domingo, 11 de setembro de 2011

BIN LADEN, AL-QAEDA US$ 500 MIL E BUSH, EUA US$ 3,3 TRI

Para cada dólar gasto pela Al-Qaeda no atentado de 2001, governo americano gastou US$ 6,6 milhões (Bin Laden US$ 500 mil X George Bush US$3,3 trilhões)

Em 2004, quando talvez ainda fosse capaz de realizar outro ataque devastador contra os Estados Unidos, Osama Bin Laden divulgou um vídeo exultando seu plano de "fazer a América sangrar até a falência".
Como de costume, a promessa de Bin Laden foi exagerada - mas, como agora podemos perceber, não deixou de ser cumprida. Uma pesquisa feita pelo The New York Times estimou o valor dos custos da reação - e seus exageros - ao ataques do 11 de Setembro, o evento que definiu a última década. A conta dos EUA para este combate desigual do século 21 chegou a pelo menos US$3,3 trilhões. Ou seja, para cada dólar que a Al-Qaeda gastou planejando o atentado de 2001 (US$ 500 mil no total), o custo para os EUA foi de espantosos US$ 6,6 milhões.
Foto: AP
 Última brigada de combate americana deixa o Iraque (31/08/2010)
Hoje, a Al-Qaeda está fraca no Paquistão e Bin Laden está morto. Mas o valor de US$ 3,3 trilhões sugere que os custos imprevisíveis da forma como lidamos com uma década sombria - dinheiro que já foi gasto ou está comprometido para o futuro – hoje representa pouco mais de um quinto da atual dívida nacional americana.
Alguns desses custos eram inevitáveis, pois faziam parte da resposta aos ataques. Outros, como a guerra do Iraque, foram gastos de escolha própria. Mas há também uma questão mais difícil, menos quantificável: o que pagamos em "oportunidades perdidas”.
Menos de US$ 1 trilhão dos US$ 3,3 trilhões foram direcionados para as retaliações - incluindo a derrubada do Taleban. Mas e se pelo menos alguns dos US$ 2 trilhões restantes tivessem sido gastos em outras ameaças de longo prazo para a segurança nacional americana? Na reconstrução de um sistema de ensino falido? Na busca por formas mais criativas de competição com a China? Na redução da dívida nacional? Ou para cumprir as promessas feitas pelo presidente George W. Bush e pela secretária de Estado Hillary Rodham Clinton de reconstruir as sociedades em risco que possam permitir que possíveis células da Al-Qaeda floresçam?
"Somos americanos", disse recentemente o almirante Dennis C. Blair, que serviu brevemente como Diretor de Inteligência Nacional sob o governo do presidente Barack Obama, quando questionado sobre como os custos aumentaram e saíram de controle. "Se vale a pena fazer, vale a pena exagerar". A nação nunca debateu ou questionou tais prioridades: "O que justifica esse nível de gastos?", perguntou Blair. O debate começou, mas apenas recentemente, depois de um enorme déficit federal e do cansaço nacional com uma década de guerra terem criado uma reação tão poderosa que alguns temem que o país recue em isolacionismo.
"Da perspectiva atual, o país sofreu um trauma e logo depois um pós-trauma que tentou curar jogando imensas quantidades de dinheiro no problema", disse David Rothkopf, que escreveu sobre o Conselho Nacional de Segurança, onde muitas dessas decisões foram tomadas. "Há gastos de necessidade e gastos que são uma escolha, e precisamos de uma década para reconhecer que alguns dos gastos por escolhas foram fundamentalmente errados. Só agora nos deparamos com o momento de virada".
A troca - segurança a curto prazo por segurança a longo prazo - não era tão aparente nos primeiros dias, quando o 11 de Setembro ainda parecia ser um novo Pearl Harbor. Essa troca era a coisa mais distante na mente de qualquer um naquele aterrorizante dia ensolarado. Quando o segundo avião atingiu a Torre Sul do World Trade Center (WTC) em Nova York, ficou evidente que se tratava de um trabalho de Bin Laden e que a presidência iria enfrentar uma grande mudança naquele momento. Uma resposta vigorosa era inevitável.
Mais de um ano se passou antes que alguém começasse a questionar sobre se o posicionamento da América e o exagero de suas reações concederam a Bin Laden o desejo de provocar estragos econômicos enormes ao país. Nessa mesma época, os Estados Unidos estavam direcionando sua atenção para o Iraque.
Conforme a resposta imediata se transformou na mais ampla e mal definida "guerra global ao terror " - o Pentágono chegou a emitir uma medalha que reconhecia o serviço de militares até mesmo fora dos principais campos de batalha - o debate sobre tais custos de oportunidades perdidas se tornou algo quase antipatriota. O então diretor do Conselho Nacional Econômico Lawrence Lindsey foi forçado a renunciar após ter sugerido, em 2002, que uma guerra contra o Iraque poderia custar entre US$ 100 bilhões a US$ 200 bilhões. Mitch Daniels, o então chefe do Gabinete de Gerenciamento e Orçamento, ofereceu uma estimativa de US$ 50 bilhões a US$ 60 bilhões, um erro de arredondamento no orçamento federal atual (os democratas alegaram que a estimativa foi de US$ 93 bilhões). O número verdadeiro, de acordo com o Serviço de Pesquisa do Congresso, é de US$ 800 bilhões e aumenta diariamente.
O Afeganistão, em comparação, foi uma pechincha, com cerca de metade do custo - e menos do que o estimado para cuidar dos veteranos de ambas as guerras (US$ 589).
Obviamente, nenhum presidente entra em uma guerra sabendo qual será seu custo. Mas pelo menos dois terços da resposta ao 11 de Setembro podem ser relacionados a algumas linhas escritas na Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, em 2002, que declarou que o país tinha de antecipar qualquer ameaça emergente. Durante anos, não se falou de uma resposta de mínima, proporcional ou de equilibrar a defesa e outras prioridades. De acordo com um oficial da Casa Branca, quem aplica cálculos de custo-benefício à segurança nacional?
Hoje, parece inimaginável não o fazer. Na verdade, talvez a maior mudança na estratégia de segurança nacional dos EUA desde que Obama chegou ao poder seja o constante questionamento desse cálculo. Quando Obama anunciou o "aumento de tropas" no Afeganistão, ele inseriu alguns parágrafos em seu discurso para deixar claro que os dias de guerra "ao ar livre" acabaram. "Ao longo dos últimos anos, perdemos o equilíbrio" entre investir no país e investir na segurança nacional, disse ele. "A concorrência dentro da economia global se tornou mais feroz. Então, não podemos simplesmente ignorar o valor quantitativo dessas guerras."
Torre Sul do World Trade Center explode após impacto de voo 175 da United no 11 de Setembro - Foto: Getty Images
Na época, a cautela de Obama foi tratada apenas como discurso político. "O que ninguém entendeu - até mesmo seus próprios generais - é que ele acredita mesmo nesse ideal, e é isso que diferencia a sua estratégia da de Bush", disse um oficial de alto escalão do governo. Obama estabeleceu um prazo para as tropas serem retiradas mais ou menos em setembro de 2012, dois meses antes da eleição.
Mas o modelo real para uma nova abordagem - que evita valores como os US$ 3.3 trilhões - ficou evidente em relação à Líbia. Para Obama, este foi o teste de uma abordagem alternativa que pode trazer mudanças em um regime. Como Saddam Hussein, Muamar Kadafi era um ditador cruel com uma histórico de terrorismo e de ambições por poder nuclear. Embora Obama tenha decidido intervir na Líbia - mesmo diante das objeções de seu secretário da Defesa - ele insistiu em não colocar tropas no país, deixou a liderança nas mãos da Otan e ofereceu apenas algumas orientações em quesitos nos quais os EUA são especialistas. Mesmo com essas restrições, tais operações podem custar aos Estados Unidos mais de US$1 bilhão, e críticos como o senador John McCain, republicano do Arizona, denunciaram esta maneira de apenas abordar o conflito com "meia intenção" como algo que pode prolongar o confronto e custar vidas.
Esteja ele certo ou não, a Líbia foi um exemplo do que países com restrições reais - fiscais, políticas e estratégicas - têm de fazer. Porque mesmo uma hiperpotência, como os franceses chamavam os Estados Unidos antes do 11 de Setembro, não pode lidar com mais uma conta de US$ 3,3 trilhões.

Com informações do IG
Por David E. Sanger The New York Times 

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