domingo, 21 de outubro de 2018
sábado, 20 de outubro de 2018
RUAS DO PAÍS SÃO TOMADAS CONTRA O RISCO BOLSONARO
A uma semana do segundo turno da eleição que vai escolher o
futuro presidente da República, milhares de pessoas que integram as forças
democráticas saíram às ruas neste sábado (20) para mostrar unidade contra a
escalada do fascismo, protofascismo ou neofascismo; brasileiros em todo o país
se mobilizaram contra tudo que o candidato de extrema-direita defende: racismo,
homofobia, tortura e os métodos sujos e ilegais de campanha, que inclui o Caixa
2.
A uma semana do segundo turno da eleição que vai escolher o
futuro presidente da República, milhares de pessoas que integram as forças
democráticas estão hoje (20) nas ruas para mostrar unidade contra a escalada do
fascismo, protofascismo ou neofascismo.
A ideia é mostrar que o campo democrático está mobilizado em
apoio ao candidato Fernando Haddad (PT) contra o projeto de raiz neoliberal, em
defesa da soberania nacional e, especialmente, em forte oposição ao modelo de
campanha de Bolsonaro, sustentado por discursos de ódio e mentiras.
Nos últimos dias, a estratégia suja da campanha bolsonarista
começou a ser desmascarada a partir de conexões que revelaram aliados como Steve
Bannon, norte-americano ligado a ideias de supremacia branca, que comandou a
campanha de Donald Trump em 2016. As ferramentas utilizadas nos Estados Unidos
se repetem aqui: a intensa disseminação de fake news por redes sociais,
especialmente o WhattsApp, patrocinadas por empresários – daí a hashtag
#Caixa2doBolsonaro ter dominado as redes sociais em todo o mundo.
Atos
As manifestações começaram neste sábado logo pela manhã em algumas cidades.
Quem checou as redes sociais antes de sair de casa, viu também que algumas
cidades no exterior também tiveram manifestações contra o fascismo, como
Genebra, na Suíça, e em Oslo, na Noruega, onde capoeiristas fizeram uma
homenagem ao mestre Moa do Katende, assassinado em Salvador por um bolsonarista
após declarar voto em Haddad.
Uma das primeiras cidades brasileiras a ver as ruas tomadas
foi Goiânia. Margarida, professora de Educação da Universidade Federal de Goiás
(UFG) declarou seu voto em Haddad porque "o país precisa retomar a
democracia. Porque somos pela paz e não pela guerra".
Também pela manhã, Haddad participou de um ato de campanha em
Fortaleza, com a presença do governador eleito Camilo Santana (PT), da
presidenta da legenda, senadora Gleisi Hoffmann, sua mulher, Ana Estella
Haddad, e do líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto Guilherme Boulos,
que disputou o primeiro turno pelo Psol.
Em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis
e Belo Horizonte os atos começaram por volta das 15h e já reúnem grande
quantidade de democratas.
Na capital dos mineiros, um grupo de evangélicos chegou cedo.
"Sou professora, sou mulher evangélica. #EleNão porque ele vai contra tudo
que defendo, vai contra o que disse Jesus. Jesus andava com prostitutas,
perdoou um ladrão enquanto era crucificado e Bolsonaro vai contra tudo
isso", disse a professora Ane. Também evangélica July, mulher negra, disse
que ele não, porque "minha própria pele já expressa e diz não. Se ofende
minha existência, serei resistência. Ele jamais. Enquanto professora, minha
profissão também diz ele não. Acredito no poder dos livros. Minha religião
também. Jesus foi torturado, então ele jamais".
247/RBA
sexta-feira, 19 de outubro de 2018
COMO ERA O BRASIL DA DITADURA QUE BOLSONARO DESEJA, POR JEAN-PHILIP STRUCK
O
Brasil dos tempos do regime militar. Do DW Brasil
Bolsonaro afirmou que deseja o país "que tínhamos há 50
anos". Em 1968, os indicadores de desenvolvimento social eram bem
diferentes dos atuais. Um terço da população era analfabeta, e grande parte
sofria com a fome
Ao final de uma entrevista nesta segunda-feira (15/10),
o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), afirmou desejar um Brasil
"semelhante àquele que tínhamos há 40, 50 anos atrás", em tom de quem
evoca uma era dourada perdida no país. O capitão reformado falava de
costumes, criminalidade e educação como se essas coisas tivessem se degenerado
ao longo das últimas décadas.
A julgar pelas pesquisas eleitorais para o segundo
turno, que apontam o candidato do PSL com 59% das intenções de voto,
Bolsonaro terá a chance de conduzir o Brasil segundo a sua visão a partir de
2019. Mas o período a que ele se refere estava longe de ser uma época
digna de nostalgia sob quase todos os aspectos.
Voltando meio século no tempo, chega-se a 1968, o ano que
abriu a fase mais dura do antigo regime militar. Defensor público da ditadura,
Bolsonaro já deixou claro que não considera episódios como o Ato Institucional
nº 5, a repressão e a tortura como aspectos negativos.
Mas, para além do aspecto político, o Brasil de 50 anos atrás
também era um país atrasado, com alta prevalência de miséria e fome e com
péssimos índices de desenvolvimento social: um terço da população era
analfabeta, doenças infecciosas e parasitárias ainda apareciam entre as
principais causas de morte, e a mortalidade infantil era seis vez maior que a
atual. A criminalidade também havia começado a se tornar epidêmica nos grandes
centros urbanos. E vários desses aspectos pioraram ao longo do regime.
Saúde e expectativa de
vida
Em 1968, não havia nada parecido com o Sistema Único de Saúde
(SUS), criado em 1988. Somente parte da população com carteira assinada tinha
acesso à saúde por meio do antigo Instituto Nacional de Previdência Social
(INPS). Mesmo esse sistema sofria com a ineficiência. E para quem não estava no
mercado de trabalho formal, como as empregadas domésticas, restava pagar pelo
atendimento ou contar com a benevolência de hospitais beneficentes.
À época, a diarreia e doenças parasitárias e infecciosas
apareciam entre as principais causas de morte em várias grandes cidades. Na
região Norte, ainda havia alta incidência de doenças como hanseníase (lepra).
A mortalidade infantil era uma chaga no país. Em 1968, o índice
era de 89,62 para cada mil nascidos, considerando apenas as capitais. Em 2016,
caiu para 14 por mil. Na região Nordeste, os números eram ainda piores,
chegavam a 167,51 por cada mil nascimentos.
Os índices ainda pioraram em relação ao início da década,
explicitando o sucateamento da saúde sob o regime militar. Em 1960, 60,2 por
mil nascidos morreram em São Paulo. Em 1968, foram 76,6. À época, a taxa nos
EUA era de 19,8.
Segundo o antropólogo Luiz Eduardo Soares, entre 1972 e 76,
em todo o Brasil, morreram 1,4 milhão de crianças por causas associadas à
desnutrição e à falta de saneamento, como difteria, coqueluche, sarampo,
poliomielite e doenças diarreicas.
Além disso, 72% dos que morriam no país tinham menos de 50
anos e, destes, 46,5% eram crianças menores de quatro anos. Também ao final dos
anos 1960, a população de 47% dos municípios brasileiros tinha uma expectativa
de vida de até 50 anos. Hoje, ela chega a 75,5 anos no país.
O governo militar ainda mascarava a situação. Em 1974, o
noticiário sobre uma epidemia de meningite em São Paulo foi censurado. Esconder
a má situação para promover uma imagem fictícia do Brasil também era prática
comum em relatórios oficiais.
Em 1974, o governo encomendou um estudo para apontar como se
alimentavam os brasileiros. Foram entrevistadas 55 mil famílias. O pediatra
Yvon Rodrigues, da Academia Nacional de Ciências, afirmou em entrevista nos
anos 80 que os resultados foram tão aterradores que o documento foi engavetado.
"Havia famílias que comiam ratos, crianças que disputavam fezes”, disse
ele. O relatório ainda mostrava que 67% dos brasileiros sofriam de
subnutrição.
Educação
Em 1968, o analfabetismo ainda era uma das maiores causas de
vergonha nacional. No início da década, 39,7% da população com mais de 15 anos
era analfabeta. Em 1970, 33,7% ainda não sabiam ler e escrever – a queda foi
proporcionalmente mais lenta do aquela observada entre 1950 e 1960.
Em 1968, o governo militar criou o Movimento Brasileiro de
Alfabetização, o Mobral. Foi um fracasso: em 15 anos de existência, 40
milhões de pessoas passaram pelo programa, mas apenas 15 milhões foram
diplomadas.
Em sua entrevista, Bolsonaro citou ainda que deseja um país
que "respeite as crianças em sala de aula", como era "há 50
anos". Mas, cinco décadas atrás, poucos jovens tinham a oportunidade de
sequer ver uma sala de aula. Havia algumas ilhas de excelência pelo país,
mas o acesso era para poucos.
No final da década de 1960, 76% dos municípios registravam
uma média inferior a dois anos de estudo para a população adulta. No Nordeste,
a média de anos de estudo era de apenas 15 meses. No Norte, nove. Menos de 10%
das crianças entre quatro a seis anos frequentavam a escola – hoje são mais de
90%.
No final de 2017, 7% da população do país com mais de 15 anos
de idade não sabia ler ou escrever, segundo dados do IBGE.
Criminalidade
O Brasil de 2018 sofre, sem dúvida, muito mais com a
violência do que em 1968. A taxa de homicídios em 2016 foi de 30,3 por cada
grupo de 100 mil habitantes. Só que a atual epidemia começou a ser gestada na
época sobre a qual Bolsonaro demonstra nostalgia. Os números do
período de São Paulo servem de amostra.
Em 1960, quatro antes do golpe militar, a cidade registrou
5,7 homicídios por 100 mil habitantes. Eram, em sua maioria, casos envolvendo
maridos traídos e disputas familiares. Em 1968, no entanto, a taxa saltou para
10,4 por 100 mil habitantes – pela primeira vez, havia atingido um nível
epidêmico.
Segundo estudos, a situação piorou com o aumento da
desigualdade e a mudança de atitude da polícia, que passou a priorizar cada vez
mais o uso de uma lógica de extermínio em vez de formas adequadas de solução de
crimes.
O ano de 1968 marcou a estreia dos infames esquadrões da
morte em São Paulo, formados por grupos de policiais. Naquele ano, eles
assassinaram 200 pessoas. As vítimas eram, em sua maioria, suspeitos de
envolvimento em assaltos e furtos.
Mas a ação violenta de policiais acabou tendo um efeito
reverso, piorando a criminalidade nas periferias. Com a polícia envolvida em
assassinatos, parte da população passou evitar denunciar crimes. Conforme a
Justiça ficou menos acessível, o ato de matar passou a ser visto cada vez mais
como uma ferramenta eficaz.
"Em vez de controlar os roubos, os homicídios provocam
novos homicídios e aumentam a desordem nesses lugares. Em territórios onde as
próprias polícias matam, o homicídio torna-se uma ação cada vez mais escolhida
na mediação de conflitos", aponta o pesquisador Bruno Paes Manso, do
Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP).
Em 1984, último ano da ditadura, o índice de homicídios em
São Paulo havia alcançado 37,9 por 100 mil habitantes – mais alto do que a
atual média nacional.
Milhares de estudantes foram às ruas de São Paulo protestar
contra a ditadura militar em 1º de abril de 1968.
Crescimento e
desigualdade
O ano de 1968 marca o início do "milagre econômico
brasileiro", período de crescimento robusto que durou até 1973, com altas
do Produto Interno Bruto (PIB), de entre 7% e 13% ao ano. Ao mesmo tempo, este
também foi um período de piora nos níveis de desigualdade.
Em 1965, a participação na renda nacional do 1% mais rico da
população, era cerca de 10% do total. Três anos depois, a cifra subiu
para 16%. Os números pioraram ainda mais até o fim do regime. Já entre os
5% mais ricos, a participação na renda passou de 28,3% em 1960 para
34,1% em 1970.
Em contraste, os 50% mais pobres, que recebiam 17,4% do
rendimento total em 1960, passaram a 14,9% do total em 1970. Neste último ano,
havia 3.275 municípios (83% do total) cuja população vivia em grande parte com
menos de meio salário mínimo por mês.
Os indicadores também apontam que no período entre 1964 e
1974 ocorreu uma queda ou estagnação do salário mínimo real, apesar do
crescimento da economia. Em São Paulo houve queda de 42% no poder aquisitivo do
salário mínimo. Com os sindicatos banidos, os trabalhadores também não tinham
canais para registrar a insatisfação.
Situação das mulheres
O panorama para as mulheres também era pior do que o atual.
Elas tinham menos participação na economia, tinham mais filhos e menos renda e
estudo.
O número de mulheres economicamente ativas em 1968 era baixo,
mal alcançava 20%, contra 50% em 2010. A principal atividade delas era ajudar a
formar famílias. Em 1970, a taxa de natalidade era de 5,8 filhos nascidos vivos
por mulher – hoje, é de 1,7. Elas também eram mais dependentes dos maridos, e
ainda não havia a Lei do Divórcio, sancionada apenas em 1977.
Naquela época, a renda média das mulheres era muito
inferior à dos homens em todos os segmentos, como não escolarizadas e
diplomadas. Em alguns casos, a discrepância chegava a quatro vezes o valor
médio da renda. Uma mulher com curso universitário no Brasil em 1970 ganhava em
média 41% do salário médio de um homem com diploma. Hoje, o percentual é de
75%.
Elas também tinham menos anos de estudo. A média no final da
década de 1960 era de apenas 2,2 anos, contra 2,6 dos homens. No Nordeste, era
de apenas 1,1 ano. Hoje é o contrário. Em 2015, elas tinham em média 9,7 anos
de estudos, contra 9 anos dos homens. Em 2016, as mulheres também apareceram
como maioria nos cursos de graduação no Brasil: 57,2% dos alunos. Em 1970,
representavam 25,6% da população com título universitário.
GGN
quinta-feira, 18 de outubro de 2018
AS RELAÇÕES PROMÍSCUAS DA ASSOCIAÇÃO DOS PROCURADORES DA REPÚBLICA COM TEMER. POR NASSIF
Anos atrás, preocupado
em mostrar a face positiva do Ministério Público Federal, diluindo a imagem
arrogante que a opinião pública tinha da corporação, preparei um programa sobre
o tema na TV Brasil. Convidei Cláudio Fontelles, ex-Procurador Geral da
República, procurador de belíssima história no MPF. E também Alexandre Camanho,
presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).
A ANPR tem duas funções
básicas. Uma delas é a de preparar uma festa de final de ano para a categoria e
cuidar de questões sociais - de clubes a seguros - dos associados. A segunda, a
de preparar a lista tríplice dos candidatos à PGR - uma incongruência fantástica.
Camanho não aceitou o
convite, mas topou gravar um depoimento para a abertura de um dos blocos. No
depoimento disse apenas que o Brasil é um oceano de corrupção no qual a única
ilha de honestidade era o Ministério Público Federal.
Hoje,
o Globo traz reportagem de Aguirre Talento e Bela Megale sobre as
estranhas ligações de Camanho com Rodrigo Rocha Loures, o deputado federal
flagrado com R$ 500 mil da JBS destinados a Michel Temer.
Quebrando o sigilo de
Loures, a Polícia Federal se deparou com uma série de mensagens eletrônicas
trocadas entre Loures e nosso campeão da honestidade, Camanho. Nelas, o
procurador sugere nomes para o Ministério de Temer e sugere repassar
informações para Temer através de Loures. Segundo a reportagem, em uma das
mensagens, a ilha de honestidade avisa que tinha “assunto importante e urgente”
para tratar, mas sugerindo que fosse fora do palácio, por ser “muito expositivo”.
Àquela altura, Camanho
tinha deixado a ANPR e mais tarde se tornaria o braço direito da PGR Raquel
Dodge. Procurado pela reportagem, admitiu as conversas mas explicou serem
frutos de amizade mantida com Loures.
Segundo o relatório da
PF, dois diálogos chamaram a atenção dos investigadores. Um deles, de 25 de
maio de 2016, logo após Temer assumir a presidência, Camanho pede para falar
com o presidente no final do dia. Disse que estaria indo conversar com o
‘Zequinha’. E informa ter muitas coisas que precisa levar ao conhecimento do
presidente via vc’. Naquele mesmo dia foi noticiada a homologação da delação
premiada de Sérgio Machado, implicando os principais nomes do PMDB na época,
incluindo José Sarney que tem um filho de nome Zequinha.
Como muitos burocratas
de Brasilia, Camanho se valia da relação com Loures para angariar prestígio com
personalidades. Diz o relatório:
"Da conversa de
ontem pensei: pq não chamar Francisco Rezek para a Justiça? (...) Se o
presidente quiser, posso fazer uma sondagem preliminar, para que ele não corra
riscos”. Rocha Loures responde: “Ótima sugestão! Falarei com ele e te
aviso após almoço. Favor aguardar”.
Em outra mensagem diz
de sua alegria, se Zequinha Sarney fosse nomeado para o Ministério do Meio
Ambiente.
Mal assumiu a
presidência, aliás, Michel Temer recebeu em audiência José Robalinho, sucessor
de Camanho na ANPR e, como ele, habitante da única ilha de honestidade em um
oceano de corrupção chamado Brasil. A honraria se deveu ao fato do MPF ter sido
ator central no impeachment de Dilma Rousseff.
Aliás, na véspera do
impeachment, Camanho
tentou organizar um encontro entre Temer e a equipe da Lava Jato, Na época,
antes de ser convidado por Raquel Dodge para sua equipe, já era visto como
homem de confiança do MDB.
GGN
quarta-feira, 17 de outubro de 2018
ANISTIA INTERNACIONAL COBRA INVESTIGAÇÃO SOBRE A VIOLÊNCIA DO BOLSONARISMO
A Anistia Internacional divulgou uma nota nesta quarta-feira,
17 demonstrando preocupação com o cenário de violência instalado no Brasil em
meio ao processo eleitoral de 2018. A organização pediu que as autoridades
investiguem "de forma célere, independente e imparcial" os possíveis
casos de crimes de ódio registrados pelo país.
Ainda de acordo com a organização, alguns candidatos a cargos
públicos nestas eleições emitiram declarações que fomentam um contexto de
intolerância. Em alguns casos, "poderiam inclusive ser categorizados como
de discurso de ódio, que incita a violência e a discriminação".
"O Brasil, como estado parte do Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, tem
a obrigação de implementar as medidas necessárias para combater toda forma de
discriminação, inclusive por motivo de opinião política."
Leia, abaixo, o material divulgado pela Anistia
Internacional:
Casos de violência no contexto eleitoral devem ser
investigados considerando a possibilidade de serem crimes de ódio.
A Anistia Internacional vê com preocupação o aumento de
episódios de violência durante o período eleitoral que têm sido relatados em
diferentes cidades do Brasil. Os casos já divulgados pela imprensa, e outros
relatados pelas redes sociais e por sites criados para coletar informações
sobre a violência no contexto eleitoral, demonstram que uma grande quantidade
de agressões pode ter sido crimes de ódio, motivadas por discriminação racial,
de gênero e de orientação sexual e identidade de gênero, ou ainda por razões de
opinião política.
A Anistia Internacional urge as autoridades brasileiras a
agir prontamente com a devida diligência para garantir que os casos de ataques
e agressões no contexto eleitoral sejam investigados de forma célere,
independente e imparcial, e que os responsáveis sejam levados à justiça. As
investigações devem considerar a possibilidade de que tais casos possam ter
sido crimes de ódio motivados pela identificação ou associação indevida ou real
da vítima com determinada grupo ou opinião política.
"É responsabilidade das autoridades adotarem medidas
para prevenir, investigar e sancionar crimes de ódio cometidos por qualquer
pessoa. Com a intensificação dos relatos de pessoas agredidas em um contexto de
crescente intolerância às diferenças e opiniões políticas no período eleitoral,
é essencial que todos os casos sejam investigados prontamente e que se
considerem as possíveis motivações discriminatórias por trás desses
crimes", afirma Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia
Internacional Brasil.
O primeiro caso divulgado de assassinato neste contexto
aconteceu no dia 8 de outubro, em Salvador (Bahia). O mestre de capoeira Moa do
Catendê foi assassinado a facadas após uma discussão sobre as eleições
presidenciais em que declarou apoio a um dos candidatos. O agressor, de opinião
divergente, foi preso e testemunhas já estão sendo ouvidas pela polícia. As
informações divulgadas publicamente sobre o caso indicam que o assassinato teve
motivação política.
A Anistia Internacional notou também que distintos candidatos
a cargos públicos nestas eleições emitiram declarações que fomentam um contexto
de intolerância, e que em alguns casos poderiam inclusive ser categorizados
como de discurso de ódio, que incita a violência e a discriminação. O Brasil,
como estado parte do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, tem a obrigação de implementar as
medidas necessárias para combater toda forma de discriminação, inclusive por
motivo de opinião política.
"Neste preocupante cenário de crescente intolerância e
polarização que vivemos hoje no país, é importante lembrar às autoridades dos
compromissos assumidos pelo Brasil internacionalmente. Direitos humanos não
podem ser apenas um compromisso que o país assume no papel, deve se traduzir em
ações concretas. Neste momento, as autoridades brasileiras não podem se
esquivar de seu dever de combater a incitação ao ódio e à discriminação, e
devem adotar medidas de proteção dos direitos à liberdade de expressão e à não
discriminação", afirma Werneck.
O segundo turno das eleições presidenciais e para governos
estaduais acontecerá no dia 28 de outubro. As autoridades brasileiras, em todos
os níveis, devem agir antes e após as eleições para prevenir crimes de ódio que
tenham motivação discriminatória. As autoridades públicas, os partidos
políticos e os candidatos devem condenar publicamente a incitação ao ódio, à
discriminação e à violência, e mandar uma mensagem clara de que os crimes
dirigidos contra pessoas por motivos discriminatórios não serão tolerados.
"Os brasileiros e brasileiras têm o direito de
participar do processo eleitoral sem sofrer qualquer tipo de coação,
discriminação ou retaliação por parte de quem quer que seja, e as autoridades
devem garantir a proteção de sua integridade física e mental. As pessoas devem
poder andar na rua sem medo de serem agredidas simplesmente por serem de um
determinado grupo ou por expressarem uma determinada opinião. É papel das
autoridades garantir isso. E é essencial que os partidos políticos e os
candidatos expressem para a população em geral e para as suas bases de
apoiadores que a violência contra opositores políticos devem cessar",
conclui Werneck.
Brail 247
terça-feira, 16 de outubro de 2018
A ASCENSÃO DO FASCISMO, POR JESSÉ SOUZA
FASCISMO PROPRIAMENTE
DITO
Todo fascismo é reflexo de uma luta de classes truncada,
percebida de modo distorcido e por conta disso violento e irracional no seu
cerne. A elite e a alta classe média haviam, com sucesso, legitimado a opressão
das classes populares pelo moralismo seletivo da corrupção apenas do Estado e
da política como forma de criminalizar a soberania popular. Os “belgas”, que se
vem como estrangeiros na própria terra, oprimiram o “Congo”, ou seja, o próprio
povo, e o reduziram á pobreza e á ignorância. O ódio ao escravo se transformou
simplesmente em ódio ao pobre. O escravo negro é eternizado nas massas
majoritariamente mestiças com escolaridade precária condenadas ao trabalho
desqualificado e semiqualificado. Esta é a base primeira de todo o ódio e
ressentimento reprimido e recalcado que é o núcleo da sociedade brasileira. O
fascismo implícito sempre foi o DNA da opressão de classes entre nós. O que tem
que ser explicado, portanto, é como ele contaminou as próprias classes
populares.
O SURGIMENTO DO PT
A ascensão do partido dos trabalhadores, com todas as suas
limitações, foi uma inflexão importante no processo de organização popular. Com
o golpe de 2013/2016 a reação conservadora veio primeiro de cima, da alta
classe média nas ruas, da sistemática corrosão de valores democráticos
diariamente perpetrada pela imprensa, e do acanalhamento do STF e por
consequência da constituição. O governo Temer promoveu o saque e a rapina que a
elite queria e empobreceu o povo que havia experimentado uma pequena ascenção
social. Foi dito a este povo que a corrupção política havia sido a causa do
empobrecimento. Quando a corrupção dos partidos de elite fica óbvia a todos,
sem ser reprimida, todo o sistema perde representatividade. O golpe de
misericórdia foi a prisão injusta do líder das classes populares
desmobilizadas. Aqui o último elo de expressão racional da revolta popular foi
cortado.
NOTÍCIAS FALSAS (FAKE NEWS)
Abriu-se a partir daí a porta para a revolta agora irracional
das massas. Neste contexto a ocasião faz o ladrão. A belíssima marcha do “ele
não”, majoritariamente composta pelas mulheres da classe média mais crítica e
engajada, possibilitou a cooptação do voto feminino das classes populares,
última cidadela contra a “ética da virilidade” do fascismo popular. Aqui entra
em cena o que há de mais sujo na política das “fake News” e da mentira
institucionalizada. Analistas de ultradireita da campanha fascista, que
perceberam as consequências do isolamento político dos indivíduos que é o que
capitalismo financeiro representa na esfera política, se aproveitaram
impiedosamente deste fato para oporem mulheres emancipadas da classe média
contra as mulheres pobres e evangélicas.Se você é pobre e humilhada o ganho
emocional que a distinção moral construída artificialmente com relação a
mulheres supostamente “indecentes” exerce, por meio de mentiras que não podem
ser desmentidas, passa a ter um apelo irresistível. É uma “vingança de classe”,
obviamente distorcida e contra a fração errada da classe média, como escape em
relação à pobreza vivida diariamente, mas cujas causas não são compreendidas.
“OS DELINQUENTES”
Como já discuti no meu livro “A ralé brasileira”,
contracorrente, 2017, a oposição pobre honesto versus pobre delinquente
perpassa os mais pobres dificultando enormemente qualquer solidariedade de
classe. Daí também a importância de líderes políticos que os representem a
partir de cima e secundarizem a contradição interna de classe com uma política
de interesse de todos os pobres. Era isso que Lula representava. Sem isso a
porta fica aberta para a guerra de classe entre os próprios miseráveis
divididos entre os supostos honestos e supostos delinquentes como definidos
pelas elites.
“BOIS DE PIRANHAS”
É aqui que a “ética da virilidade”- ou seja, a ética dos que
não tem ética – do fascismo reina absoluta. O fascismo arregimenta a partir de
cima os ressentimentos, medos e ansiedades sem explicação possível e os
canaliza a “bodes expiatórios” externos. O antipetismo é apenas o mais óbvio.
Mas todo fascismo usa e abusa da sexualidade reprimida das classes populares. A
homossexualidade que não pode ser admitido em si mesmo é canalizado em selvagem
agressão externa e o ódio a mulher percebida como ameaça incitam a uma
agressiva regressão a padrões primitivos de relações de gênero. O pobre não é
apenas pobre. Ele é humilhado e dominado por valores construídos para
subjuga-lo. Isso confere ao fascismo enorme capilaridade e contamina a vida
familiar e relações de vizinhança em todos os níveis da sociabilidade popular.
O FASCISMO À
BRASILEIRA
O líder fascista sem discurso e sem argumentos é o profeta
exemplar perfeito das massas destituídas em todas as dimensões da vida. Sem
organização hierárquica como os nazistas alemães, o nosso é um fascismo miliciano,
capilarizado e sem controle. O que é necessário explicar ao povo de modo
compreensível é porque ele ficou mais pobre. Sem isso se pavimenta o caminho ao
ódio irreversível.
GGN
segunda-feira, 15 de outubro de 2018
POR QUE VOTAR EM HADDAD?, POR ALDO FORNAZIERI
Muitos brasileiros têm motivos fundados para não votar no
candidato do PT. Menos por Fernando Haddad e mais pelo PT. Afinal de contas, o
partido, que foi combativo, vigoroso e defensor da ética na política se omitiu em certos pontos. Se é verdade que os dois mandatos do presidente Lula ficarão
entre os mais exuberantes e exitosos da história do Brasil, também é verdade
que o governo Dilma deixou muito a desejar e, em parte, está na raiz da atual
crise. Mas se tudo isto for colocado nos pratos da balança da história é
possível perceber que há um saldo mais positivo do que negativo em favor dos
governos petistas.
Combate a corrupção
Combate a corrupção
Ademais, na própria questão da corrupção, foi sob os governos
petistas que se criaram os mais poderosos instrumentos de combate à mesma, sem
os quais o Brasil estaria ainda mergulhado no lodaçal que degrada os
governantes e as instituições e desacredita os cidadãos. Foi dada autonomia à
Polícia Federal, foi fortalecido o Ministério Público, foi sancionada a Lei da
Delação Premiada e foi criada a Controladoria Geral da União. Não bastasse
isto, não há nenhuma acusação séria contra a gestão de Haddad pelos quase sete
anos à frente do MEC e sua gestão na Prefeitura de São Paulo foi marcada pelo
desbaratamento da máfia dos fiscais e pela recuperação de milhões de reais
desviados desde os tempos de Maluf.
Defesa da Democracia
Defesa da Democracia
Quiseram os caprichos da história e da Fortuna destinar a
Haddad a tarefa de enfrentar o maior perigo para o frágil processo de
construção da democracia desde o início da redemocratização. Perigo expresso em
tudo o que a candidatura de Bolsonaro representa. Assim, todos os eleitores que
não gostariam de votar no PT e, mesmo, muitos eleitores que votaram em
Bolsonaro, movidos por uma justa raiva e tristeza, estão postos diante de uma
terrível encruzilhada: votar em Bolsonaro e levar o Brasil por caminhos escuros
e escorregadios que o conduzirão aos abismos do ódio entre irmãos, entre
familiares, à violência política e, quiçá, à guerra civil ou votar em Haddad
para que se possa divisar uma luz no fim do túnel, para que se possa disputar
eleições com um convívio pacífico e para que se inicie um novo processo de
construção da democracia, com justiça, liberdade, direitos e igualdade.
Bolsonaro e a Barbárie
Bolsonaro e a Barbárie
Em política, a palavra, as promessas e as ações dos líderes
sacramentam o conteúdo das alianças que eles fazem com o povo, com os
eleitores. A campanha de Bolsonaro tem pregado a violência generalizada, tem
estimulado o estupro, tem pregado mais pregos nas mãos e nas almas dos negros e
negras que carregam uma cruz histórica desde os tempos da escravidão. O
candidato votou contra as empregadas domésticas, contra os direitos dos
deficientes, contra as demandas dos trabalhadores. As suas votações no
Congresso contribuíram para espezinhar os mais fracos, os humildes, aqueles que
mais sofrem. Em quase trinta anos de mandato, ele não produziu nenhuma obra
contra a corrupção e apenas usufruiu das benesses do poder.
Bolsonaro se diz patriota. Mas o que é a pátria? A pátria é o
povo que vive em um lugar e que tem uma cultura, uma língua, uma identidade.
Não se pode ser patriota sem amar o povo, sem defender os seus direitos, a
igualdade e a sociedade justa. Não se pode ser patriota e defender os ricos, as
injustiças, a opressão e a discriminação. Não se pode ser patriota e semear a
violência, a discórdia e a inimizade entre o povo. Ninguém que é injusto,
impiedoso, cruel e desumano é patriota.
Bolsonaro proclama "o Brasil acima de tudo", mas
não diz o que isto significa. O Brasil acima de tudo só pode significar o povo
acima de tudo, um povo com educação, cultura, saúde, moradia, trabalho,
direitos e civilidade. O Brasil estará acima de tudo se suas riquezas forem
postas a serviço do bem estar do seu povo, se o meio ambiente for
preservado, se o desenvolvimento for sustentável se as gerações presentes
deixarem como herança boas condições de vida ambientais e materiais para as
gerações futuras. Bolsonaro afirma que defenderá a família. Mas como defenderá
a família semeando a violência? Como defenderá a família não defendendo os
direitos de igualdade das mulheres, inclusive a igualdade salarial? Como
colocar Deus acima de todos e querer a desigualdade e a injustiça entre os
seres humanos? Todas as religiões dizem que Deus é justo.
Chamamento a razão
Chamamento a razão
Em nenhum outro momento da história, o povo brasileiro foi
chamado a votar com a razão, com a reflexão e com a ponderação como neste
momento. O povo terá que escolher entre a destruição e a possibilidade de um
novo recomeço da democracia. A ira do povo é justa, não há dúvida sobre isto,
pois os governantes tiram muito do povo e devolvem pouco. Mas raiva não pode
deixar o povo surdo e mudo quanto às advertências e os perigos que a
escolha de Bolsonaro representam. A ira do povo não pode atrair o mal sobre o
próprio povo. É preciso restabelecer o diálogo com o povo irado, mostrar-lhe,
sem sectarismo e sem rancor, onde está a verdade, onde está a justiça, onde
está a fé, onde estão os remédios para superar este presente triste e onde está
a esperança por um futuro melhor.
Mais uma vez, os caprichos da história e da Fortuna quiseram
que Haddad representasse esta fé, esta razão e esta esperança porque se há um
sentido de justiça e de bem estar nesta disputa, este sentido está em Haddad.
Votar em Haddad é perdoar os pecados dos outros, perdoar o PT. Mas o PT também
precisa pedir perdão à sociedade. Votar em Haddad é dar uma chance para que o
sistema político brasileiro, com seus partidos, se reconstrua em bases éticas,
em bases orientadas para a justiça, em bases onde as instituições se tornem
mais eficazes na solução dos problemas do povo e do Brasil.
Um povo irado pode querer um líder irado, é compreensível.
Mas um capitão descontrolado pode levar o barco a pique em meio à tempestade.
Bolsonaro pode ser irado, mas a sua ira não é nem santa e nem justa pelo que
prega e pelo que votou no Congresso. A ira santa e justa é aquela que defende
os humildes e os humilhados, os oprimidos e os espezinhados pelas injustiças.
Não há como ter uma ira santa e justa sem defender e colocar-se ao lado dos
pobres, dos negros, das mulheres e dos jovens - essas imensas maiorias que não
conseguem se dar um destino porque as condições materiais e espirituais
injustas o impedem.
Nesse momento de tormenta da vida política brasileira, o
Brasil e o povo precisam de um líder prudente, corajoso, comprometido com a
salvação do país. Para que a ira do povo se transforme na espada luminosa a
guiá-lo rumo a um futuro melhor, rumo à terra prometida, a ira precisa se
transformar em razão, em luz que ilumina as escolhas. A razão clama o voto em
Haddad, pois ele é este líder prudente e sensato em meio aos tormentos do
sofrimento e do medo.
O proselitismo do mal
O proselitismo do mal
Nada de digno, nada de edificante, nada de justo surgirá
sobre a montanha de mentiras, da falta de escrúpulos, da falta de moralidade
erguida pela campanha de Bolsonaro. Trata-se de uma campanha que está semeando
a semente do mal e da violência e disto não poderá frutificar nenhum bem. Todos
os limites do aceitável foram rompidos quando se trata de exigir parâmetros
mínimos de respeito aos critérios democráticos da disputa. O PT ficou 13 anos
no governo e em nenhum momento a democracia foi ameaçada, nenhuma violência foi
cometida contra cidadãos. Em contrapartida, bolsonaristas agridem e matam
pessoas que declaram voto em Haddad, cravam a ponta de faca a suástica nazista
em jovem que discordam deles e picham igrejas com a mesma suástica.
Amanhã agirão para impô-la sobre a bandeira do Brasil.
Não chega a ser estranho que a Justiça Eleitoral e outras
autoridades se calem covardemente ante os atentados que vêm sendo cometidos
contra as regras democráticas. Autoridades que rasgaram a Constituição não se
guiam pelo metro das leis. É vergonhoso que autodenominados democratas se calem
e fiquem neutros ante a ameaça que paira sobre o Brasil e seu povo. A
neutralidade é uma forma de adesão neste momento. A neutralidade é a face covarde
que escolhe essa fúria negativa e obscurantista que erguerá escombros do que
resta desta democracia doente. Repudiando essas condutas é preciso ter uma
resolução firme e escolher a prudência corajosa representada por Haddad. Não
basta escolher, é preciso anunciar a escolha e lutar por ela.
Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e
Política (FESPSP).
GGN
domingo, 14 de outubro de 2018
FÁBIO DE OLIVEIRA RIBEIRO DIZ QUE A VEZ É DE HADDAD TCHAU, TCHAU BOLSONARO, VOLTE EM 2022
Foto:
Reprodução/Twitter
POLARIZAÇÃO
A disputa entre Haddad
e Bolsonaro pode ser imaginada de diversas maneiras: civilização x barbárie;
nordeste x região sul; católicos, judeus e muçulmanos x evangélicos; mestiços,
negros e índios x brancos racistas; esquerda x direita; comunistas x fascistas;
modernidade x atraso; capitalismo inclusivo x neoliberalismo; democracia x
ditadura; futuro x passdo; tolerantes x intolerantes; feministas x machistas;
etc...
O “COMUNISMO” IMAGINÁRIO E A DITADURA REAL. POR FERNANDO BRITO
Se permitirmos – e se o permitir o cinismo dos que invocam
“mimimis” de autocríticas públicas, sabendo que isso é não apenas injusto como
uma capitulação no combate – estaremos vivendo uma agravada e farsesca reedição
de 1964, correndo o risco, quase certeza, de que a brutalidade e a longevidade
do autoritarismo as supere.
sábado, 13 de outubro de 2018
CAMPANHA DE BOLSONARO INDUZIU ELEITORES DE HADDAD A ERRO? POR GUILHERME MIKAMI
A estratégia de comunicação da campanha de Bolsonaro é
extremamente eficiente e profissionalizada.
Há gente graúda, com expertise coordenando os trabalhos em um
nível nunca antes visto no país, com volumosos recursos que nunca serão
declarados à Justiça Eleitoral.
Um exemplo dessa eficiência: as declarações negativas de seu
candidato a vice sobre 13º salário criaram um grave problema à campanha.
COMO ENFRENTAR BOLSONARO CONVERSANDO COM ELEITORES, POR ALBERTO CARLOS ALMEIDA
Seguem aqui recomendações para persuadir o eleitor por meio
de diálogos que podem ser face-a-face, isto é, presenciais, ou por outros
meios.
· - Converter votos do Bolsonaro para o
Haddad;
· - Não perca tempo com abstenção,
brancos e nulos: isso não se altera muito do primeiro para o segundo turno;·
- A maior
parte da abstenção é mudança de domicílio, por isso a pessoa não vota nos dois
turnos
sexta-feira, 12 de outubro de 2018
TSE DERRUBA MAIS FAKE NEWS CONTRA HADDAD
Foto:
Divulgação PT
Em duas decisões, o ministro Carlos Horbach, do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), determinou que seja retirada da internet postagens
com conteúdos falsos sobre o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad.
Em uma das representações, a coligação O Povo Feliz de Novo,
de Haddad, solicitou a retirada de 222 conteúdos do ar, espalhados por redes
sociais como Twitter e Facebook, alegando que tais publicações seriam
inverídicas, difamatórias e injuriantes.
Horbach concedeu a retirada de apenas uma postagem, que para
o ministro é manifestamente falsa e potencialmente lesiva à honra de Haddad. Na
publicação, o candidato do PT é associado a uma suposta estratégia de
disseminação de notícias inverídicas sobre o adversário Jair Bolsonaro
(PSL).
Em relação às demais postagens, Horbach considerou que
estariam aptas a continuar no ar por serem uma expressão da opinião do eleitor,
reproduções de matérias jornalísticas ou críticas à urna eletrônica.
“Tais conteúdos, por óbvio, não se enquadram entre aqueles
cuja remoção é autorizada pela legislação eleitoral, o que faria com que a
eventual concessão da liminar pleiteada consubstanciasse inconstitucional ato
de censura”, escreveu o ministro.
Em outra decisão anterior, ele determinou a retirada do ar de
conteúdo disseminado nas redes sociais pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ),
filho de Jair Bolsonaro. Nas postagens, feitas no Facebook e no Twitter, o
vereador diz que logo depois de uma visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba, Haddad
disse ter convidado Lula a subir a rampa do Palácio do Planalto junto
com ele para a cerimônia de posse, caso vencesse a eleição. A publicação, no
entanto, veicula um vídeo antigo, como se fosse recente, de Haddad fazendo a
declaração.
"Ainda que o vídeo seja verdadeiro e contenha
declarações reais de Fernando Haddad, sua utilização é descontextualizada, de
modo a transmitir ao eleitor informação equivocada, induzindo-o a percepções
potencialmente lesivas aos representantes", escreveu o ministro Carlos
Horbach, do TSE.
quinta-feira, 11 de outubro de 2018
XADREZ DO GRANDE PACTO NACIONAL CONTRA BOLSONARO, POR LUIS NASSIF
Peça 1 – tem jogo
A pesquisa DataFolha, com a contagem de 58 a 42 para
Bolsonaro em relação a Fernando Haddad, mostra que tem jogo.
Motivo 1 – Em outras eleições, com menos
volatilidade, houve viradas. A eleição atual é atípica, com mudanças radicais
de posição, criação de ondas de tsunami. Por isso mesmo, não há estratificação
de votos. Nem mesmo entre aqueles que, no primeiro turno, garantiam votos
consolidados.
Motivo 2 – com Bolsonaro se posicionando
sobre diversos temas, em cada posição que assume deixa de ser a encarnação
irracional da unanimidade antissistema, e passa a ser uma pessoa de carne e
osso, sendo desenhada por cada opinião. Aliás, é curioso que nas duas
únicas vezes em que mostrou bom senso – quando disse que a reforma da
previdência deveria ser consensual e que o governo não poderia abrir mão do
controle sobre a geração de energia – foi alvo de críticas de Carlos Alberto
Sardenberg na CBN, filho dessa mistura de liberalismo econômico cego e
autoritarismo político míope. Pelo menos a irracionalidade cega do mercado
ajuda a dissipar sua adesão irracional a Bolsonaro.
Motivo 3 – a onda de ataques de seus
seguidores a adversários por todo o país e a constatação clara de que será um
governo de arbítrio, de selvageria, do qual não sairá incólume nenhuma forma de
poder, da Justiça à mídia.
O exemplo mais flagrante é o inacreditável ex-juiz Wilson
Witzel (PSC), candidato ao governo do Rio de Janeiro, ameaçando prender seu
opositor, o ex-prefeito Eduardo Paes e se valendo de um amigo juiz para
inabilitar outro candidato, Antony Garotinho. E ainda anunciando que acabará
com a Secretaria de Segurança para evitar interferência civil no trabalho da
polícia.
Os sinais de fascismo se tornaram tão evidentes que não
comportam mais o jogo de cena de fingir que não se vê a guerra. Até o Ricardo
Boechat vai se dar conta de que as violências que se espalham por todo país não
podem ser comparadas a brigas de torcidas. Entre outros aspectos, pela relevante
razão de que nenhuma torcida organizada esteve perto de assumir o poder de
Estado.
Já se percebe um movimento nítido da mídia de lançar luzes
sobre o bolsonarismo. Nos últimos dois dias, a mídia começa a dar o devido peso
a essa onda de violência, sendo oficialmente apresentada a um fenômeno que só
existia nas suas fantasias antipetistas: o fascismo em estado bruto.
O sistema Globo é particularmente influente nas grandes
metrópoles do sudeste, onde há maior concentração de votos para Bolsonaro. E
poderá jogar um pouco de luz nos grupos empresariais, tão primários quanto
texanos de fins do século 19.
Resta a outra incógnita da equação: o desafio de reduzir o
antipetismo.
O caminho passa pelo grande acordo nacional, que reedite o
pacto da Nova República. E, aí, Fernando Haddad poderá ter papel fundamental.
Peça 2 – o fim do ciclo
da Nova República
Há vários pontos em comum entre os meses que antecederam a
Nova República e o quadro atual.
A Nova República foi um pacto de governabilidade que se
seguiu ao fim da ditadura.
Nos últimos anos, o país experimentou um novo tipo de
ditadura, o estado de exceção em vigor no país, com perseguição aos inimigos,
censura ao livre pensamento, atentados à constituição pelo Supremo Tribunal
Federal, abusos de juizes, procuradores e delegados, e a mídia encetando uma
campanha de ódio em tudo similar aos anos 60. O resultado foram as explosões de
violência, preconceito, intolerância, potencializados pelas redes sociais e de
whatsapp.
Agora, se tem a bocarra escancarada da besta, a poucas
semanas de engolfar o país. E, ainda que algo tardiamente, vai caindo a ficha
de todos os protagonistas políticos, das instituições, mídia, partidos
políticos, sobre os riscos de venezuelização do país.
São os gatilhos que dão início a um novo pacto de
governabilidade.
Peça 3 – a concertação
brasileira
Quando a Espanha estrebuchava no período pós-franquismo, sem
conseguir se encontrar, surge a figura de Felipe Gonzales. Primeiro, unificou a
esquerda. Depois, fez um movimento importante para o centro, colocando o
aprofundamento da democracia como a meta maior. Esvaziou a direita, consolidou
a socialdemocracia e acertou um pacto que garantiu a consolidação da democracia
espanhola e se manteve por muitos anos.
No Brasil, nenhuma figura pública está mais apta a
desempenhar esse papel do que Fernando Haddad. Mas, para tanto, terá que
enfrentar um desafio freudiano: matar o pai.
Haddad nutre por Lula o reconhecimento genuíno de um
intelectual capaz de entender sua grandeza política. Mas, no novo tempo que se
avizinha, terá a missão de enterrar o lulismo. Aliás, o próprio Lula há tempos
havia se dado conta da necessidade de superação dessa etapa, quando tentou
emplacar Eduardo Campos, quando apostou em Dilma, a gestora, e mesmo agora,
quando ensaiou aproximação com Ciro Gomes. Mas, principalmente, quando apostou
em Haddad como seu sucessor, por várias razões.
Primeiro, por ter feito carreira no partido que mais se
aproximou do desenho social-democrata, o PT. Depois, por sempre ter colocado a
negociação, a racionalidade como ponto central de sua atividade como Ministro e
como prefeito premiado de São Paulo, abrindo as portas para a contribuição de
diversos setores – do MTST a ONGs privadas – sem relação direta com o partido.
Finalmente, por uma idoneidade não apenas moral, como intelectual, de jamais
ter tergiversado de suas posições políticas, nem cedendo ao populismo, nem aos
acenos do mercado.
Ou seja, tem-se as condições políticas para o cargo, um
roteiro razoavelmente definido. Resta saber se Haddad e o próprio PT estarão à
altura do momento.
Peça 3 – as condições
para o pacto
O primeiro ponto é isonomia com essa história da autocrítica.
O PT deve, sim, uma autocrítica por ter enveredado pelas
regras do jogo político tradicional. E se a autocrítica é condição para o
eleitor ter a garantia de que não repetirá os malfeitos, é de se esperar uma
autocrítica da Globo, que não mais estimulará o estado de exceção, como fez de
2013 para cá, processo que resultou na ascensão do bolsonarismo. Haveria
necessidade também de autocrítica do STF pela quantidade de vezes que se curvou
à pressão da besta das ruas, atropelando a Constituição; da Procuradoria Geral
da República, nem se pense em Rodrigo Janot, que não tem dimensão para esses
gestos, mas de Raquel Dodge e da cúpula do Ministério Público? Do PSDB por ter
abdicado da princípios democráticos e impulsionando o golpe
Para poupar todos esses personagens da profunda
irresponsabilidade com que trataram o futuro do país, há uma maneira mais
indolor e eficaz de purgar os erros e de mostrar o novo: um grande pacto
nacional contra a besta que, desde já, acene para a opinião pública sobre a
extensão do pacto, seus compromissos sociais, com o desenvolvimento e com o
combate sistemático à violência que está grassando de cabo a rabo no país, no
rastro do fenômeno Bolsonaro.
Peça 4 – os personagens
O desenho ideal futuro para o pacto seria um novo partido, da
socialdemocracia brasileira, com predomínio do PT – como único partido que se
manteve estruturado nesse tsunami, por sua base social e sindical. Mas abrindo
as portas para os setores liberais do PSDB, que serão jogados ao mar caso João
Dória Jr seja eleito governador. E todos os setores racionais do empresariado,
das organizações sociais, do pequeno e micros empresários, da indústria, assim
como os legalistas do Poder Judiciário. E, obviamente, da mídia, com ambos os
lados tapando suas narinas.
O segundo turno poderá ser a semente dessa movimentação que
coloque, em um partido, o Brasil civilizado, institucional, democrático, contra a barbárie.
A Nova República exigiu um novo modelo partidário, desde que
o bipartidarismo do regime militar se espatifou. Agora se tem um quadro no qual
os dois partidos que garantiram a governabilidade nas últimas décadas, não
podem mais caminhar sozinhos: o PSDB morto por inanição; o PT pela constatação
de que, sozinho, provavelmente não conseguirá nem a vitória nas eleições, nem a
governabilidade.
Esse risco enorme deverá convencer sua executiva a abrir mão
do controle absoluto do processo e repartir poderes – dentro da estratégia que
vem sendo costurada por Jacques Wagner.
Tem-se, então, o barco com náufrago em um mar coalhado de
tubarões. Terão que se acertar.
É nesse clima que poderá emergir a figura de Fernando Haddad.
Se bem-sucedido, poderá ser o Felipe Gonzales brasileiro. Malsucedido, afundará
junto com a democracia brasileira, a liberdade de imprensa, a liberdade de
expressão, a Constituição e qualquer réstia de civilização.
GGN
quarta-feira, 10 de outubro de 2018
A BARBÁRIE CHEGOU, POR MARCELO AULER
A 19 dias do segundo turno, portanto, sem qualquer definição
do que acontecerá e de quem presidirá o país nos próximos quatro anos, os
adeptos da candidatura do capitão já se sentem donos do país. Respaldados
apenas no bom resultado do primeiro turno, demonstram a quem ainda não
conseguiu enxergar como pretendem comandá-lo. Não é nada agradável. Ao que
parece, sentiram-se livre para demonstrar do que são capazes: impor medo e
terror.
O quadro ao lado, recebido pelas redes e ampliado, demonstra
apenas alguns acontecimentos ocorridos nos últimos dias nos mais diversos
cantos do país. São fatos reais, em cidades diversas, sempre com a mesma marca:
foram protagonizados por adeptos da candidatura de Jair Bolsonaro e mostram a
violência. O desprezo pela vida. O desrespeito ao diferente ou a quem não pensa
igual.
Não é demais lembrar que no dia 6 de setembro, o gesto
tresloucado de Adélio Bispo de Oliveira, um mineiro com suspeitas de problemas
psíquicos, atingiu o presidenciável Jair Bolsonaro em plena campanha, em Juiz
de Fora (MG). Mesmo conscientes de estarem em uma disputa eleitoral acirrada,
os demais candidatos se solidarizaram ao deputado federal do PSL, condenaram o
gesto e até reduziram, na época, os ataques políticos. Manifestaram repúdio à
violência com a qual não tinham qualquer envolvimento.
Nos últimos dias, porém, cenas de violência se repetem com
uma frequência grande. Em comum o fato de serem protagonizadas por eleitores ou
militantes da campanha do capitão do Exército. Muitas delas gravadas em vídeos.
A maioria com registros na polícia. Demonstram que os militantes da candidatura
militar – que acabam se confundindo com verdadeiros milicianos – diante dos
resultados do primeiro turno, sentiram-se autorizados para, à luz do dia, e
mesmo na presença de testemunhas, mostrar a violência que defendem e são
capazes de realizar.
O mais impressionante é o silêncio obsequioso – autorizador?
– de Bolsonaro. Ele próprio ainda se recuperando de um tresloucado ato de
violência. Violência que, há muito, defende e propaga.
Se ele não pode responder pelos gestos de seus seguidores,
apesar de muitos deles terem sido incentivados pelo discurso de ódio que sempre
pregou, pode sim ser cobrado pelo silêncio diante de tamanha violência.
Silêncio que não se resume ao candidato à presidência. É
compartilhado também pelo candidato ao governo do Rio de Janeiro, Wilson
Witzen. Este, mesmo se vangloriando de ser ex-tenente dos Fuzileiros Navais –
“onde aprendemos a hierarquia e a disciplina” – e ex-juiz federal, assiste
impassível – e aplaude – discursos de ódio dos candidatos coligados, como
se fosse algo natural.
Tal como ocorreu em Petrópolis, cidade serrana fluminense,
dias antes do primeiro turno. Ali, em momento lembrou-se de defender a lei e,
principalmente, a civilidade. Tal como deveria ter aprendido ao pertencer às
Forças Armadas e à magistratura. Em compensação, no debate político com o
adversário, tenta se mostrar forte ao prometer dar-lhe voz de prisão diante de
possível crime de injúria.
GGN