domingo, 13 de maio de 2018

Abolição da escravidão foi votada pela elite evitando a reforma agrária, diz o historiador Luiz Alencastro

    Foto: THE NEW YORK PUBLIC
Escravos trabalham em uma plantação de café no Brasil.  LIBRARY

Em 13 de maio de 1888, há 130 anos, o Senado do Império do Brasil aprovava uma das leis mais importantes da história brasileira, a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão. Não era apenas a liberdade que estava em jogo, diz o historiador Luiz Felipe de Alencastro, um dos maiores pesquisadores da escravidão no Brasil. Outro tema na mesa era a reforma agrária.
O debate sobre a repartição das terras nacionais havia sido proposto pelo abolicionista André Rebouças, engenheiro negro de grande prestígio. Sua ideia era criar um imposto sobre fazendas improdutivas e distribuir as terras para ex-escravos. O político Joaquim Nabuco, também abolicionista, apoiou a ideia. Já fazendeiros, republicanos e mesmo abolicionistas mais moderados ficaram em polvorosa.
“A maior parte do movimento republicano fechou com os latifundiários para não mexer na propriedade rural”, diz Alencastro. Foi aí que veio a aprovação da Lei Áurea, sem nenhuma compensação ou alternativa para os libertos se inserirem no novo Brasil livre. “No final, a ideia de reforma agrária capotou”.
(…)
Alencastro é hoje professor da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. É também professor emérito da universidade de Paris Sorbonne, onde lecionou por 14 anos, e autor do livro “O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul”.
(…)
Do GGN

Autocrítica e valorização dos ACERTOS dos Governos do PT em 2 ANOS DE GOLPE, por Alexandre Tambelli

Autocrítica e valorização dos acertos conjuntamente merecem espaço no debate sobre o Governo dos trabalhadores e o Golpe de Estado e as eleições de outubro, Golpe que completou 2 anos ontem, criam anticorpos futuros, quando da retomada do Poder, para se evitar novas rupturas democráticas e encontrar equilíbrio nas ações governamentais, afinal, tivemos erros, e acertos importantes na Era petista com o Presidente Lula e com a Presidenta Dilma e não se deve crer que tudo precisará ser diferente para se ter um bom/ótimo novo Governo dos trabalhadores.
A autocrítica é um instrumento coletivo, importante no aprimoramento das nossas ações e ela é parceira de qualquer caminhada na busca de minimizar erros futuros em uma retomada do Governo Federal pela esquerda ou pela centro-esquerda, pela classe trabalhadora.
Autocrítica não se confunde com ações oportunistas que querem ocupar o espaço político do PT utilizando da máxima de que o Governo do PT não teve nada de esquerda, que dizem o manjado: - traiu a classe trabalhadora, que só apontam erros nas suas administrações no Governo Federal, que vivem dentro de um moralismo barato da honestidade a toda prova, do entendimento que não se deveria ter feito conciliação com as classes dominantes nem alianças políticas com a direita, ainda, autocrítica não se confunde com a falsa tese que todos os problemas de hoje em relação à Justiça, à sociedade e ao Governo Temer são culpa, herança do PT, pegando o partido para Cristo, e assim por diante.
Porém, autocrítica se confunde com a possibilidade de reflexão de algumas práticas governamentais e partidárias + de militantes da centro-esquerda, Governo da classe trabalhadora que não renderam resultados práticos.
Temos que retomar o Poder no futuro tinindo nas ideias novas e nas ações consequentes com conhecimento do passado próximo, impedindo, assim, novas ações que possam novamente interromper o ordenamento democrático, por motivo de a direita política existente em nosso país não conseguir vencer uma Eleição no voto. 
ERROS E ACERTOS.
1) Erros.
Devemos estudar os erros, sim!
Vejamos os principais a serem observados e minimizados/sanados no futuro:
Observar que fomos um tanto descuidados com as bases sociais periféricas e de pequenas cidades, nosso público eleitor, no que tange a levar a eles Educação Política, informação precisa de seus direitos novos via novos programas sociais e educacionais criados na Era petista, para que eles os usufruíssem na sua totalidade, para que eles os defendessem e tivessem a clareza de que quem os criou foi o Governo dos trabalhadores.
Observar ainda que nos institucionalizamos por demais e acreditamos em um Projeto de Poder que se fechou em demasia na lógica do trabalho prioritário no Executivo e Legislativo e não na junção deste trabalho com o trabalho de formiguinha diário nas periferias e pequenos centros urbanos, junto da classe trabalhadora e dos pobres, para conscientiza-los, uni-los e serem eles forças mais expressivas de transformação social, em manifestações gigantescas, e tornando um crescente o tamanho da sociedade organizada com sindicatos mais fortes, universidades públicas mais próximas da população, com movimentos sociais/identitários interferindo com mais resultados positivos em políticas públicas sociais, nos direitos civis e nos direitos humanos e com partidos políticos de esquerda arraigados em suas bases sociais.
Observar que pouco criamos canais de comunicação direta com a população, talvez, um jornal impresso diário e nacionalizado, uma TV Brasil capaz de produzir uma audiência significativa, o que acarretou uma interferência em demasia negativa da Globo & velha mídia na compreensão efetiva e defesa pelos brasileiros do Governo dos trabalhadores.
Observar, também, que fomos um tanto republicanos demais nas escolhas dos postos chaves do Judiciário e da PF, em muitos momentos nossos adversários ocuparam cargos de chefia no Judiciário como é o cargo de PGR e de Delegado-Chefe da PF, etc., indivíduos que ajudaram na nossa derrubada, sem contar a dificuldade inicial de compreensão das intenções da Lava-Jato, muito longe de ser uma Operação séria de combate à corrupção e, sim, Operação de entrega do Pré-Sal às grandes petroleiras (as 6 irmãs), de destruição da Engenharia Nacional e parte importante no processo político do Golpe da derrubada de Dilma e que não foram combatidas suas medidas antinacionais, arbitrárias e golpistas a tempo. 
E assim por diante; todos instrumentos seguros para o impedimento de tentativas golpistas, caso a direita política tentasse sair da legalidade democrática do respeito ao voto popular e à Constituição, o que ocorreu em 2016.
Estudar os erros não é autoflagelação nem esquecimento dos inúmeros acertos, é utilizar de um processo dialético, onde ao mesmo tempo em que se faz o balanço dos erros se equilibra a balança com a valorização dos acertos e se aponta as vitórias, que foram muitas e bem mais presentes que os erros nas administrações petistas. E a balança certamente penderá para o lado positivo dos acertos.
Jogar só no lado das maravilhas ou jogar só no lado dos erros é primário e inócuo. 
2) Acertos.
Lembremos, então, dos inúmeros acertos em qualidade e quantidade de beneficiados também.
Quantas políticas públicas na área social, quantos acertos na área econômica, na Geopolítica que praticamos com eficiência, não é verdade? Lembremos de ações governamentais, dos programas criados/ampliados, das leis aprovadas no Congresso, uma parte apenas das ações, programas e leis para ilustrar nossos acertos, com seus números e com resultados práticos significativos, atingindo milhões e milhões de brasileiros:
Tiramos 40 milhões de pessoas da extrema-pobreza em 13 anos de Governo, é uma vitória extraordinária, saímos do Mapa da Fome da ONU, criamos o Bolsa Família que abrangeu com Dilma mais de 14 milhões de famílias beneficiadas. 36 milhões de brasileiros ascenderam até a classe média, diminuímos a taxa de mortalidade infantil pela metade.
Criamos mais de 21 milhões de empregos com carteira assinada e 23 leis novas ligadas a direitos trabalhistas, tivemos medidas efetivas no combate ao trabalho escravo. O salário mínimo em dólares equivaleu a 3 vezes os tempos de FHC. Ao término do Governo Lula em 2010 o número de pessoas com conta bancária chegou aos 115 milhões, diante de 70 milhões em 2002.
Controlamos a inflação por 12 anos seguidos, com inflação anual média de 5,8% até 2014.
Os gastos anuais com Educação quadruplicaram, criamos várias universidades, campus e escolas técnicas e dobramos o número de universitários, PROUNI ofereceu 1,2 milhões de bolsas, o Ciência Sem Fronteiras beneficiou mais de 100 mil estudantes.
Levamos luz (quase 16 milhões de novos beneficiados com o Programa Luz Para Todos) e água para quase todos os rincões do país (mais de 1 milhão de cisternas no Nordeste).
Triplicamos o número de venda de passagens aéreas e mais do que dobramos a fabricação de automóveis.
Fizemos da Política externa brasileira, com o comando de Celso Amorim uma Política externa soberana e respeitada mundialmente.
Triplicamos as exportações.
Levamos o Brasil ao quase quinto lugar nas economias mundiais com o PIB crescendo mais de 4 vezes em 13 anos, depois de FHC nos rebaixar para o décimo quarto lugar.
Tivemos a coragem de se aproximar dos BRICS por uma Nova Ordem Mundial não-unipolar e se aproximar dos países da América latina e da África.
Descobrimos o Pré-Sal, a maior reserva de petróleo descoberta nos últimos 30 anos, e colocamos ele a produzir poucos anos depois e revitalizamos a Indústria Naval., criamos o PAC, que realizou inúmeras obras de complexidade na área de engenharia Brasil afora com investimentos que chegam a quase 2 trilhões de reais.
Criamos o Mais Médicos que atende mais de 60 milhões brasileiros carentes de saúde básica.
Criamos o Brasil Sorridente, o maior programa de saúde bucal do mundo.
Criamos o maior programa habitacional de nossa história, o Minha Casa, Minha Vida, que atingiu mais de 4 milhões de casas contratadas/construídas em 7 anos (de 2009 até 2016) beneficiando mais de 10 milhões de brasileiros.
Valorizamos sobremaneira a Agricultura Familiar via Pronaf que cresceu em investimentos nos governos petistas 400% em relação ao Governo FHC, dobramos a safra agrícola.
Fizemos mais de 70 conferências nacionais no Governo Lula, nas áreas de Saúde, Educação, Comunicação, etc.
Aprovamos a Lei Maria da Penha.
Aparelhamos as Forças Armadas e revitalizamos a Indústria da Defesa.
Aprovamos diferentes leis de combate à corrupção, fortalecemos o Judiciário criando centenas de varas da Justiça Federal, criamos um Portal de Transparência do Governo elogiado internacionalmente, investigamos a fundo o funcionalismo público, exonerando, geralmente por atos de corrupção 4.481 pessoas entre 2003 e 2013.
Tornamos a PF funcional e com equipamentos e quadros e capaz de realizar inúmeras operações.
Acumulamos reservas internacionais na casa dos 380 bilhões de dólares, diante de FHC que nos deixou reservas de 37 bilhões de dólares.
E assim por diante.
O que precisamos é deste equilíbrio de análise, a que esconde erros é primária, como, igualmente é, a que só aponta erros, esta, em muitos casos, rancorosa e personalista.
Temos 2 anos de Golpe e uma Eleição em outubro que precisamos garantir a vitória nas ruas e na batalha por #LulaLivre e #LulaCandidato, certo? Faltam 5 meses.
Devemos aprender com nossas imperfeições e erros, construir caminhos para acertos cada vez maiores das esquerdas, hoje, representada com maior força pelo PT. Não se está, numa autocrítica equilibrada culpando o PT, rebaixando o partido nem sendo aproveitador, querendo ocupar um tal “espólio” do golpeado, porque este é muito forte e competente e sabe superar as adversidades com seus mais de 20% de brasileiros que se consideram petistas e com seus 50% de apoio, ao menos, nos votos válidos em pesquisas à nova candidatura de seu líder máximo: Lula.
O PT foi golpeado do Poder, bem sabemos, porém, não quer dizer que não tenha cometido alguns erros para que o Golpe fosse efetivado.
Se sairmos da estrada da mão-única, onde se trafega somente pela crítica a quem deu o Golpe, e com uma reflexão cuidadosa dos nossos caminhos percorridos, caminhos que não impediram dos golpistas roubarem o Poder, quando retomarmos, espero que em janeiro de 2019, estaremos mais fortes e conscientes das ações práticas a serem implementadas e abertos aos desvios necessários, se alguma de nossas premissas e ações não estiverem dando o resultado prático, tanto no crescimento socioeconômico como no impedimento de novas ações jurídico-legislativas visando golpear nossa vitória no voto.
Penso ser saudável toda autocrítica, sem medo, quando honesta e voltada para a construção segura da realidade prática de transformação social com Justiça Social e desenvolvimento soberano do Brasil; é valiosa ferramenta para minimizar os erros e amplificar os acertos, precisaremos dela se a vitória vier em outubro para assumir calejados em 1 de janeiro de 2019. É ação paralela à campanha e balizadora até das propostas a serem apresentadas no programa de Governo do PT e de outras candidaturas de esquerda. 
Certamente, não é a autocrítica tola a que merecerá valor, a que não observa a realidade para produzi-la e que acredita que não há dificuldades enormes para as esquerdas no mundo atual da concentração radical do Capital, do ultra neoliberalismo mundializado, da presença mídias oligopólicas e a serviço do 1%, se tanto, do topo da pirâmide social e da política   imperialista de recolonização da América Latina, mas, também, não é mais a falta de autocrítica uma ação saudável, hoje,  já passados 2 anos do Golpe. 
Como diz o ditado: nem tanto ao céu nem tanto ao mar!
União das esquerdas em tempos de caos e adversidades é necessário e urgente, porém, não se pode crer que união seja silêncio, seja abandono de diferenças, de autocrítica, de reflexões aprofundadas dos governos petistas com a responsabilidade de saber quem é o verdadeiro adversário político, econômico e social, que claramente não é o PT.
Apontemos para o futuro sabedor do passado. Tenhamos um memorial/glossário de informações sobre como os golpistas e os Golpes sobrevivem e agem, para consultas, reavivamento instantâneo na memória e barramento no seu início de uma outra tentativa de Golpe num Futuro, pós-retomada da Democracia e do Poder por uma esquerda ou centro-esquerda e/ou defensores dos interesses nacionais e políticos e administradores não colonizados.  
E tenhamos a compreensão de que a governabilidade segura se dá no casamento das ações Institucionais no Executivo e Legislativo com a busca de levar a informação das ações governamentais à população com eficácia e junto da informação mobilizar e valorizar a militância na formação socioeducacional continuada e diária da população trabalhadora e dos pobres nos bairros onde eles residem, preferencialmente.
A população precisa se tornar uma base social popular e trabalhadora de apoio, base social de pressão parlamentar ao conservadorismo possível e voz ativa nos rumos do Governo de esquerda/centro-esquerda, base social capaz de mobilização para defende-lo nas ruas***, em caso de tentarem novos retrocessos sociais, econômicos, dos direitos humanos e civis, das causas identitárias, retrocessos no nosso desenvolvimento e na nossa garantia de Soberania no concerto das nações, etc., em suma, se tentarem um novo Golpe; pontuando que precisaremos de um tempo significativo de administração de esquerda ou centro-esquerda e progressista + defensora dos interesses nacionais para arrumar a casa, quase destruída pelas mãos de Temer, Meirelles, Moreira Franco, Moro e a Lava-Jato, STF, Pedro Parente, tucanos, etc. em 2 anos de Golpe e este tempo necessário precisa ser compreendido pelo eleitorado e compartilhada as medidas adotadas via comunicação eficaz com a população. 
*** Base social que vai além da nossa militância clássica pré e pós-impeachment: acadêmicos/intelectuais, estudantes universitários, movimentos sociais, sindicalistas, artistas e militantes e simpatizantes da esquerda partidária. É o povo trabalhador não-organizado, o povo pobre que precisamos colocar, junto da gente, nas ruas.  
Do GGN

Uma promotora de Justiça que honra a função, por Luis Nassif

A função do promotor não é a de condenar: é a de procurar a verdade. Esses tempos sombrios de lava jato consolidaram a imagem deturpada do procurador vingador, que define uma narrativa inicial e, depois, enfia provas a marretada, na maioria das vezes contra o réu, para satisfazer a sede de vingança de uma sociedade doente. Como o nome define, é um promotor da justiça, o que procura fazer justiça, e não sair condenando a torto e a direito,
A promotora Sandra Reimberg deu um exemplo relevante da verdadeira função do Ministério Público, à altura do seu colega Eduardo Araújo da Silva, que enfrentou uma imprensa sedenta de sangue e libertou rapazes inocentes, detidos e torturados em função do episódio conhecido como Bar Bodega.
No acidente que vitimou o filho do governador Geraldo Alckmin, houve uma investigação conduzida pela Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes) da Força Aérea e convalidada pelo perito Hélio Rodrigues Ramacciotti, do Instituto de Criminalística.
Com base nele, a Polícia Civil concluiu um relatório indiciando cinco pessoas por negligência e imperícia, que iam o homicídio culposo qualificado, homicídio culposo em coautoria, falso testenho e aí por diante.
A promotora Reimberg não aceitou o laudo e não se acomodou. O Ministério Público Estadual continuou investigando por conta própria. Chegou-se à conclusão o helicóptero havia retornado da Helibras na véspera do acidente, e não se respeitou o prazo de secagem das pás. Com base na sua investigação, cinco inocentes não foram denunciadas.
A promotora denunciou o perito Hélio Ramacciotti, que admitiu ter copiado trechos do relatório da Cenipa, sem ter vistoriado o helicóptero, devido a pressões da Polícia Civil para acelerar a investigação.
Do GGN

sábado, 12 de maio de 2018

MINHA MÃE FOI MORTA por ordem de GEISEL, diz Hildegard Angel

Filha da estilista Zuzu Angel, morta no governo Geisel, em 1976, a colunista Hildegard Angel não ficou surpresa com as revelações do memorando da CIA. Segundo ela, o gabinete de Geisel encomendou o atentado contra sua mãe, na saída do túnel Dois Irmãos, em São Conrado. O caso de sua mãe está mais do que esclarecido. Não foi um acidente mal esclarecido.
Qual a sua reação diante do documento da CIA que revela a participação do general Geisel nas execuções durante a ditadura militar? 
Vi como uma predestinação. Aqui no Brasil queimaram toda a documentação. Houve queima de arquivos. Fizemos um pacto sinistro. Houve um corporativismo fechado, uma blindagem da história brasileira. Mas havia um documento lá na sede do grande irmão. Eles não contavam com isso.
Você ficou surpresa com os fatos agora revelados? 
Para mim não foi uma revelação. Quando o Claúdio Guerra, que foi delegado do DOPS, escreveu seu livro sobre a repressão, ele mencionou o caso de minha mãe (a estilista Zuzu Angel) e disse que o coronel Freddie Perdigão foi o organizador da emboscada encomendada que matou a minha mãe em 1976.  Foi encomendada a ele diretamente pelo gabinete do Geisel. A Comissão da Verdade recorreu ao livro do agente do Dops e ele mencionou que  havia foto do Perdigão no local do crime, na saída do túnel Dois Irmãos (hoje Zuzu Angel), em São Conrado.
A estilista Zuzu Angel, mãe de Hildegard
Qual foi a conclusão das investigações? 
O caso de mamãe foi investigado desde a Comissão dos Mortos e Desaparecidos até a Comissão Nacional da Verdade. As três comissões fizeram investigações, ouviram testemunhas e peritos, e concluíram que minha mãe foi vítima de uma emboscada por agentes do governo.  O ex-ministro da Justiça Miguel Reale conversou com duas testemunhas. Mas até hoje tem gente bem informada que atribui a morte de mamãe a um acidente mal esclarecido. Nunca um caso foi tão esclarecido. Esse é um cacoete nacional. Precisamos nos convencer da monstruosidade da ditadura brasileira. Por isso, ainda vemos jornalistas importantes escrevendo que houve um acidente mal esclarecido. Quando mal esclarecidos estamos nós.
A Comissão Nacional da Verdade reconheceu o crime do Estado contra Zuzu Angel? 
Nossa família recebeu R$ 80 mil de indenização. E a comissão endossou o depoimento do  Cláudio Guerra. Portanto, o Estado reconheceu que o gabinete de Geisel chancelou o atentado. Mas temos muita dificuldade de aceitar que vivemos isso. Talvez exatamente por isso estejamos vivendo esse momento em que se tenta qualificar a ditadura militar. Tentam justificar a ruptura democrática, seja na política, seja pelo Judiciário.
Você pretende reabrir o caso de sua mãe? 
Vou primeiro ouvir o Nilo Batista, que ajudou na reconstituição da tortura e morte de meu irmão Stuart Angel,  ouvir o Pedro Dallari, que ajudou no caso de minha mãe, e outras pessoas que possam me aconselhar. como o ex-deputado Nilmário Miranda. Depois tomarei a decisão.
GGN

sexta-feira, 11 de maio de 2018

FILME O PROCESSO. O PESADELO DO BRASIL EM REGISTRO, por Urariano Mota

Assistimos ontem no Recife à pré-estreia de O Processo. O cinema São Luiz estava lotado, como em suas melhores noites, com todas idades e classes sociais. Estávamos  jovens e muito jovens, maduros e muito maduros, a cantar e gritar várias bandeiras, das quais a mais unitária foi #LulaLivre. A agitação no público era tamanha, que gritos se ouviam até mesmo quando as luzes no cinema se apagaram. Quanta rebeldia reprimida. As vozes somente pararam quando alguém gritou: “quem fizer barulho é golpista!”. Silêncio na plateia. Então o documentário começou.
Agora, enquanto escrevo, pesquiso e leio uma sinopse onde se fala: “O documentário acompanha a crise política que afeta o Brasil desde 2013 sem nenhum tipo de abordagem direta, como entrevistas ou intervenções nos acontecimentos. A diretora Maria Augusta Ramos passou meses no Planalto e no Congresso Nacional captando imagens sobre votações e discussões que culminaram com a destituição da presidenta Dilma Rousseff do cargo”. E mais descubro. Na estreia mundial de O Processo, no Festival de Berlim, o filme foi aplaudido sob gritos de “bravos”, o que nunca havia acontecido com um filme antes em terra alemãs. Em Portugal, quando recebeu o prêmio de melhor longa-metragem no festival de cinema IndieLisboa, o júri assim falou sobre as razões da escolha: "Pela sua montagem aberta, que é fluente e elegante. Trata-se de um drama político contado através da narrativa clássica sem cair no classicismo gramatical e formal."
Mas nós, que assistimos à pré-estreia no Recife, bem podemos acrescentar outras razões de público e amantes do cinema. Tanto na abertura, quando um voo de helicóptero sobre Brasília nos mostra os lados de amarelos e vermelhos em confronto sobre a terra, até atingir as cenas finais, atravessa a gente um sentimento de indignação e afeto profundo pela memória da militância contra o impeachment. Então sabemos que O Processo é um dos melhores documentários do Brasil até hoje. E se me fazem um desconto do entusiasmo, pois o filme continua dentro da cabeça até agora, ouso  escrever mais claro: O Processo é um dos melhores documentários do mundo. Entendam as razões.
Quando o debate se abriu para o público, pude falar no microfone em meu natural pouco eloquente. Na medida do que lembro de ontem à noite, consegui falar: “Ao ver os últimos 10 minutos, quando se completa o golpe, e a digna representação dos parlamentares do PCdoB e do PT que discursaram contra o impeachment, senti que O Processo devia se chamar O Pesadelo. E pude perceber que o documentário no Brasil, que já havia  atingido um ponto culminante com Eduardo Coutinho, e passa pelos belos filmes de Vladimir Carvalho, ganhou um novo caminho com esse documentário. De todas as maneiras se faz arte. Neste, o que parecia ser uma grande reportagem se fez arte. Acredito que este é um filme que sobreviverá a estes malditos anos. Se me permite uma sugestão, só lhe peço que não siga o roteiro de alguns estetas da reportagem da imprensa, que lhe pedem o relato do  método ou técnicas do filme. Para mim, seria como transformar o quadro Lição de Anatomia, para pegar a experiência holandesa da diretora, e limitá-lo à descrição do desenho, tons, sombra e tintas. Transformar a arte em um verdadeiro cadáver da composição. Creio que de modo mais simples você poderá dizer que fez esse filme com intensa paixão. E com imenso talento, como acabamos de ver”.
O que disse no microfone ontem,  bem ou mal, bem e mal no calor da emoção, continuo aqui: os discursos da bancada de bravos que resiste, no dia da conclusão do impeachment, o discurso de Dilma ao se despedir, o rosto de Lula no plenário,  nessas imagens pudemos ver o Brasil de hoje,  com o pior parlamento da nossa história, com o presidente mais entreguista que tivemos, e a desgraça anunciada nos discursos que se cumpre com a perda de direitos inalienáveis do povo,  como saúde e trabalho.  
Já antes, a militante e professora Isa Ferreira me perguntou o que fazer diante dessas agressões contra os brasileiros, e se eu achava que sairíamos desta e como sair. Quem sou eu para achar, se me encontro tão perdido? Mas na hora lhe respondi que não sei como, mas que se houver uma saída popular, talvez não alcance os nosso dias. Enquanto isso, não poderemos submergir à depressão e desespero desta má hora. Cada um que lute à sua maneira, da melhor forma possível.
Ao voltar para casa, o motorista do Uber, que é músico e trabalho pela madrugada a dirigir um carro, me falou que vivemos hoje uma distopia. É isso, sim, é isso, eu me falei para mim, surpreso da qualificação que o jovem trabalhador dá para o que vivemos. Então me veio à lembrança de novo de O Processo como O pesadelo. O nome de uma obra sempre vem  depois. Nunca antes, como o batismo que damos a um filho.
Em uma ocasião, a diretora falou em entrevista: “Nós não sabemos para onde isso vai, e isso é angustiante e doloroso... Essa é a minha contribuição para esse momento que estamos vivendo”. Sem dúvida. O documentário de Maria Augusta Ramos realiza o seu presente deste infeliz momento. E mal pude dormir até a hora de escrever estas linhas.

A REPÚBLICA DOS ASSASSINOS vêm à tona, por Luis Nassif

As descobertas de Matias Spektor nos arquivos da CIA, de que os próprios presidentes militares ordenavam a execução de “inimigos” do regime, torna verossímeis todas as suspeitas de mortes não explicadas do período. Os dois principais algozes foram Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo, presidentes da República.
Nos próximos meses haverá uma revisão geral e irrestrita de todos os mistérios do regime, inclusive da Lei da Anistia.
A saber:
1. A morte de JK .
Um trabalho meticuloso de professores e alunos da Faculdade de Direito da USP, apontando diversos indícios de assassinato, foi ignorado pela Comissão Nacional da Verdade, que manteve a versão do acidente.
2. A morte de Zuzu Angel.
A figurinista havia se transformado na mais influente voz a denunciar as torturas e mortes da ditadura junto à opinião pública mundial.
3. A morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury.
O mais notório torturador do regime era um arquivo vivo, que, com a redemocratização, poderia denunciar toda a estrutura de assassinatos comandada pela própria presidência da República. A versão oficial foi de acidente em um cais.
4. A morte de João Goulart.
A suspeita da troca de remédios para um paciente cardíaco.
5. Os autos de resistência.
Os sucessivos assassinatos disfarçados em resistência seguida de morte. Pelo menos esses nunca foram aceitos nem pela historiografia oficial.
6. A morte do educador Anisio Teixeira.
Seria  Anísio um dos subversivos que mereceriam morrer, segundo o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, assessor do general Syzeno Sarmento, criador do Doi Codi? Aqui um vídeo com denúncias. ASSISTA:
Do GGN

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Os dilemas do PT, por Luis Nassif

O PT hoje enfrenta alguns dilemas, mas apesar de todos os percalços, continua sendo o partido de esquerda mais estruturado, mais popular e com maior penetração no sindicalismo e nos movimentos sociais. E possui a maior liderança popular do país, Lula.
A prisão de Lula promoveu um pacto inédito entre os partidos de esquerda. Por outro lado, cada qual procura se viabilizar. E aí, se esbarra na grande incógnita: a candidatura de Lula a presidente.
Do lado do arco do golpe há um esforço ingente para isolar o PT e Lula. Do lado dos aliados, a dúvida: ficar com o PT, caso a candidatura Lula se viabilize; ou montar estratégias visando se apropriar da herança petista?
A candidatura de Lula será mantida a ferro e fogo por vários motivos.
O primeiro, é que qualquer movimento gera ataques especulativos ao PT e exposição desnecessária não só do PT mas dos movimentos em geral.
O segundo, porque a saída de Lula deflagraria uma guerra interna, no próprio PT, de consequências imprevisíveis, por não haver consenso nem sobre o nome do partido que segurará o bastão, nem sobre o nome fora do partido que vier a ser apoiado.
O terceiro, porque reforçaria a tentativa dos aliados de tentar tirar do PT qualquer protagonismo, inclusive com exigências de abrir mão da cabeça de chapa, além de significar a desmobilização dos movimentos sociais e de todos os grupos inspirados pelo lulismo.
A ideia básica é inscrever Lula candidato e levar a candidatura até o fim, mantendo a mobilização e o seu cacife eleitoral. Candidato, Lula poderá participar do horário gratuito, ou com seu discurso atual ou, na impossibilidade, com vídeos já gravados e depoimentos de terceiros. Nessa hipótese, seria eleito e caberia ao STF (Supremo Tribunal Federal) o ônus de impedir a posse.
Há confiança na vitória de Lula, baseados nos três vetores principais para a definição do votos.
O primeiro vetor é o econômico, talvez a principal dimensão do voto. Ali, Lula e PT nadam de braçadas graças aos anos de ouro da economia.
O segundo vetor é a dimensão dos valores. O PT e Lula já estiveram em situação bem pior. Com a perseguição a Lula, e a blindagem dos adversários, houve uma comoção que reverteu parte do desgaste. Nesse campo, a direita não ganha mais.
Finalmente, na dimensão política, o PT avançou nas coligações e frentes.
Por outro lado, há a possibilidade de que a candidatura de Lula seja inviabilizada. E, aí, haveria um tempo exíguo para montar uma segunda estratégia.
Há convicção interna de que o PT não se isolou da frente de esquerdas. Com o centro, não há espaço para conversa. Mas com a esquerda, sim, inclusive passando por cima de mágoas recentes, com o PDT, que teve vários deputados votando a favor do impeachment, e com o PSB, que fechou questão pró-impeachment.
Por outro lado, a Fundação Perseu Abramo conseguiu convencer fundações dos partidos aliados a esboçar um mini-programa com ideias consensuais. Só não se transformou em manifesto mais expressivo porque o PSB ponderou que acordos não deveriam ser apenas programáticos, mas políticos, conduzidos pelos partidos.
GGN

STF o poder constituinte e Barroso lidera o “populismo judicante, punitivista e demagógico”, Roberto Amaral

Dizem que a Constituição é ‘detalhista’. Foi a vacina encontrada para defender a ordem constitucional de um Poder Judiciário no qual não se confia.
Promulgação da Constituição de 1988: poucos textos poderão, como esse, dizer que nasceram da vontade popular.
A Constituição brasileira de 1988 – alquebrada, mas ainda vigente, não obstante o STF, é triste dizê-lo – é muito mais que um código de observância obrigatória.
Ela é, a um só tempo, símbolo e cristalização da opção política do povo brasileiro, que, nas ruas, exigiu uma Assembleia Constituinte para decretar, de uma vez por todas, o fim do ordenamento autoritário.
Poucos textos poderão, como esse, dizer que nasceram da vontade popular.
Vontade que se manifestou tanto na grande jornada pela convocação da Assembleia Constituinte, a que resistiam os militares, quanto no acompanhamento quotidiano da atividade constituinte, evitando que prevalecesse o Centrão, o núcleo duro da direita.
A chamada ‘Constituição cidadã’, segundo o batismo de Ulisses Guimarães, não é o texto de nossos sonhos – qual seria? –, mas é indiscutivelmente o que de melhor poderíamos costurar, nas circunstâncias.
E é, certamente, a mais representativa de quantas Cartas tivemos na República.
No entanto, ela está sendo dilacerada pelo Poder Judiciário, exatamente o único desvalido da soberania popular.
Na República, qual a praticamos, o poder supremo – fonte de todos os demais – pertence ao povo.
Na democracia representativa, a nossa, esse poder é exercido por meio de representantes, eleitos (art. 1º).
Não há, pois, legitimidade fora da representação, que se manifesta através do voto, em eleições periódicas.
Fora desta fonte, tudo o mais se afigura como esbulho.
À exceção das rupturas revolucionárias ou golpistas (quarteladas ou não), inexiste hipótese de legitimidade constitucional fora do voto, de que carecem os juízes, atrabiliários ou não, autoritários ou não, ensimesmados ou não, juízes de piso ensoberbados ou noviços alçados às alturas dos tribunais superiores.
Em nosso ordenamento, e exatamente em decorrência dessa limitação de fonte e origem, cabe ao Poder Judiciário, por intermédio do STF, como função precípua (adjetivo de escolha do constituinte), aquela que por sinal justifica sua existência, a ‘guarda da Constituição’, o zelo pelo seu cumprimento, a vigilância sobre sua integridade.
Jamais sua violação, no que incide corriqueiramente nossa Corte, outorgando a si mesma poder Constituinte de que carece, como acaba de fazer, ao alterar (‘emendar’ como gostaria o senhor Barroso) a regra que disciplina o processo e julgamento dos membros do Congresso Nacional (art. 102).
Antes, já esbofeteara a garantia constitucional da presunção da inocência, e revogara a necessidade do trânsito em julgado para o cumprimento de sentença penal condenatória, remetendo ao lixo a regra do art. 5º, LVII.
Ainda antes, com argumentos burocráticos e no ápice de chicanas operadas pela presidência da Corte na ordenação da pauta dos trabalhos do Pleno, denegara o pedido de habeas corpus impetrado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez mais fraudando a Constituição, o que ficou exposto no luminar voto do ministro Celso de Melo, essa ave rara do liberalismo.
A incumbência outorgada ao juiz é a de reta aplicação da lei, não lhe cabendo seja emendá-la, seja criar regra nova, competência privativa dos titulares de mandato legislativo.
Desse papel, usurpado dos representantes do povo, se valeram o ‘Estado Novo’ e, mais recentemente, os militares.
Mas naquelas ocasiões vivíamos sob o império de ditaduras, que a consciência jurídica repugnava.
O ativismo judicial, a violação da separação dos Poderes, o avanço do Judiciário sobre o Legislativo e o Executivo, postos sob custódia, têm, dentre outras muitas motivações, a convicção, reacionária, alimentada e difundida pela cantilena dos meios de comunicação, de que a política (isto é, a política exercida pelos políticos…) é a fonte de nossos males, e como toda erva daninha deve ser extirpada.
O discurso da antipolítica, renovado metodicamente com os eventos da Lava Jato, já foi formulado em diversos momentos de nossa História, e todos sabemos o que nos foi imposto em seu rasto.
O assassinato é precedido pela desqualificação do político, anatematizado como corrupto pelo reacionarismo místico-religioso de procuradores, juízes de piso e ministros, ainda encantados pelas luzes da notoriedade.
Essa é a razão ideológica para a ‘emenda’ aplicada ao art. 102 (I, a) da Constituição, pois esse abuso foi o que praticou o STF – o colégio dos illuminati onde neste momento pontifica o ministro Barroso – ao eliminar o ‘foro privilegiado dos congressistas’.
A grande vítima deste ataque, todavia, é a soberania popular.
O foro privilegiado, no caso dos congressistas, não consiste em prerrogativa pessoal, do indivíduo, mas em instrumento de defesa do caráter e da essência da representação popular; a incolumidade do titular da soberania, que não pode ser ameaçado, limitado ou condicionado no exercício de seu mandato, nem exposto à sanha de eventuais adversários, de litigantes de má-fé, de juízes a serviço das oligarquias que dominam a política, principalmente no Brasil profundo.
O STF, todavia, e por razões óbvias, só viu porta aberta à impunidade – porque ele mesmo demora a julgar, alimentando a indústria da prescrição – quando os processos dizem respeito aos membros do Congresso Nacional.
Corre tudo como dantes quando o ‘privilégio’ se aplica aos seus próprios membros, ao Procurador-Geral da República, aos ministros de Estado, aos comandantes das Forças Armadas, aos membros dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União e aos chefes de missão diplomática.
Ou seja, como dito acima, o projeto é ideológico, o alvo é a política e a vítima é a soberania popular.
O nano-ministro, líder do populismo judicante, penalista, punitivista, demagógico, não se afeiçoa com os fundamentos do Direito, nem cultiva as lições de seus construtores, pois sua fonte é um emaranhado de estatísticas não conferidas de processos, ações e julgados, que brande a cada julgamento, para em nome sempre de um alegado ‘excesso’ de demandas, justificar a supressão de um direito fundamental.
Diz, por exemplo, o senhor Barroso (nesse ponto alcovitado pelo ministro Fux), que o instituto do habeas corpus, que separa as democracias das tiranias, de tão requerido, está entulhando a Corte.
Mude pois o STF o texto constitucional, restringindo sua aplicação!
Não importa quantos direitos quedarão à míngua de proteção jurisdicional, mas os ministros ficarão mais aliviados em suas fainas.
São muitos os processos nos quais políticos figuram como acusados?
Casse-se, pois, o chamado ‘foro privilegiado’. Cassado está.
Mas os processos envolvendo parlamentares representam apenas 1% do total que tramita (sem andar) na Casa…
O nosso é um Tribunal que leva, em média, cinco anos para jugar uma ação direta de inconstitucionalidade, e menos de 5% de suas decisões se devem ao Plenário.
O grosso são decisões monocráticas.
E, assim, porque o STF, letárgico, não julga, revogam-se os direitos para reduzir a quantidade de processos, pacificando o ócio remunerado dos sábios sabidos, que pouco param em Brasília, viajando de Seca a Meca, em simpósios e palestras remuneradas (às vezes de patrocínio pouco ortodoxo), ou mesmo em outras atividades profissionais em dia e horário de expediente.
Não há limites para a audácia antidemocrática.
Para o antigo advogado do Itaú (segundo o colega Gilmar Mendes, porém, seu escritório de advocacia ainda está em pleno funcionamento, isso é disputa entre eles… ), a vida parlamentar é cara, donde o melhor é acabar com o Poder Legislativo: “Num habeas corpus preventivo contra aqueles que questionam a legitimidade da Corte para exercer um poder majoritário sem votos para tanto, Barroso argumentava que o acesso ao Congresso tem um custo financeiro alto, que obriga alianças com interesses particulares. Já os juízes, selecionados pela meritocracia (sic), representariam melhor a vontade da sociedade” (“Os atropelos da história empurrada”, Maria Cristina Fernandes. Valor, 4/5/2018).
Tivéssemos hoje um Congresso, meramente de pé – e não acocorado – já encontraríamos aí razões suficientes para requerer o impeachment do ministro.
Ora, se o ministro quer legislar, que se desfaça da toga que ainda não fez por merecer, e vá para as ruas disputar no voto uma vaga na Câmara ou no Senado, porque numa democracia razoavelmente respeitável as questões constitucionais só se resolvem pelo Poder Legislativo, cujos representantes são escolhidos mediante o voto.
A quem beneficiaria a desconstrução da política? Ao povo, certamente, não.
As agressões à ordem constitucional servem à alcateia que anseia pela retomada do autoritarismo, requerido, como sempre, pela casa-grande e seus despachantes, mas já alcançando camadas significativas de nossa população, como se vê dos seguidores do capitão fascista, circulando entre aeroportos e quartéis.
O STF, enfim, não é confiável, e isso traz insegurança tanto ao cidadão comum, o povo-massa, quanto às instituições.
Não só pela proteção de imoralidades corporativas como o auxílio-moradia (e outros penduricalhos como auxílio-viagem, diárias, semana de quatro dias, apartamento funcional, automóvel na porta, ano de sete meses etc.) de juízes, desembargadores, ministros, procuradores et caterva, mas porque julga com dois pesos e duas medidas.
O mesmo STF que impediu a posse de Lula como ministro de Dilma Rousseff – abrindo caminho ao golpe que vinha a cavalo – não enxergou desvio de finalidade na nomeação do inefável Wellington Moreira Franco para o ministério do locatário do Jaburu, embora seja o novo ministro das Minas e Energia, objeto de processos nos quais é acusado de corrupção passiva.
Dizem seus críticos, sem atinarem pelas razões, que nossa Constituição é ‘detalhista’. Ora, foi esta a vacina que o Constituinte encontrou para defender a ordem constitucional de um Poder Judiciário no qual não podia confiar.
E a História, lamentavelmente, lhe está dando razão.
O STF contra a democracia, por Roberto Amaral, em seu blog
*Roberto Amaral – é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia
Do Vi o Mundo

quarta-feira, 9 de maio de 2018

A REPUBLIQUETA de Curitiba e o CAUDILHISMO JUDICIAL, por Murilo Naves Amaral

No processo em que o ex presidente Lula é acusado de ter se beneficiado de uma reforma em um sítio no município de Atibaia, que supostamente seria de sua propriedade, presenciamos, recentemente, um fato bem interessante, no qual a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal determinou o encaminhamento das delações de ex executivos da construtora Odebrecht para a justiça federal de São Paulo, de modo a retira-las das mãos do juiz Sérgio Moro. Em um primeiro momento, parecia que na decisão emanada pelo STF estava sendo declarada a incompetência do juízo de Curitiba na condução geral do referido processo, a ponto que, quando o magistrado Sérgio Moro se negou a fazer a remessa do autos até a publicação do acordão proferido, muitos se indignaram, de maneira a acusa-lo de abusar de sua autoridade e de descumprir a ordem de uma instância superior.
Entretanto, a confusão que se fez sobre a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, talvez, não fosse tão confusa assim, posto que, o que pode ter ocorrido, é que tal fato apenas expôs mais um capítulo da banalização das regras processuais vigentes, que como bem lembrou a professora do curso de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Eloísa Machado, em artigo publicado na data de 03.05.2018 no Blog do Sakamoto, vem culminando nos danos que já são claramente perceptíveis, dentre os quais “a erosão da autoridade dos tribunais superiores, a justificação de cruzadas judiciais e garantias processuais sendo mandadas às favas ”.
Cabe lembrar, que o recuo do Supremo em relação a essa questão, trata-se de um recuo em relação a garantias processuais básicas, dentre as quais, as regras de competência, que além de serem imprescindíveis para o bom funcionamento do processo, devem ser vistas como um pilar do Estado de Direito, já que asseguram ao cidadão a possibilidade de se proteger contra o exercício desenfreado e sem limites de determinada autoridade. Nota-se que, a própria imprensa pressionou significativamente para que a decisão do Supremo tivesse uma releitura. Tanto é fato, que na data de 25 de abril de 2018, o colunista Merval Pereira, em matéria publicada no jornal “O Globo”, chegou a chamar de “precedente perigoso” a decisão da Segunda Turma do STF, com o claro intuito de fazer pressão para que houvesse uma adequação do entendimento sobre a matéria, de modo que a ação continuasse em trâmite na Justiça Federal de Curitiba.  
O desespero daqueles que querem ver Lula apodrecer na prisão e fora do jogo político eleitoral de 2018, surgiu a partir do momento em que se verificou a possibilidade de diante tal entendimento do Supremo, configurar a anulação do processo do triplex do Guarujá, em razão de Moro não ser o juiz natural para tê-lo julgado. Isso porque, já há tempos vem se questionando a competência do juízo de Curitiba de abarcar tantas ações, uma vez que, muitos dos supostos crimes apontados não teriam ocorridos no território do Paraná e tampouco teriam relações diretas com os casos da Petrobrás, de forma que, pelo menos em tese, tais demandas deveriam estar tramitando em outras subseções judiciárias, por questões estritamente técnicas e processuais.
Porém, ao contrário do que ensinam as faculdades de Direito, as regras de competência passaram a ser estabelecidas a partir da histeria da opinião pública fabricada pela mídia, sem qualquer observância as questões legais que deveriam servir de referência na hora de se estabelecer qual juízo irá processar a ação. Em outro artigo que escrevi e que foi publicado aqui no Blog do Nassif (https://jornalggn.com.br/noticia/quando-o-direito-se-torna-papo-de-boteq...), constatei que essa nova forma de condução do processo judicial, tornou o Direito em um verdadeiro papo de botequim, não no sentido de tornar acessível a linguagem jurídica, o que é extremamente positivo, mas no sentido da vulgarização que os meios de comunicação, buscando atender seus interesses, manipulam a linguagem e a técnica do procedimento judicial, principalmente a partir da espetacularização e do deslumbramento infantil das autoridades perante os holofotes.
Essa histeria propagada pela mídia, que favorece a banalização dos procedimentos judiciais, faz com o que, ao mesmo tempo, haja um retorno daquilo que estigmatizou profundamente a sociedade brasileira, que é a consagração do personalismo em volta de figuras que muitas vezes não possuem a qualidade natural de serem líderes, mas que se mantém como protagonistas, em razão de uma manipulação da sociedade pelos meios de comunicação. Na situação que vivenciamos hoje, esse personalismo vem sendo construído a partir de personagens da burocracia de luxo, sobretudo os juízes, que são glamourizados em suas funções. No caso de Sérgio Moro, o personalíssimo chega a tal ponto, que o referido magistrado é tratado quase que como um pop star ou um super herói pelos meios de comunicação, acima do bem e do mal ou de qualquer suspeita, de forma que, conforme também comentei no texto publicado no Nassif e intitulado “Quando o direito se torna papo de botequim”, a blindagem concedida a Moro “deveria soar como ofensa aos demais juízes, pois pelo que se retrata na imprensa, fica parecendo que somente o ilustre magistrado paranaense é que tem compromisso em julgar de maneira séria casos de corrupção.”
Como resultado desse fenômeno de exaltação da imagem de certas autoridades, o risco maior que se verifica é que essas mesmas autoridades passem a acreditar no pedestal em que são colocadas pela mídia, de maneira que, inclusive, passem a se insubordinarem contra instâncias superiores que deveriam se dirigirem. Um bom exemplo disso, foi o que narrou Eloísa Machado, no mesmo artigo acima mencionado e que foi publicado no Blog do Sakamoto, em que Moro já havia enfrentado instâncias superiores, de modo que foi censurado pelo Tribunal Regional da 1ª Região ao se negar a cumprir decisão que mandou suspender a extradição de um dos acusados da “lava jato”, a ponto que o Tribunal chegou a se manifestar  no sentido de que “não é minimamente razoável que um dos juízes arvore-se por competente e decida por si só, sem aguardar a decisão da Corte Superior […]. É inimaginável, num estado democrático de direito, que a Polícia Federal e o Ministério da Justiça sejam instados por um juiz ao descumprimento de decisão de um tribunal, sob o pálido argumento de sua própria autoridade.” Outro fato lembrado pela ilustre professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foram os fatídicos áudios liberados por Moro, que, sem qualquer relevância jurídica, permitiram que fosse publicizada uma conversa entre os ex presidentes Lula e Dilma, apenas para expô-los perante a opinião pública, de forma que os riscos relativos a essa conduta, inclusive ao interesse nacional, foram totalmente menosprezados.
Tais acontecimentos demonstram por si só, que este personalismo construído pela imprensa, acaba gerando um senso de impunidade que se mostra evidente na manifestação de determinadas autoridades, que, por sua vez, cometem seus atos como se fossem verdadeiros déspotas, sem qualquer responsabilidade por aquilo que praticam. Tirando o fato que tal contexto, atualmente, se consagra pelo Judiciário, na verdade, o fenômeno de se criar figuras personalistas trata-se de algo que sempre esteve presente na realidade latino americana, seja nas ditaduras impostas aos países da região, seja no típico caudilhismo que marcou profundamente a história desses povos, a partir de lideranças autoritárias que buscaram se perpetuar de algum modo no poder.  Não seria demais dizer, que essas figuras judiciais que se autoproclamam salvadores do povo, seriam os caudilhos da contemporaneidade, que fingem estarem munidos de uma técnica jurídica processual, mas que ao final, estão, na realidade, praticando a pior política sob o disfarce da burocracia.
Destaca-se, no entanto, que a utilização da mídia para fins de manipulação de massas, como forma de exaltar lideranças ilegítimas, não se trata de um cenário tão recente, tendo em vista que esse método já era utilizado pelos nazistas, conforme muito bem ressaltou a Escola de Frankfurt ao narrar o funcionamento da Indústria Cultural a partir das teorias de Theodor Adorno e Max Horkheimer. Algo muito semelhante vem ocorrendo no Brasil, considerando que a indústria cultural não se limita a imprensa, posto que também se encontra presente na área do entretenimento para fins de propaganda do sistema. Não é à toa que recentemente estamos vendo tanto em um filme como em uma série de um serviço de streaming, a exaltação das autoridades em um suposto “combate à corrupção”.
Além do já exposto, um outro risco desse personalismo e dessa romantização da atividade judicial é a consagração de um processo de criminalização da política e desvalorização do voto popular, de tal modo que, como também testemunhamos recentemente, o Supremo Tribunal Federal, apesar dos apelos contrários de parte dos ministros, relativizou a prerrogativa de foro daqueles que possuem cargos eletivos, sem que incomodasse qualquer outra autoridade que possui o mesmo benefício, mas que está inserida na administração pública por meio de concurso ou nomeação vitalícia. Trata-se de um verdadeiro acinte a população, haja vista que fragiliza a prerrogativa de quem possui o voto popular, mas mantêm intocáveis aqueles que, sem a legitimidade do voto, atuam na esfera administrativa e judicial.
A medida que essa situação vai se concretizando, a segurança jurídica tanto da população em geral como também das empresas que estão presentes no país se torna cada vez mais vulnerável, já que na concepção daqueles que são exaltados na qualidade de justiceiros do Estado, as regras vigentes aprovadas pelo legislativo passam a ser um mero detalhe. Em outras palavras, é como se os juízes, em razão da força institucional que conseguiram, pudessem decidir com uma discricionariedade, cuja oportunidade e conveniência não estivessem mais na lei, mas sim na subjetividade ideológica de cada magistrado.
Deve-se salientar que a operação “lava jato” foi decisiva nesse contexto, uma vez que a aliança com a mídia proporcionou o fortalecimento de determinados setores judiciais, que, consequentemente, acabou por acarretar em um forte desequilíbrio institucional. Nesse sentido, com os frutos da operação “lava jato”, em que praticamente se criou um Estado paralelo com regras próprias e sem qualquer observância à Constituição, o agravamento da crise se perpetuou na realidade brasileira, pois, com o personalismo do magistrado que conduz as ações oriundas da justiça federal do Paraná (vinculada ao Tribunal Regional Federal da 4ª região), juntamente com seus soldados procuradores, apesar da aparência de modernidade dada pela imprensa, a república de Curitiba, como qualquer republiqueta latino americana, já pode ter um caudilho para chamar de seu.  
Murilo Naves Amaral - Advogado, com mestrado em Direito Público pela Universidade Federal de Uberlândia, professor universitário de cursos de graduação e pós graduação em Direito em São Paulo e Minas Gerais.
 GGN

terça-feira, 8 de maio de 2018

O lavajateiro CARLOS LIMA era CASADO COM FUNCIONÁRIA DO BANESTADO quando já atuava no caso

Quatro professores e doutores em Sociologia de universidades do Paraná divulgaram, em 2017, um artigo sobre os antecedentes (familiar, acadêmico e profissional) de membros estrelados da Lava Jato. Neste artigo consta uma informação que parece ter sido esquecida pela velha mídia: o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos algozes de Lula em Curitiba, esteve casado com uma funcionária do Banestado quando já atuava na investigação sobre a evasão de 30 bilhões de dólares.
Boa parte do perfil de Santos Lima foi escrito a partir de uma reportagem de Amaury Ribeiro Jr para a IstoÉ, em setembro de 2003.
Foi a IstoÉ o veículo de imprensa a revelar que Santos Lima, que entrou no caso Banestado em 1997, era marido de Vera Márcia Ribas de Macedo dos Santos Lima. Esta, por sua vez, trabalhou no Banco entre 1995 e 2001, em dois cargos diferentes.
De 1995 a 1997, "quando ocorreu a maior parte das remessas irregulares para o Exterior, Vera Márcia, ainda casada com Santos Lima, trabalhava como escriturária no setor de abertura de contas da agência da Ponte da Amizade, em Foz de Iguaçu. A investigação da Polícia Federal sobre a evasão de divisas por intermédio do banco mostra que a maioria das contas de laranjas, usadas para mandar o dinheiro para o Exterior, foi aberta exatamente nessa agência."
Em 1997, Vera se mudou com o marido para Curitiba e passou a trabalhar, ainda de acordo com IstoÉ, "em um setor ainda mais estratégico da lavanderia: o Departamento de Operações Internacionais do Banestado, onde eram fechadas transações fraudulentas de câmbio."
Segundo delatores (não premiados) da época, "os funcionários desse setor recebiam comissão para recrutar doleiros e pessoas interessadas em enviar recursos para o Exterior. Ainda de acordo com sua ficha funcional, Vera Márcia trabalhou no local até 2001." 
Em 2002, Santos Lima e Vera se divorciaram.
No meio das investigações da CPI no Congresso, Santos Lima chegou a ser interrogado por parlamentares, ocasião em que omitiu que estivera casado com a então funcionária do Banestado enquanto atuava no caso. IstoÉ ouviu do então deputado do PT, Eduardo Valverde, que o procurador deveria ter se declarado impedido de atuar naquela investigação.
IstoÉ ainda revelou, naquela mesma reportagem, que senadores e deputados estavam "indignados" com Santos Lima por outro motivo: o procurador teria se recusado a receber documentos que os membros da CPI, da Polícia Federal e do Ministério Público foram buscar em Nova York. As mais de "300 caixas de papéis sobre a movimentação de dezenas de contas milionárias que receberam dinheiro sujo do esquema Banestado" teriam sido menosprezadas sob o argumento de que "o MP brasileiro não era obrigado a considerar provas ou conclusões" de CPIs.
DECLARAR SUSPEIÇÃO NÃO ERA SEU FORTE
A apuração de Amaury Jr. não parou por aí. Escreveu o jornalista, naquela edição de 2003, que outro episódio provava que declarar suspeição não era o forte de Santos Lima. A reportagem relatou que, em 2000, estourou no Paraná um escândalo envolvendo a venda irregular de ações de uma empresa de telefonia pública de Londrina para a companhia Paranaense de Energia. A transação usou um braço do Banestado e foi condenada pelo Tribunal de Contas do Estado.
O TCE também apontou outra irregularidade na negociação: o advogado contratado para dar respaldo legal à transação, por R$ 2 milhões, sem licitação, foi Cleverson Merlin, que era casado com a então chefe do Ministério Público Federal do Panará, Marcela Peixoto.
Marcela e Santos Lima nutriam laços de amizade desde 1990 e, ainda assim, ele não se declarou suspeito para atuar no caso. Ao contrário disso, avocou o processo que pertencia ao MP de Londrina para si. 
PGR POR SANTOS LIMA 
Para finalizar, contou a IstoÉ que o escândalo envolvendo Santos Lima mobilizou o então procurador-geral da República Cláudio Fonteles.  
Sobre o episódio da CPI, Fonteles disse que Santos Lima "agiu de forma 'perfeita' para resguardar a validade das provas e tentou minimizar o fato de que sua ex-mulher trabalhava no Banestado na época em que investigava o caso", algo que o PGR taxou de "sem importância", pois Vera seria uma mera "escriturária", sem nenhuma participação no esquema. 
Fonteles ainda destacou que Santos Lima era um procurador importante para o caso Banestado, e prova disso era que tinha protocolado, em agosto de 2003, denúncia contra várias pessoas suspeitas de atuar no esquema de levagem de dinheiro. 
"Santos Lima, no entanto, só começou a agir em março, depois de ISTOÉ denunciar o abandono das investigações e quando já havia sido a instaurada a CPI na Assembléia Legislativa", ressaltou o jornal. 
Por conta da série de reportagens de IstoÉ - que envolve também um processo contra o procurador por "uso ilegal do dinheiro das diárias" - Santos Lima anunciou que iria processar a revista. 
A reportagem completa pode ser acessada aqui. 
DE UMA FAMÍLIA DE "OLIGARCAS" 
Segundo o artigo dos professores do Paraná, Santos Lima graduou-se na Faculdade de Direito Curitiba. Entre 1978 e 1991 foi Escriturário do Banco do Brasil. Entre 1991 e 1995, promotor de Justiça do MP-PR. Depois, Procurador Regional da República. Foi membro da força-tarefa Banestado. Fez Mestrado na Cornell Law School entre 2008 e 2009. 
Santos Lima é filho do deputado estadual da ARENA Osvaldo dos Santos Lima, que foi promotor, vice-prefeito em Apucarana e presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, em 1973, no auge da ditadura. 
O avô foi Luiz dos Santos Lima, comerciante e juiz em São Mateus do Sul, na época do coronelismo local. "A partir daí encontramos esta família na Genealogia Paranaense situada nas oligarquias da Lapa entre latifundiários escravistas, família aparentada ao Barão dos Campos Gerais e outros membros da classe dominante tradicional desta região", afirmam os autores do artigo.
Em 2015, o irmão Ovídio dos Santos Lima foi empossado como procurador do Ministério Público do Paraná. No dia da posse, foi lembrado que o pai de Lima e o irmão Luiz José também foram promotores de Justiça do MP-PR. 
No mesmo artigo, os professores do Paraná também abordam o histórico familiar de Deltan Dallagnol, Sergio Moro e Rosangela Wolff Moro, além de estender a pesquisa sobre o Ministério de Temer.
O artigo "Prosopografia familiar da operação Lava Jato e do Ministério Temer" foi escrito por Ricardo Costa de Oliveira, José Marciano Monteiro, Mônica Helena Harrich Silva Goulart e Ana Crhistina Vanali, e publicado na Revista NEP-UFPR (Núcleo de Estudos Paranaenses da Universidade Federal do Paraná). Leia a íntegra em anexo.
Arquivo
Do GGN