Não
há quem duvide que Eduardo Cunha, como ele mesmo já disse, é o responsável
direto – embora agisse em conluio com Michel Temer – pela derrubada do governo
eleito de Dilma Rousseff.
Dado
o grau do noticiário, já não dá para duvidar que sua delação será o tiro de
misericórdia – ou à estaca no coração, como preferirem – de Michel Temer.
Como,
agora, já se anuncia que Cunha tem munição para atingir também Rodrigo Maia,
não apenas através de Moreira Franco, estamos na iminência de termos, pela
terceira vez, um presidente da República nas mãos de um bandido.
Cunha,
que era um deputado de segunda linha na década passada, foi um personagem que,
embora menor, um dia será objeto de estudo dos historiadores.
Vai
ser o símbolo da era em que o conservadorismo brasileiro aliou-se, cada vez com
mais entrega, a alguém que, como um gângster, poderia ser útil para fustigar e,
afinal, derrubar, governos progressistas.
Se
Cunha. porém, não é o pior que existe nesta nova fase da política brasileira.
Sua
trágica importância é ter sido o estopim para algo ainda pior do que a
súcia de malfeitores que sua ação levou ao poder, e da qual ele parece ter a
contabilidade pregressa.
Cunha,
pela sua abjeção, funciona como um legitimador de um processo que, com ele e
outras pequenas e grandes ratazanas, vai mergulhando o Brasil um eleitor vale
um milhão de vezes menos que um delator.
E,
quem sabe, para quem começou derrubando uma presidenta de 54 milhões de votos,
acabe sendo um simbólico final de carreira derrubar um presidente de 54 mil
votos, todos os que teve Rodrigo Maia para se habilitar a ser o “presidente do
mercado”.
Passei a
vida pregando no deserto ao repetir, sempre que a ocasião exigia, que “A
verdade é uma força da natureza como o vento ou a chuva e, assim, não pode ser
contida”, e que tentar contê-la equivale a “Tentar reter água entre as mãos em
concha, que escapa por entre os dedos”.
Mesmo as
pessoas que se norteiam pela verdade sempre parecem algo descrentes de que a
verdade vença sempre, mas é porque confundem verdade com justiça, que deveriam
ser a mesma coisa, mas, na prática, raramente caminham juntas.
Mas a
verdade sempre tem potencial para aumentar a chance de que seja feita justiça.
Essa
reflexão faz sentido em um momento em que o país começa a enxergar a verdade.
Qual verdade? São várias. Vamos a elas.
1ª – O
impeachment de Dilma Rousseff foi golpe porque não havia motivo válido para
derrubá-la, tanto que vemos crimes de verdade comprovadamente cometidos por
Michel Temer e o Congresso, os batedores de panela e os pretensos “guardiões da
moral” não dizem A.
2ª – Ao
contrário do que prometiam os autores do golpe contra Dilma Rousseff, a
derrubada de seu governo não pôs fim à crise econômica e, muito menos, à crise
política. Pelo contrário, aumentou essas crises.
3ª – A Lava
Jato foi uma farsa engendrada para abalar a economia e prender e desmoralizar
petistas sem provas, à exceção de um ou outro que delinquiu mesmo porque
delinquentes há em qualquer grupo político, social, econômico, acadêmico,
religioso etc., etc.
4ª – As
reformas trabalhista, da Previdência, a terceirização e todas as demais medidas
econômicas do governo que tomou o lugar do governo Dilma são a causa do golpe:
tirar do pobre pra dar ao rico – segundo pesquisas de opinião, a esmagadora
maioria do país passou a pensar assim.
5ª – Os
acusadores mais veementes do PT são autores de crimes tão ou mais graves que os
que denunciam contra os petistas – crimes que, em grande parte, ainda não foram
provados.
6ª – A
Justiça brasileira condena e absolve políticos acusados de corrupção valendo-se
de critérios político-partidários e ideológicos e não de provas e ritos
consagrados. Por isso, absolve sempre bandidos filiados ao PSDB.
7ª – Os
governos do PT fortaleceram as instituições que podem combater a corrupção e os
governos que antecederam e sucedeu os do PT trataram e tratam de enfraquecer
essas instituições com vistas a fortalecer a corrupção – o coordenador da Lava
Jato no MPF, Carlos Fernando dos Santos Lima, declarou isso ao jornal O Estado
de São Paulo.
Há muitas
verdades mais, mas essas são as mais evidentes. Brilham como o sol, impedindo
que seus formuladores e a massa manipulada deixem de enxerga-las.
Mas quem foi
que cometeu esse crime de lesa-pátria de sabotar um país inteiro só para tirar
do poder um grupo político que implantou justiça social, redução extrema da
pobreza e da desigualdade e que fortaleceu as instituições que combatem a
corrupção?
Também são
muitos. Cada um que bateu ontem uma panela na sua varanda-gourmet ou que vestiu
camisa da Seleção ou com os dizeres “Eu não tenho culpa, eu votei no Aécio”,
colaborou com a sabotagem do país. Mas alguns não agiram por meramente apoiar o
golpe, praticaram atos para sabotar o país sob motivação político–econômica.
Os autores
do golpe são, em primeiro lugar, os 367 deputados federais e os 61 senadores
que retiraram o mandato de Dilma Rousseff sem o apoio de provas cabais de crime
de responsabilidade ou comum (como o de Michel Temer).
Também são
autores do golpe as autoridades por trás da Lava Jato que desmontaram a
economia fazendo estardalhaço de investigações policiais sobre grandes grupos
econômicos e sobre a administração do país. O show paralisou a economia e
provocou dramas terríveis para milhões de brasileiros.
Os meios de
comunicação que organizaram campanhas para desestruturar a economia fazendo
terrorismo e vendendo que a solução para os problemas causados pelos golpistas
era consumar o golpe, também têm que responder por esse crime.
O Brasil não
pode seguir adiante e se tornar uma nação séria, em que a Justiça funciona de
verdade, sem que os autores da desgraça política, econômica e social em curso
sejam punidos.
O golpe de
2016 só aconteceu porque o golpe de 1964 ficou impune. Como o golpe atual está
sendo desmascarado mais rapidamente e como esse golpe requer aparência de
legalidade, será mais fácil punir seus autores quando a normalidade democrática
for restaurada.
Os golpistas
vão rir do risco de pagarem por seus crimes, mas não percebem como o jogo está
mudando e quão rápido está mudando. Até as eleições do ano que vem, o Brasil
todo já saberá de tudo isso que foi dito a cima. E vai eleger um governo com
mandato para punir os sabotadores do Brasil
O que esses
aqui mencionados fizeram com o Brasil foi um crime de lesa-pátria, mas, também,
um crime de lesa-humanidade por conta da dor, do sofrimento, das mortes, das
tragédias que esse golpe parlamentar infame produziu. Eles não perdem por
esperar.
Se você
concorda que urge que seja aberta uma investigação de alto nível – com
supervisão internacional – sobre o processo no Congresso que cassou Dilma e
sobre a paralisação da economia por força de uma mísera operação policial
partidarizada, divulgue a ideia e manifeste seu apoio.
Esta
sexta-feira foi um dia de vingança para a presidente legítima Dilma Rousseff,
derrubada por um golpe parlamentar liderado por Aécio Neves (PSDB-MG),
recordista em inquéritos na Lava Jato, Eduardo Cunha, condenado a 15 anos e
quatro meses de prisão, e Michel Temer, o primeiro ocupante da presidência da
República denunciado por corrupção.
O que
Aristóteles tem a ensinar aos INJUSTOS JUÍZES brasileiros?
Aristóteles
afirma que:
“Lo proprio
de la justicia es saber distribuir las cosas según el derecho de cada uno,
mantener las instituiciones de su país, obedecer a los usos que tienen forza de
ley, observar religiosamente las leyes escritas, decir siempre la verdad donde
quiera que sea necessario, y cumprir religiosamente los compromissos
contraídos. La justicia tiene por objeto primeiro los dioses, despúes los
genios, luego la patria y los padres, y por fin, los que han dejado de existir.
Todos essos deberes constituyen la piedad, que es una parte de la justicia, o
por lo menos, una consecuencia de ella. Otras consecuencias de la justicia son
la santidad, la sinceridad, la buena fe y el odio a todo lo que es malo.”
(Aristóteles, Los Tres Tratados de La Ética, III. Moral a Eudemo, Clásicos
Inolvidables, Librería El Ateneo, Buenos Aires, 1950, p. 675)
“La
injusticia es el vicio del alma, que hace que los hombres pretendam más que los
que se les debe.” (Aristóteles, Los Tres Tratados de La Ética, III. Moral a
Eudemo, Clásicos Inolvidables, Librería El Ateneo, Buenos Aires, 1950, p.673)
Em 2016, com
ajuda do STF, a Câmara dos Deputados incinerou 54,5 milhões de votos atribuídos
a Dilma Rousseff por causa das famosas pedaladas fiscais. O vice-presidente,
que também havia assinado decretos de pedaladas fiscais foi preservado. Pouco
tempo depois a Câmara dos Deputados autorizou o usurpador Michel Temer a dar
quantas pedaladas fiscais que ele quisesse.
Centenas de
Deputados e dezenas de Senadores que aprovaram o Impedimento da presidenta
eleita pelos brasileiros são procurados pela Justiça por crimes de evasão de
divisas, roubo, agressão, assassinato e tráfico de drogas. A injustiça do
regime que eles queriam construir era evidente, mas o Judiciário brasileiro se
submeteu ao crime organizado por dois motivos.
O primeiro
foi o aumento de salaŕio negado por Dilma Rousseff e imediatamente concedido
pelo usurpador. O segundo é ainda mais grave: vários juízes, desembargadores e
Ministros de Tribunais também fazem parte das quadrilhas que assaltam o erário
público. E pelo menos um deles já foi gravado assessorando um Senador bandido.
É natural
dos injustos querer mais do que lhes deve ser atribuído, sejam eles deputados
(como Eduardo Cunha e Rodrigo Maia), senadores (como Romero Jucá e Aécio Neves)
e juízes bandidos (como Sérgio Moro e Gilmar Mendes). Mas não é natural eles
serem tolerados e amados pelos que são ou ousam se dizem justos.
Os membros
do Judiciário que tem consciência do que está ocorrendo no país, que sentem
ódio pela injustiça que foi feita aos 54,5 milhões de eleitores de Dilma
Rousseff, que reprovam o sequestro do Estado brasileiro por uma quadrilha de
mafiosos, que mentem para si mesmos dizendo que tudo ficará bem não estão
violentando apenas as leis escritas (que eles
tem o dever de cumprir religiosamente) ou suas consciências. Não importa
realmente quanto eles passaram a ganhar após o golpe de 2016. Os juízes, desembargadores e Ministros de
Tribunais que são justos também não terão paz, pois eles violentaram seu dever
para com os deuses, os gênios, a pátria, as instituições, a santidade da
justiça e sobretudo com os nossos ancestrais.
As palavras
de Aristóteles revelam que a Justiça é algo mais profundo e irresistível do que
a aparência de justiça distribuída pelos que se deixam dominar por um regime
injusto. Enquanto tentarem manter as aparências os justos também serão e
deverão ser considerados injustos. De fato, o crime que eles estão cometendo
contra a Justiça é mais grave do que aquele que foi cometido pelos injustos em
2016. A injustiça que resulta da omissão dos justos é imperdoável e certamente
não ficará impune.
Ex-presidente
chama de “balão de ensaio” e “falsas” informações de que advogados de ambos os
lados estariam produzindo artigo em conjunto.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva afirma que a informação
veiculada neste domingo (02) no Painel, da Folha de S.Paulo, de que os seus advogados,
juntamente com os advogados de Michel Temer (PMDB), de Dilma Rousseff (PT) e
Aécio Neves (PSDB) estariam elaborando um manifesto criticando a atuação da
Justiça e do Ministério Público é mentirosa.
Segundo o
jornal, os debates para a construção do manifesto "se desenrolam em um
grupo de WhatsApp intitulado “Prerrogativas'", e a Ordem dos Advogados do
Brasil estaria incluída no alvo das críticas.
"Nas
discussões, tratam da confecção de texto que prega o fim do que chamam de
'Estado de exceção' e a 'retomada do protagonismo da advocacia'",
completou a Folha na nota.
Lula
desmentiu a informação usando a sua conta oficial no Facebook destacando que,
"de tempos em tempos, o jornal Folha de S.Paulo publica, com base em
fontes anônimas, balões de ensaio mentirosos como esse".
"Jornalismo
sério confirma os fatos e não se pauta por mentiras. A informação, na capa do
UOL nessa manhã de domingo é pura invenção. De tempos em tempos, o jornal Folha
de S.Paulo publica, com base em fontes anônimas, balões de ensaio mentirosos
como esse. Primeiro, foi a reunião, que nunca ocorreu, entre FHC, Lula e Sarney,
para discutir um acordo político. Agora, o jornal trata de uma costura entre
Temer, Dilma e Lula que redundaria em manifesto "anti-judiciário".
Daqui a pouco serão Lula, Neymar, Luis Suárez e Lionel Messi acertando a vinda
deles para o Corinthians. Assim caminham as fofocas".
Junho de
2013 fez emergir a crise da representação, o incômodo generalizado com as
coalizões que fundamentaram a governabilidade na Nova República. O golpe não
foi resposta positiva à crise política, e o caminho está aberto para uma
solução autoritária ou totalitária.
O paradoxo
da crise política e a ascensão autoritária
Para aqueles
que supõem que a crise política está próxima do seu fim, a resposta positiva é
improvável. Pelo contrário, a crise política pode se agravar. Essa verdade
desnuda demonstra que uma possível eleição de um aventureiro qualquer pode nos
tirar da crise para algo pior. Porque saídas mágicas para a crise política como
o afastamento de Dilma não nos livrou de nenhum dos problemas da república e
nos acrescentou vários, agravando, ampliando e perpetuando o caos.
A saída da
crise política não pode ser posta, principalmente pelo campo progressista, para
além da política. Será uma saída política e pela política. Mas, para isso é
preciso entender as origens e as causas desta encalacrada situação que começa
em 2013.
Parece haver
um relativo consenso de que junho de 2013 é um marco. Mas, ainda são
contraditórias suas interpretações. De um lado há análises que defendem que a
fonte principal daqueles eventos foi o conflito distributivo que aflorava com a
ascensão dos pobres à sociedade de consumo, que fez eco nas classes médias
incomodadas com o encarecimento dos serviços para a casa grande e a ampliação
do status das grandes massas. De outro lado, afirma-se que os movimentos de
direita assumiram a pauta e a mobilização. Ambas as análises têm contribuições
à interpretação dos protestos, mas o ponto nevrálgico de 2013 é outro: crise e
fragmentação e a crise da representação.
Por isso,
entender 2013 vai além dos protestos que aconteceram naqueles meses e desde
então e pode ser lido como o desenrolar do que se configurou como o sistema
político da Nova República – filho pródigo em termos institucionais da ditadura
civil-militar de 1964. Defendo aqui que Junho de 2013 não é o começo, portanto,
mas o primeiro ato do final da conciliação da classe política que fez a
redemocratização com a base social que deu sustentação ao sistema político.
As diretas
de 1984 dão início ao momento ótimo da conciliação da política com a sociedade
civil pós-ditadura. A constituição de 1988 renovou as esperanças na política
como objeto de transformação da realidade brasileira. Todavia, a Nova República
se faz à base de conciliação político-partidária que não é exatamente de
classe. E como fiador do alicerce desse sistema está o espólio da ditadura.
Sarney
assumiu no lugar de Tancredo. Collor governou sem pudores com os coronéis do
nordeste. FHC trouxe o PFL de Antônio Carlos Magalhães para a sala de estar do
Palácio do Planalto e os Governos Lula e Dilma tinham suas bases no mesmo PMDB
que esteve em todos esses governos aos quais se opunham.
Desde sempre
a justificativa é a mesma: governabilidade. Pois junho de 2013, para além das
passagens de ônibus, a corrupção e a desonestidade política tem como pano de
fundo o incômodo generalizado em relação às coalizões que fundamentam a
governabilidade. Essa crise de representatividade significa que embora a
disputa pelo poder executivo tenha evoluído para uma espécie de binômio entre
neoliberais e trabalhistas, a disputa pelo legislativo fragmentou-se de tal
forma no pluripartidarismo que muitos dos eleitos representam seu próprio
projeto político local.
Como
conciliar a eleição de um projeto nacional no plano executivo com a
fragmentação do legislativo em interesses mesquinhos e provincianos? Durante
boa parte da Nova República isso se manifestou em forma de acordos e de cargos
de governo. Junho de 2013, em certo sentido, foi um basta a isso. Seu espólio
teve continuidade no crescimento da oposição e fez-se sentir na crise do
impeachment, onde os interessados na substituição do projeto político
trabalhista enxergam a oportunidade de impor o projeto político derrotado nas
urnas.
O que faz o
PSDB no governo Temer? Associou-se para dar a direção macro dos rumos do
Estado. Aproveitou-se da oportunidade que as urnas não os deu. A história de
reconciliação com a política, de tirar a Dilma para as coisas melhorarem, que
tudo estava contaminado e a política se renovaria com a saída do PT é apenas
cortina de fumaça, só havia dois objetivos no impeachment e nenhum dizia
respeito a uma resposta para a crise. De um lado a proposta era estancar a
sangria das delações e de outro lado implementar o projeto neoliberal. Nenhuma
relação remota com a crise de representação que se agravaria com ambas as
pretensões.
O golpe
constitucional não foi uma resposta positiva à crise política, nem uma mudança
que visava a reformar os termos da representatividade. Pelo contrário, foi uma
resposta negativa à crise política: deixou bem claro que as formas de chantagem
do legislativo para com o executivo poderiam vencer.
Os critérios
pelos quais as pessoas votam no Brasil para o legislativo é, via de regra, mais
relaxado em relação ao voto do executivo. Isso nos leva a um paradoxo na
política brasileira: a sustentação do governo depende da base fragmentada do
Congresso que não tem compromisso com o projeto eleito. A população agora mais
atenta e acostumada com a democracia cobra do executivo a coerência que ela
própria não tem ao eleger o legislativo. É o Deputado e o Senador com
representatividade baixa e que se elege a partir do mesmo clientelismo dos anos
1910 que negocia seu apoio ao governo e impõe seus critérios de adesão.
A partir de
junho de 2013 (com pegadas à direita ou não) iniciou-se um movimento na
sociedade civil para não tolerar esse tipo de acordo. A mídia e o judiciário
aparentemente perceberam o movimento e se tornaram os porta-vozes dessa
aclamação. Assim, se sem esses acordos não se governa e com esse tipo de acordo
a popularidade não se sustenta, como ter base social para governar sem cair em
novas armadilhas?
A atual
crise política não deixa espaço para dúvidas: ninguém governará sossegado até
que as coisas mudem. Ou seja, é o fim da estabilidade do sistema político da
Nova República. O que nos leva a um último ponto: se não há saída sustentada na
popularidade nem à direita e nem à esquerda sem ceder aos caprichos da corja
clientelista, qual a saída para a crise política?
Historicamente,
conhecemos a resposta: autoritarismo ou totalitarismo. Sempre que houve crises
de representatividade tão agudas como as que se desenham no Brasil, a resposta
foi a ascensão (eleitoral ou não) de figuras que abusaram do poder para dominar
a crise. Em nome de uma suposta moralização da política, figuras como Franco,
Mussolini, Hitler, Pinochet tomaram as rédeas do poder e usaram de métodos
violentos para domar a crise. Isso implicou, entre perdas de direitos civis,
perseguições e cassações, ditaduras com maior ou menor grau persecutório.
Luis
Fernando Vitagliano - É cientista político e professor universitário. É
colunista do Brasil Debate
Joesley
Batista contou na Época o que todo o mundo com meio neurônio já sabia: Temer é
um chefe de gangue.
No
entanto, cheios de amor e de esperança, querendo agradar seus patrões a todo
custo, jornalistas fizeram previsões furadas e propaganda desse governo,
baseados no mais puro wishful thinking e, eventualmente, canalhice.
A
ideia era vender a ideia de o golpe não era golpe e que a destituição
de Dilma “ia tirar o Brasil do buraco”, tese consagrada por Eliane
Cantanhêde, uma espécie de porta voz terceirizada de Temer.
Em
abril, numa entrevista a uma rádio, ela disse seguinte: “Conversei com o Michel
Temer nessa semana. Ele está muito seguro e muito sereno. Fala que está pronto
para assumir a responsabilidade, que é tirar o país do buraco. O Michel Temer,
por ter mais gás, parece ter chances de conseguir”.
Confira
uma seleção de 12 promessas que a mídia fez e os midiotas acreditaram.
1. O pior que não ficou no retrovisor
Míriam
Leitão publicou em 16 de julho a coluna “O
pior pelo retrovisor”, no Globo. Num tom otimista, traçava um panorama da
economia brasileira baseado apenas na valorização dos papéis da Petrobras e na
alta das bolsas de valores.
E
acrescentava: “O resultado reflete a percepção de algumas melhoras, inclusive
regulatórias, na economia e a avaliação de que a recessão está perdendo força,
apesar de estar claro que não haverá a volta rápida do crescimento”.
As
contas do governo Temer tiveram um déficit de R$ 38,4 bilhões em novembro, o
pior resultado para o mês desde
1997. No mesmo mês do ano passado, com o governo sob Dilma, o saldo
negativo foi de R$ 21,2 bilhões. Parece que o pior da economia está longe de
sair do retrovisor, seja dos investidores ou dos cidadãos comuns.
2.“Pior que tá, não fica”
Em
maio de 2016, quando o impeachment caminhava para minar o poder de Dilma
Rousseff, Eliane Cantanhêde publicou várias colunas no Estadão dizendo
que é “pior sem ele”.
No
mês de dezembro, o Datafolha divulgou que 58% das pessoas consideram Michel
Temer pior do que Dilma. Parece que ficou pior do que estava.
3. Previsão de crescimento de 1% que
sumiu
Uma
reportagem do site
da Exame de setembro apontou que a economia sob Michel Temer poderia
crescer 1% em 2016. A previsão foi traçada pela consultoria em negócios
internacionais e políticas públicas Prospectiva, levando em conta até mesmo a
Lava Jato.
O
chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou em
dezembro deste ano que a previsão para 2016 é de recessão
de 3%, com queda na oferta de crédito bancário. Parece que as consultorias
de estimação estão perdendo crédito em suas análises em menos de seis meses.
4. “Golpe contra o impeachment”
Antes
de ficar famoso nacionalmente por perguntar a Temer como ele conheceu a mulher
numa farsa no “Roda Viva”, Noblat escreveu um artigo bonito acusando um “golpe
contra o impeachment”.
O
texto faz denúncias de uma compra de votos contra o afastamento de Dilma
Rousseff — para variar, sem apresentar provas. Teriam ocorridos
pixulecos de R$ 1 milhão por voto “não” e R$ 400 mil pelas ausências.
Parece
que o golpe contra o golpe não se concretizou. Noblat nunca explicou como é que
essa operação milionária fracassou.
5. “Interrupções presidenciais
têm impacto positivo”
Merval
Pereira falou no dia 17 de janeiro de um estudo de um economista chamado Reinaldo
Gonçalves, da UFRJ. O especialista tentava provar que o impeachment de
Dilma poderia ser positivo.
Segundo
o texto reforçado por Merval, o impedimento reverteria a recessão em 2017 e
impulsionaria a economia em 2018.
Nenhum
dos sinais dessas medidas com “impactos positivos” foram vistos com
Michel no poder. Merval Pereira aproveitou a coluna para alfinetar
advogados que criticaram a Operação Lava Jato. Nunca mais citou o tal Reinaldo.
6. Cunha “não tem nada a ver com
o impeachment”
Merval
também dá suas cacetadas no Jornal das 10 da GloboNews.
No dia 13 de dezembro de 2015, ele soltou no programa que o então presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, não tinha relação com o golpe. Um santo.
“Eduardo
Cunha não tem nada a ver com o impeachment. O Eduardo Cunha foi o presidente da
Câmara que aceitou, viu que tecnicamente havia condições de aceitar aquele
processo, aquele pedido. Então ele não tem nada a ver com isso, quem vai
decidir mesmo é o plenário da Câmara”.
Merval
jogou a responsabilidade num Congresso que tem maioria com pendências na
Justiça só para tentar livrar a cara de um processo conduzido por um notório
corrupto. Em 2016, consumado o golpe, Cunha foi preso. Merval Pereira nunca
mais tocou no assunto.
A equipe de ilusionistas da GloboNews
7. “Impeachment ou caos”
O
economista Rodrigo Constantino, o amigo do Pateta que foi demitido da Veja e do
Globo e hoje tem coluna na Istoé, publicou um artigo em abril com o título: “impeachment
ou caos!”.
Era
baseado em teses esplêndidas como a de que o presidente Temer faria um
“governo suprapartidário” caso o golpe prosperasse, usando aspas do professor
de filosofia Denis Rosenfield.
Para
Constantino, o governo Temer seria um sucesso porque não teria vermelho em sua
bandeira. O único golpe possível era o que o PT estava fazendo, seja lá o que
isso signifique.
8. Golpe “cristalizado”
Quando
o impeachment foi consumado, em setembro, Eliane Cantanhêde afirmou em texto
que o governo Michel Temer sofre com protestos mas “termina
em pé”. Comparou-o a Itamar Franco.
“A
palavrinha mágica ‘golpe’ ajudou a cristalizar, talvez em milhões de pessoas, a
percepção de que o impeachment de Dilma foi ilegal e ilegítimo, a ‘jornada de 12
horas’ ajuda a oposição a ratificar que Temer vai retroceder nos direitos e
abandonar os pobres à própria sorte. Em vez de falar esse absurdo, o governo
bem que poderia ter usado e abusado, a seu favor e a favor da verdade, dos
resultados do Ideb, que configuram o fracasso da ‘pátria educadora’ de Dilma”,
diz Eliane no jornal.
9. A “revolta armada” do PT que não
existiu
O
ex-presidente Lula publicou uma cartilha criticando os procedimentos da
Operação Lava Jato. Na cabeça do colunista Reinaldo Azevedo, a carta afirmava
que o PT ia optar por uma “revolta armada”, segundo sua coluna na Folha
de S.Paulo em agosto.
Dilma,
segundo Reinaldo, era a “Afastada”. “Que bom que a ópera petista chega ao
último ato, com o próprio partido chamando os inimigos por seus respectivos
nomes. É o PT quem me dá razão, não os que concordavam comigo”, diz ele, sem
explicar como se daria a revolução do partido de Lula em curso.
10. O editorial que mais curtiu o
impeachment
“Impeachment
é o melhor caminho” é o editorial de apoio ao golpe mais
explícito publicado na imprensa. Feito pelo mesmo time do Estado de
S.Paulo que chamou o jornalista Glenn Greenwald de “ativista
petista” e pediu sua expulsão do Brasil, o texto é rico em previsões
furadas sobre o governo Temer já em abril de 2016.
As
propostas de novas eleições “são fórmulas engenhosas para resolver um problema
complicado. Pena que sejam todas, pelas mais variadas razões, impraticáveis”.
Hoje,
a notícia é de que a maioria da população apoia eleições diretas segundo
absolutamente todos os institutos de pesquisa.
11. “A saída da crise”, segundo Paulo
Skaf
Nenhuma
lista dessa natureza ficaria completa sem as revistas da Editora Três, aquela
que concedeu a Temer o título de Brasileiro do Ano.
Em
março, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, estava na capa da IstoÉ Dinheiro com
a chamada “A reação dos empresários”.
“O
impeachment de Dilma é a saída mais rápida da crise”, falou. A reportagem
destacava a atuação dele para conseguir a adesão “de boa parte da classe
empresarial, da indústria ao varejo”.
De
acordo com Skaf, a “economia está indo mal por causa da crise política. Há
confiança no Brasil, mas não há confiança no governo”.
Ah,
sim: o industrial sem indústria é um dos citados na delação da Odebrecht.
12. As instituições funcionam
O
Globo, que defendeu o golpe militar de 64 e só se desculpou 50 anos depois,
defendeu o impeachment com unhas e dentes em vários editoriais.
Num
deles em especial, de 30 de março, a família Marinho mandou ver: “Na estratégia
de defesa e nas ações de agitação e propaganda de um PT e de uma presidente
acuada no Planalto, a palavra ‘golpe’ ganha grande relevância”.
O
impeachment de Dilma, fomos informados, “transita pelas instituições sem
atropelos. Em 64 seria diferente”.
E
finalizava: “Aceite quem quiser que políticas de supostos benefícios aos pobres
podem justificar a roubalheira. Não num país com instituições republicanas
sólidas”.
A
senha foi dada por Augusto Nunes, colunista da Veja por enquanto (toda a turma
dele foi mandada embora, de Felipe Moura Brasil a Reinaldo Azevedo).
“O
que falta é mais gente decidida a avisar nas ruas, aos berros, que o Brasil
decente não se deixará intimidar pelos poderosos patifes que teimam em obstruir
os caminhos da Lava Jato. Refiro-me à verdadeira Lava Jato, representada por
Sérgio Moro, não à caricatura parida em Brasília por Rodrigo Janot”, escreveu.
Joesley
Batista está terminando de enterrar a narrativa segundo a qual Lula comandava a
chamada ORCRIM, organização criminosa, “o maior esquema de corrupção desde as
pirâmides do Egito” e por aí vai.
Essa
versão alimentou gerações de indigentes mentais que alimentavam outros
indigentes mentais num ciclo que parecia infinito — e agora eles estão perdidos
como alcoólatras sem o uisquinho da manhã.
Marcello
Reis, o zumbi dos Revoltados Online, está batendo pino nas redes sociais.
“Então, quem é Lula? Joesley diz que Temer é o chefe da quadrilha. Quem
acredita em Joesley?”
Marcello,
um picareta fanático — e vice versa — se sente enganado. Joesley só estaria
dizendo a verdade se apontasse o dedo para Lula.
O
dono da JBS falou o seguinte à Época:
O
Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha
e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa
turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar
com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então
meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles
aproximarem demais nem deixando eles longe demais. Para não armar alguma coisa
contra mim. A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já
tive na minha vida. Daquele sujeito que nunca tive coragem de romper, mas
também morria de medo de me abraçar com ele.
O
time de Moro perdeu o controle sobre a história que queria contar. Isso começou
em maio de 2016, com o vazamento das conversas de Sergio Machado.
Logo
que os áudios vieram a público de sua conversas, sendo a mais famosa a de
Jucá narrando o “grande acordo nacional com o Supremo, com tudo”, o
primeiro a se manifestar foi o delegado Igor Romário de Paula.
“O
que nos preocupa somente é que isso (o grampo) venha a público dessa forma, sem
que uma apuração efetiva tenha sido feita antes”, afirmou ele.
Igor
estava dizendo que há vazamentos bons e ruins. Os primeiros são os que são
feitos pela força tarefa de Curitiba e que desembocam sempre no “Barba”.
O
que resta, agora, é o pessoal pegar uma carona em Janot. Na semana passada,
Deltan Dallgnol pediu a prisão de Aécio Neves.
Deltan
teve a oportunidade de investigar o esquema de Aécio quando o doleiro Alberto
Yousseff, há três anos, contou que a irmã do senador recolhia propina na
empresa Bauruense, por contratos em Furnas.
Não
o fez porque, assim como Augusto Nunes, Sergio Moro, Marcello Reis, Diogo
Mainardi e tantos outros, dependem de Lula para viver. Lula garante o
leitinho das crianças.
Joesley
jogou água no chope e deu um curto circuito no powerpoint e no cérebro da
extrema direita.
Há poucos
anos, o Brasil era o centro das atenções mundiais. Ao longo dos dois mandatos
de Lula, e do primeiro de Dilma, a mídia internacional abria espaços generosos
para o extraordinário avanço social, econômico e político do país, alçado à
condição de ator de primeira grandeza da diplomacia global.
Um ano
depois que um golpe de estado rasgou a Constituição da República, a voracidade
com que as forças conservadoras se lançaram à destruição do legado da era dos
governos petistas não encontra paralelo não só na história do Brasil como
também de nenhuma outra nação.
Sem qualquer
legitimidade, impõem um programa radical de restauração conservadora que jamais
seria aprovado nas urnas. Já entregaram o pré-sal, degradaram a empresa pública
de comunicação, congelaram os gastos sociais por 20 anos, feriram gravemente a
CLT com a terceirização irrestrita e estão prestes a desferir-lhe o tiro de
misericórdia através da reforma trabalhista. Também o direito à aposentadoria
está por um triz com o avanço da reforma da previdência no Senado.
Imerso em
uma espécie de atoleiro jurídico, político e moral, o direito brasileiro virou
uma esculhambação. Lamento sinceramente a utilização dessa expressão, mas não
encontro outra no vernáculo capaz de refletir com tamanha precisão o estrago
causado pela promiscuidade entre o direito e a política.
Hoje, não
importa mais a instrução e as nuances de um processo penal, e sim sua
utilização para se atingir objetivos políticos. Confesso o meu estarrecimento
ao ler recentemente a declaração de um juiz dando conta de que votara em
sintonia com o que é melhor para o país. Juiz que se preza e honra a
magistratura vota de acordo com os autos do processo, com a lei e a
Constituição. Ponto.
Na
realidade, o votar segundo os interesses do país serve de biombo para esconder
o óbvio: o melhor para o Brasil é o que sai publicado nas cartas dos eleitores,
nos editoriais dos jornalões e na linha editorial das redes de televisão.
Moro e os
procuradores da República de Curitiba rezam exatamente por essa cartilha. Para
eles, fazer justiça é se submeter aos ditames do monopólio midiático e ao
clamor do agronegócio, das grandes corporações empresariais e dos banqueiros,
apoiadores de primeira hora e financiadores do golpe.
Não resta
dúvida de que o governo Temer é o mais calamitoso da história. Se não bastasse
estar ocupando a presidência mercê de um golpe de estado, adota o banditismo
como método de ação política, o que lhe renderá inclusive nos próximos dias uma
denúncia da PGR por corrupção, organização criminosa e obstrução de justiça.
Contudo, a
aversão e o sentimento de repulsa por essa quadrilha não me turvam a visão
jurídica. Por isso, reputo como tecnicamente correto o julgamento do TSE que
absolveu a chapa Dilma/Temer. Os fundamentos do estado de direito são claros :
juiz só julga com base na prova dos autos e o direito à ampla defesa é o pilar
da democracia.
Todas as
tentativas de impugnar o resultado eleitoral de 2014 levadas a cabo por Aécio
Neves (que depois seria flagrado confessando que o fizera sem base legal,
apenas para “encher o saco do PT”) foram rejeitadas, com trânsito em julgado no
TSE. No entanto, Gilmar, sempre agindo como coronel da política, violou a coisa
julgada e determinou que o Ministério Público Eleitoral investigasse as contas
já aprovadas.
A mídia, por
sua vez, exerceu forte pressão também para inserir no processo de forma ilegal
elementos extemporâneos aos autos, como as delações dos executivos da Odebrecht
e dos marqueteiros, que não integravam a causa de pedir. A não aceitação desse
contrabando por parte do TSE foi uma decisão acertada do ponto de vista
jurídico.
Voltando ao
desmanche do país, o ministro Gilmar Mendes, que fala e faz o que bem entende,
agora ataca a justiça eleitoral. Só no Rio de Janeiro, 113 zonas eleitorais
estão em vias de ser extintas pelo presidente do TSE. No momento em que se
discute a necessidade de uma ampla reforma no sistema político-eleitoral, é uma
irresponsabilidade propor o enfraquecimento da própria espinha dorsal do
processo eleitoral.
A JBS
patrocinou o impeachment de Dilma?, por João Filho
Foto: Beto
Barata/PR
O JULGAMENTO
DA CHAPA Dilma/Temer no TSE talvez represente o auge da esquizofrenia da
qual padece a política brasileira. A ação foi movida por Aécio Neves para,
segundo o próprio, apenas “encher o saco do PT”. As acusações que fundamentaram
o processo do tucano são exatamente as mesmas pelas quais sua chapa é acusada:
abuso de poder político e econômico, recebimento de propina e beneficiamento do
esquema de corrupção na Petrobras. Hoje no governo, Aécio e sua turma torcem
para perder a ação que moveram. Portanto, o mais importante processo da
história da Justiça Eleitoral nada mais é do que uma retumbante farsa.
Antes, vamos
contextualizar os acontecimentos. Joesley da JBS havia revelado em sua delação
que Temer pediu uma propina de R$300 mil. À época, o processo
de impeachment ainda estava em curso e, estranhamente, Temer precisava do
dinheiro para despesas de marketing político pela internet. Segundo Joesley, o
então vice-presidente queria se defender dos duros ataques que vinha recebendo
nas redes.
Temer teria
orientado que o dinheiro fosse pago para o publicitário Elsinho
Mouco – seu marqueteiro oficial há 15 anos e que hoje exerce papel
importante no governo. É ele quem escreve os discursos de Temer e ajudou a
redigir o famigerado programa Ponte para o Futuro.
Bom, no
último domingo, Elsinho contou ao Estadão a sua versão, que é um pouco
diferente do que ele havia dado em uma nota à imprensa divulgada após a publicação da delação
de Joesley. Segundo o publicitário, o dono da JBS o convidou para um jantar
nababesco em seu palacete no Jardim Europa em São Paulo. Regados a “whisky 18
anos” e “camarões gigantes”, Joesley revelou que queria financiar um
serviço de monitoramento de redes sociais que ajudaria a derrubar Dilma:
“O empresário
perguntou então quanto custaria o serviço, que a princípio seria pago pelo PMDB
nacional. “R$ 300 mil”, respondeu Elsinho de pronto. “Eu pago isso. Vamos
derrubar essa mulher”, teria dito Joesley.”
O dinheiro
dado ao marqueteiro de Temer teria sido usado para “monitorar digitalmente
movimentos pró-impeachment, o PMDB e a Fundação Ulysses Guimarães”.
Portanto,
temos duas versões. O dono da JBS garante que a propina foi paga em espécie
para Elsinho a pedido de Temer. Já o publicitário afirma que foi Joesley quem o
procurou espontaneamente para contratar seus serviços, sem propina e sem
envolvimento de Temer.
Um dos dois
está mentindo. A versão de Elsinho é estranha,parece querer poupar seu chefe. É
difícil imaginar que o publicitário tenha feito o orçamento do serviço ali na
hora, no meio do jantar. Segundo o publicitário, o dono da JBS chamou um
mordomo e ordenou: “Pega lá R$ 300 mil e entrega para o Elsinho”. Nessa versão
capenga, o publicitário teria ido apenas visitar um cliente em potencial, fez o
orçamento e imediatamente recebeu o valor integral em dinheiro vivo antes mesmo
de prestar o serviço. Elsinho, cujo irmão acaba de ganhar uma concorrência de R$ 208 milhões para a
publicidade do Palácio do Planalto, teria muito a perder se confirmasse a
história do dono da JBS.
A versão de
Joesley me parece mais verossímil: Temer pediu para entregar a propina para seu
marqueteiro, que foi até a casa do empresário e saiu com o valor que havia sido
previamente combinado entre os patrões. A dúvida fica por conta da finalidade
da propina. R$300 mil para defender Temer de ataques da internet às vésperas da
votação do impeachment? Ou seria mesmo para derrubar Dilma?
Apesar da
relevância da informação dada pelo marqueteiro de Temer, o Estadão não deu
chamada de capa, a Folha não repercutiu, e nem preciso falar sobre o Grupo
Globo. Não parece ser do interesse do braço midiático revelar os detalhes do
funcionamento do braço financiador do golpe parlamentar.
O fator Kátia Abreu
Maior
doadora da campanha de Dilma, a JBS havia entrado em conflito com a presidenta
antes mesmo do início do seu segundo mandato. A indicação de Kátia Abreu para o
ministério da Agricultura não incomodou apenas petistas, ambientalistas e
movimentos sociais, mas também a JBS e até o PMDB – partido que recém
abrigava a senadora à época. O grupo empresarial de Joesley sempre foi alvo de
duríssimas críticas de Kátia Abreu. Este trecho de reportagem da Folha de 2014 revela o tamanho da briga:
“Em discurso
na tribuna do Senado, em 2013, Kátia Abreu criticou uma suposta prática
monopolista e marketing enganoso’ por parte do grupo JBS, que cresceu no
mercado adquirindo outros empreendimentos menores.
No centro do
ataque estava um polêmico financiamento de R$ 7 bilhões do BNDES à JBS-Friboi
que, segundo Kátia Abreu, poderia ter sido usado para ajudar pequenas e médias
empresas em dificuldade.”
Irritado com
a notícia de que Kátia provavelmente seria a nova ministra, o falastrão Joesley
foi procurar quem para reclamar? O seu amigo Michel Temer, claro. Não
satisfeito, foi se lamentar também com Aloizio Mercadante (PT), então chefe da
Casa Civil, que o recebeu em uma conversa reservada, fora da agenda oficial.
Ainda segundo a Folha, Dilma foi aconselhada a conversar com Joesley e tentar
contornar sua insatisfação, o que teria ocorrido em um encontro sigiloso.
Todo esse
lobby contra Kátia Abreu não deu certo e a ex-presidente bancou sua nomeação,
contrariando seu próprio partido, seu principal aliado político (PMDB) e a JBS.
Naquele momento se iniciava um conflito entre Dilma, o PMDB e o principal
financiador de campanhas políticas no Brasil.
JBS
trabalhou duramente contra minha nomeação no MAPA. Será porque?
Moveram céus
e terras. Dilma bancou e me deu posse. Ali era monopólio deles.
Joesley
revelou em
delação que deu R$30 milhões para Cunha, que teriam sido usados para
bancar sua campanha à presidência da Câmara, em 2015. “Cunha saiu
comprando deputado, saiu comprando um monte de deputados Brasil a fora. Para
isso que serviam os R$ 30 milhões”, afirmou Joesley à PGR. Ou seja, a JBS
também patrocinou a eleição de Cunha, o inimigo número um de Dilma, o homem que
lideraria um golpe parlamentar para derrubá-la.
Vamos
ligando os pontos. Não podemos esquecer também dos R$ 4 milhões em propinas da Odebrecht que Lucio Funaro
(doleiro, lobista e operador das propinas de Cunha) enviou para Eliseu Padilha
através de José Yunes (ex-assessor especial do governo Temer e amigo do
presidente há mais de 50 anos). Na ocasião, o amigo de Temer ouviu do doleiro
qual era a finalidade do dinheiro: “A gente está fazendo uma bancada de
140 deputados, para o Cunha ser presidente da Câmara”. Segundo Yunes, Temer não
pode dizer que não sabia de nada: “Contei tudo ao presidente em 2014. O meu
amigo (Temer) sabe que é verdade isso. Ele não foi falar com o Padilha. O meu
amigo reagiu com aquela serenidade de sempre (risos).”
Portanto,
como se não bastassem as confissões públicas de que as pedaladas fiscais não foram o motivo que levaram à
queda de Dilma, agora ainda temos fortes indícios de que a eleição de
Cunha e o processo de impeachment foram financiados com dinheiro de propina de
grandes empresas e teve envolvimento direto de Michel Temer.
Mais uma
denúncia gravíssima contra o governo combalido de Michel Temer. O ministro
Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência, negociou com executivos da
Record, SBT e RedeTV! apoio a Michel Temer em troca de uma punição às
operadoras de TV por assinatura.
A denúncia
foi feita pelo jornalista Samuel Possebom, do site Teletime. Os três grandes canais de televisão fariam
cobertura favorável ao governo, se a Agência Nacional de Telecomunicaçoes
(Anatel) mudasse seus pareceres para ser favorável ao ressarcimento de dinheiro
aos assinantes que deixaram de receber as três redes via cabo ou satélite, em
São Paulo e Brasília, no final de março.
A agenda do
presidente da Anatel Juarez Quadros registra uma reunião com o ministro Moreira
Franco no dia 24 de maio, entre 10:00 e 10:30, e a agenda de Moreira Franco
registra um encontro com o ministro Gilberto Kassab no mesmo dia, a partir das
10:30. O encontro entre as emissoras congregadas no Simba, empresa que as redes
criaram no ano passado para negociar seus sinais digitais com as operadoras de
TV por assinatura, e Moreira Franco não aparece na agenda, mas teria
acontecido no dia 23 de maio. No último dia 5 de junho, Moreira Franco deu uma
longa entrevista à Rede TV.
A pressão
política, segundo relatos na Anatel, teria transbordado para a área técnica da
agência. Desde que as emissoras de TV determinaram o fim do carregamento dos
sinais nas cidades de São Paulo e Brasília, no final de março, agência oficiou
as operadoras de TV paga por conta da ausência de notificação prévia aos
assinantes. A regulamentação pede 30 dias. Desde então o assunto está em debate
dentro da agência.
Entre
deputados da bancada evangélica, sob influência da Igreja Universal (Record), e
parlamentares donos de emissoras ligadas às três redes, a bancada da Simba
teria 80 votos na Câmara dos Deputados.
Uma outra
frente de pressão das emissoras no governo federal é a Senacon (Secretaria
Nacional do Consumidor), do Ministério da Justiça. Nesta quinta-feira (8), o
Ministério da Justiça divulgou que instaurou processos administrativos contra
Sky, Net, Claro TV e Oi para "apurar possíveis ofensas aos direitos dos
consumidores" pela supressão dos sinais das três redes.
Ao site
Teletime, Juarez Quadros, da Anatel, negou ter recebido qualquer tipo de
pressão do governo federal para agir contra as operadoras e a favor da Simba.