Na
sua autocrítica, faltou apenas incluir a questão das oportunidades de
enriquecimento fácil dos seus formuladores como fator indutor das políticas
monetária e cambial.
“Uma
vez feita a transição da URV para o Real, teria sido necessário manter uma
âncora coordenadora das expectativas. Retrospectivamente, o correto teria sido
adotar um regime de metas inflacionárias, para balizar as expectativas, que só
veio a ser adotado no segundo governo FHC. A opção à época foi por dispensar um
mecanismo coordenador das expectativas e confiar nas políticas monetária e
fiscal contracionistas. Optou-se por combinar uma política de altíssimas taxas
de juros com a austeridade fiscal. O resultado foram mais de duas décadas de
crescimento desprezível, colapso dos investimentos públicos, uma infraestrutura
subdimensionada e anacrônica, Estados e municípios estrangulados, incapazes de
prover os serviços básicos de segurança, saneamento, saúde e educação”.
A
autocrítica vem em cima de um questionamento das teorias tradicionais, que
justificaram vinte anos do que a mídia chamava de “tripé virtuoso”, de FHC.
No
artigo em questão, Lara Resende questiona o mainstream com os seguintes
argumentos:
Rebate
a ideia de que os juros são elevados porque a dívida pública é alta
A
moeda é essencialmente uma unidade de referência para a contabilização de
ativos e passivos. Sua expansão ou contração é consequência, e não causa, do
nível da atividade econômica.
Moeda
e impostos são indissociáveis. A moeda é um título de dívida do Estado que
serve para cancelar dívidas tributárias. Como todos os agentes na economia têm
ativos e passivos com o Estado, a moeda se transforma na unidade de
contabilização de todos os demais ativos e passivos na economia. A aceitação da
moeda decorre do fato de que ela pode ser usada para quitar impostos.
Não
há restrições financeiras para o aumento da dívida pública
O
Estado nacional que controla a sua moeda não tem necessidade de levantar fundos
para se financiar, pois ao efetuar pagamentos, automática e obrigatoriamente,
cria moeda, assim como ao receber pagamentos, também de maneira automática e
obrigatória, destrói moeda.
A
única razão macroeconômica para o governo cobrar impostos é reduzir a despesa
do setor privado e abrir espaço para os seus gastos, sem pressionar a
capacidade de oferta da economia.
Juros
são a única forma de controlar a demanda agregada
Banco
Central fixa a taxa de juros básica da economia, que determina o custo da
dívida pública. Desde os anos 1990, sabe-se que os bancos centrais não
controlam a quantidade de moeda, nenhum dos chamados “agregados monetários”,
mas sim a taxa de juros. O principal instrumento de que dispõe o Banco Central
para o controle da demanda agregada é a taxa básica de juros.
Endividamento
público é fator de bem estar
Se
a taxa de juros, controlada pelo Banco Central, for fixada sempre abaixo da
taxa de crescimento, a dívida pública irá decrescer, sem custo fiscal, a partir
do momento em que o déficit primário for eliminado.
(…)
Será possível aumentar o bem-estar de todos em relação ao equilíbrio
competitivo através do endividamento público. Em termos técnicos, diz-se que o
equilíbrio competitivo não é eficiente no sentido de Pareto.
Sobre
a inflação e a moeda
(…)
Os mais atualizados sabem ainda que, desde que não haja pressão sobre a
capacidade de oferta, é possível criar qualquer quantidade de moeda remunerada
sem provocar inflação. Trata-se de um poder tão extraordinário, que convém a
todos, para evitar pressões políticas espúrias, continuar a sustentar a ficção
de que o banco central deve controlar, e que efetivamente controla, a
quantidade de moeda.
O
equívoco de venda de ativos e aumento de impostos para reverter o déficit
público
Desde
o início dos anos 1990, a taxa real de juros foi sempre muito superior à taxa
de crescimento da economia. Só entre 2007 e 2014 a taxa real de juros ficou
apenas ligeiramente acima da taxa de crescimento. (…) Hoje, com a renda per
capita ainda 5% abaixo do nível de 2014, com o desemprego acima de 12% e grande
capacidade ociosa, a taxa real de juros ainda é mais do dobro da taxa de
crescimento. Como não poderia deixar de ser, a relação dívida/PIB tem crescido
e se aproxima de níveis considerados insustentáveis pelo consenso
macro-financeiro
O
velho consenso exige o corte a despesas, a venda de ativos estatais, a reforma
da Previdência e o aumento dos impostos, para reverter o déficit público e
estabilizar a relação dívida/PIB. É o roteiro do governo Bolsonaro sob a
liderança do ministro Paulo Guedes. A partir de um novo paradigma,
compreende-se que o equívoco vem de longe.
Minhas
críticas ao plano Real
A
partir do segundo semestre de 1994, estendendo-me durante todo o primeiro
governo FHC, alertei para os estragos permanentes que juros e câmbio
trariam para a economia. Em maio de 1995, em artigo na Folha, André tentava
rebater meus argumentos sob a alegação de que eram de analises empíricas, coisa
de palpiteiro.
Recentemente,
reconheceu que os economistas desprezaram as evidências empíricas e quebraram a
cara. Na sua autocrítica, faltou apenas incluir a questão das oportunidades de
enriquecimento fácil dos seus formuladores como fator indutor das políticas
monetária e cambial – como explico em meu livro “Os cabeças de planilha”.
Sua
autocrítica chega algumas centenas de milhões de dólares a mais em seu
patrimônio, fruto dos “erros de avaliação” cometidos.
Aqui,
alguns trechos de artigos meus publicamos na época, e a íntegra do capítulo “Os
juros do Real”, que consta do livro “O jornalismo dos anos 90”.
31/11/1994
– As sequelas do câmbio
Tenta-se
copiar os processos de estabilização da Argentina e do México, julgando que,
emulando as seqüelas, haverá eficácia no tratamento. A sobrevalorização das
moedas de ambos os países constituem-se, hoje em dia, no calcanhar de Aquiles
de seus programas.
Argentina
e México produziram monumentais déficits comerciais, devido à valorização
excessiva de sua moeda. Nos primeiros anos, esse déficit foi coberto pela venda
de estatais e pelo grande afluxo de recursos externos que marca todo início de
processo de estabilização.
Ocorre
que, em todo processo de estabilização, o pico de recursos externos é nos
primeiros anos, quando os ativos locais estão depreciados por anos de crise,
permitindo ganhos maiores a quem os compra.
Depois
que os preços atingem níveis internacionais—devido tanto à valorização interna
quanto à valorização da moeda local—tornam-se menos interessantes para o
capital de risco. Há o refluxo inicial na entrada de recursos financeiros, sem
que a balança comercial compense—porque ficou-se preso à armadilha da ancoragem
do câmbio.
Cria-se
o pior dos mundos. Quanto mais aumenta o déficit em transações correntes, mais
aumenta o risco do país. Quanto mais aumenta o risco, mais reduz-se o ingresso
de capitais externos.
28/04/1995
– O governo vai quebrar o país
O
catastrofismo só se justifica em uma circunstância: quando se está prestes a
produzir uma catástrofe. Se não acordar a tempo, o governo Fernando Henrique
Cardoso vai produzir uma recessão cavalar, um festival de inadimplência semelhante
ao ocorrido com o Cruzado 2.
Repete-se
a mesma leviandade da política cambial do ano passado. Desvalorizou-se o dólar
em 15%, abriram-se as portas das importações, tendo em mente reduzir o
superávit comercial para US$ 5 bilhões. Como se fosse possível ter esse grau de
controle sobre os agregados econômicos. O país está há meses produzindo
déficits mensais da ordem de US$ 1 bilhão. Como aprendizes de feiticeiros,
apertaram um botão e produziram um terremoto.
(…)
Há várias semanas há duas enormes vagas sendo formadas na economia, que se
acentuaram agudamente na semana passada, e que ainda não entraram nas
estatísticas.
A
primeira, a onda da inadimplência das pessoas físicas. Um dos bancos grandes
bancos de varejo do país, bastante conservador, detectou que 80% dos clientes
que possuem cheque especial estão no vermelho.
A
segunda vaga é a inadimplência nas empresas. Os índices de inadimplência já
vinham crescendo de maneira acentuada desde janeiro. Grande parte da economia
estava rolando suas dívidas no curto prazo. Ao estancar completamente o
crédito, impedindo esse pessoal de rolar suas dívidas, e de financiar as suas
vendas, o governo produziu um coquetel mortal. Tão mortal que não vai ser
mantido.
A
questão é que a equipe econômica só vai se dar conta do desastre depois que
estiver consumado um estrago considerável na economia. E qual o objetivo dessa
violência?
Varrer
por mais alguns meses para debaixo do tapete os erros cometidos na política
cambial. O problema do excesso de consumo é exclusivamente em relação a seus
efeitos sobre as importações.
O
pior da história é que essa recessão não vai resolver, por si, a questão do
desajuste cambial. Vai ter que se fazer o ajuste mais à frente, e em cima de
uma economia desorganizada.
(…)
Solicito que, quando começar a quebradeira das empresas, e voltar o desemprego
em doses violentas, que os senhores Ciro Gomes, Winston Fristch, Edmar Bacha e
Gustavo Franco, ocupem uma rede nacional de televisão para apresentarem suas
explicações para as loucuras que cometeram na política cambial.
Que
tentem justificar seu experimentalismo, a politização do tema cambial, o jantar
de comemoração pela volta dos déficits comerciais, as razões que os levaram a
privilegiar o capital externo especulativo, em detrimento da segurança dos
superávits comerciais.
De
preferência, que as explicações sejam apresentadas no Maracanã, ou em local que
consiga abrigar as centenas de milhares de desempregados, e de empresas
quebradas por sua irresponsabilidade.
11/05/1995
– Uma Vale = 5 meses de juros
Cinco
meses com as atuais taxas praticadas pelo Banco Central custam uma Vale do Rio
Doce. Todas as participações no setor petroquímico equivalem a 15 dias de
juros.
Esses
números são eloqüentes para demonstrar a loucura que se está cometendo contra o
país com a atual política de taxas de juros.
(…)
Inventam-se verdades definitivas—e jamais comprovadas—sobre as excelsas
virtudes das taxas de juros absurdas no combate à inflação. E para quê? Para
perpetuar a ciranda, inviabilizar novamente a dívida pública, e mais uma vez
jogar a conta para o conjunto da sociedade.
(,,,)
A estabilidade é de curto prazo, porque basta os agentes econômicos analisarem
as curvas de progressão da dívida pública para constatarem que essa maluquice
não se mantém. Basta o especulador aguardar o governo perder o fôlego, para
voltar matando.
Mantida
essa política, permanecerá a inevitabilidade do ajuste cambial. Só que o ajuste
terá que ser feito com uma ampla desorganização do setor real da economia,
riscos de crise financeira, inviabilização da rolagem das dívidas estaduais e
federais.
13/05/1995
– A ideologia dos juros altos
Há
anos esse modelo concentra renda, condena a produção e impede a modernização e
a renovação empresarial. Abortou sucessivos movimentos desenvolvimentistas,
quebrou várias vezes o Estado, inspirou sucessivos calotes nos poupadores
comuns, desviou recursos sem fim dos gastos sociais e da infraestrutura,
sacrificou milhares de empreendedores, em nome de uma falsa ciência.
Os
arautos da nova ideologia venderam a ideia de que, se os juros baixassem, a
inflação estouraria. Os juros mantiveram-se estupidamente elevados, e a
inflação nunca cedeu.
Nos
anos 70 já se premiava com juros reais as aplicações de curtíssimo prazo, sob a
alegação de que, se os juros baixassem, haveria fuga de recursos do sistema.
Quinze
anos depois, o economista Ibrahim Éris criou os fundões, a taxa de juros
negativa, e não houve um tostão de fuga de recursos do sistema.
Está
na hora de erradicar essa hipocrisia da vida nacional e expor algumas verdades
cruas: Papai Noel não existe, cegonha não traz recém-nascidos, e não existe
isenção na política econômica, nem os economistas públicos são figuras
tutelares.
15/05/1995
– Buraco à vista
Basta
levantar esses números para constatar como são inconsistentes os argumentos do
presidente do BC, Pérsio Arida, em favor dessa política monetária irracional.
Diz
ele que o governo foi obrigado a adotar uma política monetária drástica para
conter a demanda, pela falta de condições de implementar uma política fiscal
restritiva (Arida se recusa a aceitar que o objetivo final da contenção da
demanda é o equilíbrio da balança comercial, e o receio de se mexer na política
cambial, após as trombadas de março).
Para
que sua lógica fosse consistente, a seguinte equação teria que ser correta:
aumento do passivo público + câmbio congelado – privatizações – receita fiscal
futura = 0. E não é.
O
preço das estatais é cotado em dólares—não em reais. Se 7 meses com esses
juros—e sem ajuste cambial–, correspondem a uma Vale + toda a telefonia +
petroquímica, onde se fecha a conta?
Também
é inconsistente sua alegação de que o governo aumentou o compulsório dos bancos
para permitir que parte da dívida pública fosse financiada com esses recursos.
Os compulsórios bancários estão sendo remunerados por 100% da taxa do over,
porque a regra anterior—de remuneração de 90% do over para parte do
compulsório—estava derrubando as taxas dos CDBs.
21/05/1995
– Os gurus e a retórica da meia lógica
Em
entrevista à edição de domingo da “Folha de S.Paulo”, conhecido guru econômico
fez a defesa da atual política de juros altos. Acredita ele que seja
precondição de todo plano de estabilização obter equilíbrio fiscal e equilíbrio
da balança comercial.
A
partir daí, parte para a defesa da atual política de juros, como se fosse o
instrumento adequado para atingir esses objetivos. Diz ele:
1)
Não se podem baixar as taxas de juros antes de um ajuste fiscal maior e mais
profundo e da privatização.
2) Quebras de empresas são decorrências naturais de
processos de estabilização. As classes produtoras reclamam porque gostam de
economia aquecida.
3) Pode-se manter a atual banda cambial se o governo criar
incentivos às exportações ou restrições às importações.
Releve-se,
por vício de ofício, essa postura de deus ex machina, a arrogância de banalizar
como choradeira a reação desesperada de milhares de pessoas que estão perdendo
bens, empregos e vidas inteiras de trabalho por conta dessa irracionalidade.
A
entrevista do guru é relevante por demonstrar a faceta menos percebida desse
jogo antinacional: o aval técnico dado pelos gurus econômicos a aventuras
inconseqüentes, a partir de uma retórica sutilíssima, onde jamais mentem, mas
jamais contam a verdade por inteiro, para preservar para si o poder de definir
decisões que deveriam ser compartilhadas com o conjunto da opinião pública.
Em
pouco tempo a manutenção dessa taxas de juros inviabilizará definitivamente o
ajuste fiscal do Estado. Rapidamente tornará o passivo público superior ao
conjunto de estatais a serem privatizadas. E começará a se refletir rapidamente
na arrecadação fiscal. É só conferir como será a arrecadação de maio e junho.
A
médio prazo, essa política não só não resolve, como aprofunda e inviabiliza
qualquer ajuste fiscal futuro.
23/05/1995
– A volta do messianismo
Foi
a equipe do real que destruiu os superávits comerciais, exclusivamente para
abrir espaço para o dinheiro especulativo. Depois, demorou no combate ao
aumento da demanda. No novo governo, errou bisonhamente na mudança do câmbio,
derrubando o teto do dólar de um real para 92 centavos.
Para
não assumir seus erros, consumado o desastre na balança comercial, em vez de
parar, analisar serenamente a situação, e preparar a próxima etapa do jogo, o
Banco Central toma as rédeas nos dentes e resolve partir para o tudo ou nada.
Este é o dado trágico.
(…)
1) Taxas de juros estratosféricas jogam o país numa recessão.
2)
A recessão desestimula as altas de preços e quebra as resistências de
empresários e trabalhadores.
3) Instituída a paz do cemitério, o governo
consolida o plano.
E
param por aí. O que significa consolidar o plano? Como vai ser o dia seguinte?
Expliquem-se. Apresentem claramente seus objetivos. Desenhem com honestidade o
cenário que estão perseguindo, para que a opinião pública possa avaliar se as
medidas estão no caminho correto ou não. Como vão fazer para o ajuste fiscal,
se com esses juros o mero crescimento da dívida interna consumirá tudo o que
vier a ser apurado com a privatização? Como pretendem partir para a
desindexação final, antes de resolver os desajustes da balança comercial?
Depois
do desastre do Cruzado, o país não merecia de volta o messianismo na economia.
25/05/1995
– D Sebastião e a reunião de Carajás
Com
apenas 18 meses com a economia de volta às mãos dos pacoteiros, e apenas com
sua capacidade de brincar de fliperama com as políticas monetária e cambial,
tem-se: 1) O país em nova crise cambial; 2) a volta de alíquotas
super-protetoras em muitos setores; 3) crescimento exponencial da dívida
interna, comprometendo o futuro ajuste fiscal; 4) e uma multidão de
empreendedores arrependidos até a medula dos ossos por terem apostado no país e
programado investimentos.
Mesmo
assim, recebem olhares embevecidos de analistas rasos, que conclamam, com um
frêmito nelsonrodriguiano: o plano é bom, porque faz doer.
Todo
o ouro de Carajás não vai pagar o que o país ainda vai sofrer por causa da
reunião de 1986.
16/07/1995
– O oportuno mea-culpa de FHC
Para
não ser apanhado novamente no contrapé, seria conveniente que o presidente se
valesse das lições aprendidas com a crise agrícola para prevenir desastres
ainda maiores no futuro, principalmente em relação aos seguintes pontos:
1)
Recessão: há sacrifícios decorrentes de ajustes inevitáveis, e sacrifícios
provocados
por
inabilidade na condução da economia. A opção de “errar por excesso” é um
escapismo. Erra por excesso apenas quem não tem competência para encontrar o
nível adequado de sacrifício a ser imposto ao país.
2)
Dívida pública: a manutenção das altas taxas de juros está lançando as sementes
de
uma
crise fiscal que ainda vai estourar no próprio governo FHC. 20% de juros reais
ao ano são mais que suficiente para atrair capitais externos. Não há nenhuma
justificativa técnica para esses 45% ao ano, que apenas reforçam os receios de
um calote mais à frente.
3)
Câmbio e balança comercial: já se sabe que o problema existe. A maneira de
enfrentá-lo,
através da criação desordenada e pouco seletiva de mecanismos de proteção
setorial, ainda vai respingar sobre o governo FHC.
4)
Saúde: a próxima marcha sobre Brasília vai ser dos mortos-vivos condenados à
morte
pela falta de recursos oficiais.
5) Custo Brasil: a contrapartida oficial a
essa política recessiva seriam as reformas extra-constitucionais, englobadas no
tal projeto “Custo Brasil”. Delas, ninguém sabe, ninguém viu.
26/07/1995
– A crise da macroeconomia
A
macro-economia, no país, virou ciência manca, administrada por especialistas
sem nenhuma visão de conjunto, sem um plano estratégico. Em seu tabuleiro, não
existem a pequena e a média empresa, o interior, a agricultura, a não ser
quando seus problemas afetam o centro.
Cada
crise que estoura, embora perfeitamente perceptível, apanha-os a todos—e
sempre— de calças curtas, porque a análise econômica brasileira não conseguiu
avançar além da observação dos setores tradicionais. Assim como com os gurus
americanos, não se percebeu que a revolução gerencial e tecnológica desenhavam
uma nova economia, que não podia ser englobada nas formas tradicionais de
análise.
A
evolução das modernas técnicas gerenciais—com a ampliação dos conceitos de
terceirização—e a explosão das novas tecnologias, acabaram com a noção do
grande conglomerado, que se bastava a si próprio. Cada vez mais é estratégica a
montagem de um cinturão de pequenas e médias empresas especializadas, provendo
as maiores de serviços e produtos.
Mas
eles continuam ligados apenas a visão convencional e aos agregados monetários.
Se Bill Gates tivesse nascido brasileiro, teria terminado sua vida como
consultor de informática de uma repartição qualquer.