Mostrando postagens com marcador palestras. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador palestras. Mostrar todas as postagens

domingo, 18 de junho de 2017

Nassif: As palestras de Dallagnol e os voos de Temer

Há algo em comum entre Michel Temer e Deltan Dallagnoll.

Divulgada a informação de que viajou para um encontro da LIDE em um avião da JBS, inicialmente Michel Temer admitiu a viagem – já que era para evento público -, mas negou o transporte. Disse que viajara em avião da FAB.

Informado de que a FAB desmentiria, admitiu o voo  em aeronave privada. Mas informou não saber o nome do proprietário.

Quando o proprietário deu inúmeros detalhes demonstrando que Temer sabia, nada mais disse. 

Divulgada a informação de que havia um site de eventos vendendo suas palestras a um custo entre R$ 30 mil a R$ 40 mil, o procurador Deltan Dallagnoll negou ter autorizado a venda. O site publicou uma nota se desculpando.

Mas não negou receber pelas palestras, porque eventos públicos, nem desmentiu os valores apregoados no site.

No seu perfil, no Facebook, a título de defesa, informou a destinação dos recursos:

(...) Em 2017, após descontado o valor de 10% para despesas pessoais e os tributos, os valores estão sendo destinados a um fundo que será empregado em despesas ou custos decorrentes da atuação de servidores públicos em operações de combate à corrupção, tal como a Operação Lava Jato, para o custeio de iniciativas contra a corrupção e a impunidade, ou ainda para iniciativas que objetivam promover, em geral, a cidadania e a ética.

Nunca divulguei isso antes para evitar que tal atitude fosse entendida como ato de promoção pessoal. Contudo, diante de ataques maldosos e mentirosos, reputo conveniente deixar isso claro para evitar qualquer dúvida de que o que me motiva é o senso de dever, como procurador e como cidadão.

Há alguns problemas nessa explicação.

Onde ele jogaria os recursos advindos das palestras?

Certamente Deltan não terá a menor dificuldade em explicar o caminho que os recursos de palestras percorreram para chegar ao setor público. Qualquer doação para o serviço público, “tal como a Operação Lava Jato”, só pode ser feita por pessoa jurídica de direito privado.

Assim como as delações da Lava Jato, sua confissão só terá valor se acompanhada de provas. No caso, o CNPJ da ONG criada para esse fim.

Se disser que os recursos estão em sua conta corrente, porque ainda não abriu a ONG, não terá cometido nenhum ilícito penal, porque o dinheiro é seu e fruto do largo investimento em autopromoção. Mas terá faltado com a verdade. E um super-herói não pode se permitir essa mácula da mentira em sua biografia.

GGN

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Dallagnol é um caso raro de auto constrangimento está faturando alto com palestras e com Lula, Kiko Nogueira

Há uma velha máxima no futebol com respeito à figura mítica do perna de pau: “Esse aí pode deixar que a natureza marca”.

O procurador Deltan Dallagnol é o principal agente desmoralizador de si mesmo. Não precisa de ninguém para se ocupar disso. 

Nele se unem a megalomania, a ambição, a arrogância, a fama, a fé evangélica e a falta de noção, resultando num pacote de auto constrangimento e vergonha alheia.

Dallagnol embarcou numa ego trip que ninguém mais controla. De Silvio Santos a Elton John, passando pelo dono da Riachuelo, é comum o sujeito perder o senso do ridículo, mas depois de um certo tempo.

Deltan está passando por isso precocemente, aos 36 anos. Vive cercado de yes men que não o censuram mais. E pensar que você paga o bom salário do homem.

Alguém que cita a si mesmo sete vezes, mais Sherlock Holmes e uma teoria que ele mesmo criou (o “explanacionismo”) numa peça jurídica deveria ser chamado de lado pelo juiz e instado a tirar uns dias de folga para pôr a cabeça no lugar.

Ao invés disso, Dallagnol vai faturando. Suas palestras são vendidas por um cachê entre 30 e 40 mil reais, como se vê num site que o agencia juntamente com Ana Paula Padrão, Caio Ribeiro, Família Schürman, entre outros.

O release é inacreditável. “Quando aparece para uma entrevista, fica claro que ele preparou cada tópico da fala e não foge do roteiro”, lê-se.

“Assim, dribla a timidez. Cordial, emprega frases de efeito, que também recheiam os processos. Para ele, por exemplo, Lula é o ‘comandante máximo’ do desvio de recursos da Petrobras”.

Como assim? Então era uma frase de efeito, um truque, para deleitar a plateia? Não importa? Tudo bem para o Lula ou não vem ao caso?

A repórter Anna Virginia Balloussier fez um relato na Folha sobre uma apresentação de Dallagnol num congresso da ala paulista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

“Nós antes éramos os golpistas. Agora nós somos os golpistas dos golpistas? Eu fico confuso”, disse.

Sacou?
Dallagnol fez merchã de seu livro e adaptou a cantilena ao público. “O país está desfigurado. Precisamos de uma cirurgia reconstrutiva. Acho que vim no lugar certo para pedir ajuda”, falou.

Pegou?

Outra: “Você já teve um paciente que se olhava no espelho e se achava mais bonito do que era? O Brasil se olhava no espelho e se achava mais bonito do que era. A corrupção vende ilusões”.

Quem o introduziu foi o cirurgião Rolf Gemperli, um tipo que costumava aparecer na bancada do Jornal da Cultura, de SP, com comentários pedestres.
Num deles, defendia o fim do voto obrigatório porque eleições deviam ser só para quem tem “conhecimento da política”.

“Gosto dos médicos porque médicos gostam da Lava Jato”, declarou Deltan.
O ponto alto do show foi quando um espectador quis saber se ele tinha uma “previsão real” para a prisão de Lula.

“Vou exercer meu direito constitucional de ficar em silêncio”, respondeu Dallagnol.

Sacou?
Na semana passada, ele comemorava a marca de 100 mil seguidores no Twitter. A jornalista e blogueira Nina Lemos deu-lhe uma bronca, lembrando-o que não é “uma blogueira teen”.

Nina errou. No fundo, Dallagnol não passa muito disso. Lula e a batalha contra corrupção viraram um filão que DD, Moro e seus cometas exploram.

Enquanto durar a Lava Jato, e ela não tem hora para terminar, eles vão se dar bem. Se a grana é oriunda, eventualmente, de uma categoria extremamente afeita a sonegar impostos, como a dos médicos, não tem problema.

Business is business. O importante é dar um jeito nesse país. Eu não tenho culpa, eu votei no Aécio. 

Do DCM

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Cíntia Alves: Como fabricar uma denúncia contra Lula, segundo a força tarefa da Lava Jato

Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Primeiro passo para promover devassa na vida de Lula é achar uma brecha no meio das empreiteiras da Lava Jato. Depois, é preciso detectar um elo entre a empresa do ex-presidente e a corrupção na estatal. Caso as evidências não sejam suficientes, dê tiro para todo lado: use o sítio de Atibaia e o triplex no Guarujá. Se nada der certo, recorra à delação.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O porquê da perseguição a Dirceu. Paulo Nogueira

A vida é complicada para quem desafia a plutocracia
Originalmente publicado em março. Republicado agora por motivos óbvios.

Um jornalista americano escreveu uma coisa que me marcou profundamente.

Ele disse que num certo momento da carreira ele era convidado para programas de tevê, recebia convites seguidos para dar palestras e estava sempre no foco dos holofotes.

Num certo momento ele se deu conta de que tudo isso ocorria porque ele jamais escrevera algo que afrontasse os interesses dos realmente poderosos.

Foi quando ele acordou. Entendeu, por exemplo, as reflexões de Chomsky sobre as grandes empresas jornalísticas.

Para encurtar a história, ele decidiu então fazer jornalismo de verdade. Acabou assassinado.

Assange, Snowden, Falciani: não é fácil a vida de quem enfrenta o poder.

Tudo isso me ocorreu a propósito de José Dirceu. Tivesse ele defendido, ao longo da vida a plutocracia, ninguém o incomodaria.

Mas ele escolheu o outro lado.
E por isso é alvo de uma perseguição selvagem. É como se o poder estivesse dizendo para todo mundo: “Olhem o que acontece com quem ousa nos desafiar.”

É à luz de tudo isso que aparece uma nova rodada de agressões a Dirceu, partida – sempre ela – da Veja.

Quis entender.
Os dados expostos mostram, essencialmente, uma coisa: Dirceu não pode trabalhar. Não pode fazer nada.

O que é praxe em altos funcionários de uma administração fazerem ao deixá-la?

Virar consultor.
Não é só nos governos. Nas empresas também. Fabio Barbosa fatalmente virará consultor depois de ser demitido, dias atrás, da Abril.

Foi o que fez, também, David Zylbersztajn, o genro que FHC colocou na Agência Nacional do Petróleo. (Não, naturalmente, por nepotismo, mas por mérito, ainda que o mérito, e com ele o emprego, pareça ter acabado junto com o casamento com a filha de FHC.)

Zylbersztajn é, hoje, consultor na área de petróleo. Seus clientes são, essencialmente, empresas estrangeiras interessadas em fazer negócios no Brasil no campo da energia.

Algum problema? Não.
Quer dizer: não para Zylbersztajn. Mas para Dirceu a mesma posição de consultor é tratada como escândalo.

Zylbersztajn ajuda empresas estrangeiras a virem para o Brasil. Dirceu ajuda empresas brasileiras a fazerem negócios fora do Brasil, com as relações construídas em sua longa jornada.

O delator que o citou diz que Dirceu é muito bom para “abrir portas”. É o que se espera mesmo de um consultor como Dirceu.

Zylbersztajn, caso seja competente, saberá também “abrir portas”.
Vamos supor que a Globo, algum dia, queira entrar na China. Ela terá que contratar alguém que “abra portas”.

Abrir portas significa, simplesmente, colocar você em contato com pessoas que decidem. Conseguir fechar negócios com ela é problema seu, e não de quem abriu as portas.

Na manchete do site da Veja, está dito que o “mensaleiro” – a revista não economiza uma oportunidade de ser canalha – faturou 29 milhões entre 2006 e 2013.

São oito anos. Isso significa menos de 4 milhões por ano. Do jeito que a coisa é apresentada, parece que Dirceu meteu a mão em 29 milhões. Líquidos.

Não.
Sua empresa faturou isso. Não é pouco, mas está longe de ser muito num universo de grandes empresas interessadas em ganhar o mundo.
Quanto terá faturado a consultoria de Zylbersztajn entre 2006 e 2013? Seria uma boa comparação.

No meio das acusações, aparece, incriminadora, a palavra “lobby”. É um estratagema para explorar a boa fé do leitor ingênuo e louco por razões para detestar Dirceu.

Poucas coisas são mais banais, no mundo dos negócios, que o lobby.
Peguemos a Abril, por exemplo, que edita a Veja. Uma entidade chamada ANER faz lobby para a Abril e outras editoras de revistas. A ANER da Globo se chama ABERT.

Você pode ter uma ideia de quanto as empresas de jornalismo são competentes no lobby pelo fato de que ainda hoje elas gozam de reserva de mercado – uma mamata que desapareceu virtualmente de todos os outros setores da economia brasileira.

E assim, manobrando e manipulando informações, a mídia mais uma vez agride Dirceu.

As alegações sempre variam, mas o real motivo é que ele decidiu, desde jovem, não lamber as botas da plutocracia.

Do DCM