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sábado, 17 de junho de 2017

Xadrez de Janot na estrada de Damasco e o fundo do poço, por Luís Nassif

No Novo Testamento (Atos 9), quando Saulo (depois chamado Paulo) cai de seu cavalo na estrada para a cidade de Damasco e recebe a visita do próprio Jesus, se convertendo ao cristianismo.
Assim como na economia, todo processo politico caótico tem momentos de corte, uma espécie de fundo do poço, no qual há duas possibilidades subsequentes:

Alternativa A: todos os grupos majoritários se sentirem perdedores. Aí se começa a abrir o espaço para o diálogo; ou Alternativa B: novas rodadas radicalizantes, e movimentos oportunistas ou de esperneio dos grupos que serão expelidos do poder.

Há sinais no ar, tênues embora, de que possa se estar entrando na alternativa Alternativa A. Enfatizo: sinais tênues ainda.

Ainda se está a quilômetros de distância de um referencial mínimo, que aponte os novos rumos. Mas o ciclo da subversão constitucional aparentemente começa a se esgotar.

Nesse período terrível, aconteceu de tudo, com externalidades negativas em todos os setores, novos poderosos montando uma caçada ideológica no serviço público, procuradores desvairados entrando com ações contra escolas e reuniões políticas, movimentos de ultradireita saindo das profundezas e investindo contra avanços civilizatórios e a quase consumação do mais execrável pacto político da história: o que permitiria a uma organização criminosa apossar-se do Estado brasileiro e livrar-se da Justiça em troca de reformas radicais enfiadas goela abaixo da opinião pública.

Parecia que todos os filtros de uma sociedade civilizada haviam sido desativados, até os básicos, o olhar crítico sobre os puxa-sacos, a desconfiança contra os exibicionistas, o pudor em tratar com governantes notoriamente corruptos. 

A própria Lava Jato se tornou um centro escandaloso de vaidade e oportunismo, com procuradores se comportando como blogueiros teens (na expressão feliz de Nina Lemos), aproveitando a visibilidade dada pelo Ministério Público Federal para surfar no universo rentável das celebridades.

Figuras que deveriam estar atrás das grades, como Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e o próprio Temer, e seus seguidores, como Laerte Rímoli, Elsinho Mouco, o submundo jornalístico que se manteve à tona graças a Eduardo Cunha, Aécio Neves, Michel Temer (https://goo.gl/E8Hsf3) comportavam-se como os conquistadores imbatíveis, como piratas do Caribe em cima dos destroços da Constituição.

As delações da JBS foram como uma bomba de nêutron, desmontando toda a armação política-midiática erigida nos últimos anos, o discurso pseudomoralista que derrubou uma presidente eleita e caiu a ficha de parte do golpe, da inviabilidade de um pacto político com uma organização criminosa para promover o desmonte das redes de proteção social brasileiras.

A delação da JBS se abateu sobre o Procurador Geral da República Rodrigo Janot como a luz que derrubou Paulo do cavalo, a caminho de Damasco, e lhe mostrou o rumo. Em uma tacada só, exibiu o amadorismo exibicionista da Lava Jato e suas fixações, reassumiu o protagonismo da operação, a ponto de deixar Dallagnoll com síndrome de abstinência, passando a opinar até sobre o caso JBS para não perder espaço para o PGR.

Nos últimos dias, o portal da PGR divulgou o questionamento de leis de municípios que vetaram material sobre ideologia de gêneros nas escolas, a criação de cotas para negros nos concursos do MPF, a PFDC (Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão) encaminha pedido de informações do Alto Comissariado das Nações Unidas para o Itamaraty, sobre a inconstitucionalidade de leis que proíbem discussões sobre gênero em escola.

Os próximos capítulos permitem um pouco de fé nos novos tempos:

Peça 1 – o desembarque do PSDB
Se não há motivos para manter presa Andrea Neves, existem motivos sólidos para a prisão de Aécio Neves. Solto, ele ficará articulando com colegas do Senado e com o Ministro Gilmar Mendes maneiras de impedir as investigações.

Além disso, a prisão terá um simbolismo especial.

Como era possível a uma sociedade que se pretendia civilizada conviver com a exposição pública de Aécio, flanando sobre a Justiça, mandando adversários para a cadeia – como o episódio do jornalista Jorge Carone -, com investigações paralisadas sobre aliados, sob suspeita de tráfico de cocaína? Como seria a democracia brasileira com a falta de limites de Aécio e seus amigos?

Sua provável prisão finalmente trará o PSDB para a realidade política, constatando a impossibilidade total de bancar uma organização presidida por Temer. Mais relevante: quebra o elo da possível parceria com o Judiciário e fecha a porta para o que parecia ser a saída planejada do impeachment.

Ao se inviabilizar politicamente, paradoxalmente, o PSDB se habilita para um passo mais maduro, em busca de entendimento. O duro é localizar no partido alguma liderança que, mesmo de longe, tenha a dimensão de um Mário Covas ou Franco Montoro.

De sobra, interrompe a articulação do chanceler Aloysio Nunes  com o governo Donald Trump, de abrir brechas para a invasão da Venezuela. A ideia fixa de Aloysio – vergastando Maduro diariamente, como se não houvesse outro tema no Itamarty - não é apenas falta de imaginação e conhecimento para outros temas diplomáticos: cumpre o roteiro do guru José Serra. Em vez da tradição diplomática pacifista brasileira, de buscar uma solução para um país que se desmancha, o papel de gendarme da volta do grande cacete norte-americano.

Aloysio e Serra se valem da perda total de substância ideológica do PSDB, da ausência de estudiosos internos, para montar suas jogadas pessoais com o Grande Irmão. São os últimos vagidos de políticos que perderam a dimensão de país.

Peça 2 - A denúncia de Michel Temer
Mal empossado presidente, Michel Temer levou para dentro do governo seus quatro operadores particulares: José Yunes, Sandro Mabel, José Felipelli e Rodrigo Loures.

A maneira como foi bajulado pelos grupos de mídia se constitui em um dos episódios mais vergonhosos da história do jornalismo, cujo ápice foi o Roda Viva com ele.
Poucos imaginavam seu nível de mediocridade e de falta de noção. E aí Deus mostrou, pelo menos uma vez, que ainda é brasileiro. Criou-se tal desorganização institucional com o golpe, que um político mais habilidoso e ousado – como o próprio Aécio - poderia ter conduzido o país ao estado de exceção amplo e se perpetuado no poder. Felizmente, se entregou a Temer a responsabilidade do pós-golpe.

A denúncia próxima da PGR contra Temer repõe nos eixos um mínimo de dignidade na política. Hoje em dia, é visível em qualquer cidadão, mesmo o menos politizado, o sentimento de vergonha de ver o país governado por uma pessoa da dimensão e do caráter de Temer e sua turma.

Para se acreditar em um país sério só faltaria o MPF investigar os negócios da FIFA-Globo, do IDP de GIlmar Mendes com o Tribunal de Justiça da Bahia e o enriquecimento de José Serra.

Peça 3 diretas-já ou Constituinte
A entrevista de Joesley Batista à revista Época é arrasadora. Com todas as ressalvas que se possa fazer, expõe de maneira ampla o apodrecimento final do modelo político.

Com a saída do PSDB do jogo de apoio a Temer, resta saber qual será o tamanho do centrão para resistir ao Supremo Tribunal Federal e à denúncia contra Temer e ao clamor das ruas.

Entra-se, agora, nos momentos cruciais que definirão a travessia para o novo ciclo político.

Há na mesa as seguintes alternativas:

1.     Eleições indiretas com Rodrigo Maia. Será uma tentativa de dar continuidade à quadrilha de Temer, mas com alguns acenos para setores de oposição. E eleições em 2018.

2.     Eleições indiretas com Tasso Jereissatti. A delação da JBS destruiu essa ponte.

3.     Eleições diretas-já.

Qual a resultante das eleições diretas, não se sabe. Entra-se em um daqueles momentos em que Deus joga dados e tudo pode ocorrer.

Às forças democráticas resta o desafio de construir uma alternativa política e econômica viável, os estudiosos trazendo seus diagnósticos, as lideranças conversando e definindo os contornos de um novo pacto. Ou então, o caos.

Do GGN

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Razões para o abandono da Globo a Temer/Aécio

Buscando razões para o desembarque da Globo do Governo Temer/Aécio, Alexandre Tambelli
O Golpe patrocinado pelo Mercado, pelo Imperialismo Norte-Americano, por parte do grande empresariado nacional, ancorados na Globo & velha mídia + a Lava-Jato pretendia ser (era o discurso) a grande retomada no rumo do crescimento da economia, do PIB e do emprego e nada disto aconteceu, certo?

Com Temer & Cia. e o neoliberalismo radical não se chegará jamais a uma retomada dos níveis de crescimento econômico-social e de emprego dos tempos de Lula e primeiro mandato de Dilma, pré-Lava-Jato. Esta afirmação não é controversa, a realidade não mente.

Apesar de ser um desejo do Mercado, a mais usual voz nos microfones da Globo e parceiro de negócios, vamos ser sinceros, segurar a opinião pública com este Governo e as suas reformas neoliberais, Governo que é o mais corrupto da nossa História não dá.

Está se tornando um custo muito alto, financeiro e de imagem, a manutenção desse sistema corrupto e incompetente por parte do Capital apoiador do Golpe.

Para tudo o que vai fazer o Legislativo e o Executivo em prol do Capital apoiador do Golpe, para cada votação das reformas, para cada Projeto de Lei, para cada privatização do patrimônio público e descontinuidade de programas sociais dos governos Lula e Dilma com a terceirização de parte deles precisa, este Capital, ao que tudo indica, oferecer dinheiro para parlamentares aliados e integrantes do Governo, que não têm outra Ideologia, senão a do dinheiro. Tudo é na base do dinheiro.

Sem contar que para se garantir a votação das reformas, Temer, ainda,  dá cargos, tira cargos e realoca pessoas nos cargos de órgãos públicos e estatais em benefício de parlamentares que votem favoráveis às reformas e, imaginemos, que o tempo todo deve estar rolando o quanto você quer para votar favorável às reformas da Previdência, Trabalhista, ao congelamento dos investimentos públicos por 20 anos, etc.

Do lado de Temer vem o quanto você quer, que cargos você quer e do outro lado vem um empresário, um representante do agronegócio e diz: - se você propor votar e aprovar tal reforma, tal medida eu te dou X, para outra medida Y.

Está um esculhambação só!

Por exemplo.

Como foi possível aparecer aquela proposta de reforma trabalhista no campo apresentada por um parlamentar do PSDB, que até o salário do trabalhador pode ser extinto, suas férias permutadas em troca de casa e comida? De um Legislativo capaz de votar e aprovar e de um Executivo capaz de sancionar tal proposta de reforma trabalhista no campo em troca de algo. Numa Legislatura séria não apareceria.

E chegou ao ponto de que não é mais o Governo quem define o que deve ser proposto para o Brasil revigorar a economia e o PIB, para os índices sociais e os níveis de emprego normalizarem, é o dinheiro do Capitalista, tão somente, no comando das ações, sem mais nenhum Norte a ser seguido, sem nenhuma obrigação com a sociedade e com o Brasil.

Parece o Topa Tudo por Dinheiro do Sílvio Santos ou o - Você quer pagar quanto? Das Casas Bahia.

Por outro lado.

A JBS patrocinou o Golpe, certo? E precisa de tantas ajudas às escondidas para ter seus interesses mantidos intactos, imaginemos a loucura disto. Coloco Temer no Poder e ele vai precisar de “ajudinhas” ad eternum?

Chegou um momento em que se percebeu que a conta não fecha. O prejuízo de manter os atos escusos não compensa mais os prejuízos com o fiasco Temer. E a JBS detonou com o Governo Temer.

Vem um Governo nascido do Golpe, que foi patrocinado pelo Grande Capital, tendo a JBS como uma das fiadoras principais, e ele não consegue segurar um Delegado Federal querendo aparecer e que deflagra uma Operação Carne Fraca?

E a Globo, fiadora principal do Golpe, dá cobertura à Operação? (JBS que é um dos maiores patrocinadores da Rede Globo.)

Uma hora ia estourar o Golpe.

JBS e o Grande Capital devem ter dado um ultimato à Globo:

Não atrapalha os nossos negócios, com o Temer não dá mais.

E teve a sombria reunião no STF entre 10 grandes do empresariado nacional com a Ministra Carmen Lúcia e que um interlocutor da Globo esteve presente. Foi antes do escândalo JBS/Temer/Aécio. O que se conversou naquela reunião?

O Temer tem popularidade quase zero, com apoio midiático e tudo.

Tirar o Temer da linha de frente das reformas, para elas vingarem, ao menos é o que tentam os fiadores do Golpe com uma roupagem nova, colocando um Governo comandado por um sujeito "honesto" e um Ministério menos incompetente e menos sem noção.

É para vingar o neoliberalismo radical, mas não é para prejudicar os negócios da JBS, a ponto dela poder se tornar a Odebrecht da vez e nem para ser opção única de voto para os neoliberais, o Bolsonaro. Já chega o Trump nos EUA.

A Globo tende a não corroborar mais com a sanha da Lava-Jato em destruir o setor produtivo brasileiro, são seus patrocinadores, espero que tenha caído a ficha, pode colaborar com a derrocada do PT e das esquerdas, se possível for.

Ser apoiadora de uma Operação, como a Lava-Jato, que visa a destruição do setor produtivo nacional?

Sejamos sinceros.

Foi tão radical a mudança de rumo no País que estar junto de Temer é estar a um passo de cair junto com ele, não só em credibilidade (diante de seus telespectadores), mas, economicamente, ir ao rumo da falência.

A Globo vive na encruzilhada entre o querer e o poder.

Querer as reformas neoliberais pode ser o fim de sua própria existência. O Ibope das reformas é baixo, a Globo não convence muita gente, mesmo tentando ser a porta-voz dessas reformas 24 horas do dia.

Com as reformas sem limites e mediação social a Globo quebra junto, todos quebram.

Um mastodonte como a Globo precisa de uma economia em funcionamento para sobreviver.

Defender que a pessoa nunca se aposente é suicídio, não é verdade? Defender uma economia voltada somente para o rentismo? É suicídio puro.

Abandonar Temer sem aviso prévio não foi uma decisão dela, ela foi obrigada por terceiros.

Defendeu Temer até os 48 do segundo tempo e de repente vem um Pênalti e ela foi obrigada a marcar o Gol! Contra tudo o que sempre quis.

A ausência de freios no Jornalismo da Globo, a ausência de regras saudáveis para a interação com a sociedade e do mínimo contraditório foi levando a Globo ao extremismo, idêntico ao que se criou na Sociedade com a figura de Bolsonaro, impulsionada sua existência com a dobradinha mídia oligopólica e Judiciário morista.

Não há mediação nesse Jornalismo que a Globo decidiu praticar desde um pouco depois da vitória de Lula em 2003, só extremo. Então, abandonou Temer sem nenhuma gradação, de imediato, e sem chances de um esclarecimento mais justo ao seu público cativo. Abandonou sem prorrogação.

Seus patrocinadores chegaram para a emissora e disseram: - espera um pouco, patrocinei o Golpe pra derrubar Dilma! Não os meus negócios!

O auto engano de crer que o Mercado pode tudo é o início do fim do Império da Vênus Platinada.

Tudo ficou muito solto com o Temer & Cia com a chave do cofre. A imagem dos patrocinadores visíveis do Golpe desgastada, a imagem de um Governo em ruínas e o empresariado em sinal de alerta, os seus prejuízos não sendo compensados pelo rentismo e nem por uma opinião pública, já avessa aos desejos da Globo e do Mercado, capaz de boicotar marcas anunciantes da emissora e contrária às reformas.

Sem contar o descrédito internacional e a imagem do País lá fora com o Golpe e o Governo do Golpe. O isolamento do País e a truculência do Executivo em posições/críticas de organismos internacionais de peso como a OEA e a ONU e os Direitos Humanos não respeitados pelo Governo Temer. A perseguição da Lava-Jato na base da “convicção” a Lula. E a Globo associada a toda esta patifaria.

E, se me perguntam o motivo de Aécio ser levado junto com Temer pela JBS, PGR, Supremo, Globo, Lava-Jato, ele que foi o mais blindado dos políticos? Respondo assim:

Justamente porque esse Sistema montado do Golpe teve em Aécio um centro irradiador de decisões e, certamente, central de propinas. E, ele estava sem freios, poderia detonar, trazer à tona muitos veios e histórias do Golpe. Atrapalha demais alguém sem limites, querendo o tempo todo levar uma grana aqui outra ali e sem controle das ações, enchendo o saco de deus e o mundo.

Aécio se tornou um estorvo para o Epicentro do Golpe: Mercado, Globo, Império e empresariado top.

Está tudo sem limites no Golpe e no pós-Golpe! Todos exigindo de todos, todos os participantes do Golpe querendo levar vantagens ao mesmo tempo, dentro e fora da Política.

A sobrevivência do Golpe passa por detonar com a parte mais fraca dele, os que não detêm o Capital, apenas se usufruem de gordas mesadas, participando da Política em prol do Capital.

Judiciário e Globo muito manchados com a Imagem da seletividade visível a olhos nus de suas blindagens, decisões judiciais e noticiários precisaram sair do campo de atuação seletivo e atingir alguns aliados de sempre.

Porém, não vai haver um processo de caça às bruxas, acomodação, sim!

O Sistema não viveria sem a certeza da impunidade aos políticos e membros do Judiciário que elege ou recebe/dá apoio.

Daqui a pouco veremos todos, idêntico como acontece na Lava-Jato, usufruindo o que amealharam de dinheiro até aqui e esquecidos do noticiário, porque se um dia ferrarem para valer com um Político ou Magistrado, cooptado para defender o Sistema, não se poderá mais garantir novos adeptos dessa simbiose Grande Capital e Política.

E não nos esqueçamos.

Continua valendo Lava-Jato para Lula, Vaccari e Zé Dirceu diferente de valer Lava-Jato para Cunha, Temer e Aécio.

Do GGN, por Alexandre Tambelli

domingo, 28 de maio de 2017

América Latina: a região com a maior desigualdade, Frei Betto

Foto: Banco Mundial

Nossa América Latina

A América Latina, com 605 milhões de habitantes, é hoje a região de maior desigualdade no mundo. Em 2014, os ganhos per capita dos 10% mais ricos eram 14 vezes superiores aos de 40% da população mais pobre. Esse índice de desigualdade subia para 17 vezes no Brasil, Colômbia e Guatemala, e 24 vezes em Honduras.

Nenhum outro continente foi tão oprimido quanto o americano. Na Ásia predominam os olhos puxados. Na África, a população negra. Aqui escasseia quem possua traços indígenas. Já no primeiro século da colonização se calcula que 70 milhões de índios foram massacrados pelos colonizadores europeus.

Graças aos governos democráticos populares instalados no continente a partir de 1998, desde 2003 mais de 72 milhões de latino-americanos deixaram a pobreza, segundo dados da Oxfam. Isso ocorreu devido ao aumento do salário mínimo e dos gastos públicos em políticas sociais (agora reduzidos, no Brasil, pelo governo Temer), e o aprimoramento da educação fundamental.

No entanto, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) calcula que, desde 2014, 1,7 milhão de latino-americanos voltaram à pobreza. E no final de 2016 se somaram a este contingente mais 1,5 milhão de pessoas, como vem ocorrendo no Brasil com seus 14 milhões de desempregados.

Esse reempobrecimento do continente decorre não apenas de fatores econômicos, como o fim do boom das commodities, mas também de redução das políticas sociais, em especial nos países afetados por golpes parlamentares, como Honduras, Paraguai e Brasil, e agora governados por presidentes neoliberais, como Argentina e México. Há que considerar ainda as catástrofes ambientais, como as recentes chuvas torrenciais na região andina e a seca que ora castiga o Nordeste brasileiro.

Em matéria de educação, o Brasil ainda não atingiu o patamar médio dos países latino-americanos. Aqui os alunos do ensino médio permanecem na escola cerca de quatro horas por dia. A média continental é de seis horas.

A América Latina não encontrou ainda  seu modelo de desenvolvimento sustentável. Todos os países continuam na dependência de suas exportações, ou seja, sujeitos aos interesses das nações metropolitanas e às oscilações do mercado.

Segundo a Cepal, 29,2% da população latino-americana vive, hoje, na pobreza, o que equivale a 172 milhões de pessoas. Em 2014 eram 28,2. A pobreza se expande, sobretudo, em Honduras, México e Venezuela.

A América Latina não terá futuro enquanto não alcançar justiça fiscal, ou seja, o imposto progressivo (quem ganha mais, paga mais), a redução da corrupção e o aumento dos gastos em políticas sociais.

No Brasil, o retrocesso nos índices sociais aumentará com a provável aprovação das reformas trabalhista e previdenciária, que cortam substancialmente direitos sociais conquistados nas últimas sete décadas. No governo Temer, o orçamento da Funai (Fundação Nacional do Índio) sofreu redução de 23%, e o das secretarias voltadas às questões étnicas e aos direitos humanos, 56,3%. Isso explica os recentes conflitos envolvendo sem terras e indígenas na Amazônia brasileira.


Do GGN, por Frei Betto, escritor, autor de “Ofício de escrever”, que a editora Rocco enviou esta semana às livrarias.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

O combate à corrupção está dinamitando a economia nacional, diz presidente da CSN

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Em coluna publicada nesta terça-feira (4) na Folha de S. Paulo, o presidente da CSN e vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) afirma que o necessário combate à corrupção no país está “dinamitando as empresas nacionais”, falando também que existe uma sequência assustadora da autodestruição da indústria brasileira.

Ele cita a Operação Carne Fraca, afirmando que a “comunicação espalhafatosa” atingiu toda a atividade do setor, levantando dúvidas sobre a qualidade das carnes produzidas no país. No entanto, o movimento não é isolado e também afeta a indústria naval, de petróleo e da construção, diz Steinbruch.

Para o presidente da CSN, a continuação dessa autodestruição resultará na desnacionalização de tais setores, já que as empresas desvalorizadas “se tornam alvos fáceis para o capital estrangeiro”. 

Matéria completa da Folha: Combate à corrupção está dinamitando as empresas nacionais, por Benjamin Steinbruch.

Não é normal um movimento de autodestruição tão grande quanto o que está em curso no Brasil. Falo sobre a indústria brasileira. Vimos há duas semanas um evento no qual um dos setores mais eficientes da indústria brasileira, o de carnes, foi fulminado por uma operação ao que parece precipitada.

O objetivo, absolutamente correto, era interromper atos de corrução na fiscalização de alguns frigoríficos. Estavam envolvidas duas dezenas de unidades num universo de 5.000, ou seja, uma minoria.

O mais certo seria que os responsáveis pela eventual corrupção fossem levados à Justiça para responder pelos seus atos. Mas a comunicação espalhafatosa da operação acabou atingindo em cheio toda a atividade do setor, um dos poucos que ainda prosperam na atual recessão.

Em vez de apenas atingir malfeitores, a operação levantou grandes dúvidas sobre a qualidade das carnes. Imediatamente, vários países cancelaram importações do produto brasileiro à espera de novas garantias das autoridades sanitárias.

Em poucos dias, os frigoríficos, envolvidos ou não na operação, começaram a reduzir a produção, em razão da queda de demanda interna e externa, uma péssima notícia num país em crise: mais recessão, mais desemprego.

O problema é que não se trata de um evento isolado. A autodestruição da atividade industrial tem uma sequência assustadora nos últimos anos. O necessário combate à corrupção, em vez de punir só os corruptos, está dinamitando empresas nacionais.

A indústria naval, a de petróleo, a da construção e agora os frigoríficos são setores importantes diretamente atingidos. Em todos eles, o Brasil alcançou um nível altamente competitivo no cenário global.

A continuar essa sequência destrutiva, a tendência óbvia será a desnacionalização desses setores —desvalorizadas e sem recursos, as empresas se tornam alvos fáceis para o capital estrangeiro.

Soma-se a isso uma conjuntura adversa para a empresa nacional. O principal veículo de financiamento ao desenvolvimento, o BNDES, está contraído e receoso.

O governo reduz desonerações, o que significa aumentar impostos, e faz novo corte de R$ 10 bilhões em investimentos. O câmbio não ajuda as exportações. A taxa básica de juros continua em nível absurdo, 12,25% ao ano, embora o BC tenha começado a reduzi-la, mas com muita lentidão e medo.

Nesse cenário, a indústria tenta sobreviver. A produção do setor apresentou quedas nos últimos três anos e está hoje 16% menor que em 2013. A esperança de que pudesse haver crescimento neste ano começa a se esvair diante da continuidade do movimento de autodestruição.

A Volks foi recentemente punida por fraudar níveis de poluição de seus carros a diesel, tomou uma multa de US$ 4,3 bilhões nos Estados Unidos, mas não deixou de produzir um único automóvel. Em 2016, superou a Toyota e se tornou a maior fabricante de carros do mundo, com 10,3 milhões de unidades vendidas.

Após a rendição japonesa, em 1945, o general Douglas MacArthur chamou o imperador Hirohito para uma conversa no QG americano. A primeira coisa que ouviu do imperador foi um pedido: "General, peço que qualquer punição seja a mim, e não ao Japão".

Preservar a empresa nacional deve ser uma obrigação das autoridades brasileiras em todas as áreas: que as pessoas culpadas sejam punidas com o rigor da lei, que as empresas paguem multas por seus erros, mas que a atividade produtiva não seja mais prejudicada. 


Com informações do GGN

quarta-feira, 29 de março de 2017

Os estragos na economia brasileira pela lava jato três anos depois

No dia 17 de março de 2017, a operação Lava Jato comemorou seu terceiro aniversário de funcionamento ininterrupto. Para além de todas as consequências relativas a elementos de natureza política, jurídica e policial, a implantação de uma profunda articulação entre o Ministério Público Federal, a Justiça Federal e a Polícia Federal tem provocado também um enorme impacto sobre a atividade econômica em nosso país.
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Apesar de não ser correto creditarmos toda a responsabilidade da operação sobre o fraco desempenho do PIB, o fato é que as estatísticas apresentam uma elevada correlação entre ambos os fenômenos. Durante o primeiro ano de atuação da chamada República de Curitiba, o IBGE apurou a primeira retração significativa do produto brasileiro desde 2009. Assim, já em 2014 o PIB ficou praticamente estagnado, com crescimento de apenas 0,5%.

Ao longo de 2015, os efeitos foram mais evidentes. A partir de uma ação mais incisiva da força-tarefa liderada pelo juiz Sérgio Moro, os efeitos perversos sobre a capacidade de ação da Petrobras e das empresas do setor de construção civil se fazem mais nítidos. O PIB cai 3,8%. O movimento recessivo mais geral tem continuidade em 2016, e a Lava Jato também mantém suas atividades paralisantes sobre o setor real de nossa economia. Com isso, o ritmo da economia brasileira se vê retraído em 3,6%. Considerando todo o período, vivemos a maior recessão de nossa história.

Em seus primeiros meses de existência, a operação tinha um escopo bem mais restrito de atuação. Sua atribuição inicial era obter informações a respeito de um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo um deputado paranaense já falecido e que teria ocorrido na cidade de Londrina (PR). Em 2014 pouco ou quase nada se falava a respeito das empreiteiras. No entanto, pouco a pouco a Lava Jato foi ampliando seu raio de investigação e passou a incorporar as denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras e os grandes grupos oligopolistas da construção civil.

Por outro lado, a expansão das atividades do grupo comandado por Sérgio Moro se confunde com o período de aprofundamento das dificuldades na própria área da economia. A Lava Jato contribuiu para piorar o quadro, mas ela não pode ser considerada como o único fator a provocar a queda no ritmo da atividade por todo o País.

O fato concreto é que o início do segundo mandato de Dilma se confunde com a promoção do chamado estelionato eleitoral. A presidenta reeleita decide esquecer as promessas de campanha e embarca de cabeça na trilha do austericídio. Convoca Joaquim Levy para comandar a área econômica e delega ao indicado do Bradesco a autonomia para promover um ajuste fiscal de natureza conservadora e ortodoxa. Assim, a combinação perversa de taxas de juros elevadas e cortes nas despesas sociais do Orçamento da União lança as bases da recessão e do desemprego.

Na sequência, a opção de setores das classes dominantes por embarcar na aventura irresponsável do golpeachment também provocou um longo período de incertezas. As decisões de investimentos foram paralisadas e as repercussões das denúncias e indiciamentos provocados pela Operação também contribuíram para o contexto mais geral de imobilismo. A confirmação de Temer e a entrada em cena de Meirelles e Goldfajn no Ministério da Fazenda e no Banco Central reforçam a tendência austericida. No entanto, à ortodoxia sem vergonha na cara foi acrescentada a dedicação plena e detalhada pela implosão do Estado e dos mecanismos públicos de garantia dos direitos sociais básicos.

Além dos problemas inerentes à crise em que se via mergulhada a Petrobras, instalou-se na direção da maior empresa estatal brasileira uma direção que busca a privatização da mesma. No que se refere ao setor da construção civil, a opção por redução das despesas orçamentárias em setores estratégicos se combina ao imobilismo caracterizado pelas empecilhos de natureza jurídico-policial.

E o pano de fundo de tudo isso era a continuidade das sucessivas e intermináveis etapas da Operação Lava Jato. Foram 7 fases em 2014, 14 em 2015 e 16 em 2016, totalizando 37 fases de acordo com informações da Polícia Federal. A referência à Petrobrás aparece em 15 delas, enquanto o termo empreiteiras é localizado em 7 das fases deflagradas. Frente a tal estratégia devastadora, os efeitos sobre a atividade econômica nacional não poderiam passar incólumes.

A participação do setor da construção no PIB aproxima-se de uma média de 5% ao longo dos últimos anos. Assim, por exemplo, uma redução de 20% na atividade em determinado ano provoca imediatamente uma retração de 1% no produto anual. Além disso, o setor tem características próprias que fazem dele um amplificador dos fenômenos econômicos mais gerais. Assim, quando o PIB geral cresce, o PIB da construção civil tende a crescer em ritmo mais acelerado. Em sentido contrário, quando há recessão geral, o PIB da construção civil tende a cair de forma ainda mais acentuada. Foi o que aconteceu em 2015 e 2016, por exemplo. De acordo como gráfico abaixo, na recessão de 3,8% do ano retrasado, o setor caiu 6,5%. Para a queda do PIB de 3,6% do ano passado, a construção civil caiu 5,2%.
O caso da Petrobras também impactou de forma direta a atividade econômica de forma geral. Estimativas oficiais apontavam que o setor de petróleo e gás representava 13% do PIB em 2014. Essa taxa refletia uma performance expressiva de crescimento do setor no início do século XXI, em especial depois da confirmação das jazidas do Pré Sal. Esse importante ramo da economia brasileira havia saído da participação de 3% em 2000 para mais do que quadruplicar em 14 anos. E o carro chefe desse tipo de atividade aqui no Brasil é a Petrobras.

Até o momento anterior à entrada em vigor da Lava Jato, as previsões de investimento da empresa eram de magnitude elevada. Assim, o plano de investimentos da estatal para o período 2014/18 anuncia o montante de US$ 220 bilhões - ou seja, o valor anual de US$ 44 bi. Na sequência, surgem os efeitos combinados do austericídio tupiniquim, da queda do preço do petróleo no mercado internacional, da Lava Jato e da intenção privatizante dos governos por aqui. Assim, o plano de investimentos para o quinquênio 2015/19 reduziu esse valor total para menos da metade do anterior e ficou em US$ 98 bi - média anual de US$ 19,6 bi. Em 2016, a tendência do desmonte se acentuou e o plano quinquenal 2017/20 caiu para US$ 74 bi - média anual de US$ 4 14,8 bi.

Algumas estimativas apontam que entre 2% e 2,5% da queda geral de 3,8% do PIB em 2015 podem ser atribuídos à redução dos investimentos e das despesas da Petrobras. Naquele ano, a queda nos investimentos da empresa chegou a 42% e os efeitos são imediatos sobre o ritmo da economia de forma mais geral. A atividade empresarial da Petrobras proporciona um efeito econômico direto sobre as empresas de construção civil, sobre as encomendas dos navios em estaleiros, sobre as empresas fabricantes de sondas e plataformas, entre tantos outros seguimentos importantes do país.

Com a imobilização deliberada da iniciativa da Petrobrás por parte de seu atual corpo dirigente, a eventual retomada das atividades nesse importante setor de óleo e gás deverá ser patrocinada pelas empresas multinacionais, para as quais governo tem oferecido todo o tipo de benesses e favorecimentos. Além disso, a mudança na política de conteúdo local também direciona a demanda por esse tipo de serviço e equipamento para os fornecedores no exterior. A própria Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) estima em 1 milhão o número de empregos aqui serão destruídos aqui dentro caso esse tipo de medida seja mesmo implementada.


Com informações do GGN, por Paulo Kliass doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Promotora: 'Compra Premiada' é o maior golpe contra a economia popular do MA

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Assembleia Legislativa do Maranhão recebeu em reunião, na manhã desta quinta-feira (15), a promotora de Defesa do Consumidor Lítia Cavalcanti. O presidente da Comissão, deputado Bira do Pindaré (PT), mediou o debate, que também contou com participação dos deputados Eduardo Braide (PMN), Dr. Pádua (PSD) e Eliziane Gama (PPS).

A reunião teve como objetivo ouvir a promotora sobre o andamento dos trabalhos frente à Promotoria. A principal reclamação e inquietação do consumidor é com relação ao caso das compras premiadas, mais especificamente a situação da empresa Eletromil, que tem como responsável o empresário Eduardo Fagundes. O caso ganhou repercussão por ter lesado mais de mil pessoas no Estado do Maranhão. No Estado do Pará, os danos estão calculados em torno de R$ 30 milhões.
Promotora de Defesa do Consumidor Lítia Cavalcanti
“Este é o maior e o pior golpe contra a economia popular da história do Maranhão. É o maior golpe que vi na minha vida. Existem dados na promotoria e sabemos quem está blindando o processo. Esta espécie de crime continua acontecendo no Estado”, desabafou a Promotora.

Na tentativa de apurar os fatos, a Comissão de Direitos Humanos decidiu convidar o gerente do Procon no Maranhão e a delegada da Defesa do Consumidor para uma reunião na próxima quinta-feira (22).

AUDIÊNCIA PÚBLICA
Diante da gravidade do caso, a comissão também aprovou, por unanimidade, a realização de uma audiência pública para tratar das compras premiadas, local e data serão definidos após posteriormente.

“Primeiramente ficou decidido que ouviremos os atores envolvidos no caso das compras premiadas, vítimas, empresários e outros. Vamos ouvir o Procon e a delegada de Defesa do consumidor em audiência pública. Se não resolvermos a situação, vamos entrar com um pedido de CPI”, afirmou Bira.

Do J P