quarta-feira, 3 de maio de 2017

O jogo político no MPF e a aliança entre Janot e Brindeiro

Na sessão ordinária desta terça feira, o Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF) decidiu não referendar dois atos do Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot, autorizando afastamento de colegas para cursos no exterior.

Amplia-se, assim, o conflito entre o órgão superior do Ministério Público Federal (MPF) e Janot. Este não compareceu à sessão, motivo pelo qual não foi retomado o julgamento da representação sobre os limites para designação de procuradores fora da sua função original.

Como se recorda, a subprocuradora Raquel Dodge havia apresentado uma proposta para que não pudessem ser designados mais que 10% de uma mesma unidade. A proposta foi encaminhada a pedido da Procuradoria Regional da República do Distrito Federal e da Procuradoria Regional do DF – que atuam respectivamente na 2a e 1a instância. O PGR poderia designar até 120 procuradores, do efetivo de 1.200 do MPF. A única restrição era não convocar mais que 10% do efetivo de cada unidade.

Janot alegou que essa limitação inviabilizaria a Lava Jato. E o argumento foi acolhido pelo Estadão, em editorial, e pelo colunista Merval Pereira, de O Globo.

Janot jogou duro para derrubar a representação, valendo-se do álibi Lava Jato. Mas o que estava em jogo era sua vontade de designar procuradores ou autorizar afastamentos (em geral para viagens ao exterior).

Janot acabou pedindo  vista da representação quando a votação já estava em 7x1 contra ele.

Dias depois, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) emitiu nota oficial reconhecendo que a medida em nada afetaria a Lava Jato. O mesmo sucedeu com Congresso Técnico do MPF que, em reunião ocorrida semana passada em Belo Horizonte, endossou a posição do CSMP. A relatora da tese é a procuradora Mônica de Ré, membro da Lava Jato no Rio de Janeiro. A tese foi aprovada no Grupo Temático e na Plenária do encontro.

O Congresso Técnico foi ainda mais duro do que o CSMP, propondo a quarentena para procuradores que abandonem o MP para se tornarem advogados de defesa de ações que eles mesmo iniciaram. Foi o caso de Marcelo Miller, que abriu uma ação para investigar suposto pagamento de propina na licitação FX da FAB. Forçou o tema, ignorou todo o processo que culminou na escolha dos aviões da Gripen – que teve a aprovação unânime das Forças Armadas – para, depois, sair do MPF e aceitar um emprego milionário de advogado da própria SAAB, a dona do Gripen.

Hoje, na sessão ordinária, Janot não compareceu. Dessa forma, não se encerrou a votação da representação. Mas planeja assumir o controle do CSMPF através de uma aliança com o grupo de Geraldo Brindeiro – ex-PGR, conhecido na época como “engavetador geral da República”.

A aliança foi acertada no início do ano passado. Dela resultou a eleição para o CSMPF de Bonifácio de Andrada, estreitamente ligado ao ex-governador mineiro Aécio Neves, assim como a subprocuradora Maria Caetana Cintra Santos.

Caetana votou a favor da representação apresentada. Mas, pressionada por Brindeiro, admitiu rever o voto, caso haja reabertura de votação. Alega que a sessão não encerrou.
Toda essa movimentação reflete o clime pré-eleitoral, para renovação do CSMP.

No CSMPF há dez vagas. Duas são natas, a do PGR e do vice. 4 são eleitos pelo Colégio de Procuradores (englobando todos os procuradores do MPF) e 4 pelos subprocuradores.

Compõem o colégio os subprocuradores, Maria Caetana Cintra santos, Lindôra Maria Araújo, Raquel Dodge, Carlos Frederico Santos, Mário Bonsaglia, Mônica Nicida Garcia e Maria Hilda Marsiaj Pinto. Quando Bonifácio foi promovido, assumiu a vaga de vice-PGR e seu posto foi ocupado pela suplente Maria Hilda.

Na semana passada foram abertas as eleições de renovação de 4 vagas de conselheiros. Os grupos de Janot e Brindeiro se aliaram. Pretendem eleger juntos 4 titulares e os respectivos suplentes. Se saírem vitoriosos, ainda levará um bom tempo para o Ministério Público Federal reencontrar o caminho das grandes causas sociais e perder o estigma de ser um poder de uma nota só, a Lava Jato.


Do GGN

O Senador Renan Calheiros pede povo na rua contra temer, que faz governo de vingança

Líder do PMDB, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) declarou nesta quarta-feira 3, durante reunião com lideranças de centrais sindicais, que o governo Temer pode ser comparado com o do presidente Artur Bernardes (1922-1926), "considerado o governo da vingança"; Renan, que tem feito críticas públicas a Michel Temer, defendeu ainda que "é preciso resistir" às reformas Trabalhista e da Previdência e disse que não se pode "permitir que esse desmonte se faça no calendário que essa gente quer".

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), líder do PMDB no Senado, praticamente declarou guerra com o governo Michel Temer ao reforçar críticas às reformas Trabalhista e da Previdência na tarde desta quarta-feira 3.

Durante reunião com lideranças de centrais sindicais, Renan cumprimentou os representantes das entidades pela greve geral de sexta-feira 28 e disse que o governo Temer pode ser comparado com o do presidente Artur Bernardes (1922-1926), "considerado o governo da vingança". 
O líder do PMDB defendeu ainda que "é preciso resistir" às reformas Trabalhista - que segundo ele, "revoga a CLT" - e da Previdência, "contra os trabalhadores e as regiões mais pobres do País" - e disse que não se pode "permitir que esse desmonte se faça no calendário que essa gente quer".

Do 247

STF ao soltar Dirceu enquadra Moro e coloca seus filhotes da lava jato no devido lugar

Os procuradores da República em Curitiba, liderados por Deltan Dallagnol, tentaram hoje de manhã emparedar o Supremo Tribunal Federal, ao apresentar mais uma denúncia contra o ex-ministro José Dirceu.

Mas, como gostava de repetir Tancredo Neves, “esperteza, quando é muita, come o dono”.

No julgamento do pedido de habeas corpus apresentado pela defesa de José Dirceu — que está preso desde agosto de 2015 sem que tenha sido condenado em segunda instância — tiveram que ouvir o que, certamente, não gostaram:

“Não cabe a procurador da República nem a ninguém pressionar o Supremo Tribunal Federal, seja pela forma que quiser. É preciso respeitar as linhas básicas do estado democrático de direito. Quando nós quebramos isso, estamos semeando o embrião, a semente do viés autoritário.

A reprimenda — um puxão de orelha vigoroso – veio pelo voto de Gilmar Mendes, de quem se pode dizer muita coisa, menos que seja simpático ao PT de José Dirceu.

Gilmar Mendes chamou a apresentação da denúncia dos procuradores, no dia do julgamento de habeas corpus, de “brincadeira quase juvenil”.
Será?

Os procuradores da República usaram a mesma estratégia que minou o governo de Dilma Rousseff: pautar suas ações em função do calendário político e da repercussão na mídia.

Até agora, tem funcionado.

Hoje, por exemplo, ao noticiar a decisão do Supremo Tribunal Federal, a Globo News intercalou os comentários dos jornalistas com a reportagem sobre a denúncia contra José Dirceu.

Era como se dissessem: está vendo, o Zé Dirceu foi denunciado outra vez, mas o Supremo mandou soltá-lo.

Denúncia não é processo, processo não é condenação. E condenação, em primeira instância, não deve resultar em cadeia.

Quando o repórter que estava em frente ao Supremo fazia a entrada ao vivo, a apresentadora perguntou:

  “O que é esse barulho aí atrás? São protestos em razão da decisão de hoje?”

O repórter pediu que o cinegrafista mostrasse a manifestação: havia meia dúzia de pessoas, com bandeira do Brasil, protestando contra o Supremo.
É muito pouco e o noticiário seguiu com os comentaristas agora mirando o Tribunal Federal da 4ª Região, a segunda instância de Moro.

Se condenado lá – um dos comentaristas lembrou –, José Dirceu poderá ser preso outra vez, já que o próprio Supremo Tribunal Federal, em outro julgamento, considerou que, a partir da condenação em segunda instância, o réu poderá ser recolhido à prisão.

Se for absolvido depois, seja no Superior Tribunal de Justiça ou no Supremo Tribunal Federal, se estará diante de um caso de inocente que cumpriu pena.

Mas, nestes tempos estranhos, isso é o que menos importa.

Gilmar Mendes mostrou coragem ao enquadrar os jovens da Lava Jato.
Não é exagero imaginar que ele agiu assim se antecipando ao que pode acontecer agora que as investigações se aproximam de seus amigos do PSDB.

Pode ser.
Mas julgamentos anteriores de Gilmar Mendes indicam que ele é um ardoroso defensor da corrente que vê a liberdade como regra, a cadeia como exceção.

E assim deve ser.
Quanto à ameaça aos tucanos, o próprio Gilmar deve saber que, até agora, o risco de algum dano é mínimo.

Citações de tucanos envolvidos em corrupção raramente se transformam em inquérito e inquéritos, até aqui, não costumam se transformar em denúncias.

E denúncias, quando acontecem, não resultam em condenação.
Quer um exemplo?

Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, foi denunciado por corrupção no caso dos trens em São Paulo.

Está livre, leve e solto, apesar da prova entregue por procuradores da Suíça à Justiça brasileira: conta na Suíça, não declarada no Brasil.

Quer outro exemplo?

Aécio Neves e a irmã, Andrea, rei e rainha da estatal Furnas, citados como envolvidos em corrupção há mais de dez anos, não foram incomodados.

Hoje, Aécio prestou depoimento – falou por uma hora, e a notícia saiu no Jornal Nacional sem imagem.

Uma nota pelada, como se diz no jargão de TV.

Nota sem vergonha seria uma definição melhor.

Imagina se o depoimento fosse de Lula.

O chefe da Lava Jato, Deltan Dellagnol, já explicou que não caça tucano porque eles não eram governo e, portanto, não praticavam a corrupção.

O que faziam antes de 2003, no governo de Fernando Henrique Cardoso?
Bem, como diria o juiz Sérgio Moro, “não vem ao caso”.

Hoje, o Supremo mostrou que Moro pode muito, mas não pode tudo.

O Brasil pode ter começado a retomar o caminho do estado democrático de direito.

Justiça, para ser digna, não pode ser dois pesos e duas medidas.

Do DCM

O STF pôs fim a era do terror penal no Brasil, diz Batochio

O criminalista José Roberto Batochio, que defende o ex-ministro Antônio Palocci, celebrou a libertação de José Dirceu, decidida ontem pelo Supremo Tribunal Federal, e apontou o "fim da era do terror penal no Brasil", segundo informa a matéria, clique aqui.

"O Supremo fez chegar ao Brasil o 9 de Termidor da Revolução Francesa", afirmou. "É a Justiça pairando acima da turba ululante das ruas."

O 9 de Termidor equivale ao dia de 27 de junho de 1794, que marcou o fim da guilhotina na Revolução Francesa, período que terminou com Robespierre, responsável pela era do terror, sendo guilhotinado. 

Na metáfora de Batochio, o juiz Sergio Moro seria o Robespierre brasileiro.

A declaração de Batochio também sinaliza que a defesa de Palocci tem esperança em sua libertação, sem a necessidade de de uma delação premiada, saiba mais aqui.

Do 247

terça-feira, 2 de maio de 2017

Deputado Nilson Leitão do PSDB quer lei para trabalhador rural ser pago com comida e não com salário

Foto: ANPR 
Após votar a reforma trabalhista, os deputados irão decidir sobre mudanças nas leis trabalhistas específica para trabalhadores rurais. Um dos pontos da proposta pretende permitir que empresas paguem seus funcionários com “remuneração de qualquer espécie”, simplesmente fornecendo alimentação e moradia, sem pagamento de salários. 

O objetivo é adotar ideias similares ao projeto de reforma aprovada na última, restringindo a atuação da Justiça do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho. "Existe preconceito muito grande da Justiça do Trabalho com o trabalhador rural", diz o deputado Nilson Leitão, do PSDB de Mato Grosso, autor do projeto e integrante da bancada ruralista. 

Leitão argumenta que as leis e os regulamentos do MPT desprezam costumes, usos e a cultura do campo. Outro ponto da proposta permite que a jornada seja estendida para até 12 horas diárias por “motivos de força maior”. 

Também há a possibilidade de substituição do repouso semanal dos funcionários por um período contínuo, com até 18 dias seguidos trabalho seguidos, e a venda integral das férias dos empregados que moram no local de trabalho.

Para o deputado Beto Faro (PT-BA), coordenador da bancada rural do PT, a proposta é a “mais perversa que a própria reforma trabalhista”.  Para Contag e Contar, entidades de defesa dos trabalhadores rurais, o projeto "fere de morte normas constitucionais e infraconstitucionais relativas à saúde e segurança".

A proposta será discutida em uma comissão especial da Câmara que deve ser instalada nas próximas semanas. Leitão, em sua justificativa do projeto, diz que as mudanças vão reduzir custos, aumentar lucros e gerar novos postos de emprego. 

Além dos pontos específicos, o projeto do tucano repete parte da reforma trabalhista, como a possibilidade dos acordos coletivos entre sindicatos e empresas prevalecer sobre a lei e o fim do pagamento de horas in itinere (de deslocamento em veículos da empresa, onde não há transporte público). 

O projeto também revoga a norma do Ministério do Trabalho sobre as regras de segurança e saúde no campo (NR-31) e acaba com a obrigação de que a empresa mantenha equipamentos de primeiros socorros no local e com o exame demissional, se o funcionário tiver realizado exame médico ocupacional ou perícia no INSS nos últimos 90 dias.

Em outro ponto, o projeto atribui exclusivamente ao Ministério da Agricultura a fixação de regras sobre manuseio de agrotóxicos, também tirando a obrigação de descontaminar os equipamentos de segurança no fim de cada jornada, permitindo que maiores de 60 anos utilizem os agrotóxicos. 

Leia a íntegra do projeto aqui

Com informações do GGN

As pedras do XADREZ do dia seguinte da greve geral

Peça 1 – a fluidez dos movimentos políticos
O quadro politico evoluiu substancialmente nos últimos dias. De um lado, a greve geral, com a maior abrangência em décadas. De outro, os últimos movimentos em torno da Lava Jato, com o STF (Supremo Tribunal Federal) finalmente deliberando sobre a libertação de pessoas detidas com o objetivo de serem pressionadas a delatar. Finalmente, a Lava Jato entrando nas horas decisivas sem conseguir cumprir com seu objetivo maior, de levantar provas para sustentar as delações contra Lula.

Leve em conta que os movimentos políticos são fundamentalmente fluidos.
Em momentos de catarse, há um curto-circuito geral não apenas nas informações, mas no rumo dos ventos políticos.

Em relação a esses movimentos tectônicos, há duas espécies de personagens públicos: os radares e as birutas.

Radares são que se movem em torno de valores e, por isso mesmo, são as figuras referenciais que orientam o país, percebem os movimentos das ondas e permitem ao barco não perder o rumo, mesmo em meio à tempestade.

Birutas (de birutas de aeroporto) são os que seguem as ondas. Em momentos de vento brando, assumem uma determinada personalidade pública; em momentos de catarse, outra totalmente distinta, seguindo o que consideram os movimentos pontuais das marés.

Na história do país, mesmo no campo conservador estão consolidadas personalidades-radares como Sobral Pinto, Ulisses Guimarães, Paulo Brossard e o saudoso Mário Covas.

No grupo dos birutas de aeroportos, caminham para se transformar em personagens simbólicos os Ministros Luís Roberto Barroso e Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), e grupos de deputados e senadores.
Não se deve buscar previsibilidade em suas atuações, isto é, avaliar o que serão com base no que já foram. A análise deverá levar em conta a maneira como julgam que a situação política será, para, só aí, então, definirem o que serão.

Tudo isso torna extremamente complexo o desenho de cenários futuros.

Não é mais A + B + C = X, porque a mudança de A irá provocar alterações em B afetando o resultado em X.

Mas permite, por outro lado, conferir a devida relevância aos movimentos maiores de opinião pública, dos quais a greve geral da última sexta-feira foi um ponto de corte, atrapalhando o controle total do processo pelos donos do poder.
Antes, um pequeno diagnóstico do momento atual, à luz dos ensinamentos de Raymundo Faoro, o notável autor de “Os Donos do Poder”.

Peça 2 – o patrimonialismo, de Collor a Barroso
Desde que apresentou seu trabalho no evento da Universidade de Harvard – qualificando como ensaio uma leitura tosca de Raymundo Faoro – o Ministro Barroso tornou-se um bom exemplo de como a superficialidade analítica impede o autor de se enxergar no próprio desenho que ele está delineando em seu trabalho.
O trabalho de Barroso mencionou o “patrimonialismo”, de acordo com as definições de Raymundo Faoro.

É o mesmo Barroso que se tornou um defensor intransigente da nova ordem, da restauração que será comandada pelo Poder Judiciário, um modelo claramente englobado por Faoro no conceito de patrimonialismo.

Diz o inacreditável Barroso, o advogado das Organizações Globo, com seu peculiar entendimento do conceito de corrupção, e sua invejável capacidade de relacionar temas históricos:

Acho que estamos refundando o País. Assim como em 1808 [quando a família real portuguesa se mudou para o Rio de Janeiro] o Brasil começou, acho que estamos tentando refundar um País, ensinando as novas gerações que ser honesto é melhor do que ser desonesto. E que, se for desonesto, vai ter consequências negativas.

Barroso não tem a menor noção sobre os pontos em comum entre a vinda da família real portuguesa e o momento atual. O principal ponto em comum é a criação/fortalecimento de um estamento público que desenvolve e passa a controlar o Estado,  implantando definitivamente o predomínio da plutocracia sobre a Nação. Da mesma maneira que o Congresso definindo o desenho dos gastos públicos para os próximos 20 anos, independentemente do que decidirem as eleições.
O que diz Barroso, o patrimonialista, sobre a PEC 55, enfiada goela abaixo da sociedade por um governo provisório, empossado no bojo de um golpe parlamentar.

Desrespeitá-la significa predeterminar o futuro com déficits, inflação, juros altos, desemprego e todas as consequências negativas que dessas disfunções advêm. A democracia, a separação de Poderes e a proteção dos direitos fundamentais decorrem de escolhas orçamentárias transparentes e adequadamente justificadas, e não da realização de gastos superiores às possibilidades do Erário, que comprometem o futuro e cujos ônus recaem sobre as novas gerações

Vamos ver como Faoro analisaria o momento, baseado no trabalho “As reflexões de Raymundo Faoro sobre a transição política brasileira nos anos 1989 e 1990”, de Maria José de Rezende.
Não há definição melhor desse tipo de comportamento, do que a de Faoro sobre o início do governo Collor:
 “[...] a eternidade tem muitas encarnações, a do século passado e a de hoje” (FAORO, 1989f, p. 23). A do presente, ou seja, a da Nova República, reproduzia o estilo burocrático emoldurado na “[...] insensibilidade, dissimulada em termos técnicos, incompreensíveis [...]. O jogo não é inocente. Os interesses favorecidos [...] nada perdem e alguma coisa ganham.
Essa idéia de que podem tudo já expressa, certamente, uma mentalidade patrimonialista, para a qual não há limites políticos, éticos ou jurídicos para as suas ações. O despotismo impera. “E se a Constituição não permitir? Lixe-se a Constituição [...]

É o mesmo modelo de hoje:
Todas as ações daqueles agentes que se empenhavam em destruir o jogo democrático se mostravam completamente voltadas a esvaziar qualquer potencialidade da sociedade civil ao exaltarem medidas irracionais, magias e milagres. (...)
As mudanças políticas controladas pelos setores preponderantes, as quais se iam processando na denominada transição democrática, eram sempre de cima para baixo, reafirmando o seu caráter estamental; estavam sempre postas a serviço dos mesmos interesses.
Políticos e países subdesenvolvidos são faces de uma mesma moeda, já que se reafirmavam através de mudanças negociadas e conciliadas. A chamada Nova República (1985–1990) era o exemplo mais acabado disso.
Barroso não aprendeu uma lição magistral, que Faoro recebeu de Neemias Gueiros:
 Então, apareceu um velho advogado, um homem curtido em lutas políticas, que era o Neemias Gueiros, a quem transmiti minha insegurança. Ele me respondeu que haveria uma coisa em que eu sempre haveria de ganhar dos políticos: se eu me mantivesse sincero sempre.

Falou a Barroso a coerência para se firmar como referência. Como declarou o advogado e cientista político Victor Pimenta, “a decisão de Barroso em PEC 241 [ou 55] nos faz sentir saudades dos tempos em que ele era constitucionalista, ante a diferença abissal entre o “Barroso Professor de Direito Constitucional” e o “Barroso Ministro”.

Collor e o momento atual
O que está em andamento, hoje em dia, é um processo em tudo similar à aliança que gerou Fernando Collor. A descrição de Faoro sobre o governo Collor se aplica integralmente ao momento atual, mas passou desapercebido do nosso brasilianista de boutique.

Primeiro, a falsa visão de conferir desimportância ao Estado, ao mesmo tempo em que se apropriava dele:
Ações como as de Fernando Collor de Mello não sufocavam o patrimonialismo ao tentar agir como se o Estado não tivesse qualquer importância. O governo daquele último, num processo de rechaçamento do Estado, acabou por potencializar as ilusões de que um ente iluminado poderia tudo resolver mesmo passando por cima de qualquer compromisso com os ideais republicanos e democráticos. De fato, a exclusão social e política, a qual é a seiva que nutre a política patrimonial, continuava a correr nas veias da sociedade.

As apostas sucessivas do Poder em Marina, Dória, Bolsonaro repete, à perfeição, as apostas sucessivas em Quércia, Covas até bater em Collor, e as tentativas atuais de Aécio e Alckmin, até bater em Dória:
A transição procurou, (...) um caminho que convencesse mais em termos de centro. Abriu todas as oportunidades para Orestes Quércia, pois era ele o homem. De certa maneira, acenou também para que o nome fosse o de Mário Covas, mas não se chegou nem a um e nem a outro. Chegou-se a um que é inesperado, porém não indesejado dentro do projeto.

Assim como as semelhanças entre 1964, e o 1964 modernizado que se tenta hoje em dia:
Politicamente, 89 moderniza 64, com um instrumento tirado dentro do sistema, disciplinado pelo sistema, apoiado pelos financiadores que se fizeram dentro do sistema e apoiado pelos agentes que manipulam a opinião.

Em ambos os casos, há a necessidade da criação de um populista de direita:
E por que um sistema que se encontrava esgotado continuava ainda fazendo valer suas estratégias? O extenuamento do sistema podia ser detectado na necessidade de um candidato de direita, como Fernando Collor de Mello, apresentar-se como que ligado diretamente às massas. (...)  O sistema se renovava tanto com aquele que foi eleito diretamente em 1989 quanto com aquele que foi indiretamente eleito em 1984. O sistema se inovava, o que não significava que ele havia entrado em colapso.

Faoro tirava lições definitivas sobre as instituições brasileiras, sob a pressão dos fatos:
A lição que o momento ensina tem o mérito de desvendar o miolo das instituições brasileiras, antes e depois da Carta de 1988. Elas podem ser resumidas em duas palavras: constitucionalismo de fachada e democracia falsificada e falsificadora.

A defesa do Estado de Exceção em nome do combate à corrupção, por Barroso, também foi claramente explicada por Faoro:
Estabelecia-se, no início de 1990, uma espécie de ditadura hipócrita. A hipocrisia estava no fato de ela negar a sua própria identidade, tentando mascarar um exercício obstinadamente abusivo da autoridade.
Faoro fez essa discussão em vista da prisão da família Temporal (empresários) por dívidas com o Fisco. Naquela ocasião, o governo Collor apresentava-se como aquele que jogaria duro com o empresariado. Restaurava-se, assim, a inconstitucional prisão administrativa.

Também se deu conta – ao contrário de seu débil intérprete – a sucessão de ilegalidades, que se segue à ilegalidade maior:
Desarticulou-se, de um golpe, toda a estrutura jurídica, para que medrasse, à sua ilharga, uma economia com regras próprias. A ilegalidade maior gerou, como necessariamente acontece, as ilegalidades menores, decorrentes daquela, existentes porque aquela existe.

A criação de figuras midiáticas para o jogo político é nítida no modelo Collor e no atual. Sempre se sonhou com os Collors, Dorias, Hulks e similares fabricados pela mídia:
Entre as diversas formas de precarização cotidiana da democracia e da cidadania, estava, por exemplo, o veto à “[...] Lei das Inelegibilidades que prolongou a desincompatibilização do pessoal da mídia. E por que era esse um ato que tinha um significado importante? Bastava ater-se ao fato de que o presidente Collor estava agindo para garantir que um número significativo de indivíduos chegasse ao Congresso Nacional em razão de suas imagens mediáticas. Em relação a ele próprio, a mídia havia tido um papel central na construção de uma imagem de vitorioso, de vencedor, de arrojado e de decididamente capaz de mudar o Brasil em favor dos “descamisados”, isto é, dos mais pobres.

Finalmente, aborda a importância do nascimento de uma nova direita, como condição fundamental para uma esquerda renovada:
O florescimento de uma nova direita era condição fundamental para que ocorresse, no Brasil, a constituição de uma esquerda que deveria renovar continuamente os procedimentos na vida pública brasileira. Se esta última continuasse tendo como adversária a velha direita, haveria uma tendência de petrificação de ações políticas que ficariam essencialmente no registro do modo de agir que se havia processado ao longo da história do país.
A contínua e íntima relação – através de alianças e de conciliações – da esquerda com a velha direita se constituía num fator de emperramento da democracia no Brasil. Reafirmavam-se, assim, de diversas maneiras, práticas e hábitos fundados na não transparência de atitudes e de ações. Uma vez no poder, através dessas alianças, se teria a continuidade e a manutenção do mesmo padrão de domínio baseado em privilégios estamentais.

Peça 3 – os efeitos políticos da greve
A extensão da greve joga novos fatos no jogo político. E explicita de vez o jogo entre a nova direita – um arco em que entra o MBL, a Procuradoria Geral da República, a camarilha de Temer e o PSDB – e a nova esquerda, que ainda não nasceu.

Uma greve ampla fez a reação contra Michel Temer e o Congresso transbordar dos movimentos sociais e sindicatos para outros setores, com adesão de 83 bispos da Igreja Católica, dezenas de colégios particulares de São Paulo, inúmeras igrejas evangélicas, artistas, intelectuais, praticamente toda a Justiça do Trabalho, funcionários e parte dos procuradores do Ministério Público e funcionários da Polícia Federal.

A greve expôs o racha nacional se alastrando por setores até agora à margem da disputa, e cravou na testa das reformas o estigma de antissocial. Coloca em curto-circuito todo o jogo de contrainformação da mídia. Somem-se as pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias, dando um placar massacrante contra as reformas, contra Michel Temer e a favor das eleições diretas, para se perceber o fracasso do golpe: a política se despiu do manto diáfano da fantasia.

No curto prazo, haverá uma ampliação das pressões sobre os políticos, judiciário e mídia, às vésperas de um ano eleitoral.

No médio prazo, a consolidação de uma frente ampla contra o modelo de país que o golpe tenta enfiar goela abaixo dos cidadãos e que agora está desnudado.
O castelo retórico criado pela mídia se esboroou, incluindo as ameaças terroristas, do suposto fim do país sem as reformas.

Peça 4 – o novo posicionamento do Supremo
Durante o processo do impeachment, o Supremo jamais foi desafiado a analisar o mérito, graças à não-estratégia jurídica do advogado José Eduardo Cardozo. Só após o impeachment resolveu representar junto ao Supremo com uma solicitação de liminar incomum, de mais de 400 páginas.

Só recentemente, após o fato novo – a entrevista de Temer à Band admitindo o jogo político de Eduardo Cunha - reiterou o pedido. O caso está com Alexandre Moraes, que deveria - mas não vai - se declarar suspeito para analisar.

Na semana passada, no entanto, a 2ª Turma do STF ordenou o fim da prisão provisória de João Carlos Genu (ex-tesoureiro do PP) e de Eike Baptista. Votaram a favor da libertação os Ministro Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski; contra, Celso de Mello e Luiz Edson Fachin.

Antes disso, por razões humanitárias a 2a Turma ordenou a libertação do pecuarista José Carlos Bumlai. Votaram a favor Celso de Mello, Dias Toffoli e Gilmar Mendes. Edson Fachin e Ricardo Lewandowski votaram a favor da manutenção da prisão domiciliar –uma condição mais humana do que as prisões temporárias perenes.

Na 4a feira será o julgamento do habeas corpus de José Dirceu, preso há meses sem julgamento de 2a instância. Quase certamente será ordenada a sua libertação, embora Dirceu continue respondendo à condenação da AP 470. Nâo descarte alguma manobra de Moro, uma nova medida, para manter Dirceu enjaulado.

O que importa é que, finalmente, o STF ganhará coragem para revogar o mais absurdo instrumento de arbítrio desses tempos nebulosos: o uso da prisão preventiva como forma de pressão para obter a delação nos termos que o juiz e os procuradores querem.

De fato, há uma maioria sólida e não circunstancial na 2a Turma contra esse instrumento de arbítrio: Gilmar, por agora estar atingindo os seus; Toffolli por seguir Gilmar e Lewandowski por convicção garantista. Celso de Mello é um garantista com uma excepcionalidade: o PT. E Fachin é um neo-linha dura.
Agora, toda a pressão da Lava Jato sobre os delatores se concentrará no fator Lula.

Cena 5 – o adiamento do depoimento de Lula
Para adiar o depoimento de Lula do dia 3 para 10 de maio, o juiz Sérgio Moro alegou pedidos da Polícia Federal e da Secretaria de Segurança do Paraná. Mas o motivo central foi a falta de provas contra Lula.

Tanto assim, que a Lava Jato convocou reunião dos advogados da OAS para os dias 2 e 3 de maio, para discutir as delações da empresa. No dia 4, mais dois executivos, Roberto Moreira e Agenor Medeiros, ainda vão depor na ação que apura o tal "Tríplex do Guarujá".

Também se reuniu com advogados especializados em delação, como Antônio Figueiredo Basto, advogado de Alberto Youssef e Adriano Bretas. Os rumores são de que estaria propenso a aceitar a delação de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, que há mais de um ano tenta a delação. E também a de Antônio Palocci. Desde que versassem sobre Lula.

A última encenação, com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, foi um tiro pela culatra. Léo entregou a encomenda pedida – a afirmação de que Lula seria o dono do tríplex, mas sem apresentar provas. A Força Tarefa reforçou com provas ridículas, comprovantes de que, durante um ano, um carro do Instituto Lula passou por duas vezes no pedágio de Guarujá. O que motivou gozações nas redes sociais: passe pelo pedágio e ganhe um apartamento.

Ocorre que o ciclo de acusações a Lula já entrou na fase correspondente à curva de Lafer na economia – conforme boa imagem da senadora Gleise Hofmann. A curva de Lafer mostra que, a partir de determinado nível de tributação, o efeito é negativo.

A Lava Jato entrou em uma enrascada onde, cada tentativa adicional de criminalizar Lula sem provas concretas, provoca um efeito inverso na sua popularidade.

Cena 6 – o imprevisível cenário futuro
Há nítidos sinais de que o monstro saiu do controle dos donos do poder.

A tentativa de fabricar um novo Collor, com João Dória, esbarra no amplo amadorismo do candidato. Na ânsia de explorar a radicalização contra Lula, vai gerando um personagem complicado, dono de uma retórica pobre, repetitiva e agressiva. É corredor de 50 metros.

Para falar para os MBLs da vida, assume uma retórica vagabunda (termo que faz parte do repertório dessa direita pedestre), incompatível com um homem de estado. A sucessão de grosserias, vai moldando – por baixo do macho alfa grosseiro – uma personalidade antipática, uma espécie de Aécio Neves com uma jovialidade de plástico – Dorian Gray? -, playboy mal-educado que choca a elite pela falta de modos e os populares, pelo excesso de arrogância.

No período Collor, o tempo político corria mais devagar e permitia uma construção lenta – e sob controle – da Globo. Nesses tempos de redes sociais, não existe mais esse controle.

Além disso, a mídia já havia sentido o desgaste de anos de jornalismo militante, de pós-verdade, de manipulação das informações. Nos últimos tempos, com dez anos de atraso, caiu a ficha que a única maneira de se diferenciar da miscelânea das redes sociais seria voltar a praticar um simulacro de jornalismo.

A recaída com a greve, porém, mostra que a síndrome do escorpião é invencível.
Entram em uma cilada complicada.

Se continuam a apostar no jogo da desinformação, aprofundarão o buraco em que se meteram. Se vacilam, há o fator Lula. E foi tão forte a radicalização política da mídia na última década, que a bandeira central da campanha de Lula certamente será o da regulação da mídia e do combate implacável à rede Globo.

Manter o jogo atual, portanto, é questão de sobrevivência para a Globo. O que significa que apostará todas suas fichas em Dória, ou em um pacto de ditadura com Bolsonaro ou abolindo as diretas. De qualquer modo, jogará todas suas fichas na condenação de Lula e sua inabilitação para 2018.

Do GGN, Nassif

“Moro a Justiça não é um circo para o público”, diz Aragão

Aragão sobre Moro: "Justiça não pode se transformar num circo para o público"

Em entrevista divulgada no último dia 30 de abril pelo canal no Youtube Vida Roda, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão avaliou como positivo o fato de a Lava Jato ter desnudado esquemas de corrupção ligados a financiamento de campanhas eleitorais, mas criticou a postura da chamada República de Curitiba, que tem um "impulso exibicionista" que compromete o Estado de Direito, principalmente quando a grande mídia decidiu ser permissiva com ativismos e persecuções seletivas.

Aragão citou diretamente o episódio em que o juiz Sergio Moro disse à imprensa internacional que o sucesso da Lava Jato está atrelado ao apoio público. "A Justiça não pode se transformar num circo para o público", respondeu Aragão. "A publicidade sobre a ação penal ou inquérito policial não significa uma exposição pública e devassa na vida das pessoas", acrescentou.

Na visão do ex-ministro, o "saldo da República de Curitiba é mais negativo que positivo, até porque sua atuação não sofre critica sólida. Enquanto a plateia bate palma par louco dançar, o louco não para de sançar. Acredito que esse exibicionismo, esse impulso de jogar para a plateia, atrapalha muito a qualidade da investigação e do processo. Porque o Direito Penal moderno é essencialmente tímido, recolhido, discreto, é quase que envergonhado de aplicar a pena. Ele não pode ser o fim em si mesmo. Colocaram a corrupção como agente central, quando não pode ser. A corrupção é decorrente de outros problemas, como, por exemplo, a extrema desigualdade", ponderou.

Aragão também criticou a postura de Gilmar Mendes, que só agora levanta-se contra alguns expedientes abusivos da Lava Jato, como a parceria com a grande mídia para vazar delações premiadas e antecipar o juízo de culpa sob sobre os investigados.

"Estamos vivendo momento grotesto da vida das nossas instituições. Agora Gilmar Mendes tem sempre indignação seletiva. Quando se vazou conversas de Dilma com Lula, ou de dona Marisa com seu filho, Gilmar não estava preocupado. Aliás, bem pelo contrário: ele estava se regozijando desses vazamentos. Quando os vazamentos começam a afetar o campo dele, ele começa a chiar. Então isso se chama indgnação seletiva e não dá para levar a sério", disparou.

Questionado sobre as intenções de Gilmar, Aragão disse que se ele tiver a "chance de ser presidente, não vai abrir mão disso." Porém, disse é típico de Gilmar só agir quando "pessoas de seu círculo" são afetadas. "São dois pesos e duas medidas que desmoralizam a indignação". Para o ex-ministro, os outros ministros "se contêm" para não julgar Gilmar em pública, na tentativa de não manchar ainda mais a imagem do Supremo Tribunal Federal. "Tem a ver com a proteção da instituição, mas isso faz Gilmar parecer como o primeiro dos 11 ministros."

Aragão ainda avaliou que, ao contrário de Gilmar, o "ministro exemplar" era Teori Zavascki, que julgava com a discrição que é inerente à função de um magistrado da Suprema Corte. "O contraste entre os dois é tão grande que chega a ser escandaloso", comentou.

Questionado sobre seu futuro, Aragão disse que tem o "ideal" de estudar o que ocorre na história contemporânea brasileira e ajudar a sociedade a interpretar isso. Mas não descartou a possibilidade de fazer parte de outros governo nem abriu mão do objeto maior de todo jurista, de ser ministro da Suprema Corte.

A entrevista está disponível aqui. 

Do GGN, por Eugênio Aragão

O desespero de Merval Pereira testa de ferro da Globo diante da possibilidade de Lula ser eleito em 2018

Merval adverte: impeçam Lula de ser candidato, senão ele ganha

Há um rasgo de sinceridade na coluna de hoje de Merval Pereira, em O Globo.

Ele admite que Lula é, hoje, o símbolo da repulsa à destruição dos direitos trabalhistas e previdenciários da população e que a pesquisa Datafolha que o aponta na liderança – e sem competidor visível – constitui sinal de seu favoritismo nas eleições presidenciais do ano que vem:

Ganha força o argumento do senador Renan Calheiros. Ele diz que Lula vai dar “um passeio” em 2018 e, especialmente no Nordeste, a popularidade em torno de 50% é argumento forte para políticos conservadores já buscarem alianças eleitorais que, por inconsistentes ideologicamente, só perpetuarão a miséria política em que estamos metidos.

Tradução: Merval Pereira prevê que o favoritismo de Lula fará com que se inicie o processo de aglutinação em torno dele. Veja aqui.
Mas, ato contínuo – já que Doria, por enquanto, é mais espuma que champagne – ele pede pressa, mas já duvida, aos cabos eleitorais togados, para que evitem a candidatura do “monstro”.

Não há novidade no fato de que, condenado em segunda instância, o ex-presidente, assim como qualquer cidadão, estará inviabilizado eleitoralmente. Resta agora saber se isso acontecerá, e em tempo hábil para impedir sua candidatura."

Não se conseguindo, admite o colunista global, haverá problemas para adotar  “solução” que Carlos Lacerda queria para Getúlio Vargas em 1950:

Na visão de muitos, Lula, caso não estivesse condenado em segunda instância, poderia se candidatar a deputado, senador ou governador em 2018, mas não a presidente da República. Mas o Ministro Marco Aurélio Mello do Supremo Tribunal Federal sustenta que Lula, mesmo sendo réu, pode ser candidato a presidente, pois a eleição para tal cargo suspenderia a ação.

A leitura do ministro Marco Aurélio é que, eleito, o candidato, mesmo sem tomar posse, já está protegido pelas ressalvas constitucionais, e ele tem certamente apoiadores. Outros ministros e juristas, no entanto, pensam de maneira diferente e, se não houver uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral ou do Supremo, poderemos enfrentar uma crise institucional grave. Lula eleito, seria um contrassenso proibi-lo de tomar posse. Fica tudo muito parecido com a famosa frase de Carlos Lacerda: “Getúlio Vargas não pode ser candidato, se for candidato, não pode vencer, se vencer, não pode tomar posse, se tomar posse, não pode governar”.

Pois é. Até Merval reconhece que, em tudo, Lula vai assumindo um papel cada vez mais semelhante ao de Vargas. E ele, claro, o de Carlos Lacerda.

Do Tijolaço

Governadores lançarão carta de apoio à candidatura de Lula

Após o sucesso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na pesquisa Datafolha divulgada neste fim de semana— que confirmou o petista la liderança em todos os cenários de intenção de voto para as eleições de 2018—, governadores devem divulgar um manifesto público apoiando a candidatura de Lula.

A proposta nasceu entre nomes do Nordeste, como como Flávio Dino (PC do B-MA), mas já tem o apoio de Tião Viana (PT-AC) e de Fernando Pimentel (PT-MG); a ideia é pedir que Lula faça uma caravana e viaje pelos Estados para debater as bases de seu programa de governo.

 A candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2018 segue ganhando força.

Inflamado pelo crescimento de Lula no último Datafolha, um grupo de governadores articula lançar carta pública em apoio à candidatura do petista à Presidência.

A ideia dos governadores é  é fazer um apelo para que o ex-presidente saia em caravana pelos Estados para debater o que seria apresentado como um programa de governo. A proposta nasceu entre nomes do Nordeste, como Flávio Dino (PC do B-MA), mas já tem o apoio de Tião Viana (PT-AC) e de Fernando Pimentel (PT-MG).

Os governadores que tratam do assunto dizem que o ideal é lançar o documento após Lula prestar depoimento ao juiz Sergio Moro, no dia 10 de maio. O encontro entre o político e o magistrado é alvo de forte expectativa. Mais informações leia aqui.

Do 247

O Governador do MA Flávio Dino prova com documentos que pediu à Funai para demarcar terras indígenas em conflito

Governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Divulgou uma série de documentos provando que, em agosto do ano passado, ele pediu que a Fundação Nacional do Índio (Funai) realizasse o processo de identificação e demarcação da terra indígena do Território Gamela, no município de Viana, para "evitar o agravamento do conflito em questão".

Nesta segunda-feira (1), pistoleiros atacaram a aldeia e feriram 13 índios, sendo que vários tiveram as mãos decepadas pelos agressores; na ocasião, a Funai informou "não haver previsão para constituição de grupo técnico multidisciplinar no âmbito do Plano Plurianual 2016-2019 para realizar estudos na área reivindicada pelo povo Gamela", "em virtude do bloqueio de verbas orçamentárias".

O pedido do governador do Maranhão, realizado em agosto do ano passado, à Fundação Nacional do Índio (Funai) para que realizasse o processo de identificação e demarcação da terra indígena do Território Gamela, no município de Viana. Tinha como objetivo "evitar o agravamento do conflito em questão". Nesta segunda-feira (1), pistoleiros atacaram a aldeia e feriram 13 índios, sendo que vários tiveram as mãos decepadas pelos agressores.

Na ocasião, a Funai informou "não haver previsão para constituição de grupo técnico multidisciplinar no âmbito do Plano Plurianual 2016-2019 para realizar estudos na área reivindicada pelo povo Gamela, até o momento", "em virtude do bloqueio de verbas orçamentárias". O governador Flávio Dino, ressaltou que a o processo de demarcação das terras indígenas é de competência exclusiva do governo federal, não cabendo este tipo de inciativa aos governos estaduais.

Em março deste ano, o governo Michel Temer deu início ao desmonte da Funai promovendo cortes direcionados, principalmente, na CGLIC (coordenação-geral de licenciamento), por onde passam todos os processos de licenciamento de obras em terras indígenas visando avaliar o impacto das obras privadas ou governamentais em relação aos povos indígenas, especialmente na área da Amazônia Legal.

No último dia 28, o ministro da Justiça Osmar Serraglio disse que nem sequer sabia da exoneração do atual presidente do órgão, Antônio Fernandes Toninho Costa, e deu uma declaração explícita sobre o fisiologismo de interesses que domina o governo Michel Temer. "Não estou sabendo de demissão. Vi pela imprensa que ele seria demitido. Na verdade, a Funai é do PSC, do André Moura", afirmou.

Do 247