A
Operação Lava Jato de hoje, no Rio de Janeiro, ao colocar no foco os
empresários George Sadala Rihan e Alexandre Accioly, podem ter comprometido a
última aventura alternativa para 2018: a candidatura de Luciano Huck.
Na
última década, no entorno de políticos jovens, como Aécio Neves, no Rio, e
Eduardo Campos, em Pernambuco, vicejou uma jovem plutocracia ambiciosa, que
enriqueceu rapidamente no governo Campos. No Rio, o ponto de contato era Aécio,
e uma derivação com Eduardo Paes, embora não tenham ficado imune aos afagos do
ex-governador Sérgio Cabral. No Espírito Santo, havia Paulo Hartung, da mesma
cepa.
A
nova fase da Operação Lava Jato, ao prender o empresário Georges Sadala Rihan e
colocar no foco das investigações Alexandre Accioly joga um enorme facho de luz
sobre o círculo de amigos de Aécio Neves, e sobre a tentativa de lançar Luciano
Huck à presidência.
A
operação Luciano Huck tem três pilares.
No
primeiro, a visibilidade televisa de Huck. No segundo, montar dobradinha com a
suposta modernidade do governador Paulo Hartung, do Espírito Santo, que há
tempos vem sendo cevado pela Globo como exemplo de gestor moderno. No terceiro,
o pacto com Michel Temer – costurado por Aécio – visando sua futura blindagem,
depois que deixar a presidência.
Provavelmente
terá vida mais curta.
Uma
análise mais acurada do governo Hartung poderá mostrar de forma mais didática
esse modelo. Provavelmente, nem Aécio Neves lançou-se à cena política nacional
com um passivo tão explosivo de escândalos, como aqueles que rondam Hartung.
Capítulo 1 – o
marketing da gestão
Em
comum, tanto com o grupo de Campos como com o clube dos amigos de Aécio,
Hartung usa o marketing da gestão privada nos negócios públicos, em cima de um
conjunto de chavões bem aceitos pelo meio empresarial - gestão, qualidade,
eficiência, inovação, responsabilidade fiscal -, e de baixíssima implementação
em suas áreas de atuação.
Quem
conheceu de perto, sustenta que Campos era, de fato, um grande gestor. Antônio
Anastasia poderia ter sido, não fosse atropelado pela interferência deletéria
de Aécio Neves.
Mas,
no geral, esse marketing oculta simulacros de gestores.
No
setor privado, há um medidor de eficiência, o lucro. Mais que isso, ao longo
das últimas décadas, as premiações evoluíram, analisando aspectos que vão além
dos resultados do exercício, como visão de futuro, ambiente interno das
empresas, responsabilidade social e ambiental.
No
setor público, o resultado final são os indicadores sociais. Mas o bate-bumbo
tem sido apenas em cima dos resultados financeiros. E eles podem ser
extremamente enganadores, especialmente devido à dificuldade de analisar
estruturas complexas quanto a de um país, um Estado ou mesmo de ume metrópole e
da falta de estudos sobre a consistência dos indicadores.
Com
isso, surge a figura do Perfeito Idiota Fiscalista, o governador ou prefeito
que sai cortando a torto e a direito sem ter a menor noção dos efeitos sobre o
resultado final pretendido. Muitas vezes, aliás, sem ter noção sequer sobre os
objetivos de uma gestão pública.
Capítulo 2 - o manual
do Perfeito Idiota Fiscalista
Critica-se
muito um padrão do Perfeito Idiota Latino-Americano, que é o de sacrificar o
futuro em favor de resultados eleitorais de curto prazo.
O
Perfeito Idiota Fiscalista faz o mesmo, de outra forma.
Em
geral, sua estratégia tem duas pernas:
Perna 1 – a manobra da
depreciação do ativo
Imagine
uma estrada que custou 100 e tem, digamos, 10 anos de vida útil. Para mantê-la
eficiente, o estado teria que investir anualmente 10% em manutenção. Ele deixa
de investir. No final do ano, aqueles 10 vão compor o resultado fiscal, sendo
celebrados como vitória da eficiência. Mas a depreciação da estrada reduzirá a
eficiência da economia e jogará um passivo maior para o futuro. E essa
esperteza não é captada por uma mídia superficial e pouco ligada em indicadores
que não sejam os financeiros.
Aplique
o mesmo raciocínio para gastos com educação, saúde e segurança e se terá uma
tragédia. O corte na educação, hoje, vai impactar todos os indicadores de
educação para a próxima década. O mesmo com os demais setores.
Perna 2 – as
experiências de vitrine
Montam-se
alguns projetos experimentais de baixíssimo alcance, para colocar na vitrine,
visando contornar a carência de políticas universais.
Capítulo 3 – o
marketing de Paulo Hartung
Do
segundo semestre do ano passado até 4 de fevereiro deste ano, Hartung montou
uma verdadeira maratona de palestras visando consolidar uma espécie de “modelo
capixaba de gestão”.
No dia
10/12/2016 foi a vez de impressionar os clientes do escritório de
negócios e consultoria de gestão Bain & Company da América do Sul. Mostrou
como reduziu em R$ 1,35 bilhão a peça orçamentária, reduziu as despesas com
custeio em 20%. E garantia que o ajuste era estrutural.
A
maratona prosseguiu no dia 19/01/2017, com a palestra "Desafios da
Gestão e da Inovação do Setor Público em Tempos de Crise", em Seminário no
Centro de Debates de Políticas Públicas em São Paulo. Hartung falou da
importância do setor público utilizar ferramentas gerenciais avançadas para
reduzir o custo da máquina pública e "utilizar a inovação" como
solução de desafios e melhoria dos serviços.
No
dia 01/02/2017 foi a vez de se apresentar no palco nobre do Credit
Suisse. Além dos dados de sempre, sobre o superávit de caixa, Hartung informou
que colocou consultoria privada em grandes secretarias, como Educação e Saúde,
para reduzir os desperdícios.
Em
todos esses eventos, o público viu dados fiscais brutos, não auditados. Não
teve como estimar as perdas com depreciação, resultante dos cortes, e teve que
confiar na palavra de Hartung sobre o suposto uso da inovação na melhoria dos
serviços públicos.
No
dia 04/02/2017 o Estadão admitiu que Hartung é um distribuidor de
subsídios - faceta que ajudou a crucificar Guido Mantega. Mas, no caso de
Hartung, são subsídios do bem. “Quer investir no Espírito Santo? Venha e terá
incentivo fiscal. Mas não é pela cara do freguês, não, é setorial, com regras e
critérios, não tenho preconceito em conceder incentivos, se é para impulsionar
o desenvolvimento do Estado”, explicou o nosso Jack Welch.
E
o Estadão terminava gloriosamente:
“Um
erro aqui, outro acerto ali, o fato é que o Espírito Santo provou que, mesmo na
crise e com o País na pior recessão da história, é possível administrar o
dinheiro público com equilíbrio, cortando excessos (espalhados pela gestão
pública) e priorizando os gastos na área social”.
Dois
dias depois, em 06/02/2017 o Espírito Santo entrava na pior crise da sua
história.
Capítulo 4 – o caos
instaurado
A
Polícia Militar entrou em greve. Explodiram manifestações em toda a Região
Metropolitana de Vitória, Guarapari, Linhares, Aracruz, Colatina e Piúma. Pelo
Código Militar, os PMs são proibidos de se manifestar ou fazer greve. As portas
dos quartéis, então, foram tomadas por familiares dos PMs.
Foram
interrompidas as aulas, os atendimentos em postos de saúde, a vacinação. Em um
final de semana apenas 22 pessoas foram assassinadas apenas em Vitória.
Hartung
estava hospitalizado e deixou para o vice-governador a missão de pedir ajuda
das Forças Armadas.
A
pauta da PM era o efeito do ajuste: piso salarial de R$ 2.646,12, o menor do país,
contra R$ 3.908,00 da média nacional; falta de equipamentos, inclusive de
coletes; falta de treinamento.
Mais
que tudo, a absoluta falta de diálogo de Hartung, que transformou o
funcionalismo público em inimigo, em vez de parceiro.
Como
lembrou o jornal A Gazeta, em editorial, as fraquezas da gestão Hartung
poderiam ser resumidas no seguinte quadro:
.
Uma insatisfação latente do funcionalismo
público estadual, que se sente sacrificado pelo arrocho fiscal implementado
(panela de pressão que estava a ponto de explodir a qualquer momento);
· A
fragilidade e a suscetibilidade de instituições fundamentais à ordem pública,
como a PMES; o sucateamento e a precarização de serviços públicos essenciais
(hoje o grito foi dos servidores da Segurança, amanhã poderá ser os da Saúde e
os da Educação, se não se prestar atenção);
· A
dificuldade, a letargia e a demora da equipe de governo em reagir a uma crise
de tal gravidade, que pôs a população de joelhos e entregue a um estado de
calamidade pública;
· (...)
A vulnerabilidade, enfim, desse pacto social tão frágil sobre o qual se
sustenta a nossa vida cotidiana, em qualquer parte do mundo.
Capítulo 5 – o custo
dos incentivos “do bem”
O
segredo do incentivo fiscal está no chamado deferimento. Ou seja, concede-se o
incentivo a um empreendimento que não viria, sem ele. Com o tempo, esse
empreendimento gera um retorno em tributos, emprego e produção que compensa o
que o Estado perdeu com o incentivo. Se a conta é bem-feita, o Estado ganha. Se
é mal-feita, afunda.
O
governo Paulo Hartung foi acometido de uma febre de incentivos, sem nenhuma
análise mais aprofundada.
O
Invest-ES previa três metas básicas: geração de empregos; atividade econômica
não existente e uso de matéria prima, bens e serviços locais.
Três
empresas, já instaladas no Estado, receberam mais de 70% dos deferimentos e não
houve sequer a implantação de projetos ou a geração de empregos prometido.
As
três maiores contempladas ficaram com 70% dos incentivos e criaram apenas 12%
do total de vagas, ou 3.628 empregos diretos.
Em
contrapartida, 167 projetos beneficiados, cada um gerando menos de 100
empregos, ficaram com apenas R$ 3,77 bilhões embora gerassem cerca de 5 mil
vagas de emprego.
Entre
2004 e 2007 o Estado deixou de arrecadar em torno de R$ 19,3 bilhões de ICMS. É
mais do que a arrecadação total de quatro anos de ICMS do governo Hartung.
Estudos
feitos pelo Sindipúblicos revelam que empresários podem deixar de arrecadar até
70% do imposto devido em vários tipos de operação.
As
estatísticas de vendas do comércio e receita de ICMS demonstram o custo da
aventura. As vendas sempre cresceram acima da receita de ICMS. A diferença
reflete, em parte, o preço dos subsídios. A sonegação, outra parte.
Estudos
do Sindicato do Pessoal do Grupo de Tributação, Arrecadação e Fiscalização do
Espírito Santo estimou uma sonegação da ordem de R$ 5,4 bilhões, equivalente a
44% da Receita Corrente Líquida do Estado. Os dados foram corroborados por
entidades empresariais.
Segundo
os cálculos do Sindifiscal, há apenas 122 servidores da área dedicados
exclusivamente à fiscalização, ou um para cada 656 empresas ativas do Estado. A
Secretaria da Fazenda dourou as estatísticas incluindo todo o quadro de
auditores, o que significaria um servidor para cada 253,9 empresas. Pelo ajuste
fiscal sacrificou-se até os setores que poderiam melhor a arrecadação.
Capítulo 6 – os sinais
da má gestão
Um
dos pontos centrais do desperdício estadual foi a febre por projetos, que
acabaram engavetados.
Os desperdícios em
projetos
Apenas
em 2015, segundo
o Século Diário, Hartung gastou R$ 270 milhões em despesas sem empenho – um
pecado capital para os defensores da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A
lei exige que qualquer despesa pública só poderá ser lançada após o empenho.
Desse total, o jornal apurou R$ 56 milhões de despesas não justificáveis.
As
obras foram iniciadas em setembro de 2005, porém, a fase de terraplanagem só foi
concluída em julho de 2009 – um mês depois de Hartung ter baixado um decreto
acabando com seis postos fiscais, entre eles o de Mimoso do Sul.
Mesmo
assim, o então governador autorizou uma licitação para a conclusão das obras no
valor de R$ 2,9 milhões, encerradas em janeiro de 2010.
Cais das Artes
No
final do seu segundo mandato, Hartung decidiu construir seu palácio, sua Cidade
da Música, espelhando-se em César Maia. Contratou o premiadíssimo Paulo Mendes
da Rocha para assinar o projeto. A obra foi iniciada em abril de 2010, com
previsão para ser entregue em 18 meses.
Até
hoje está incompleta.
Foi
orçada em R$ 115 milhões. Já consumiu R$ 126 milhões. Hartung prometeu retomar
as obras em 2018. E precisará colocar mais R$ 80 milhões.
O resultado em cima da
depreciação
NO
dia 23/02/2017, O
Globo publicou um artigo de Tyago Hoffmann, economista e Secretário da
Casa Civil no governo Renato Casagrande, antecessor de Hartung, dissecando esse
estilo de gestão, de fazer caixa em cima da depreciação dos ativos do Estado.
O
que aconteceu no Espírito Santo foi um corte linear de investimentos e custeio,
e reajuste zero para os servidores. Isso pode ser comprovado por relatórios
disponíveis na Secretaria do Tesouro Nacional e na Fazenda estadual (...) Ao
arrefecer a crise econômica nacional e retomados os investimentos, bem como a
recomposição salarial dos servidores pelas perdas inflacionárias, voltaremos ao
mesmo patamar de despesas orçamentárias de antes. E, numa eventual nova crise,
as ações de hoje não garantirão equilíbrio das contas.
O desmonte da política
de segurança
Mais
que isso, houve o desmonte de várias políticas públicas.
Em
2010, o estado foi denunciado à ONU como o segundo mais violento do país. As
condições carcerárias motivaram condenação internacional.
A
partir de 2011, no governo do antecessor Renato Casagrande, criou-se o Programa
Estado Presente, visando a redução de homicídios. Havia duas diretrizes:
reestruturação da força policial e a ampliação dos investimentos sociais em
áreas com maior incidência de crimes contra a vida.
A
ONU reconheceu o programa brasileiro mais efetivo no enfrentamento à
criminalidade. Com a volta de Hartung ao governo, houve o desmonte.
A incapacidade de uma
revolução gerencial na PM
No
caso da Polícia Militar, um gestor moderno trataria de discutir a fundo seu
modelo de organização e atuação, para aumento da eficiência. Como a redução dos
níveis hierárquicos, o esforço na profissionalização do PM, trabalhando em
período integral; o planejamento de ações. Esse é o compromisso fundamental da
verdadeira gestão.
Nada
disso ocorreu, segundo o estudo “As Faces da Gestão da PM no Espírito Santo”,
dos pesquisadores José Dirceu Pereira, Hélio Zanquetto Filho, Alfredo Rodrigues
Leite da Silva e Gelson da Silva Juquilho.
Os
oficiais fazem vistas grossas ao duplo emprego dos soldados, devido à
precariedade dos salários, comprometendo um princípio básico de gestão: o
profissional exclusivo.
As
promoções por mérito, que deveriam ser a base de toda organização eficiente,
foram relegadas a segundo plano, mantendo-se o estilo burocrático de promoção
por tempo de serviço.
Um
dos pontos principais da boa gestão, o foco no cliente jamais foi considerado.
Hoje em dia até os chamados “cidadãos de bem” temem a PM. E a escassez de
recursos deixou nas mãos da PM definir o que é prioritário. Com isso,
abandonaram um dos pontos essenciais para a paz social: a mediação de conflitos
e o patrulhamento preventivo.
A manipulação dos
indicadores
Não
apenas isso. Um dos predicados do bom gestor é o respeito absoluto aos
indicadores.
Para
cumprir com os percentuais obrigatórios de gastos com educação, Hartung incluiu
na conta da manutenção e desenvolvimento do ensino, despesas de R$ 615 milhões
com aposentadoria de professores, atropelando dispositivos constitucionais. A
ponto do Procurador Geral da República Rodrigo Janot protocolar uma Ação
Direita de Inconstitucionalidade contra ato do Tribunal de Contas do Estado,
permitindo esse malabarismo fiscal.
Pouco
antes da explosão da PM, a truculência fiscal já havia se manifestado na
educação, com o fechamento de escolas rurais e de Conselhos Escolas, pelo
Secretário de Educação do Estado. Até
o final de 2016, 50 escolas rurais foram fechadas, sem consulta qualquer
aos Conselho Escolares ou aos alunos, com a desculpa de concentrar os alunos em
escolas-polo maiores. Segundo o governo do Estado, o fechamento se baseou em um
estudo sobre a “viabilidade econômica das escolas” (!).
Houve
aumento na evasão escolar, devido às dificuldades de locomoção dos moradores do
campo.
O descaso com a
Previdência
Apesar
de apregoar insistentemente a necessidade de uma reforma na Previdência
estadual, apesar das três gestões como governador, em nenhum momento Hartung
tratou de enfrentar o problema, com a criação de um fundo financeiro ou mesmo
de uma estrutura capaz de montar estudos atuariais adequados, conforma apurou
estudo do Ministério Público das Contas do Estado do Espírito Santo.
Deixou
tudo por conta da palavra mágica: “reforma”.
Capítulo 7 - Os casos
suspeitos
Na
última campanha eleitoral, foi revelado que logo após Hartung deixar o governo,
a Éconos (Economia Aplicada aos Negócios), empresa da qual ele é sócio, junto
com o ex-Secretário da Fazenda José Teófilo recebeu quase R$ 6 milhões em três
anos, de empresas que tiveram alguma forma de benefício do estado.
Um
dos sócios da empresa, Felipe Saade Oliveira, foi nomeado Consultor de Finanças
Públicas do Tribunal de Contas do Estado. As suspeitas de escândalo povoam toda
a vida pública de Hartung.
Venda de terrenos para
empresas beneficiadas
Quando
se abria o mapa de participações acionárias, revelou-se uma trama suspeita.
Paulo Hartung é
o governador do Estado e criador do Invest-ES.
José Teófilo de
Oliveira era seu Secretário da Fazenda, co-idealizador
do Invest-ES.
Felipe Saad Oliveira é
filho de Teófilo
Fabrício Cardoso de
Freitas – um advogado ligado a Paulo Hartung. Além do
escritório de advocacia, aparece como sócio de 9 outras empresas. Aparece como
sócio de Teófilo na BK e participa também da Agropecuária Limão Ltda. Na venda
dos terrenos a participação foi da Agropecuária Limão ME, mais restrita.
Paulo Sardenberg –
é corretor imobiliário, o homem que traz as oportunidades de terrenos.
Segundo
a Polícia Federal, na Operação Lee Oswald, "todas as operações realizadas,
num período de 90 dias, resultaram, estimativamente, em um lucro de R$ 50
milhões para os envolvidos".
O
inquérito levantou a cronologia do negócio: "No Cartório de Registro
Geral de Imóveis de Presidente Kennedy, em 09 de julho de 2008, uma área de
61,9 alqueires foi avaliada por R$ 180 mil, no dia 16 de julho de 2008, a área
foi comprada pela empresa paulista Tríade Importação por R$ 600 mil, no dia 25
de julho de 2008 a mesma área foi comprada pela ZMM por R$ 12 milhões, no dia
04 de agosto de 2008, quatro dias depois do protocolo de intensões selado em
Palácio, a ZMM vendeu a área para a Ferrous por R$ 27,9 milhões. O terreno teve
uma valorização de 150 vezes do seu valor inicial em apenas 25
dias".
A
explicação do ex-Secretário Teófilo é que se afastou do cargo de
Secretário da Fazenda em 4 de abril de 2008 e só no mês seguinte tomou
conhecimento do Projeto Ferrous. E isso porque foi espontaneamente procurado
pela empresa para identificar área de 10 mil m2 para implantação da empresa.
Consultoria para
empresas beneficiadas
Documentos
em poder do Tribunal de Contas do Estado, divulgados
pelo site Congresso em Foco, mostram que várias empresas que prestavam
serviços ao Estado repassavam pagamentos mensais à Econos.
O
mecanismo de pagamento consistia na emissão de notas para a mesma razão social.
O site teve acesso a nove notas fiscais emitidas por Hartung e José Teófilo em
nome de uma empresa de construção. Isso apenas entre junho de 2011 e fevereiro
de 2012. Outro lote de notas, emitidas entre junho de 2011 e janeiro de 2012
revelaram sete delas em nome da mesma empresa.
O caso do juiz
assassinado
Trata-se
de um episódio cabeludo, e ainda não elucidado.
O
depoimento de Júlia Fontoura foi tomado no dia 24 de março de 2003. O
juiz foi assassinado em frente a sua academia. Segundo ela, o juiz contou-lhe
um encontro com Paulo Hartung, no qual foi-lhe oferecido uma escolta. Segundo
ela, o juiz lhe teria confidenciado que temia ser morto a mando de Hartung,
pois se não aceitasse tiraria a responsabilidade dele sobre o que pudesse lhe
acontecer.
Segundo
seu depoimento, o juiz dizia possuir dez cópias de fitas com conversas gravadas
entre Paulo Hartung e o ex-governador José Inácio Ferreira – denunciado e
afastado do governo por corrupção.
Pode
ter sido apenas paranoia do juiz, que sabia estar mexendo em vespeiro.
No
entanto, durante as investigações para apurar a morte do juiz, o governo do
Estado comprou um equipamento Guardião, de escuta telefônica, o mesmo utilizado
pela Polícia Federal. Em
2005 descobriu-se que o Secretário de Segurança teria autorizado o grampo nos
telefones do jornal A Gazeta, de Vitória. Não se sabe o que ocorreu entre o
jornal e o governador, mas acabou vingando a tese de que o “grampo” tinha sido
por engano. Ora, pode-se enganar na definição do número do aparelho grampeado.
Mas depois da primeira conversa gravada, se constataria o engano. E o grampo
prosseguiu até ser denunciado.
O
coronel Luiz Sérgio Aurich, que era chefe da Casa Militar quando o juiz foi
morto, chegou a sugerir a federalização do caso com base em quatro motivos:
1) ter sido informado que o coronel da reserva da PM Walter Gomes
Ferreira estava fazendo ligações do Acre para o ES; que os promotores já sabiam
da transferência de Ferreira antes da decisão do juiz Alexandre; que o então
secretário de segurança Rodney Miranda tinha relatado que pessoas importantes
do estado estavam envolvidas no crime e, por último, o depoimento da personal
trainer Júlia Eugênia, que envolvia o governador à época, Paulo Hartung, num esquema
de corrupção na Prefeitura de Vitória, quando ele era prefeito da Capital”.
Não
apareceram provas materiais que comprovassem a ligação de Hartung com o crime.
O
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) intimou o governo
Paulo Hartung a dar explicações sobre acusações de fraude envolvendo o projeto
BRT. O consórcio contratado para gerenciar o projeto de corredores exclusivos
para ônibus não cumpriu o contrato, gerando prejuízo de R$ 12 milhões para o
Estado.
Em
sua nota, o BNDES informou não ter sido notificado pelo governo do Estado sobre
as fraudes. No mesmo momento, a Secretaria de Estado de Transportes e Obras
(Setop) garantia que já tinha informado o banco sobre as fraudes.
A censura a blogues
Além
do grampo no jornal A Gazeta, nas últimas eleições “Hartung conseguiu junto ao
Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo a censura de matéria publicada no
veículo ES e no blog do jornalista Elmar Cortes, sobre a venda de um
apartamento de luxo em bairro valorizado de Vitória”, segundo o Congresso em
Foco.
Foi
uma transação imobiliária de 2011, que Hartung escriturou a propriedade no
valor de R$ 48 mil e no mesmo dia vendeu-a por R$ 2,1 milhões. A denúncia é que
a supressão de valores visava encobrir discrepâncias na declaração de bens de
Hartung à Justiça Eleitoral. Segundo sua declaração, ele teria “empobrecido” R$
300 mil entre 2006 e 2014.
A mansão escondida
Outro
problema imobiliário é a mansão na qual mora Hartung – que nada fica a dever,
em suntuosidade, à casa de campo de Sérgio Cabral. Segundo o Século Diário, o
terreno foi comprado por Hartung e esposa em agosto de 2011 por R$ 120 mil. A
construção é imponente, com alto padrão de acabamento e materiais de última
geração, segundo o jornal. Fontes do mercado estimaram seu preço em mais de R$
2 milhões.
Segundo
a matéria, o Ministério Público Estadual estaria investigando a alienação de um
terreno em Vila Velha do governo do Espírito Santo para uma empreiteira cliente
da Econos. Segundo as investigações, o grupo adquiriu a área por R$ 1,9 milhão,
cinco vezes menos que o valor de mercado praticado na época naquela região.
Conclusão
Apesar
de se estar na era da informação, ainda há barreiras quase intransponíveis para
se avaliar determinados personagens políticos. O caso Aécio Neves foi um deles.
Mesmo o caso Eduardo Campo terminou encoberto, apesar de seu notório
envolvimento do episódio dos precatórios do estado, quando governado por seu
avô.
O
caso Fernando Collor, quando governador de Alagoas, foi outro. Na época, a
Folha foi o único jornal com coragem para desvendar seu histórico.
Agora,
nenhum parece ter coragem de dissecar nenhum personagem que faça parte do seu
campo político.
Paulo
Hartung é um desses casos que atestam a baixa capacidade dos grupos de mídia de
fazer circular informações relevantes sobre personagens públicos.
As
informações acima foram obtidas pesquisando sites, blogs, inquéritos da Polícia
Federal e do Tribunal de Contas, e a cobertura de A Gazeta, de Vitória.
GGN