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POLARIZAÇÃO
A disputa entre Haddad
e Bolsonaro pode ser imaginada de diversas maneiras: civilização x barbárie;
nordeste x região sul; católicos, judeus e muçulmanos x evangélicos; mestiços,
negros e índios x brancos racistas; esquerda x direita; comunistas x fascistas;
modernidade x atraso; capitalismo inclusivo x neoliberalismo; democracia x
ditadura; futuro x passdo; tolerantes x intolerantes; feministas x machistas;
etc...
Cada uma dessas fórmulas empregadas para enquadrar a disputa
eleitoral e/ou facilitar a compreensão do que está sendo disputado contém uma
mistura de verdade e falsidade. Reduzir a própria narrativa e enquadrar a
narrativa adversária dentro de um sistema binário (bem x mal; amigo x inimigo)
é uma maneira de convencer o respeitável público a decidir seu voto com base em
sentimentos básicos: medo, amor, esperança e ódio.
DEMOCRACIA
Num regime democrático, contudo, a disputa eleitoral não
deveria ser dominada pela conjuração dos sentimentos, pois a política é ou deve
ser diferente da guerra. A guerra separa os grupos humanos em campos
irreconciliáveis movidos por um único propósito: a destruição do inimigo. A
política, como disse Hannah Arendt, só pode existir num espaço delicado que é
consensualmente criado por pessoas desiguais com a finalidade de decidir o que
pode ser considerado um bem comum.
A democracia é um processo que iguala os homens, para que
eles possam se distinguir não pelo nascimento, riqueza, sexo, ideologia ou
partido político e sim pelos argumentos que são apresentados aos cidadãos com a
finalidade de convencê-los a tomar uma decisão e não outra. O melhor argumento
ou o argumentador mais habilidoso se impõe. Quando uma decisão é tomada, o
curso da ação afetará toda a comunidade de uma maneira ou de outra. Mas a
própria comunidade não deveria ser desfeita em virtude do que foi decidido.
INCÓGNITA
O problema é que ninguém pode prever como uma decisão
aparentemente adequada irá afetar a comunidade no futuro. Nenhuma nação está em
condições de controlar a maneira como suas decisões serão interpretadas pelas
outras nações. Os idealizadores do golpe de 2016 acreditaram que remover Dilma
Rousseff do cargo criaria, por si só, as condições necessárias para o país
voltar a crescer. A comunidade internacional reagiu mal à desdemocratização do
Brasil. O resultado foi desesperador: nossa economia afundou muito e mais
rápido.
SALVADOR DA PÁTRIA
Jair Bolsonaro se apresenta como um salvador da pátria. As
propostas dele podem ser resumidas em dois grandes eixos: mais do mesmo
neoliberalismo econômico (modelo econômico que fracassou sob o comando de
Michel Temer) e; o aprofundamento do autoritarismo como forma de lidar com os
conflitos decorrentes do empobrecimento de uma parcela significativa da
população (regime político que fracassou sob o comando dos militares).
IMPRENSA
A imprensa brasileira, intoxicada pelo anti-petismo que ela
mesma destilou e distribuiu desde que Lula ganhou pela primeira vez a
presidência, tem adotado uma posição ambígua em relação a Bolsonaro. A imprensa
internacional, contudo, preferiu ir direto ao ponto: Bolsonaro representa
um perigo para a América Latina e para o mundo. Se o candidato do PSL ganhar a
presidência o isolamento do Brasil será maior e mais severo. Isso
inevitavelmente provocará um recrudescimento dos conflitos políticos e
econômicos dentro do país.
O que parece ser a decisão certa para a maioria dos eleitores
(eleger Bolsonaro) pode ser a pior opção para o Brasil nesse momento. Lula
disputou três eleições antes de ser eleito. Ele chegou ao poder no contexto
adequado e conseguiu realizar um bom governo. Esta é a primeira vez que o Coiso
disputa uma eleição presidencial. Não seria melhor deixar para votar nele daqui
a quatro anos?
MILITARISMO
Existe outra questão que precisa ser considerada. Bolsonaro
errou ao nomear Mourão como vice presidente. O general já deixou claro que
nunca vi bater continência para um reles capitão. Os conflitos entre Dilma
Rousseff e Michel Temer resultaram no golpe midiático-jurídico-parlamentar de
2016. Uma disputa de poder séria entre Bolsonaro e Mourão não poderá ser
resolvida sem derramamento de sangue. E quando dois exércitos se movimentam num
território o maior prejudicado é a totalidade da população.
A carreira de Bolsonaro está apenas começando. Ele é jovem e
pode tranquilamente disputar a próxima eleição presidencial. Se perder a
disputa em 2018, o candidato do PSL terá quatro anos para organizar e
fortalecer seu partido. Ele poderá ganhar a eleição de 2022 muito mais
facilmente. Um fracasso de Fernando Haddad e a modificação do contexto
internacional aumentariam as chances de Bolsonaro chegar não só à presidência,
mas também ao poder absoluto. Levar consigo um vice-presidente menos perigoso
do que o general Mourão seria uma vantagem adicional.
GGN
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