(Foto: Pedro França)
Fazemos aqui um
apanhado resumido das más notícias contra Aécio desde meados de 2014, e das
táticas com as quais a mídia as vem cobrindo, e encobrindo, desde aquela época.
Damos atenção especial aos últimos eventos (uma enxurrada de denúncias vindas
dos quatro cantos do submundo político), que parecem ter afetado a imagem de
Aécio, ao ponto de fazê-lo desaparecer da cena pública.
Em alguma das passagens
secretas e terceiras dimensões da realidade brasileira, que é cheia de buracos
como um queijo suíço, Aécio se enfiou e desapareceu.
O mais interessante, é
que a imprensa não colocou nenhum repórter perdigueiro na pista dele, não
procurou desentocá-lo à bem da opinião pública ou dar ao leitor o mínimo de
informação sobre o assunto. E tudo foi muito abrupto. De um dia para o
outro, Aécio não estava mais entre nós. Ao invés de cumprir o que tinha
dito, “Vamos dar a nossa contribuição e ser julgados lá na frente”, ele
preferiu dar no pé na calada da noite sem dizer para onde e sem se despedir.
A grande imprensa
brasileira nem sequer menciona esse estranho e súbito desaparecimento. Parece
que nem lembra que existiu um Aécio, nascido em Minas, líder máximo da
oposição, presidente do PSDB, moço sorridente e boa praça. É como se ele nunca
tivesse existido. A única prova que temos da sua existência, hoje, é seu perfil
na Wikipédia. A Globo não recorda dele, talvez porque isso faça lembrar que
Aécio é um dos pais do governo Temer. Na Folha/UOL, Aécio prima pela ausência,
como um rosto desbotado numa multidão de faces desconhecidas.
A quem ocorra jogar o
nome de Aécio na pesquisa do Google, verá que nas últimas semanas os grandes
portais e jornais não fazem qualquer menção a ele.
Apenas para tentar
verificar a hipótese de que, não faz muito tempo, existiu um sujeito chamado
Aécio Neves, que respondia pela presidência do PSDB, acumulando ainda o posto
de líder da oposição, e que costumava acusar o governo Dilma de corrupção,
faremos o breve inventário que segue, contabilizando o catálogo das denúncias e
as formas como a mídia vem lidando com elas. Resumidamente, os fatos são os
seguintes:
Julho 2014 – Eclode o
escândalo do aeroporto construído com dinheiro público dentro da fazenda do
tio-avô e a poucos quilômetros de uma propriedade de Aécio (A mídia toda deu a
notícia, contudo, o fez sem escândalo e sem gritos de indignação. Prevaleceu a
‘isenção’ e bom tom da ‘imprensa equilibrada’, quando os acusados são os
amigos)
Dezembro de 2014 – A
revista Veja elege Aécio o pior Senador do país (Numa lista de 74 senadores,
Aécio foi o único a receber nota 0). Ainda que não possamos perscrutar os
motivos da Veja, o fato é que em outras publicações e na imprensa em geral, o
assunto apareceu em tom menor, quase em surdina.
23 de setembro 2015 – O
uso de avião do governo de MG por Aécio para realizar 124 viagens ao Rio de
Janeiro é objeto de matéria da Folha de SP. (Exatamente como nos casos
anteriores, a mídia se mostrou fria, distante e equilibrada).
03 de dezembro 2015 –
Conselho Superior do Ministério Público de Minas Gerais decide arquivar
inquérito sobre aeroporto em terra de tio-avô de Aécio (A mídia, é claro, não
deu um pio. Só noticiou o fato, como se fosse tão óbvio quanto o reajuste dos
relógios no fim do horário de verão).
15 de março 2016
– Delcídio do Amaral afirma que Aécio recebeu propina de FURNAS e agiu para
maquiar dados (Como a neutralidade aqui não era possível, quase sempre tivemos
estratégias para amenizar: manchete grande, mas permanência curta nas homes,
por exemplo).
22 de março 2016 –
A denúncia do dia 15 não impede que sete dias depois, o UOL destaque um
“flerte” de Temer e Aécio (ver Foto), desfazendo através desse protagonismo
político registrado em foto um pouco do clima negativo deixado pelas denúncias
do dia 12.
09 de abril 2016 –
Procuradores dizem ter indícios para pedir investigação contra Dilma e Aécio (A
informação foi dada com indiferente e distância na mídia).
20 de abril 2016 – Como
se fosse a coisa mais natural do mundo, o UOL estampa uma chamada dos tucanos a
Delcídio para salvar Aécio e atacar Dilma.
27 de abril 2016 – G1 e
O Globo destacam declaração de Aécio “Vamos dar a nossa contribuição e ser
julgados lá na frente” (É notável que a foto escolhida para ilustrar a matéria
mostre Aécio ao fundo, sob um véu desfocado, como que sumindo da zona de
visibilidade).
02 de maio 2016 – No G1
em fonte diminuta aparece a informação “Janot pede para STF investigar Aécio,
Cunha e Edinho”.
03 de maio 2016 – Uma
das páginas mais elaboradas de 'edição' política da Globo em favor de Aécio
Neves traz, na parte superior, Lula, no meio Cunha e o escândalo de Furnas, sem
referências a Aécio e, embaixo, Aécio, inteiramente desligado do caso de
Furnas, como se nenhum vinculo o ligasse a ele, criticando o método de montagem
do governo Temer.
- A matéria no G1, que
tem o título Aécio critica método de montagem de eventual governo Temer, mostra
vídeo de Aécio dirigindo uma reunião da cúpula do PSDB, ou seja, em pleno
exercício de poder e do prestígio político, como se uma chuva de denuncias não
estivesse desabando sobre ele. http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/05/aecio-critica-metodo-de-montagem-de-eventual-governo-de-michel-temer.html
Imagem: print do vídeo
da matéria de O Globo no link acima.
04 de maio 2016 – O
Procurador Geral da República Rodrigo Janot pede ao STF investigação de Aécio e
Paes. (A manchete vem com letras garrafais na home do G1, mas por quanto tempo?
Isso dificilmente o leitor poderá aferir)
11 de maio 2016 –
Gilmar Mendes, que convidou Aécio para seminário em Portugal vai relatar no STF
pedido de investigação de Janot contra o Tucano
11 de maio 2016 – Na
home do G1, embora o tempo pareça fechar para Aécio, ele aparece fazendo
análises e exercendo o papel de líder da oposição: “Aécio: Temer terá certa lua
de mel”.
11 de maio 2016 –
Gilmar Mendes autoriza inquérito para investigar Aécio sobre Furnas
12 de maio 2016 – Menos
de 24 horas depois de abrir inquérito contra Aécio, Gilmar suspende
investigações – O Globo.
12 de maio 2016 –
Gilmar Mendes suspende coleta de provas em investigação sobre Aécio. Normal
absolutamente normal, diz o ministro do STF. (Nenhuma indignação, surpresa,
muito menos estupefação, na imprensa)
13 de maio 2016 –
Gilmar pede a Janot que reanalise o caso Aécio (Idem)
25 de maio 2016 –
Gilmar envia novo pedido de inquérito sobre Aécio para reanálise da PGR (Idem)
27 de maio UOL 2016
– A home do UOL dá destaque a uma afirmação muito comprometedora de Sérgio Machado
sobre Aécio Neves: “Aécio é o cara mais vulnerável do mundo”. Certamente, Aécio
não é o queridinho do Folha/UOL, que também se declarou no editorial "Nem
Dilma nem Temer", de 02/04. Mas a ação dessa mídia está sempre
condicionada ao grau de prejuízo que possa levar ao PSDB, seu verdadeiro xodó.
06 de junho 2016 –
G1_Gilmar Mendes autoriza investigação sobre Aécio, Paes e Clésio Andrade (Nem
comentários críticos, nem explicações, nem recordação da trajetória anterior
dos processos nas mãos de Gilmar, nada. Tudo se passa como se fosse um fato que
não nos diria respeito).
10 de junho 2016 –
Denúncia da Folha de SP aponta que estatal do governo de Minas firmou parceria
com empresa do pai de Aécio. (Nesse momento, há um tempo fechando em torno de
Aécio, as denúncias começam a avolumar, e cada um dos grandes meios parece
avaliar que o neto de Tancredo já não pode ser salvo. Pode contar com alguma
proteção da mídia, mas não pode ser resgatado do seu inferno particular).
15 de junho 2016
– Denúncia de Sérgio Machado de que Aécio repassou propinas em troca de apoio
para eleger-se presidente da Câmara Federal tem destaque na home do UOL (Essa
exposição negativa crescente, demonstra cabalmente o beco sem saída em que a
imagem política de Aécio entrou e o quanto ele se tornou indefensável).
18 de junho 2016 – Em
delação premiada, Pedro Correa, ex-deputado (PE) com largo currículo em
escândalos de corrupção, afirma que Aécio indicou antecessor de Duque na
Petrobras (A situação de Aécio, torna-se mais e mais insustentável mas, vale
notar, nunca se levanta contra ele a ira sagrada da imprensa pela moralidade).
19 de junho 2016 – Na
revista Época e no G1, durante todo o dia, uma defesa de Aécio: FHC diz que
Aécio nunca pediu nem indicou a ele diretores da Petrobras
26 de junho 2016 – Ao
invés de sublinhar o fato de que o ex-presidente da OAS afirmou em sua delação
premiada ter destinado 3% em propina para Aécio, o UOL preferiu transferir para
o futuro indeterminado essa denúncia: Sócio e ex-presidente da OAS relatará
propina para assessor de Aécio Neves
27 de junho – Aécio
Neves some das manchetes sem deixar vestígios. Não há mais fotos suas nos
portais, seu nome é apagado dos jornais, e mesmo uma pesquisa no Google só
mostra notícias antigas e desbotadas.
* Bajonas Teixeira de
Brito Júnior – doutor em filosofia, UFRJ, autor dos livros Lógica do disparate,
Método e delírio e Lógica dos fantasmas, e professor do departamento de
comunicação social da UFE
Bajonas Teixeira de
Brito Junior, do Cafezinho