF, não há um gesto das cortes que fuja ao roteiro.
Correndo para anular de vez a candidatura de Lula, o TSE seguiu a intuição de ser este o caminho que mais prejudicava o petista. A rapidez do julgamento não era inevitável, nem se baseava em jurisprudências ou normas. Tampouco no respeito a prerrogativas processuais, já que não houve tempo hábil para que as alegações da defesa fossem analisadas.
Em suma, os membros do TSE não adotariam a celeridade ritual caso suspeitassem que ela beneficiava Lula e o PT. Não depois do Regime apressar a condenação na segunda instância e atrasar o julgamento dos últimos recursos. Não depois de mantida sua prisão política e inconstitucional por um “crime indeterminado”.
O próprio antipetismo justiceiro admite, portanto, a eficácia dos planos petistas de levar o impasse até o limite do prazo legal. E, numa coincidência divertida, fez o que muita gente pedia ao PT, em nome do combate ao fantasma reacionário. Mas como entender essa harmonia de aspirações supostamente antagônicas?
A tática dos impugnadores togados é coerente. Evita que a polêmica da candidatura se aproxime da etapa em que a maioria dos eleitores decide seu voto. Dá justificativa para os institutos omitirem Lula nas pesquisas, fornecendo à direita vestida de centro (Marina Silva e Geraldo Alckmin) o apelo do voto útil. E esvazia logo a aura resistente que blindava a campanha petista e garantia visibilidade ao líder preso.
Também faz sentido a afoiteza dos círculos não-petistas. Querem tirar Lula do núcleo simbólico que dá coesão ao antifascismo, dispersando os eleitores do favorito para que seu partido não protagonize o polo democrático no segundo turno. A negação da centralidade do lulismo desagrega o campo progressista visando reconfigurá-lo. Cálculo pragmático sim, mas de um pragmatismo que não antagoniza apenas com a ameaça ultraconservadora.
Repito ser ociosa uma discussão estratégica sobre a insistência petista. O problema ultrapassa tanto a esfera eleitoral quanto a jurídica. Lula é apoiado por dezenas de milhões de brasileiros. Líderes políticos, religiosos e acadêmicos do mundo todo o endossam. Jamais existiu alguém de tamanha relevância que desse legitimidade voluntária a seus algozes.
Na falta de base técnica para adivinhações de qualquer tipo, soa mais racional explorar uma imagem que aglutina 40% dos eleitores. E parece indiscutível que o crescimento dessa popularidade está em sintonia com a postura combativa do PT. Ademais, sua propaganda sofrerá censura de qualquer modo, e talvez coisa pior, independentemente da chapa registrada.
As circunstâncias reduzem as margens de manobra do lulismo, que terminará seguindo as imposições do TSE. Mas o Regime ainda não terá vencido. E sua insatisfação servirá de excelente sintoma dos acertos do PT. Resta saber como reagirão os organizadores da fraude se os eleitores também decidirem contrariá-los. 
GGN

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O JUDICIÁRIO QUER ATROPELAR A CANDIDATURA LULA, DIZ EUGÊNIO ARAGÃO

“O que aconteceu é que fomos atropelados pelo TRF4 com a confirmação da condenação a toque de caixa, e evidentemente o tempo político não é o tempo jurídico", diz ex-ministro.
“Fomos atropelados pelo Tribunal Regional Federal com a confirmação da condenação a toque de caixa"
Em entrevista coletiva no final da manhã desta quarta-feira (5), em Brasília, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, coordenador jurídico das questões relacionadas à campanha, reafirmou que o candidato do PT e da coligação Povo Feliz de Novo à presidência da República continua sendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, ele destacou também que a campanha está ciente de que o próximo dia 11, terça-feira, é o prazo que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estabeleceu para haver uma mudança do registro com uma nova candidatura (provavelmente Fernando Haddad).
A outra possibilidade, lembrou, é que até essa data a coligação tenha obtido o provimento de uma liminar para estender a campanha de Lula. "O partido está ciente da situação, mas existem recursos pendentes e isso tem que ser aguardado. Existe um cenário A ou B, não tenho expectativa de um ou outro, tenho que contar com os dois."
Por enquanto, Lula é candidato, escolhido pela base e eleitorado, "muito antes do julgamento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4)”, disse. “O que aconteceu é que fomos atropelados pelo Tribunal com a confirmação da condenação a toque de caixa, e evidentemente o tempo político não é o tempo jurídico, muito menos quando o tempo jurídico é forçado no seu passo.” O TRF-4 confirmou a condenação imposta a Lula pelo juiz Sérgio Moro em janeiro.
Segundo Aragão, não há condições políticas de avançar “do jeito que o tempo jurídico queria em Porto Alegre (sede do TRF-4) porque a candidatura do (ex-) presidente Lula estava posta e quem tentou atropelá-la foi o Tribunal, e não a candidatura que tentou atropelar o Judiciário”.
O PT entrou com recurso, com pedido de liminar, no Supremo Tribunal Federal, para que se cumpra a decisão do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas pelos direitos políticos de Lula. O partido também protocolou junto ao comitê da ONU uma petição para “assegurar que o Brasil cumpra a liminar do órgão, contra qualquer restrição aos direitos políticos do ex-presidente”, segundo nota dos advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins.
De acordo com Aragão, a campanha “é inusitada em função do limbo em que a gente se encontra desde sábado de madrugada, até que seja definida a situação do registro definitivamente ou definida eventualmente a troca (de candidato). Até lá estamos num limbo jurídico”.
Questionado sobre qual será o candidato, Aragão explicou que está sendo levado em conta o eleitorado cativo do PT e da coligação, cuja expectativa é muito grande em relação à candidatura de Lula. "Existe um tempo de trabalhar junto ao eleitorado."
Afirmou ainda que a campanha está ciente da situação indefinida e tem mantido diálogo com o TSE, procurando ajustar a conduta na propaganda eleitoral para que se chegue a um acordo que esclareça o que é ou não permitido até dia 11.
Segundo ele, a antecipação do julgamento do registro de Lula e a decisão do tribunal, tarde da noite da sexta-feira (31), inviabilizaram a mudança da propaganda eleitoral de acordo com os parâmetros da decisão. Houve problemas com as mídias entregues anteriormente.
Logo após a decisão, a campanha trabalhou em novas mídias, que ficaram prontas entre 4h e 5h, mas só foram recebidas pelo TSE às 10h. A maioria das emissoras transmitiu as mídias antigas. As representações de que a campanha é objeto são decorrentes dessas mídias, disse.
RBA

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

UMA ESTRATÉGIA DE EXCEÇÃO PARA UM ESTADO DE EXCEÇÃO, POR WILLIAM NOZAKI

O maior partido de esquerda da América Latina, o PT, entra hoje oficialmente em "modo desobediência civil".
A inscrição de um candidato preso injustamente, Lula, mantém o partido em alinhamento com a ampla maioria do eleitorado e em compromisso com a ampla maioria da base do povo brasileiro. Em meio à maré revolta, o navio petista singrará as águas eleitorais orientado pela bússula da defesa da democracia, do desenvolvimento e da maior liderança popular da história do Brasil, mirando ousadamente as brechas do golpe para tentar conquistar presença eleitoral, uma vaga no segundo turno e a vitória na corrida presidencial.
A estratégia correta vem acompanhada de uma tática tão inédita quanto arriscada, uma saída excepcional para tempos e estados de exceção, que põe o partido a enfrentar: o desconforto de progressistas aliados mas concorrentes; as instabilidades impostas pelo judiciário, no TSE, no STJ e no STF; as incertezas sobre a participação nos debates e na propaganda eleitoral; a complexidade de uma eventual operação de transferência de votos e a engenharia de administração do tempo em que todo esse processo deve ocorrer, de modo a minimizar novos e maiores sobressaltos. 
Para o PT, qualquer outra saída que não passe pela manutenção persistente da candidatura Lula não é exequível, seria praticar uma espécie de "impugnação preventiva", antecipando um trabalho sujo que, se for feito, cabe ao Judiciário e não ao partido; além disso, seria uma deslealdade anti-ética e irresponsável com a inocência e a proteção de Lula, patrimônio do PT e do país; mais ainda: se trataria de sequestrar da maioria do eleitorado e dos militantes a possibilidade de explicitar seu desejo nas urnas, o que seria um suicídio político e eleitoral para o partido, e para o conjunto da esquerda.
Menos certezas existem sobre como devem proceder, nesse período, os porta-vozes mandatados diretamente por Lula para vocalizar suas propostas e ideias, com especial atenção para o desafio, disciplinadamente, assumido por Fernando Haddad nessa conjuntura. São muitos os que opinam sobre a situação, menor é o número dos que se dispõe a enfrentá-lá, por fortuna ou virtú coube ao ex-prefeito essa missão. Nesse sentido, informa o boa regra do realismo político, a partir de agora o melhor nome de porta-voz passa a ser o que temos e não o que imaginávamos que poderíamos ter.
De Haddad se espera que cada ideia enunciada venha antecedida da denúncia e da lembrança de que quem deveria estar ali é Lula; cada proposta apresentada deve ser precedida da denúncia do golpe em curso e do estado de exceção que se instalou no país; cada argumento mobilizado deve ter como pressuposto a certeza de que uma disputa de poder dessa magnitude não será enfrentada devidamente apenas com tecnocratas e tecnologias sociais de políticas públicas; deve ter como premissa a certeza de que manter coesa as bases do petismo e do lulismo é mais importante do que diálogos evasivos com a alta elite e a alta classe média; Haddad deve exercitar o desprendimento de sua visão republicana liberal para incorporar em sua fala um projeto democrático, nacional e popular bem mais amplo e complexo do que a visão de Estado cultivada na USP, a noção de mercado glorificada no INSPER ou a leitura de sociedade presente na elite e na intelectualidade paulista.
Da militância se espera a resistência e o empenho na travessia dessa maré. Temos um projeto, uma estratégia e o povo do nosso lado, não nos cabe esmorecer no cansaço ou no desencanto. Empenhados que estavam em proteger seus interesses pessoais, o condomínio golpista perdeu força, eles subestimaram a capacidade de o PT levar adiante sua "guerra híbrida", sendo pragmático nas alianças locais e ousado na manutenção de uma candidatura nacional, segundo eles, "fora-da-lei". O derrotismo, portanto, não se justifica, o golpe deixou frestas e pode sofrer uma derrota real no processo eleitoral e nas urnas.
Tal constatação, entretanto, não deve justificar diagnósticos simplistas, o gêmeo siamês do fatalismo é a ingenuidade, a vitória na batalha das urnas não é sinônimo, imediatamente, de vitória na guerra contra o golpe. As forças no poder tentarão inviabiabilizar, nessa ordem, Lula, Haddad, o PT, a chapa, e, eventualmente, uma posse ou um governo. Temos que estar estrategicamente preparados desde já para pelo menos três possíveis situações: ser retirados das eleições e deixar espaço para a extrema-direita bolsonarista, ter permissão de participar das eleições e enfrentar a direita tucana, e vencer as eleições com a obrigação de criarmos outro tipo de relação com o Poder e com o Estado, com menos "conciliação republicana" e mais enfrentamento democrático.
A mera participação do PT retira as eleições da extrema-direita e a recoloca na centro-direita, pois muda, indiretamente, a correlação de forças entre Bolsonaro e Alckmin. Se esse cenário será devidamente aproveitado depende não só do PT, mas de o PSDB alavancar Alckmin e de o mercado não cometer a irresponsabilidade de encampar em bloco a candidatura Bolsonaro, daí o risco assumido pelo PT, ou leva a esquerda para o segundo turno ou será acusado de ter sido negligente com a onda fascistóide que assombra o país. O partido, portanto, está indo à raiz do problema, colocando seu próprio pescoço à prova, em uma postura radical, como é da natureza da desobediência civil contra o estado de exceção.
Como Dilma, entre 15 de agosto e 17 de setembro lembremos de Maiakóvski: "Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las. Rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas."
William Nozaki - Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Possui graduação em Ciências Sociais pela USP e mestrado em Economia pela UNICAMP onde realiza o doutorado em Desenvolvimento Econômico. Atua nas áreas de economia política e brasileira pesquisando temas como crescimento econômico, concentração de riqueza e distribuição de renda.
GGN

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

XADREZ DA DITADURA DAS CORPORAÇÕES PÚBLICAS, POR LUIS NASSIF

Movimento 1 – o golpe
No começo, a elite civil prepara o campo para a desestabilização do sistema elegendo a figura do inimigo, o PT. Há o primeiro teste no mensalão. Depois, entra-se no jogo decisivo, adiado pelo bom momento da economia.
Quando a situação econômica piora, Judiciário e Ministério Público definem a melhor estratégia para tornar a Lava Jato uma operação irreversível. Consiste em investir sobre a linha de menor resistência, mirar um alvo que garanta a montagem de alianças com as estruturas de poder.
São varridos para baixo do tapete os indícios contra próceres tucanos, mercado financeiro, mídia e Ministros de tribunais superiores. O foco se concentra em Lula, no PT, em alguns peemedebistas mais notórios e no arco de alianças desenhado pelo projeto PT de poder, que tinha nas empreiteiras os maiores parceiros.
Movimento 2 – a falta de elite e de projetos
Monta-se uma verdadeira legião estrangeira em favor do golpe. Participam dela tropas das corporações públicas, do Judiciário, bilionários que saem às ruas como cidadãos comuns, cidadãos comuns que saem às ruas como linchadores habituais, e linchadores que saem às ruas armados de suas prerrogativas de magistrados e procuradores amparados por manchetes escandalosas. A bandeira única que os une é a eliminação definitiva dos inimigos.
A elite civil participa da conspiração, mas não assume a liderança, não conduz, é conduzida. Contenta-se com sua parte no butim, colocando na área econômica um gtupo de xiitas sem noção, disposto a mudar a realidade com a força da fé.
Conquistado o poder, o que fazer? Parte-se para o desmonte do modelo anterior sem nenhum projeto alternativo de país. Em vez de aprimoramentos necessários, liquida-se com a legislação trabalhista. Em vez de gestão fiscal responsável, monta-se o monstrengo inviável da Lei do Teto. Tenta-se a fórceps uma reforma da Previdência cuja conta recai inteiramente sobre os empregados do setor privado. Sufoca-se a economia com uma política fiscal irresponsável porque a guerra contra o inimigo não permite questionamentos intra-tropa e a fé não costuma falhar.
Mas e a ideia mobilizadora, e a voz de comando capaz de aglutinar a legião dos vencedores em torno de programas políticos viáveis, impondo um mínimo de ordem na bagunça? Nada. Porque a elite nacional é apenas um mito, desde os tempos mercantilistas aos anos da financeirização.
Movimento 3 – a Ditadura das corporações
Sem um general comandante, derrubada a cidadela adversária as tropas assumem o comando.
Sobre os escombros da economia, TCU, AGU, MPU, e todos os Us de Brasilia, negociam entre si a divisão do butim, quem pode punir, quem pode conceder, quem pode perdoar, quem negocia a delação, quem garante o acordo de leniência.
O Brasil improdutivo assume o controle do Brasil real, e tropas sem oficiais tomam as rédeas nos dentes enquanto um empresariado invertebrado, sem noção de projeto, paga a conta junto com seus trabalhadores.
O melhor exemplo desse comando difuso, aliás, é o Ministro Luís Roberto Barroso, do STF. Aliado do golpe, Barroso preencheu o universo midiático com chavões sobre o empreendedorismo, sobre um Estado menor. Em nome desse sonho neliberal, avalizou a Lei do Teto, com todas as implicações sobre as políticas sociais e os direitos básicos do cidadão. Não se gasta mais do que no ano anterior corrigido pela inflação.
Na hora de discutir o reajuste dos proventos de Ministros do STF, não vacilou: votou a favor dos 16% de reajuste, mesmo sabendo do impacto sobre toda a cadeia de benefícios do serviço público. O que significa? Que as figuras públicas que, tal como as birutas de aeroporto, seguem o caminho dos ventos, estão identificando um vento mais favorável aos seus projetos pessoais: em vez do mercado, o Partido do Judiciário.
Movimento 4 – histórias de promotores
E aí se ingressa na pior das ditaduras, que é a o dos centros difusos de arbitrariedade. Em qualquer cidade do país, um promotor pode se dizer investido do poder divino e providenciar Justiça com as próprias mãos. E esse poder está sendo utilizado sem nenhum discernimento, inclusive contra membros das próprias corporações que não se alinham com o golpe.
Em Recife, o promotor da Vara de Execuções Penais Marcellus Uglete, considerado um garantista (solicitou a interdição de vários presídios), foi denunciado por colegas com base em indícios frágeis - grampos em advogados em que seu nome foi apenas citado - e se tornou alvo de uma operação de busca e apreensão. Os invasores – policiais civis comandados por um colega de Marcellus – sequer esperaram que ele abrisse a porta. Teve a casa arrombada na presença de três netos, dois filhos, a esposa e o irmão.
Em Niterói, um comentário em rede social feito pelo Policial Federal Sandro Araújo, criticando a operação que levou ao suicídio o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) motivou uma denuncia da Associação Nacional dos Delegados da Policia Federal.
Disse o policial: “Minha prece hoje é por Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Reitor da UFSC que tirou a própria vida após ser preso de forma INJUSTA, ARBITRÁRIA e EQUIVOCADA pela Polícia Federal. A responsável pelo ERRO CRASSO não foi tocada e segue com sua carreira”.
No Paraná, uma parceria entre juízes federais e PFs impõe uma sucessão de condenações pecuniárias contra blogs que ousam questionar a atuação de policiais.
E não se para nisso.
Em Belo Horizonte, o dono de uma rede de supermercados foi intimado por um jovem promotor de direitos do consumidor a dar explicações para os critérios utilizados em um concurso que premiou a melhor frase sobre o aniversário da empresa. A intervenção do promotor foi motivada por um competidor, que se sentiu lesado na competição e apresentou, em sua defesa, um livro de poesias de rimas mancas de sua autoria.
Abusos como este estão pipocando por todo o país. E a única resistência visível reside no contraditório porém destemido Ministro Gilmar Mendes.
Movimento 5 – um ciclo sem prazo
Vai piorar antes de melhorar, porque se trata de um processo sem objetivos, de uma tropa sem comando, de um arquipélago de poderes individuais sem a ação coordenadora das chefias e lideranças, e de um poder sem projeto. O que os move é apenas o exercício do poder individual pelo poder e a defesa dos interesses corporativos.
Há um cenário possível para as próximas eleições: uma final entre o candidato do PT e Bolsonaro. Nessa hipótese, o risco Bolsonaro seria um fator catalisador maior do que o medo PT da classe média. Portanto, havendo essa composição no segundo turno, há a probabilidade concreta de vitória do candidato de Lula.
Aí, talvez, o mercado se dê conta de que a fonte de todos os males não são as migalhas distribuídas aos mais necessitados, mas o cheque em branco entregue às corporações de Estado.
Do GGN