quarta-feira, 2 de março de 2016

Presos sete envolvidos na vingança de Kaleu Torres morto em Buriti/MA

Presos sendo apresentados à imprensa em Teresina

Os seis suspeitos do sequestro e morte de dois presos da Delegacia de Buriti do Maranhão, que foram encontrados em Miguel Alves, foram apresentados em coletiva na Delegacia Geral da Polícia Civil em Teresina nesta terça-feira(01). As vítimas eram suspeitas de matar o empresário Kaleu Torres e teriam sido assassinadas supostamente por familiares do empresário.

Foram cumpridos mandados de prisão contra: a professora Claudiane Lopes do Nascimento Pereira; o instrutor de academia José Iranilton Silva; sua esposa, a professora Sandra Vaz da Silva; o lavrador Eder Jerônimo Vaz, que eram amigos de infância de Kaleu; e também o irmão de Kaleu, o granjeiro Vítor Pontes Fortes Torres e seu padrasto, o autônomo Marcones Plínio Araújo.

A viúva do empresário, Fernanda Costa Pereira, também foi presa, mas por decreto da Justiça do maranhão, por isso ela já está sendo recambiada para o presídio de Pedrinhas em São Luís-MA.
  
"Ela tem uma motivação, já que era o marido dela, e tem um elo. O veículo do empresário é que foi utilizado no sequestro dos dois suspeitos da morte dele. Ela é que tinha a posse desse veículo e teria cedido ao cunhado, irmão de Kaleu", declarou o gerente de policiamento do interior do Piauí, Willame Moares.

Vítor, Eder e Claudiane e uma quarta pessoa do sexo masculino ainda não identificada seriam os autores do “arrebatamento”. Imagens das câmeras de segurança de estabelecimentos da cidade de Buriti registraram a presença de dois veículos encontrados com os suspeitos.

Josemar Rocha, delegado regional de Buriti, destacou que para ter acesso à cidade, é preciso atravessar um trecho de água por meio de uma balsa. Nela, ficaram registradas as presenças da caminhonete e das motos usadas pelos criminosos.

Na delegacia, Claudiana teria simulado a intenção de registrar um boletim de ocorrência. Nesse momento, Vítor, Eder e um outro homem renderam o carcereiro da delegacia e levaram os suspeitos do homicídio do empresário.

"Vamos investigar todos os crimes praticados por eles na delegacia. Eles vão responder pelo roubo, já que levaram celulares e algemas da delegacia, sequestraram os presos e ainda vão responder por associação criminosa, já que mais de três pessoas estão envolvidas no caso", informou.

O homicídio qualificado, praticado no Piauí, ficará a cargo da polícia piauiense.

FAMILIARES NEGAM PARTICIPAÇÃO

 Irmão e padrasto de Kaleu Torres (foto)

Vítor Vieira Fortes Torres, que é irmão de Kaleu Torres, disse que tem três filhos e era que era trabalhador. Ele nega que tenha envolvimento no crime e diz que também é vítima. “Não sei de nada, só que meu irmão está morto. Com certeza (estou sendo injustiçado) porque sou vítima nessa história. Meu está morto e eu vou ser preso?”, questiona. Vitor afirma que estava em casa no dia do crime contra os presos da delegacia. 
Ele afirma ainda que sua família está sendo ameaçada. “Estamos tudo com medo. Toda hora estão ameaçando a gente, que vão matar minha família todinha. Estamos amedrontados”, declarou sem revelar de onde partem essas ameaças.
   
O padrasto também negou a participação no duplo homicídio. Segundo ele, os últimos dias não saiu de perto da esposa, mãe de Kaleu, que está grávida de 9 meses e que tem perdido líquido. “Minha esposa está nos dias de ganhar menino. Todos na rua que moro sabem que estava em casa nessa data (morte dos presos), sou comerciante e vivo do trabalho para casa. A minha esposa teve perda de líquido e fiquei sete dias no hospital com ela. Tenho certeza de que não tenho nada a ver com isso, porque confiamos na Justiça de Deus”, ressalta Marcondes Araújo. 
   
OUTROS PRESOS
De acordo com José Iranilton, ninguém foi informado dos motivos das prisões. “Eu nem sei porque estou aqui. A minha mulher [Sandra] também não foi informada de nada. Ninguém sabe de coisa nenhuma”. 

Somente Sandra, dentre os presos, demonstra nervosismo com a prisão. Ela permanece a maior parte do tempo de cabeça baixa e já chorou bastante. 

O advogado Nazareno Thé, já conversou com seu cliente, Eder Jerônimo, e falou ao portal que ainda vai se inteirar do caso. “Eu acabei de chegar à Delegacia e sequer sei quais as acusações. Vou começar agora a acompanhar”, disse o advogado.

Advogado Nazareno Thé com um dos presos

Apesar de negarem a participação, o delegado Paulo Nogueira, que comanda as investigações no Piauí, disse que os suspeitos não se preocuparam em esconder evidências.

“Não havia por parte deles muita preocupação por serem descobertos. Primeiro pelo espaço de tempo entre a morte do Kaleu e a morte dos presos, depois pela via de acesso entre as duas cidades, os veículos que utilizaram também eram conhecidos de todos na cidade. O local onde os corpos dos presos foram desovados é próximo da fazenda dos pais de Kaleu. Não é que todos tenham participado de todos os momentos e que seja apenas esses. É provável que chegamos a outros, mas ainda estamos investigando”, declarou. 

ENTENDA O CASO
As vítimas foram identificadas como Sabino Neto Cardoso dos Santos e Leonardo Vieira Silva, conhecido como "Cafuringa", que estavam presos na delegacia, e foram sequestrados da delegacia por um casal que fingiu querer registrar um boletim de ocorrência. Eles foram encontrados mortos em uma lagoa no município de Miguel Alves.

A polícia investiga se foi crime de vingança, feita pela família, que estaria supostamente fazendo justiça com as próprias mãos.

O laudo da morte dos presos constatou que foi um dos mais bárbaros assassinatos da história do Piauí. Eles foram torturados ainda vivos, com os olhos furados, tiveram orelhas, pés, mãos  e braços decepados e até as vísceras retiradas antes de morrerem.

O crime foi desvendado numa operação conjunta entre as polícias do Piauí e Maranhão. 


DELEGADO DIZ QUE CRIME FOI UM DOS MAIS CRUÉIS DO PI; FORAM 12 HORAS DE TORTURA

Delegado Willame Moraes

Sabino Neto Cardoso dos Santos e Leonardo Vieira Silva, conhecido como "Cafuringa", foram torturados durante cerca de 12 horas na cidade de Miguel Alves (110 Km de Teresina), em 14 de fevereiro deste ano. O delegado Willame Moraes, gerente de policiamento do interior do Piauí, declarou nesta terça-feira (1º) que este foi um dos crimes mais crueis que já viu em sua carreira e que os dois ficaram vivos durante 12 horas. 
"Poucas vezes na minha carreira como delegado eu vi algo assim. Eles foram tratados de forma muito cruel. Os dois tiveram seus olhos perfurados, as orelhas arrancadas, mãos e pés decepados e foram eviscerados [tiveram as vísceras retiradas]. Tudo isso em vida", declarou.

O delegado Josemar Rocha, titular de Buriti (MA), de onde a dupla foi sequestrada, comentou que mais pessoas, além dos seis presos no Piauí, podem ter participado da sessão de tortura.

"Eles irão responder pelo homicídio triplamente qualificado, foi um caso de emprego de extremo sofrimento a essas duas pessoas. Além dos presos, nas nossas investigações acreditamos que há mais pessoas que participaram desse homicídio. Vamos apurar isso e novas prisões ainda devem acontecer. Muitas diligências que ainda serão feitas estão sob segredo de Justiça", declarou o delegado do Maranhão.

O delegado Willame declarou que a polícia recebeu informações da existência de áudios do momento da tortura. "Contudo, nada foi confirmado ainda. Soubemos que esses arquivos estão circulando pelas redes sociais, mas isso ainda não chegou até nós".

Os suspeitos de envolvimento no crime são a professora Claudiane Lopes do Nascimento Pereira; o instrutor de academia José Iranilton Silva; sua esposa, a professora Sandra Vaz da Silva; o lavrador Eder Jerônimo Vaz; o granjeiro Vítor Pontes Fortes Torres e seu padrasto, o autônomo Marcones Plínio Araújo. Eles serão conduzidos à Penitenciária Feminina e à Casa de Custódia de Teresina.

Sandra foi presa por receptação, em flagrante, porque estava com a moto usada no crime, que é roubada. 
Vítor é irmão e os demais são amigos de infância de Kaleu Torres, empresário morto em Buriti (MA), no dia 9 de fevereiro deste ano. Sabino e Leonardo seriam os autores do homicídio. A viúva do empresário, Fernanda Costa Pereira, também foi presa, mas por decreto da Justiça do Maranhão, ela cumprirá pena no presídio de Pedrinhas em São Luís (MA). Ela teria fornecido um dos veículos usados no crime.

Os presos foram apresentados hoje (1º) durante coletiva de imprensa na Delegacia Geral de Polícia Civil do Piauí. 

Cidade Verde

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Presos sequestrados da delegacia de Buriti são achados mortos em Miguel Alves com as mãos decepadas

Sabino Santos e Leonardo Silva, o Cafuringa

Os corpos de dois homens foram encontrados no final da tarde desta segunda-feira (15) em um povoado de Miguel Alves (PI). A polícia acredita que as vítimas são os suspeitos de assassinarem o empresário Kaleu Torres, no dia 9 de fevereiro. Eles estavam presos na delegacia de Buriti de Inácia Vaz, no Maranhão, onde ocorreu o crime, e foram sequestrados do local na noite de ontem.

Prédio da Delegacia de Polícia de Buriti-MA

Equipes da perícia criminal e do Instituto Médico Legal de Teresina foram enviadas até a localidade Pimenteiras, onde os corpos foram achados em uma lagoa. Sabino Neto Cardoso dos Santos e Leonardo Vieira Silva, conhecido como "Cafuringa", estavam presos na delegacia e foram sequestrados da delegacia por um casal que fingiu querer registrar um boletim de ocorrência.

Lagoa em que foram encontrados os corpos

O delegado da Polícia Civil do Piauí Paulo Nogueira, que investiga o caso, confirmou que os dois corpos foram encontrados com mãos e braços decepados. Segundo ele, há a dupla deve ter sido assassinada há mais de 24 horas, em razão do mal cheiro no local. A lagoa dista dois quilômetros de Miguel Alves e fica próxima a um pontão, que liga o município piauiense a Buriti de Inácia Vaz. Moradores da região encontraram os corpos e acionaram a polícia por volta de 16h.

Paulo Nogueira afirma que já existe uma investigação para apurar o sequestro dos presos da delegacia e a perícia do Piauí tentará descobrir se o crime foi ocorreu em Miguel Alves ou Butiri, "para evitar que tenhamos dois inquéritos apurando o mesmo fato. Mas a polícia do Piauí vai ser parceira nessa investigação do Maranhão."

O delegado Willame Moraes, gerente de policiamento do interior do Piauí, também confirmou ao Cidadeverde.com que os mortos são os dois presos sequestrados na delegacia do município maranhense. Segundo ele, a perícia deve identificar se os suspeitos foram assassinados no local ou ainda no Maranhão.

Kaleu Torres, dono de uma loja em Buriti, foi morto com uma facada abaixo do peito esquerdo em uma festa de Carnaval em Buriti de Inácia Vaz. O crime teria sido realizado após o empresário derramar uma garrafa de bebida em um grupo de jovens, o que teria ocorrido acidentalmente. Os dois suspeitos foram presos na mesma noite.

Dois dias após a morte de Kaleu Torres, o comerciante Francisco Germano da Silva, seu sogro, foi alvo de uma tentativa de homicídio em Miguel Alves. Ele foi baleado no tórax e em um dos braços. De acordo com Willame Moraes, investigações já descartaram a ligação desse segundo crime com o assassinato de Kaleu Torres.

Fonte: cidadeverde.com

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Pra não dizer que não falei do Moro, por Armando Rodrigues Coelho Neto*

Quadro ilustrativo

Parem a Lava Jato! Vamos todos para o tanque. Vamos lavar peça por peça, tirar mancha por mancha e até, quem sabe, tentar ver de onde vem e como começou a sujeira. Afinal, posso imaginar que por US$ 100 milhões, nos quais figura como aparente beneficiada a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é possível retomar o mote de Aécio Neves, durante campanha presidencial de 2014: “vamos conversar?”

Por um descuido qualquer, seja da Polícia ou Justiça Federal, quem sabe do Ministério Público Federal, furou a “seletividade de vazamento”. Não deu mais pra segurar, o que, aliás, nunca foi novidade: a corrupção na Petrobras é antiga, antecede a gestão petista e, Paulo Francis que o diga, sabe-se lá como, ainda que por psicografia.

Agora, e não tão agora assim, que pelo menos temos uma cifra, quem sabe será possível conversar sobre corrupção, sem que nos acusem de estar defendendo ladrões; sem que nossos opositores nos mandem para Cuba, o que aliás nunca foi má ideia – dizem que Cuba é linda! Uma conversa com menos rótulos, onde termos como bolivariano, venezuelação, lulopetismo, comunização fiquem fora do debate.

Agora, quem sabe, fique claro, que não existe combate à corrupção. Existe guerra contra o Partido dos Trabalhadores, por razões que não podemos especular, posto que vão desde bravatas sobre o tal “Fórum de São Paulo” à tentativa de transformar o Brasil numa Venezuela. Percorrem a trilha do quem roubou mais ou menos (quando se admite que antes se roubava). Aliás, sempre causou perplexidade ouvir que a “corrupção passou de todos os limites”, sem que alguém explique esse limite supostamente aceitável.

Quem sabe eu possa explicar que não sou filiado ao PT, que tenho severas críticas à sigla, ainda que de há muito tenha reconhecido na legenda a única força política organizada, capaz de enfrentar a cultura vira-lata e entreguista das supostas elites brasileiras. Aliás, uma elite que namora e financia forças políticas que saqueiam alguns estados brasileiros há décadas. A propósito, saques sem investigações, denúncias, cobertura da dita “grande mídia” -  que de grande só tem mesmo o poder de enganar, de manipular.

Dito isso, recorro ao mais alienado dos chavões políticos para dizer que, agora que sabemos “que é tudo farinha do mesmo saco”, quem sabe possa ser possível aprofundar o debate, sem fulanizar, sem partidarizar, sem reverberar o cinismo dos jornalões, dos panfletos políticos disfarçados de revistas ou das criminosas vozes difundidas por emissoras de rádio e televisão de significativa audiência.

“Vamos conversar?”

Permitam-me, pois, ser repetitivo nos bordões: bolivarismo, venezuelação, lulopetismo, comunização, nunca se roubou tanto, a corrupção passou dos limites.

Tudo bem. Ouvir ou ler isso de pessoas sem formação escolar, de pessoas sem educação doméstica, desapetrechada de educação formal qualquer é tolerável. Que tais chavões partam de políticos entreguistas oportunistas, armados para retomar as rédeas da Nação para por em prática seus projetos pessoais, também é incômodo, mas aceitável. Do mesmo modo, seria ou é suportável digerir a leitura distorcida dos veículos de comunicação, cujos donos vivem atrelados a interesses inconfessáveis. Do mesmo benefício gozam os jornalistas que se venderam por alguns dólares para fomentar a discórdia e disseminar ódio.

O que nos incomoda é quando esses chavões reverberam dentro da Polícia Federal, Ministério Público Federal, Justiça Federal, entre outros. Sejamos econômicos da lista. Causa perplexidade a precariedade de visão reinante em parte dos integrantes dessas instituições, pois além de não especificarem o limite da corrupção e ou violência, ficam a reverberar que tais anomalias “passaram dos limites”, reverberando às turras os chavões de políticos ladrões não investigados ou “não investigáveis” (blindados).

Costumo dizer que o Partido dos Trabalhadores ganhou eleições sem nunca ter chegado ao poder. Reservo-me a visão de que quem tem poder, pode. Ganhar o direito de gerir normas (escritas, não escritas, com “por foras” e ressalvas) preestabelecidas num país, sem poder nada transformar, não é poder. Portanto, o poder está nas mãos de quem sempre esteve. No caso, o capital nacional e estrangeiro que financiou a campanha do gestor de plantão. O resto é acreditar em capitalismo samaritano.

Nos doze anos de gestão petista, o partido não conseguiu fazer uma reforma tributária; não conseguiu fazer uma reforma política; não conseguiu fazer uma significativa reforma no ensino; não conseguiu tributar grandes fortunas; não conseguiu regulamentar de forma livre e democrática os pequenos veículos de comunicação – tratados vergonhosamente por “piratas”; não conseguiu fazer o básico que é a democratização dos meios de comunicação - no mínimo a exemplo das que existe nos Estados Unidos, Inglaterra, Dinamarca, Japão e até Argentina.

Pois bem. Como que um partido que não fez sequer isso, pode transformar, por decreto, o Brasil num país comunista? Como poderia transformar o Brasil numa Cuba ou Venezuela por simples decreto? Como poderia fazer isso, tendo instituições como o Exército, cujas escolas de formação são regidas por ideias medievais? Um simples exame dos currículos das Escolas Superiores de Guerra ou suas congêneres como Associações de Diplomados da Escola Superior de Guerra revela quão conservadores são seus princípios. Como poderia isso acontecer diante do poder de entidades igualmente medievais (até nos ritos) como as Lojas Maçônicas? Como fazer isso numa sociedade cuja “elite” não assimilou a Lei Áurea e reclama das migalhas capitais jogadas aos miseráveis? Sem contar com as entidades ligadas a entidades da indústria e do comércio... Também aqui, é conveniente encurtar a lista.

Entretanto, respeitadas as exceções, integrantes da Polícia Federal, Ministério Público, Justiça Federal repetem como qualquer ser precariamente informado o refrão “bolivariano”, termo aqui empregado como sinônimo dos demais “mantras da desinformação ou do golpismo”. No caso específico da Polícia Federal, exaustivas vezes ouviu-se falar do aparelhamento da instituição, sem que um único cargo expressivo fosse ocupado por qualquer petista até a presente data.

Na condição de operador do direito, certamente dos menos preparados, devo limitar-me a obviedades do gênero: “o atentado de 11 de setembro/2001 nos Estados Unidos mudou o mundo”. Mas, desde então, a indiferença para com os paraísos fiscais era gritante. Eram responsáveis não apenas pela guarda do dinheiro do tráfico, sonegação, contrabando, corrupção, mas também o dinheiro que financiava aquilo que os financiadores das mais sangrentas guerras do mundo chamam de terrorismo. E foi daí que a leitura mudou: hoje, até bancos da Suíça estariam notificando seus clientes “sem nome”, de que não têm mais interesse “nesse tipo de conta”. A recente lei de repatriação de capitais, sancionada pela Presidência da República fala por si.

Um pouco antes, sabe-se, em que pese criada em 1948, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi reformulada em 1961, tinha princípios rigorosos, mas queixou-se mais tarde de que, até 1998, apenas 14 países seus associados negavam a possibilidade de dedução de impostos relacionados ao suborno de autoridades em diversos países. Leia-se, suborno pago a países como o Brasil eram deduzidos do imposto de renda. A Alemanha, por exemplo, a duras penas, só interrompeu a prática em 1999.

Até onde se sabe, a Alemanha é grande parceira econômica do Brasil e tem aqui larga prática comercial. Sem alongar a lista, países como Suécia não permitia a dedução no imposto de renda, mas aceitava tais despesas desde que a corrupção fosse prática institucional no país. Enquanto isso, o Japão aceitava essas mesmas despesas, desde que figurassem como “gastos de viagens”. A rigor, o Brasil era, do ponto de vista econômico, atrelado a um bloco de países corruptores e isso era “consenso”, consentido, tolerado. Havia corruptores e não havia corruptos. E quem eram os governantes de até  então?

Aceitemos, pois, que os operadores do direito da PF, MPF e JF, ainda que ignorassem o jargão de que “a corrupção no Brasil é endêmica”, não tivessem conhecimento desse consenso global, nem conseguissem cruzar dados e constatar que comunismo não se faz por decreto. Por desconhecerem a realidade, por partidarismo (?), repetiam os mantras da ignorância e do oportunismo político. Pelo mesmo motivo, no caso especial a PF, alguns delegados sobem em palanques de manifestações para alardear a suposta corrupção inusitada. Outros passaram a usar as redes sociais para postagens agressivas contra a presidenta Dilma Rousseff. A propósito, o jornal O Estado de S. Paulo chegou a acusar delegados federais de fazer comitê eletrônico contra a então candidata.

Nessa trilha, sendo igualmente generoso, aceitemos que integrantes da PF, MPF e JF também desconheçam que os principais instrumentos de combate à corrupção, entre eles o Portal da Transparência e a Controladoria Geral da União foram criadas nos doze últimos anos.

O grande problema é aceitar que esses operadores do direito ignorem a autoria da Lei nº 12.850, (Colaboração Premiada, tratada pela mídia como “delação”), editada em 2013. Que além dessa norma, foram aprovadas as Leis 12.403/2011, 12.683/2012, 12.694/ 2012, 12.737/2012, 12.830/2013, 12.855/2013, 12.878/2013, 12.961/2014, Lei Complementar 144/2014, 13.047/ 2014. Tratam-se de normas  que deram outra dinâmica ao combate à corrupção e, de forma especial fortaleceram a PF, que teve até alguns “mimos”. Serve de exemplo o afago ao ego dos delegados federais, que por lei passaram a serem tratados por excelência. As policiais tiveram a aposentadoria reduzida e o comando da instituição tornou-se privativo do cargo de delegado federal.

Colocados esses pontos, tomando por referência os apregoados US$  100 milhões pró governo FHC, quem sabe dá pra conversar, sem que digam que estou defendendo a corrupção ou que sou comunista. De todo modo, que fique claro: quero passear em Cuba e visitar a Venezuela, pois segundo a Wikipédia, a terra do Chávez tem mulheres lindíssimas e já conquistou sete vezes o concurso de Miss Universo.

*Armando Rodrigues Coelho Neto é delegado aposentado da Policia Federal e jornalista
Do GGN

sábado, 2 de janeiro de 2016

Nova menção a Aécio na Lava Jato testa critério de Janot ou "não vem ao caso"

Bis de Aécio na Lava Jato testará critério de Janot.
Aécio e Janot

Nesta quarta-feira (30), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) apareceu pela segunda vez na Operação Lava Jato; na primeira, quando foi citado pelo doleiro Alberto Youssef como responsável pela montagem de um 'mensalão' em Furnas, durante o governo FHC, o procurador-geral Rodrigo Janot pediu o arquivamento do seu caso; agora, a denúncia é mais recente: um entregador de dinheiro de Youssef diz ter levado R$ 300 mil a um diretor da UTC, para que este depois repassasse a propina ao senador tucano, em 2013; agora, Janot, que prometeu bater "tanto em Chico como em Francisco", poderá pedir um segundo arquivamento ou terá a oportunidade de esclarecer o caso ouvindo o "Miranda da UTC", que mencionou o presidente nacional do PSDB,

Numa de suas delações premiadas, feitas em 2014, o doleiro Alberto Youssef, afirmou que seu padrinho na política, o ex-deputado José Janene, do PP, dividiu uma diretoria em Furnas com o senador Aécio Neves. Por meio dessa diretoria, ocupada pelo tucano Dimas Toledo, pagou-se, durante o governo FHC, um mensalão a diversos deputados federais.

Na delação, Youssef afirmou que ia constantemente a Bauru (SP) receber recursos da ordem de US$ 100 mil mensais em nome de Janene – o dinheiro era pago por meio da Bauruense, uma fornecedora de Furnas. Ele afirmou ainda que Aécio seria beneficiário desse esquema. As afirmações foram feitas tanto na delação (leiaaqui) como no Congresso (leia aqui).

Essa denúncia só veio a público quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu pediu o arquivamento da investigação relacionada a Aécio. Nela, Janot fez uma ressalva. Disse que o caso poderia ser reaberto se surgissem novas evidências relacionadas ao tucano.

Nesta quarta-feira, o nome de Aécio apareceu numa segunda delação. Desta vez, do maleiro Carlos Alexandre de Souza Rocha, que entregaria dinheiro em nome de Youssef. Rocha afirmou ter levado um pacote de R$ 300 mil para um diretor da empreiteira UTC no Rio de Janeiro, chamado de "Miranda", que teria como destinatário final o senador tucano.

Chico e Francisco

Diante da nova acusação, que Aécio diz ser "fantasiosa", o procurador Janot será pressionado por parlamentares governistas a reabrir o caso sobre o tucano. Até porque ele próprio sinalizou que seu lema, no comando do Ministério Público seria "pau que bate em Chico também bate em Francisco".

Um caminho óbvio e natural de investigação foi indicado pelo jornalista Fernando Brito, editor do Tijolaço. "Miranda, que é apontado pelo próprio Ministério Público como o responsável pelos “acertos” de propina com o PMDB na obra de Angra 3, seria, por óbvio, o próximo passo de qualquer investigação séria. Mas Miranda, ao que se saiba, não foi preso nem deixado mofar na cadeia até que entregasse os chamados 'agentes políticos', é claro", diz ele.

Ontem, em seu Facebook, Aécio postou a seguinte mensagem: “O que vai nos tirar dessa crise é a solidez das nossas instituições. O PSDB está ao lado da Justiça brasileira, do Ministério Público, da Polícia Federal e do Congresso Nacional, na defesa da democracia e do retorno da ética como instrumento de ação política”.

A bola, agora, está com Janot.

Do GGn