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terça-feira, 15 de janeiro de 2019

DECRETO DE BOLSONARO É UMA "GAMBIARRA JURÍDICA" QUE VAI AUMENTAR MORTES POR "CONFLITOS PESSOAIS", DIZ FLÁVIO DINO

O governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) disse que o decreto de Jair Bolsonaro que flexibiliza a posse de armas em até 4 unidades por requerente é uma "gambiarra jurídica". Segundo o mandatário, a medida afrontou o Estatuto do Desarmamento e apenas o Congresso teria competência para rever o status da lei. Dino ainda batizou a ação de Bolsonaro de "decreto faroeste" e criticou outros equívocos que encontrou no texto.
Já o deputado federal Chico Alencar (PSOL) disse que o decreto de Bolsonaro vai, ao contrário do que acredita o presidente, aumentar o número de feminicídio e de mortes por conflitos de ordem pessoal. 
"O decreto publicado pelo governo Bolsonaro vai contribuir para o aumento de acidentes envolvendo crianças e adolescentes, feminicídios (cujos índices vêm crescendo a passos largos nos últimos anos), homicídios por motivos fúteis e por conflitos interpessoais e familiares variados. Não dá pra achar isso normal. Vamos recorrer!"
O PT e o PSOL anunciaram que vão apresentar no Supremo Tribunal Federal um recurso contra o decreto de Bolsonaro. O PSOL, em paralelo, pretende apresentar, no primeiro dia da nova Legislatura (1º de fevereiro), um Projeto de Decreto Legislativo para sustar a medida.
Leia, abaixo, a mensagem do governador Flávio Dino.
Sobre o decreto faroeste, que estimula armas de fogo no país, além do equívoco de mérito, sublinho dois aspectos. Primeiro, o decreto, na prática, esvazia o Estatuto do Desarmamento que, sendo lei, tem maior hierarquia normativa. Estranho.
Em segundo lugar, na hora de “copiar/colar” entre varias versões, algumas coisas ficaram esquisitas. Por exemplo, presume-se que todos os habitantes do país tem “efetiva necessidade” de arma, mas estes podem ser responsabilizados por declaração falsa. Bem esquisito formalmente.
Ademais, acho que o decreto faroeste revela uma desconfiança quanto ao Congresso Nacional, instância própria para rever o Estatuto do Desarmamento, que é uma lei. Aí algum gênio resolveu fazer essa gambiarra jurídica. Tenho impressão de que erraram o tiro.
GGN

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

É CINISMO DE MORO ANTE POSSÍVEL LAVAGEM DE DINHEIRO ENVOLVENDO BOLSONARO, DIZ MARCELO OLIVEIRA

Para o juiz aposentado Marcelo Tadeu Lemos de Oliveira, não foi surpresa a denúncia surgida de relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em torno da família Bolsonaro. O órgão, subordinado ao Ministério da Fazenda, apontou movimentação financeira suspeita de um ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL/RJ), o policial militar Fabrício José Carlos Queiroz. “A família Bolsonaro foi toda construída dentro da estrutura do Estado”, afirma.
“Toda aquela retórica de anticorrupção nunca existiu. Imagine um parlamentar com 30 anos de legislatura no estado do Rio de Janeiro e todos esses episódios lá e nada disso ele tinha conhecimento? Claro que tinha. Agora está provado e não só sabia como dele se utilizou”, ressalta.
Segundo Oliveira, da forma como está construído o sistema político, todos os partidos utilizaram um caminho que não é formalmente correto. “Ele seria diferente de quê, esse homem puro veio de onde, do Rio de Janeiro? Família Bolsonaro pura, do Rio de Janeiro? Como é possível? Seria um aborto da natureza”, ironiza.
Sobre o R$ 1,2 milhão movimentado pelo assessor e os valores transferidos para a conta de Michelle Bolsonaro, futura primeira-dama, o ex-juiz acredita que a família não vai ter como justificar. “Um ex-soldado PM, com remuneração de 8 mil contos, como é que vai movimentar isso. Eu, como juiz de direito, passo anos pra ter essa quantia na minha conta”, compara. “As justificativas apresentadas até agora são fraquíssimas, acho até que vão optar em ficar em silêncio porque não vão ter como corrigir o que está lá. Não tem como.”
As consequências da denúncia para o presidente eleito, Jair Bolsonaro, são muito graves, na opinião de Oliveira. “Vai tomar posse já enfraquecido e, se precisar do Congresso para a governabilidade, vai ficar mais caro ainda o apoio, não só para implementar as ideias macabras dele, como para se manter no poder. Qualquer movimento que implique numa fragilidade de apoiamento político, pode levar a uma cassação.”
Para o advogado, Bolsonaro vai tomar posse precisando mais do que nunca do Congresso. E acha, ainda, que o ex-capitão perde força para escolha dos presidentes (da Câmara dos Deputados e do Senado). “Estavam batendo forte na pessoa do senador Renan Calheiros, por exemplo, na disputa à presidência do Senado. Flavio Bolsonaro, que vai tomar posse como senador, que tinha no seu gabinete esse PM lotado e nomeado por ele, dizia que Renan não seria nunca (o presidente do Senado) porque afinal de contas era um homem cheios de processos, com corrupção. E agora, Flavio?”
Nada disso, no entanto, é um acaso, na opinião de Marcelo Tadeu. “Aparecer isso agora é uma resposta, um aviso que está sendo dado à família Bolsonaro. Ou ele se alinha e se ajusta ou dança”, avalia. “Essa é a opinião de quem foi magistrado por 25 anos e já foi candidato a deputado federal, no microssistema político de Alagoas. Bolsonaro entra com a corda no pescoço e o Congresso pode puxar a qualquer momento.”
Moral inabalável?
Agora advogando em Maceió (AL), Recife (PE) e Brasília (DF), Oliveira diz ter “certeza” de que é muito constrangedor para Sergio Moro fazer parte de um governo como esse. “Para quem alardeou para o povo brasileiro que se tratava de um juiz de uma atuação do ponto de vista moral e ético inabalável, está provado que não é”, afirma.
Ele ressalta que o ex-juiz da Lava Jato, e futuro Ministro da Justiça e Segurança de Bolsonaro, decidiu servir a um governo “com problemas mais graves ainda do que aquele que ele tanto perseguiu, que foi o Lula”. E compara: “No caso de Lula é 'parece', 'seria', 'teria'”, diz, em relação às acusações que levaram o ex-presidente à condenação. "Com Bolsonaro não é ‘teria’, mas ‘tem’, não é ‘faria’, é ‘fez’, não é ‘se corromperia’, mas ‘se corrompeu’".
Para o juiz aposentado, Moro deveria ter vergonha e pedir exoneração se quisesse manter a história dele. “Ou a falsa história ou o verniz de verdade. Porque agora ele vai se desmoralizar por completo. Esse juiz Sergio Moro nunca me enganou.”
Nesta segunda-feira (10), após quatro dias das denúncias originadas no relatório do Coaf – que inclusive ficará subordinado à sua pasta, Moro afirmou que os fatos precisam ser “esclarecidos” e que seria “inapropriado”, como futuro ministro da Justiça, comentar.
“Ele (Moro) só comentava casos do Lula. Minha visão é de que se trata de um magistrado, ou ex-magistrado, que tem o cinismo como ponto de apresentação em sua personalidade. Ele é cínico demais!”, afirma Marcelo Tadeu Lemos de Oliveira.
Moro teria dito ainda a uma emissora de rádio: “Sobre o relatório do Coaf sobre movimentação financeira atípica do sr. Queiroz, o sr. presidente eleito já esclareceu a parte que lhe cabe no episódio. O restante dos fatos deve ser esclarecido pelas demais pessoas envolvidas, especialmente o ex-assessor, ou por apuração”.
GGN/Da RBA

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

WHATSAPP DISTORCEU A ELEIÇÃO BRASILEIRA, PROVANDO O PERIGO DA MÍDIA SOCIAL PARA A DEMOCRACIA

Foto: Reuters 
A desinformação através da mídia social desempenhou um papel preocupante em impulsionar o congressista de extrema direita Jair Bolsonaro para a presidência brasileira. 
Bolsonaro não ganhou 55% dos votos graças à falta de informação sozinha. Um forte desejo de mudança política no Brasil depois de um escândalo de corrupção de muitos anos e uma decisão judicial que obrigou o líder favorito Luis Inácio Lula da Silva a se retirar da disputa abriram as portas para sua vitória. 
Mas a candidatura de Bolsonaro se beneficiou de uma poderosa e coordenada campanha de desinformação destinada a desacreditar seus rivais, segundo o jornal brasileiro Folha. 
Dias antes do segundo turno entre Bolsonaro e o esquerdista Fernando Haddad, em 28 de outubro, uma investigação da Folha revelou que um lobby conservador de empresas brasileiras havia financiado a campanha de difamação multimilionária - atividades que podem ter constituído uma contribuição ilegal à campanha. 
Precipitação de escândalo de eleição 
Usando o WhatsApp, um serviço de mensagens de propriedade do Facebook, os apoiadores do Bolsonaro fizeram um ataque de desinformação diária direto a milhões de telefones de brasileiros. 
Eles incluíram fotos manipuladas retratando membros veteranos do Partido dos Trabalhadores celebrando com o comunista Fidel Castro depois da Revolução Cubana, clipes de áudio manipulados para deturpar as políticas de Haddad e falsas verificações de fatos, desacreditando as notícias autênticas. 
A estratégia de desinformação foi eficaz porque o WhatsApp é uma ferramenta de comunicação essencial no Brasil, utilizada por 120 milhões de seus 210 milhões de cidadãos. Desde que as mensagens de texto do WhatsApp são encaminhadas e compartilhadas por amigos e familiares, a informação parece mais credível. 
As consequências da reportagem de primeira página da Folha obrigaram o WhatsApp a publicar um artigo de opinião apologético. 
“Todos os dias, milhões de brasileiros confiam no WhatsApp com suas conversas mais particulares”, escreveu o vice-presidente do WhatsApp, Chris Daniels, na Folha. “Como as informações boas e ruins podem se tornar virais no WhatsApp, temos a responsabilidade de ampliar o bem e mitigar o dano.” 
A empresa anunciou que limparia milhares de contas de spam no Brasil, rotulará claramente as mensagens para mostrar que elas foram encaminhadas, apertar regras sobre mensagens de grupo e se associar a organizações brasileiras de checagem de fatos para identificar notícias falsas. 
O mais alto tribunal eleitoral do Brasil também criou um "conselho consultivo na internet e eleições" para investigar a desinformação nas eleições de 2018 no Brasil e propor regulamentações para limitar seu impacto em futuros processos políticos. 
É um mundo definido pelo WhatsApp 
O Brasil é o último país a saber que as mídias sociais podem minar o processo democrático. 
Inúmeros estudos confirmaram que uma mistura tóxica de má administração de dados, propaganda direcionada e desinformação on-line também influenciaram os resultados da votação do Brexit no Reino Unido e da corrida presidencial dos EUA em 2016. 
O escândalo eleitoral do Brasil no WhatsApp deve ser um alerta particularmente para outras democracias do mundo em desenvolvimento, como revelado em pesquisa que apresentei recentemente no Fórum de Governança da Internet das Nações Unidas. 
Isso porque as condições que permitiram que notícias falsas prosperem no Brasil existem em muitos países da América Latina, África e Ásia. 
O acesso à Internet é muito caro no Brasil. Uma conexão de banda larga pode custar até 15% da renda familiar e planos móveis com dados ilimitados, comuns em países ricos, são raros. 
Em vez disso, as operadoras de celular atraem os usuários oferecendo planos de "classificação zero" com acesso gratuito a aplicativos específicos, como Facebook, WhatsApp e Twitter. Quase três quartos dos internautas brasileiros tinham esses planos de internet móvel pré-pagos em 2016, segundo o centro de pesquisa tecnológica CETIC.br. 
A maioria dos brasileiros, portanto, tem acesso ilimitado à mídia social, mas muito pouco acesso ao resto da internet. Isso provavelmente explica por que 95% de todos os internautas brasileiros dizem que acessam principalmente aplicativos de mensagens e redes sociais. 
No entanto, o “resto da internet” é precisamente onde os brasileiros poderiam ter verificado as notícias políticas enviadas para eles no WhatsApp durante a eleição de 2018. Essencialmente, a checagem de fatos é muito cara para o brasileiro médio. 
Preocupação com as eleições na África 
As democracias na África, onde mais de uma dúzia de países realizarão eleições em 2019, são vulneráveis ​​ao mesmo tipo de acesso desigual à informação que influenciou o voto presidencial do Brasil. 
Como no Brasil, muitos africanos obtêm acesso à Internet despojado através das plataformas Internet.org e Free Basics do Facebook. Mas, preocupantemente, a maioria dos países africanos tem pouca ou nenhuma proteção de dados e nenhum requisito de neutralidade da rede para que os provedores de internet tratem todos os conteúdos digitais da mesma forma, sem favorecer aplicativos específicos. 
Na minha análise, o Facebook e um punhado de empresas de tecnologia estão agora correndo para coletar e monetizar os dados coletados através de aplicativos patrocinados, permitindo-lhes fazer o perfil de milhões de africanos. A supervisão negligente do governo significa que as pessoas nunca podem ser informadas de que pagam por esses aplicativos "gratuitos" ao expor suas informações pessoais à mineração de dados por empresas privadas. 
Tais informações pessoais são extremamente lucrativas para os anunciantes na África, onde as pesquisas de opinião pública e os inquéritos aos consumidores ao estilo ocidental ainda são raras. É fácil imaginar quão valiosa seria a propaganda direcionada para candidatos políticos e lobbies no período que antecedeu as eleições africanas de 2019. 
Mova-se rapidamente e rompa a democracia 
A democracia não pode prosperar quando o eleitorado é intencionalmente mal informado sobre candidatos, partidos e políticas. 
O debate político impulsionado por gostos, ações e comentários irados nas mídias sociais aumenta a polarização e distorce o discurso público saudável. No entanto, as evidências mostram que insultos, mentiras e polêmicas são o que melhor impulsionam o engajamento do usuário que gera esses preciosos dados pessoais. 
Por mais de uma década, as redes sociais têm sido associadas à comunicação livre, livre de gatekeepers, como editores de notícias ou verificadores de fatos. Muitos no Vale do Silício e além viram essa ruptura inovadora como amplamente benéfica para a sociedade. 
Isso pode ser verdade quando as redes sociais são apenas uma das muitas maneiras pelas quais as pessoas podem se engajar em debates abertos e pluralistas. Mas quando apenas um punhado de aplicativos está disponível para a maioria dos usuários, servindo como o único canal para o diálogo democrático, as mídias sociais podem ser facilmente manipuladas para fins venenosos. 
O lema de longa data de Mark Zuckerberg era: “Mexa-se e quebre as coisas”. Esse slogan foi retirado em abril de 2018 , talvez porque é cada vez mais evidente que a democracia está entre as coisas que o Facebook e os amigos deixaram rompidos. 
Luca Belli é Professor de Governança e Regulação da Internet, Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas
GGN

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

PORQUE A IMPRENSA PERDEU PARA AS FAKENEWS, LUÍS NASSIF

A mídia ganhou nos últimos anos um poder de manipulação que consequentemente matou sua capacidade de mediação.
O País tem assistido a uma disputa de narrativas que é uma das coisas mais nonsense de sua história. Veja o episódio da saída dos médicos cubanos.
Bolsonaro queria mudar pagamento ao governo cubano e impôr a revalidação do diploma, um conjunto de exigências que acabaria com o programa Mais Médicos. 
Hoje, com Cuba anunciando sua retirada da parceria, Bolsonaro diz a seus seguidores que libertou os médicos da escravidão e os devolveu a seus familiares. Mas como deputado, Bolsonaro tentou proibir, por exemplo, a vinda dessas mesmas famílias ao Brasil. 
É um caso que mostra que estamos lidando com um mentiroso clássico, que foi eleito presidente da República. 
De um lado teríamos o pessoal do Bolsonaro dizendo que os cubanos foram libertados e, de outro, aqueles que dizem que a saída dos cubanos, com todos os reflexos sobre 600 municípios que ficarão sem médico, é culpa das declarações do presidente eleito. 
Quem que faz a mediação da opinião pública? Deveria ser a mídia, os chamados jornais da grande mídia, aqueles que definem a opinião. Mas você não tem mais essa imprensa aqui. 
Desde o impeachment Collor há um jornalismo de guerra que consiste em sempre dar as versões que interessavam, que dão manchete mesmo em cima de avaliações erradas e sensacionalistas. O importante é ter volume de leitura. 
De 2005 para cá, quando Roberto Civita montou a cartelização da mídia e implementou defitivamente o jornalismo de guerra, qualquer história de mediação veio por água abaixo. 
No jornalismo de guerra, o que importa é ganhar a narrativa considerando alguns interesses, como o do mercado. 
Há inúmeros exemplos de narrativas erradas que ganham a opinião pública nos últimos anos. A história que Bolsonaro repete, de que há um número gigante de estatais e por isso tudo deve ser privatizado, é uma delas. Que a Petrobras foi quebrada pela corrupção, é outra narrativa manipulada. 
O que levou a uma redução de valor da Petrobras foi a queda do preço do barril de petróleo no ambiente internacional. Os ajustes contábeis decorrentes desse fato foram todos tratados pela imprensa meramente como valor da corrupção. 
Há décadas, diariamente, a mídia viciou o organismo da opinião pública em toda sorte de manipulação. E soma-se a isso a arrogância que acompanhou a imprensa desde o impeachment do Collor, como se ela fosse o poder maior. Tudo isso matou a capacidade de mediação da mídia. 
Então, agora, quando chega um novo governo com um chanceler que fala os absurdos que fala, com os filhos do presidente e outros membros do núcleo duro moldando discursos com base numa visão religiosa fundamentalista, sem conhecimento técnico e científico sobre vários assuntos, prevalecem as mentiras deslavadas, como essa do Mais Médicos, porque a mídia já não consegue fazer a mediação. 
A mídia ganhou nos últimos anos um poder de manipulação que consequentemente matou sua capacidade de mediação. 
A queda na qualidade jornalística comprometeu a  informação, que é fundamental dentro de um ambiente democrático e de mercado. Através da informação é que se forma a opinião, e através da opinião você forma os pactos jurídicos, políticos, constitucionais, e dali derivam as leis. 
O que aconteceu foi que o desmonte da credibilidade da informação se deu ainda no período de predomínio da mídia, e agora as redes sociais bagunçam mais ainda a guerra de narrativas. Não adianta mais a imprensa dizer que a culpa dos Mais Médicos é do Bolsonaro porque o pessoal vai acreditar no que ele diz nas redes. 
O grande problema, acima de tudo, são os filtros, a falta de canais de controle. Trump tem seus canais de controle dentro do próprio governo. É o que está impedindo que as maluquices dele tenham consequencias maiores. Lá, por trás de tudo, você tem uma mídia de opinião que faz a cabeça dos técnicos que seguram os abusos. Fazem a cabeça gerando debate na imprensa a partir de várias opiniões técnicas. Isso não tem no Brasil. O que a mídia criou dentro das corporações públicas, nesse período, foi uma militância antipetista que se sobrepôs ao debate técnico e aos mecanismos de controle.
Não importa mais se a consequência é que vamos deixar milhões sem médicos. O que importa é que vamos tirar esses comunistas daqui. Vence o discurso que não se submeteu à mediação. 
O padrão de mediação da mídia, em relação a qualquer governo, deveria ser o de elogiar o que tem de ser elogiado, e criticar o que tem de ser criticado, para que o leitor entenda o peso. Mas esse padrão não foi estabelecido. 
Hoje temos um País em que todas as barbaridades, no plano das discussões das ideias, ganham força. Tudo vira guerra de narrativas. 
Infelizmente a imprensa tenta agora de algum modo recuperar a credibilidade perdida, mas foram muitos anos de demonstração de poder, de usar a influência midiática para promover badernas e derrubar presidentes, e hoje o mercado de opinião está a mercê de qualquer cultivador de teorias de disco voador. 
Assista o comentário de Luis Nassif, na íntegra, abaixo:
GGN

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

LAVA JATO AJUDOU BOLSONARO, MAS HADDAD "SAIU MAIOR", DIZ KENNEDY ALENCAR

O candidato do PT Fernando Haddad perdeu a eleição, mas "saiu maior" da disputa do que entrou, avaliou o jornalista Kennedy Alencar na noite de domingo (28), quando o professor universitário perdeu a eleição para o deputado de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL), por 55% a 44%. No texto, Kennedy lembrou do papel da Lava Jato no pleito.

HADDAD VENCEU NA MAIORIA DAS CIDADES BRASILEIRAS

Foto: Ricardo Stuckert
Apesar de não ter sido eleito no domingo (28), Fernando Haddad saiu vitorioso na maioria das cidades brasileiras. Segundo informações do UOL, o candidato do PT venceu em 2.810 municípios, contra 2.760 de Jair Bolsonaro. O deputado de extrema direita, do PSL, foi eleito com 57 milhões de votos (55% dos votos válidos), ante 47 milhões de Haddad (44%). 
Em 2014, Dilma Rousseff foi reeleita com 51,6% dos votos. Isso significa que Bolsonaro teve 3,2 milhões de votos a mais que a presidente deposta com o golpe parlamentar de 2016. 
Na eleição de 2018, disparou o número de votos brancos, nulos e abstenções. Na corrida com Dilma contr Aécio Neves, em 2015, esse nicho somava 27,7%. Desta vez, Bolsonaro venceu com brancos, nulos e abstenções somando 30,8%. 
"O total de eleitores que não escolheu candidato neste segundo turno corresponde a 73% de todos os votos em Bolsonaro e 90% dos votos em Haddad", destacou a CartaCapital.
GGN

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

INTELECTUAIS FRANCESES REPUDIAM BOLSONARO E PEDEM VOTO EM HADDAD

Políticos e intelectuais da França divulgaram uma nota batendo pesado no presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que, de acordo com o texto, "denigre as forças armadas ao elogiar publicamente a prática da tortura, assim como a eliminação física de oponentes políticos".

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

AGÊNCIA TERIA CRIADO GRUPOS DE WHATSAPP PARA OS BOLSONARO, DIZ REVISTA

Foto: Folhapress
A revista Época publicou uma entrevista nesta quarta (24) que revela que a família Bolsonaro criou artificialmente inúmeros grupos no WhatsApp, há mais de 2 anos, para disparar em massa mensagens "politicamente incorretas", trabalhar o repúdio da população à corrupção e aos projetos do PT, e influenciar o eleitorado a compactuar com as ideias de Jair Bolsonaro. 
A reportagem conversou com um funcionário da agência que começou produzindo imagens para serem utilizadas na redes sociais. Depois, passou a receber pedidos para criar, dividir em nichos e administrar grupos de WhatsApp. 
Quando a célula, com mais de 100 pessoas, estava consolidada, a administração era transferida para algum voluntário pró-bolsonaro mais ativo. Ou seja: a estrutura montada profissionalmente era fundida com a militância orgânica, graças aos novos apoiadores de Bolsonaro, caracterizando o que especialistas têm chamado de guerra híbrida. 
O caráter da estrutura de comunicação montada por Bolsonaro no WhatsApp está sendo estudado por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense, que acrescentaram ainda que os membros mais ativos dessas células têm números internacionais. A fonte anônima da agência revelou que recebia chips da Argentina, Portugal e outros países para fazer suas operações. Esses chips eram fornecidos em reuniões fechadas. O mesmo ocorreu com a entrega das listas de contatos do deputado.
O então funcionário, que pediu para não ter seu nome e nem o da agência revelados, relatou que o serviço foi rompido somente no início deste ano, quando a empresa percebeu que Bolsonaro teria chances de disputar e ganhar a eleição presidencial. Ele acrescentou ainda que a agência estava incomodada com a distribuição de muitas fake news.
Na semana passada, a Folha de S. Paulo revelou que empresas anti-PT estão comprando pacotes de disparos em massa no WhatsApp às véspera do segundo turno. Bolsonaro afirmou que não controla seus "apoiadores voluntários."
Leia a matéria completa aqui.
GGN

terça-feira, 23 de outubro de 2018

BOLSONARO É FASCISTA! NOSSA TAREFA ESSA SEMANA É MOSTRAR AO BRASIL O QUE É FASCISMO, DIZ SERRANO

O discurso do jurista Pedro Serrano, em evento da campanha de Fernando Haddad (PT), no auditório do TUCA, em São Paulo, na noite de 22 de outubro de 2018.
***
"Estamos aqui todos estarrecidos. Como pode a metade da sociedade brasileira, por causa de um antipetismo abstrato, votar num sujeito que idolatra outro sujeito, que colocou rato na vagina de mulheres para fazer elas confessarem. Que comandou um órgão que torturou crianças de 1 ano, como o filho do jornalista Demir Azevedo. É um impacto moral que atravessa todos nós. 
Isso se dá por uma palavra que a gente precisa falar em alto e bom som. Isso se dá por fascismo. Bolsonaro é um fascista! Isso quem fala não somos nós, é a direita europeia usando isso com legitimidade.
Parece difícil a gente conseguir virar até lá. Porque, na realidade, uma grande parcela das pessoas que convivem conosco criaram um muro no ouvido. Não querem ouvir. Porque o fascismo tem uma característica interessante, ele dialoga muito bem com o senso comum.
O senso comum é aquele senso que entende a verdade pelas aparências. Nós temos a condição de virar isso porque lutamos contra o senso comum todos os dias.
Aqui temos homens da ciência. A ciência fala para o senso comum: 'você está vendo estrelas?' Não, ela responde, o que você está vendo é a luz de uma estrela que morreu há centenas de milhões de anos. Olha a dificuldade que é fazer isso, mas todo dia o cientista, de alguma forma, vence.
O esporte, desde as Olimpíadas gregas, mostra para as pessoas que disputar faz parte da vida, mas que eu disputo de forma agônica, não antagônica. Eu disputo com adversários, não com inimigos, porque todos merecem a existência e o direito de competir.
Nós temos artistas, gente do belo, mas que incomoda muito o senso comum porque mostra que harmonia e equilíbrio nem sempre está na ordem, muitas vezes está no caos, porque o caos representa melhor essa vida contínua caótica que a gente tem do que a eventual ordem. É a beleza que está perante a gente que coloca cotidianamente o senso comum em choque e atenção.
Temos aqui as religiões que, independente de suas divindades, ensinam para nós que não basta ter respeito, não basta ter ponderação, que é importante ter compaixão, amar o outro, e amor ao outro é pular no abismo pelo outro.
Senhores, a nossa tarefa, de todos aqui, é mais simples que a tarefa que a gente tem no cotidiano. Precisamos mostrar ao povo brasileiro que o fascismo é contra toda sabedoria, todo conhecimento, toda disputa com respeito, toda beleza e toda forma de amor entre os homens. É essa a nossa tarefa até a semana que vem." Veja o vídeo AQUI.
GGN

PESQUISADORES APONTAM PROFISSIONALIZAÇÃO DA REDE DE FAKES PRÓ-BOLSONARO NO WHATSAPP

Pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) que acompanharam 90 grupos de WhatsApp ao longo das eleições afirmam que os núcleos que apoiam Jair Bolsonaro atuam de maneira "orquestrada" na difusão de fake news. As notícias falsas, ainda por cima, seriam produzidas por profissionais e direcionadas a vários setores do eleitorado.
Segundo a reportagem da Agência Pública, grupos de apoio a Ciro Gomes, Marinas Silva, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad também foram monitorados, mas em menor quantidade. Foi nos grupos em favor de Bolsonaro, contudo, que os pesquisadores detectaram profissionalismo e técnicas para engajar o discurso em favor do capitão da reserva. 
O estudo mostra, ainda, que de 30 mensagens disparadas em favor do Bolsonaro, 1 veio de exterior. As fake news são produzidas e jogadas em grupos que possuem até 250 pessoas como membros. Uma parte dessas pessoas, voluntariamente, leva a notícia falsa de um grupo para outro. Com o prefixo do número de celular, é possível criar grupos que atinjam todas as regiões do País. 
As mensagens são personalizadas para cair mais fácil no gosto dos internautadas. Os principais temas abordados colocam o PT como um risco para a família tradicional, como uma ameaça comunista, e exploram também a questão da segurança, garimpando apoiadores à bandeira de Bolsonaro: o armamento da população.
Segundo a Pública, a informação é que a ideia do Brasil virar uma Venezuela caso o PT volte ao poder está sendo trabalhada por esses grupos ao menos há 2 anos. 
Há também casos em que os bolsonaristas se infiltram em grupos de adversários, fingindo que são simpatizantes, e depois de ascenderem à posição de administrador, deletam o grupo. Aconteceu com Marina Silva, por exemplo. 
Além disso, a pesquisa da UERJ mostra que há internautas coordenando a mensagem que deve ser espalhada. Isso ficou claro após o primeiro turno, quando discursos atacando o Nordeste pipocaram. Esses direcionadores chegaram a deletar quem fazia ataques aos nordestinos, alegando que Bolsonaro precisa de votos na região para vencer. 
Leia a matéria completa aqui.
GGN

terça-feira, 16 de outubro de 2018

A ASCENSÃO DO FASCISMO, POR JESSÉ SOUZA

FASCISMO PROPRIAMENTE DITO
Todo fascismo é reflexo de uma luta de classes truncada, percebida de modo distorcido e por conta disso violento e irracional no seu cerne. A elite e a alta classe média haviam, com sucesso, legitimado a opressão das classes populares pelo moralismo seletivo da corrupção apenas do Estado e da política como forma de criminalizar a soberania popular. Os “belgas”, que se vem como estrangeiros na própria terra, oprimiram o “Congo”, ou seja, o próprio povo, e o reduziram á pobreza e á ignorância. O ódio ao escravo se transformou simplesmente em ódio ao pobre. O escravo negro é eternizado nas massas majoritariamente mestiças com escolaridade precária condenadas ao trabalho desqualificado e semiqualificado. Esta é a base primeira de todo o ódio e ressentimento reprimido e recalcado que é o núcleo da sociedade brasileira. O fascismo implícito sempre foi o DNA da opressão de classes entre nós. O que tem que ser explicado, portanto, é como ele contaminou as próprias classes populares.
O SURGIMENTO DO PT
A ascensão do partido dos trabalhadores, com todas as suas limitações, foi uma inflexão importante no processo de organização popular. Com o golpe de 2013/2016 a reação conservadora veio primeiro de cima, da alta classe média nas ruas, da sistemática corrosão de valores democráticos diariamente perpetrada pela imprensa, e do acanalhamento do STF e por consequência da constituição. O governo Temer promoveu o saque e a rapina que a elite queria e empobreceu o povo que havia experimentado uma pequena ascenção social. Foi dito a este povo que a corrupção política havia sido a causa do empobrecimento. Quando a corrupção dos partidos de elite fica óbvia a todos, sem ser reprimida, todo o sistema perde representatividade. O golpe de misericórdia foi a prisão injusta do líder das classes populares desmobilizadas. Aqui o último elo de expressão racional da revolta popular foi cortado.
NOTÍCIAS FALSAS (FAKE NEWS)
Abriu-se a partir daí a porta para a revolta agora irracional das massas. Neste contexto a ocasião faz o ladrão. A belíssima marcha do “ele não”, majoritariamente composta pelas mulheres da classe média mais crítica e engajada, possibilitou a cooptação do voto feminino das classes populares, última cidadela contra a “ética da virilidade” do fascismo popular. Aqui entra em cena o que há de mais sujo na política das “fake News” e da mentira institucionalizada. Analistas de ultradireita da campanha fascista, que perceberam as consequências do isolamento político dos indivíduos que é o que capitalismo financeiro representa na esfera política, se aproveitaram impiedosamente deste fato para oporem mulheres emancipadas da classe média contra as mulheres pobres e evangélicas.Se você é pobre e humilhada o ganho emocional que a distinção moral construída artificialmente com relação a mulheres supostamente “indecentes” exerce, por meio de mentiras que não podem ser desmentidas, passa a ter um apelo irresistível. É uma “vingança de classe”, obviamente distorcida e contra a fração errada da classe média, como escape em relação à pobreza vivida diariamente, mas cujas causas não são compreendidas.
“OS DELINQUENTES”
Como já discuti no meu livro “A ralé brasileira”, contracorrente, 2017, a oposição pobre honesto versus pobre delinquente perpassa os mais pobres dificultando enormemente qualquer solidariedade de classe. Daí também a importância de líderes políticos que os representem a partir de cima e secundarizem a contradição interna de classe com uma política de interesse de todos os pobres. Era isso que Lula representava. Sem isso a porta fica aberta para a guerra de classe entre os próprios miseráveis divididos entre os supostos honestos e supostos delinquentes como definidos pelas elites.
“BOIS DE PIRANHAS”
É aqui que a “ética da virilidade”- ou seja, a ética dos que não tem ética – do fascismo reina absoluta. O fascismo arregimenta a partir de cima os ressentimentos, medos e ansiedades sem explicação possível e os canaliza a “bodes expiatórios” externos. O antipetismo é apenas o mais óbvio. Mas todo fascismo usa e abusa da sexualidade reprimida das classes populares. A homossexualidade que não pode ser admitido em si mesmo é canalizado em selvagem agressão externa e o ódio a mulher percebida como ameaça incitam a uma agressiva regressão a padrões primitivos de relações de gênero. O pobre não é apenas pobre. Ele é humilhado e dominado por valores construídos para subjuga-lo. Isso confere ao fascismo enorme capilaridade e contamina a vida familiar e relações de vizinhança em todos os níveis da sociabilidade popular.
O FASCISMO À BRASILEIRA 
O líder fascista sem discurso e sem argumentos é o profeta exemplar perfeito das massas destituídas em todas as dimensões da vida. Sem organização hierárquica como os nazistas alemães, o nosso é um fascismo miliciano, capilarizado e sem controle. O que é necessário explicar ao povo de modo compreensível é porque ele ficou mais pobre. Sem isso se pavimenta o caminho ao ódio irreversível.  
GGN

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

POR QUE VOTAR EM HADDAD?, POR ALDO FORNAZIERI

Muitos brasileiros têm motivos fundados para não votar no candidato do PT. Menos por Fernando Haddad e mais pelo PT. Afinal de contas, o partido, que foi combativo, vigoroso e defensor da ética na política se omitiu em certos pontos. Se é verdade que os dois mandatos do presidente Lula ficarão entre os mais exuberantes e exitosos da história do Brasil, também é verdade que o governo Dilma deixou muito a desejar e, em parte, está na raiz da atual crise. Mas se tudo isto for colocado nos pratos da balança da história é possível perceber que há um saldo mais positivo do que negativo em favor dos governos petistas.
Combate a corrupção
Ademais, na própria questão da corrupção, foi sob os governos petistas que se criaram os mais poderosos instrumentos de combate à mesma, sem os quais o Brasil estaria ainda mergulhado no lodaçal que degrada os governantes e as instituições e desacredita os cidadãos. Foi dada autonomia à Polícia Federal, foi fortalecido o Ministério Público, foi sancionada a Lei da Delação Premiada e foi criada a Controladoria Geral da União. Não bastasse isto, não há nenhuma acusação séria contra a gestão de Haddad pelos quase sete anos à frente do MEC e sua gestão na Prefeitura de São Paulo foi marcada pelo desbaratamento da máfia dos fiscais e pela recuperação de milhões de reais desviados desde os tempos de Maluf.
Defesa da Democracia
Quiseram os caprichos da história e da Fortuna destinar a Haddad a tarefa de enfrentar o maior perigo para o frágil processo de construção da democracia desde o início da redemocratização. Perigo expresso em tudo o que a candidatura de Bolsonaro representa. Assim, todos os eleitores que não gostariam de votar no PT e, mesmo, muitos eleitores que votaram em Bolsonaro, movidos por uma justa raiva e tristeza, estão postos diante de uma terrível encruzilhada: votar em Bolsonaro e levar o Brasil por caminhos escuros e escorregadios que o conduzirão aos abismos do ódio entre irmãos, entre familiares, à violência política e, quiçá, à guerra civil ou votar em Haddad para que se possa divisar uma luz no fim do túnel, para que se possa disputar eleições com um convívio pacífico e para que se inicie um novo processo de construção da democracia, com justiça, liberdade, direitos e igualdade. 
Bolsonaro e a Barbárie
Em política, a palavra, as promessas e as ações dos líderes sacramentam o conteúdo das alianças que eles fazem com o povo, com os eleitores. A campanha de Bolsonaro tem pregado a violência generalizada, tem estimulado o estupro, tem pregado mais pregos nas mãos e nas almas dos negros e negras que carregam uma cruz histórica desde os tempos da escravidão. O candidato votou contra as empregadas domésticas, contra os direitos dos deficientes, contra as demandas dos trabalhadores. As suas votações no Congresso contribuíram para espezinhar os mais fracos, os humildes, aqueles que mais sofrem. Em quase trinta anos de mandato, ele não produziu nenhuma obra contra a corrupção e apenas usufruiu das benesses do poder. 
Bolsonaro se diz patriota. Mas o que é a pátria? A pátria é o povo que vive em um lugar e que tem uma cultura, uma língua, uma identidade. Não se pode ser patriota sem amar o povo, sem defender os seus direitos, a igualdade e a sociedade justa. Não se pode ser patriota e defender os ricos, as injustiças, a opressão e a discriminação. Não se pode ser patriota e semear a violência, a discórdia e a inimizade entre o povo. Ninguém  que é injusto, impiedoso, cruel e desumano é patriota.
Bolsonaro proclama "o Brasil acima de tudo", mas não diz o que isto significa. O Brasil acima de tudo só pode significar o povo acima de tudo, um povo com educação, cultura, saúde, moradia, trabalho, direitos e civilidade. O Brasil estará acima de tudo se suas riquezas forem postas a serviço do bem estar do seu povo, se o meio ambiente for preservado, se o desenvolvimento for sustentável se as gerações presentes deixarem como herança boas condições de vida ambientais e materiais para as gerações futuras. Bolsonaro afirma que defenderá a família. Mas como defenderá a família semeando a violência? Como defenderá a família não defendendo os direitos de igualdade das mulheres, inclusive a igualdade salarial? Como colocar Deus acima de todos e querer a desigualdade e a injustiça entre os seres humanos? Todas as religiões dizem que Deus é justo.
Chamamento a razão
Em nenhum outro momento da história, o povo brasileiro foi chamado a votar com a razão, com a reflexão e com a ponderação como neste momento. O povo terá que escolher entre a destruição e a possibilidade de um novo recomeço da democracia. A ira do povo é justa, não há dúvida sobre isto, pois os governantes tiram muito do povo e devolvem pouco. Mas raiva não pode deixar o povo  surdo e mudo quanto às advertências e os perigos que a escolha de Bolsonaro representam. A ira do povo não pode atrair o mal sobre o próprio povo. É preciso restabelecer o diálogo com o povo irado, mostrar-lhe, sem sectarismo e sem rancor, onde está a verdade, onde está a justiça, onde está a fé, onde estão os remédios para superar este presente triste e onde está a esperança por um futuro melhor.
Mais uma vez, os caprichos da história e da Fortuna quiseram que Haddad representasse esta fé, esta razão e esta esperança porque se há um sentido de justiça e de bem estar nesta disputa, este sentido está em Haddad. Votar em Haddad é perdoar os pecados dos outros, perdoar o PT. Mas o PT também precisa pedir perdão à sociedade. Votar em Haddad é dar uma chance para que o sistema político brasileiro, com seus partidos, se reconstrua em bases éticas, em bases orientadas para a justiça, em bases onde as instituições se tornem mais eficazes na solução dos problemas do povo e do Brasil.
Um povo irado pode querer um líder irado, é compreensível. Mas um capitão descontrolado pode levar o barco a pique em meio à tempestade. Bolsonaro pode ser irado, mas a sua ira não é nem santa e nem justa pelo que prega e pelo que votou no Congresso. A ira santa e justa é aquela que defende os humildes e os humilhados, os oprimidos e os espezinhados pelas injustiças. Não há como ter uma ira santa e justa sem defender e colocar-se ao lado dos pobres, dos negros, das mulheres e dos jovens - essas imensas maiorias que não conseguem se dar um destino porque as condições materiais e espirituais injustas o impedem.
Nesse momento de tormenta da vida política brasileira, o Brasil e o povo precisam de um líder prudente, corajoso, comprometido com a salvação do país. Para que a ira do povo se transforme na espada luminosa a guiá-lo rumo a um futuro melhor, rumo à terra prometida, a ira precisa se transformar em razão, em luz que ilumina as escolhas. A razão clama o voto em Haddad, pois ele é este líder prudente e sensato em meio aos tormentos do sofrimento e do medo.
O proselitismo do mal
Nada de digno, nada de edificante, nada de justo surgirá sobre a montanha de mentiras, da falta de escrúpulos, da falta de moralidade erguida pela campanha de Bolsonaro. Trata-se de uma campanha que está semeando a semente do mal e da violência e disto não poderá frutificar nenhum bem. Todos os limites do aceitável foram rompidos quando se trata de exigir parâmetros mínimos de respeito aos critérios democráticos da disputa. O PT ficou 13 anos no governo e em nenhum momento a democracia foi ameaçada, nenhuma violência foi cometida contra cidadãos. Em contrapartida, bolsonaristas agridem e matam pessoas que declaram voto em Haddad, cravam a ponta de faca a suástica nazista em jovem que discordam deles e picham  igrejas com a mesma suástica. Amanhã agirão para impô-la sobre a bandeira do Brasil.
Não chega a ser estranho que a Justiça Eleitoral e outras autoridades se calem covardemente ante os atentados que vêm sendo cometidos contra as regras democráticas. Autoridades que rasgaram a Constituição não se guiam pelo metro das leis. É vergonhoso que autodenominados democratas se calem e fiquem neutros ante a ameaça que paira sobre o Brasil e seu povo. A neutralidade é uma forma de adesão neste momento. A neutralidade é a face covarde que escolhe essa fúria negativa e obscurantista que erguerá escombros do que resta desta democracia doente. Repudiando essas condutas é preciso ter uma resolução firme e escolher a prudência corajosa representada por Haddad. Não basta escolher, é preciso anunciar a escolha e lutar por ela.
Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).
GGN

sábado, 13 de outubro de 2018

CAMPANHA DE BOLSONARO INDUZIU ELEITORES DE HADDAD A ERRO? POR GUILHERME MIKAMI


A estratégia de comunicação da campanha de Bolsonaro é extremamente eficiente e profissionalizada.
Há gente graúda, com expertise coordenando os trabalhos em um nível nunca antes visto no país, com volumosos recursos que nunca serão declarados à Justiça Eleitoral.
Um exemplo dessa eficiência: as declarações negativas de seu candidato a vice sobre 13º salário criaram um grave problema à campanha.

COMO ENFRENTAR BOLSONARO CONVERSANDO COM ELEITORES, POR ALBERTO CARLOS ALMEIDA


Seguem aqui recomendações para persuadir o eleitor por meio de diálogos que podem ser face-a-face, isto é, presenciais, ou por outros meios.
·       - Converter votos do Bolsonaro para o Haddad;
·       - Não perca tempo com abstenção, brancos e nulos: isso não se altera muito do primeiro para o segundo turno;·    

-   A maior parte da abstenção é mudança de domicílio, por isso a pessoa não vota nos dois turnos

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A BARBÁRIE CHEGOU, POR MARCELO AULER

A 19 dias do segundo turno, portanto, sem qualquer definição do que acontecerá e de quem presidirá o país nos próximos quatro anos, os adeptos da candidatura do capitão já se sentem donos do país. Respaldados apenas no bom resultado do primeiro turno, demonstram a quem ainda não conseguiu enxergar como pretendem comandá-lo. Não é nada agradável. Ao que parece, sentiram-se livre para demonstrar do que são capazes: impor medo e terror.
O quadro ao lado, recebido pelas redes e ampliado, demonstra apenas alguns acontecimentos ocorridos nos últimos dias nos mais diversos cantos do país. São fatos reais, em cidades diversas, sempre com a mesma marca: foram protagonizados por adeptos da candidatura de Jair Bolsonaro e mostram a violência. O desprezo pela vida. O desrespeito ao diferente ou a quem não pensa igual.
Não é demais lembrar que no dia 6 de setembro, o gesto tresloucado de Adélio Bispo de Oliveira, um mineiro com suspeitas de problemas psíquicos, atingiu o presidenciável Jair Bolsonaro em plena campanha, em Juiz de Fora (MG). Mesmo conscientes de estarem em uma disputa eleitoral acirrada, os demais candidatos se solidarizaram ao deputado federal do PSL, condenaram o gesto e até reduziram, na época, os ataques políticos. Manifestaram repúdio à violência com a qual não tinham qualquer envolvimento.
Nos últimos dias, porém, cenas de violência se repetem com uma frequência grande. Em comum o fato de serem protagonizadas por eleitores ou militantes da campanha do capitão do Exército. Muitas delas gravadas em vídeos. A maioria com registros na polícia. Demonstram que os militantes da candidatura militar – que acabam se confundindo com verdadeiros milicianos – diante dos resultados do primeiro turno, sentiram-se autorizados para, à luz do dia, e mesmo na presença de testemunhas, mostrar a violência que defendem e são capazes de realizar.
O mais impressionante é o silêncio obsequioso – autorizador? – de Bolsonaro. Ele próprio ainda se recuperando de um tresloucado ato de violência. Violência que, há muito, defende e propaga.
Se ele não pode responder pelos gestos de seus seguidores, apesar de muitos deles terem sido incentivados pelo discurso de ódio que sempre pregou, pode sim ser cobrado pelo silêncio diante de tamanha violência.
Silêncio que não se resume ao candidato à presidência. É compartilhado também pelo candidato ao governo do Rio de Janeiro, Wilson Witzen. Este, mesmo se vangloriando de ser ex-tenente dos Fuzileiros Navais – “onde aprendemos a hierarquia e a disciplina” – e ex-juiz federal, assiste impassível – e aplaude –  discursos de ódio dos candidatos coligados, como se fosse algo natural.
Tal como ocorreu em Petrópolis, cidade serrana fluminense, dias antes do primeiro turno. Ali, em momento lembrou-se de defender a lei e, principalmente, a civilidade. Tal como deveria ter aprendido ao pertencer às Forças Armadas e à magistratura. Em compensação, no debate político com o adversário, tenta se mostrar forte ao prometer dar-lhe voz de prisão diante de possível crime de injúria.
GGN

terça-feira, 9 de outubro de 2018

CONHEÇA AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE BOLSONARO E HADDAD


Foto: Arquivo/Agência Brasil
Programas de governo dos presidenciáveis têm raízes distintas, especialmente para a economia e os direitos humanos. 
O Brasil viverá, no próximo dia 28, a segunda etapa da corrida eleitoral rumo ao Palácio do Planalto, com a realização do segundo turno. Pelos resultados das urnas nesse domingo (7), a escolha dos eleitores é entre o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o candidato Jair Bolsonaro (PSL), que atualmente tem mandato de deputado federal.
O petista tem como candidata a vice à deputada estadual pelo Rio Grande do Sul Manuela d’Ávila (PCdoB), enquanto o líder do PSL conta com o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB) na disputa. O primeiro tem como slogan de campanha “O Brasil feliz de novo”, e o segundo, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
As duas chapas se situam em espectros distintos do cenário político: Haddad é um dos expoentes da esquerda e, portanto, liderança do campo progressista; já Bolsonaro, conhecido pelas ideias reacionárias, representa um projeto político de extrema-direita. Como consequência, os programas de governo dos dois presidenciáveis guardam diferenças fundamentais. Veja a seguir algumas delas.
Economia e emprego
Haddad, que é professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (DCP-USP), propõe medidas de valorização do Estado. Entre elas estão a revogação do Teto de Gastos, que limita por vinte anos os investimentos nas áreas sociais, e da reforma trabalhista, ambos de iniciativa do governo Michel Temer (MDB).
Além disso, o ex-prefeito defende o fim do atual processo de privatizações; o equilíbrio das contas da Previdência por meio da geração de empregos e do combate à sonegação; e uma reforma tributária que compreenda, entre outras medidas, isenção de Imposto de Renda (IR) para trabalhadores com renda de até cinco salários mínimos (cerca de R$ 4.770).
No que se refere ao mercado de trabalho, Haddad propõe a criação de novos postos por meio do programa Meu Emprego Novo; o retorno imediato de 2.800 grandes obras que estão paradas em todo o país; e a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida. O petista também defende o fortalecimento da Petrobras.
Já o programa econômico de Bolsonaro prevê a redução da máquina do Estado e faz acenos ao mercado com propostas como: reforma da Previdência; independência do Banco Central; privatização da maioria das estatais, concessões e venda imóveis da União.
Além disso, o candidato defende o fim do monopólio da Petrobras no que se refere ao gás natural e uma tabela de preços da estatal baseada no mercado internacional.
Para o mercado de trabalho, Bolsonaro propõe a criação de uma nova carteira de trabalho, que também terá o contrato individual prevalecendo sobre as normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Para sindicatos e outros setores populares, a medida fragiliza ainda mais os direitos da classe trabalhadora.
Segurança
Bolsonaro propõe medidas como flexibilização da legislação sobre o porte de armas; redução da maioridade penal para 16 anos; e tipificação de “invasões de propriedades rurais e urbanas” como terrorismo.
Já Haddad defende mudanças na atual política de drogas, com observação das experiências internacionais de descriminalização e regulação do comércio de entorpecentes; aprimoramento da política de controle de armas; e integração dos serviços de inteligência.
Educação e direitos reprodutivos
Com discurso conservador, o candidato do PSL critica a educação sexual, com referência a uma suposta tentativa de “doutrinação e sexualização precoce” por parte de setores progressistas.
O programa não menciona, por exemplo, a temática do aborto, mas Bolsonaro é conhecido defensor do impedimento de alterações na atual legislação, que libera a prática apenas em casos de estupro e gravidez de anencéfalos. Ele também não faz referência aos direitos do público LGBT, mas por diversas vezes já se pronunciou publicamente com posicionamentos homofóbicos.
Haddad também não faz referência ao aborto, mas destaca a defesa do Estado laico e propõe a promoção da saúde integral da mulher para o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos, além do fortalecimento de uma perspectiva “inclusiva, não sexista, não racista e sem discriminação e violência contra o LGBTI+ na educação e nas demais políticas públicas”.  
O petista defende a promoção da cidadania LGBT, a criminalização da LGBTfobia e a inserção desse  público no mercado de trabalho.
Outros
Haddad defende ainda medidas que favoreçam as soberanias nacional e popular; o retorno a uma “política externa altiva e ativa”, com base, por exemplo, na integração latino-americana; reformas do Estado e do sistema de Justiça; promoção da diversidade na mídia; promoção dos direitos dos idosos e das pessoas com deficiência; além da defesa dos direitos dos povos do campo, das florestas e das águas.  
Já o programa de governo de Bolsonaro se manifesta em defesa da aproximação diplomática do Brasil com países como Estados Unidos e Israel, critica países como a Venezuela e não menciona, por exemplo, o Mercosul. Ao contrário, defende “acordos bilaterais”.
O candidato do PSL também não menciona, por exemplo, em seu programa de governo, os direitos das pessoas com deficiência.
Além disso, fala em “imprensa livre e independente” sem mencionar, no entanto, a pluralidade midiática. Ao mesmo tempo, o candidato defende, em discursos e entrevistas, práticas da ditadura militar, conhecida, entre outras coisas, pelo cerceamento da liberdade de imprensa.
GGN

sábado, 6 de outubro de 2018

25 ANOS ATRÁS, BOLSONARO DIZIA AO ‘NYT’ QUE QUERIA SER UM DITADOR, POR FERNANDO BRITO

O Uol presta um grande serviço à informação – infelizmente a poucos dias apenas da eleição – recuperando a entrevista dada por Jair Bolsonaro em 1993 ao The New York Times (cuja publicação original, em inglês, pode ser conferida aqui).
Nela, o ex-capitão já anuncia seus planos para a tomada do poder: a fujimorização do Brasil, com o fechamento do Congresso, demissão em massa de funcionários e várias medidas autoritárias sob o argumento – velhinho, não é? – de combater a corrupção.
Leia e tome consciência do perigo que este país enfrenta.
Aplicando à política a ousadia que certa vez demonstrou como paraquedista do Exército, o congressista Jair Bolsonaro mergulhou em um território inexplorado poucas semanas atrás, quando subiu à tribuna da Câmara dos Deputados e pediu o fechamento do Congresso.
“Sou a favor de uma ditadura”, gritou em um discurso que sacudiu um país que só deixou o regime militar para trás em 1985. “Nós nunca iremos resolver os problemas nacionais sérios com essa democracia irresponsável.”
Falando mais tarde em seu escritório, um cubículo decorado com memorabilia militar e uma grande bandeira brasileira, o esguio congressista do Rio de Janeiro disse estar preparado para a reação que se seguiu: o maior jornal do Rio, o Globo, publicou cartuns na primeira página satirizando-o como um dinossauro de botas, e o presidente da Câmara dos Deputados, Inocêncio de Oliveira, exigiu que a Câmara o cassasse de seu mandato.
Mas duas semanas depois, algo ainda mais interessante aconteceu: o presidente da Câmara fez uma reviravolta abrupta e se reconciliou publicamente com Bolsonaro. Estudante de opinião pública, o líder do Congresso aparentemente leu as colunas de cartas dos jornais brasileiros.
“Em todo lugar que vou, as pessoas me abraçam e me tratam como um herói nacional”, afirmou Bolsonaro. “As pessoas nas ruas estão pedindo o retorno dos militares. Eles perguntam: ‘Quando você voltará?’ “
Ele recebeu, disse ele, centenas de telegramas e telefonemas de apoio, e disso ele extrai uma lição que obviamente acolhe. “As pessoas veem a possibilidade da disciplina militar tirar o país da lama”.
Para deixar tudo claro, os superiores comandantes militares reiteraram sua lealdade ao presidente Itamar Franco,um civil, e a maioria dos colunistas de jornais acredita que o Brasil manterá seu calendário político, que prevê eleições no próximo ano para presidente, representantes do Congresso, governadores estaduais e legisladores estaduais. Mas para muitos defensores da democracia brasileira, o fenômeno Bolsonaro representa uma luz amarela, um sinal de que as pessoas estão impacientes com o fracasso da democracia em conter a inflação e oferecer um estilo de vida melhor, e um aviso de que os políticos autoritários estão ansiosos por aproveitar esse estado de espírito e cultivá-lo.
O modelo de Fujimori
“Na época do regime militar, a economia crescia 6% ao ano, você poderia comprar um carro em 36 meses”, disse Bolsonaro durante a conversa em seu escritório. “Hoje, o país mal cresce 1% ao ano. A inflação é intolerável”. “A verdadeira democracia é a comida na mesa, a capacidade de planejar sua vida, de andar na rua sem ser assaltado”, continuou. De fato, uma recente pesquisa de opinião pública em Recife, uma das cidades costeiras mais pobres do Brasil, relatou que 70% dos entrevistados achavam que a comida era mais importante do que a democracia.
Bolsonaro, que se formou na escola militar em 1973 (o ponto central do último período do regime militar), tem agora 38 anos, um congressista de primeiro mandato com cabelos negros desobedientes que caem sobre a testa. De certa maneira, ele é apenas a mais recente encarnação da longa tentação autoritária do Brasil; no último século, o país viveu sob um regime democrático formal por apenas 25 anos. Mas há uma nova reviravolta. Hoje, um modelo novo e menos odioso para o autoritarismo latino-americano surgiu no presidente do Peru, Alberto Fujimori.
Diante do impasse no Congresso no ano passado, Fujimori, um civil, ordenou ao Exército do Peru que fechasse o Congresso do país e seus tribunais. Um ano depois, Fujimori governa apenas uma Câmara no Congresso, obediente. “Eu simpatizo com Fujimori”, continuou o congressista brasileiro.
Cirurgia política, continuou Bolsonaro, envolveria o fechamento do Congresso por um período de tempo definido e permitiria que o presidente do Brasil governasse por decreto. A justificativa para uma ruptura constitucional, disse ele, seria a “corrupção política” e a inflação do Brasil, que agora está em 30% ao mês.
Com o Congresso muitas vezes travado em batalhas entre seus 21 partidos, a imprensa do Brasil tem demonstrado um fascínio crescente com o modelo de Fujimori. No mês passado, jornais, revistas e programas de notícias televisivas brasileiros realizaram longas entrevistas com o líder peruano.
“Fujimori colocou 400 mil funcionários públicos na rua”, afirmou Bolsonaro. “Como poderíamos fazer isso aqui?”
Quando detiveram o poder nas décadas de 1960 e 1970, as Forças Armadas brasileiras expandiram vastamente o setor estatal do Brasil, implantando uma confusão de empresas estatais e monopólios. Hoje, disse Bolsonaro, os líderes das Forças Armadas preferem trazer o Estado de volta ao básico: defesa, educação e saúde.
“Eu voto em todas as leis de privatização que posso”, disse Bolsonaro. “É a esquerda que se opõe à privatização. Eles só querem preservar seus empregos no governo”.
A trilha da campanha
Sua campanha não se limita ao Congresso. Ele também circula de cidade em cidade, levando sua receita de mudança autoritária para públicos que são ostensivamente compostos por reservistas e aposentados militares. “Eu só viajo para cidades militares”, disse ele. “Não estamos conspirando, porque não há agentes ativos presentes.”
Defensores da democracia suspeitam que há algo mais sinistro acontecendo fora da vista do público. Essas viagens são anunciadas como simples esforços para lançar as candidaturas de um bloco de candidatos militares de reserva de 12 A Fujimorização é a saída para o Brasil. Estados nas eleições do próximo ano para o Congresso. Todos os candidatos concorrem em listas controladas pelo partido de Bolsonaro, o Partido Progressista Reformador (PPR).
Na conversa, Bolsonaro previu que a opinião popular apoiaria esmagadoramente a suspensão do Congresso. Nesse estágio, isso pode ser apenas uma ilusão –outros acham que o país está perto de um consenso para o regime militar– , mas reflete um fato básico da vida política: qualquer restauração do regime militar só seria possível com civis sólidos. Apoio, suporte. Isso porque as Forças Armadas brasileiras somam 300 mil membros, o que dificilmente é suficiente para controlar uma nação continental de 150 milhões de habitantes apenas pela força.
Até agora, o presidente Itamar Franco descartou categoricamente qualquer ambição de ser um Fujimori brasileiro e se refere a campanhas como a de Bolsonaro como golpes de Estado incipientes. No entatno, Bolsonaro pode se inspirar em reportagens de jornais sobre reuniões fechadas entre empresários de São Paulo e oficiais do Exército, e na publicação de outdoors em uma favela do Rio de Janeiro protestando contra a alta taxa de sequestro do Rio e terminando com o apelo direto: “Forças Armadas, assumam o Poder”.
Em outras palavras, se está certo ou não, Bolsonaro acredita que o tempo está agora do seu lado. Ele está convencido de que em outubro os brasileiros enfrentarão o fracasso dos esforços anti-inflacionários de Fernando Henrique Cardoso, o quarto ministro da Fazenda do Brasil em um ano.
Enquanto isso, ele diz: “Estou arando os campos”.
Tradutor: Thiago Varella
Tijolaço