sábado, 13 de maio de 2017

O Jornalismo de ódio produzido no Brasil

A simples sabujice de acreditar na tese de Lula culpar Dona Marisa já seria uma prova incontestável de falta de caráter e desapreço pela verdade factual e histórica por parte de qualquer jornalista ou ser humano.

Mas elevar o gesto de barbárie ao cúmulo de tornar Lula responsável pela "segunda" morte da mulher é de uma canalhice só possível nesse país de cretinos completamente indiferentes a sinais de humanidade.

É transpor todo limite do tolerável e do absurdo na tarefa diuturna de tentar destruir, a qualquer preço, a biografia de um migrante nordestino pobre alçado aos braços da história como o presidente mais importante e popular do Brasil.

Uma investida nefasta de compensar no campo da intimidade familiar - como tem sido feito desde a sordidez da campanha de 1989 - o fracasso retumbante de um processo judicial só válido nas manchetes, na atuação ignóbil do judiciário e no fígado da elite verde-amarela.

Durante a perseguição midiático-jurídica contra o ex-presidente e a família, os cães amestrados aplaudiram e divulgaram conversas privadas da família do petista sem qualquer conexão com a investigação judicial, nunca recriminaram a invasão domiciliar e o sequestro dele pela Polícia Federal.

Ampliaram, assim, a sanha contra o petista e a família a ponto de levar a óbito Dona Marisa, mulher com vastos serviços prestados à sociedade brasileira. Duvidou-se da morte e até se criticou o ex-presidente por, à beira do caixão, chorar a dor da esposa falecida.

A morte sequer arrefeceu o desejo de macular a imagem dela: o juiz encarregado do processo se recusa a declará-la inocente, como manda a lei, amparado em uma turba de torquemadas da imprensa cuja única missão é criminalizar tudo ligado a Lula. Após o depoimento do petista a Moro, a "criminosa" Marisa é transformada em vítima, sob o súbito surto de preocupação midiática, somente para corroer a imagem do marido.

Que jornalismo é esse capaz de nutrir e sorver um ódio desmedido contra uma figura pública cuja trajetória registra a retirada de milhões da pobreza, o aumento do emprego e a melhoria geral do padrão de vida do país?

Que jornalismo é esse capaz de fingir preocupação social enquanto estimula com sadismo e mentiras a atual destruição diária de direitos básicos no trabalho, na previdência, na educação, no campo, nas terras indígenas?

Como dorme esse jornalismo depois de maquiar a piora econômica com mensagens otimistas de uma situação só interessante ao capital especulativo e aos barões de sempre dessa elite burra e mesquinha?

Como pode esse jornalismo praticar essas desumanidades sem perceber o impacto delas na vida da pessoa simples, do desfavorecido, da vítima do arbítrio policial, jurídico, dos menos abastados?

Como esse jornalismo pode cobrar o direito à vida com plena dignidade - missão básica da profissão - se estimula a destruição contínua de reputações, alimenta o ódio, adula o poder, rasga leis, reproduz inverdades, persegue inimigos e se esforça em criar uma narrativa sustentável para os mais ricos esfolarem os mais pobres e manter, assim, a desigualdade secular brasileira?

A caçada desenfreada a Lula apenas evidencia o exercício de um trabalho cuja rotina em nada lembra jornalismo.

E cujos profissionais em nada lembram seres humanos.

Do GGN, por Tiago Barbosa

A morte do Estado de direito e o fortalecimento do Estado penal

Dez de maio de 2017: o dia da vergonha. O dia em que o processo penal do espetáculo (nos dizeres de Rubens Casara) atingiu seu ponto máximo. Foi a demonstração de que o uso e a destruição da imagem de um ser humano (presumidamente inocente), para o deleite de uma plateia enfurecida pela desinformação generalizada espalhada diariamente pela grande mídia – movida unicamente por seus interesses empresariais –, em manifesta contrariedade ao que dispõe o art. 221, I, da Constituição Federal ¹, não encontram limites.

Nos últimos dias, os veículos de comunicação têm dispensado quase que 24 horas diárias de sua programação para divulgar o conteúdo de delações (que nem provas são) que supostamente incriminariam o principal réu da famosa ação penal. As informações e opiniões recorrentes dos grandes conglomerados midiáticos são todas no sentido da culpa inequívoca do acusado. Para eles, a condenação é questão de tempo. Não importam as provas, não importam os direitos ao contraditório e à ampla defesa; nada disso importa.

É nítida a intensão da mídia em manter a atenção da dita “opinião pública” (como se menos de dez famílias donas das maiores empresas de comunicação pudessem representá-la) nesse caso, pois, assim, tira-se o foco da destruição – a todo vapor – dos direitos sociais e trabalhistas levada a efeito pelo governo ilegítimo que se apossou do poder. Manter a população anestesiada, acreditando que a questão mais importante para o país é a acusação contra Lula é conveniente, para que os retrocessos intentados pelos atuais poderes da república (com iniciais minúsculas mesmo) não sejam percebidos pelos mais prejudicados.

Voltemos à operação.
Costumeiramente, operação é um nome dado a atividades policiais. Segundo nosso ordenamento jurídico, Polícia, Ministério Público e Judiciário cumprem papéis diversos na persecução penal. Se essas três estâncias agem conjuntamente, o Estado de Direito é enfraquecido. Se todos estão engajados em comprovar teses acusatórias, não há fiscalização mútua, própria de toda atividade estatal. Bem por isso, o Sub-Procurador Geral da República Eugênio Aragão defende a tese de que forças-tarefas como essa são inconstitucionais. E parece que tem razão.

O caso Lula, para uma análise séria e imparcial das práticas ilegais que passaram a ser adotadas no país, é emblemático. Outras hipóteses de arbítrio também poderiam ser citadas, como o da condução coercitiva de um jornalista para que divulgasse suas fontes (cujo sigilo é garantido constitucionalmente) ou o do empresário que ficou preso mais de seis meses preventivamente – perdendo emprego, casamento e convivência com a filha recém-nascida – para depois ser absolvido pelo Tribunal Regional Federal (apesar de isso acontecer cotidianamente com os clientes preferidos do sistema de justiça criminal) e tantos outros.

Mas para Lula, negou-se a existência do Estado de Direito. Negou-se a ele – e a sua família – a condição de cidadão, o que é gravíssimo.

A divulgação para a imprensa de conversas telefônicas – que nenhuma importância tinham para o processo –, entre o réu e a Presidente da República, entre ele e seu advogado e até mesmo entre sua esposa e um filho, foi uma das primeiras amostras do que estava por vir. Se dúvidas ainda há sobre a ilegalidade de tais providências, uma rápida leitura dos artigos 8º, 9º e 10 da Lei n. 9.296/96 espanca qualquer dúvida. O artigo 8º diz que deve ser preservado o sigilo das diligências, gravações e transcrições da interceptação, o artigo 9º estabelece que a gravação que não interessar à prova será inutilizada, e o artigo 10 prevê como crime quebrar segredo de Justiça de interceptações telefônicas, cominando pena de 2 a 4 anos de reclusão. Desnecessário recordar a opinião do falecido ministro Teori Zavascki sobre isso.

O espetáculo da condução coercitiva do acusado, sem que tivesse sido intimado anteriormente para depor, é outra demonstração do afastamento das regras processuais no feito criminal em comento. A condução coercitiva é permitida somente para o “ofendido” (art. 201, § 1º, do CPP) ou se, “regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado” (art. 218 do CPP). Não há margem para interpretação. Nada, rigorosamente nada, existe no ordenamento jurídico pátrio que permita uma condução coercitiva como as que vêm sendo realizadas. Se agentes públicos podem violar as leis, por que os investigados e acusados não podem?

Tantas arbitrariedades fizeram com que o réu perdesse sua esposa de forma triste. Graças à fúria persecutória que não enxerga seres humanos a sua frente, os últimos dias dela foram dos mais infelizes. É uma pequena amostra do que o Estado Penal (na expressão de Loic Wacquant) pode causar aos selecionados como inimigos.

Com relação aos abusos cometidos pela autointitulada “operação”, é importante lembrar da opinião de juristas do quilate de Celso Antonio Bandeira de Mello (Professor titular de direito administrativo da PUC-SP), para quem ela “está sendo conduzida com violação aos princípios fundamentais do Estado de Direito”²; de Fábio Konder Comparato (Professor Emérito da Faculdade de Direito da USP), que a conceitua como um “acúmulo de ilegalidades”³; e até mesmo para o grande jurista italiano Luigi Ferrajoli, que disse, no Parlamento italiano, que a operação lava-jato não busca a verdade, mas sim “o consenso da opinião pública” (além de dizer que o processo de impeachment contra Dilma Rousseff foi “insensato e infundado”4).

Os direitos e garantias fundamentais devem estar à disposição de todos, inclusive de nossos adversários e inimigos (Lênio Streck5). Enquanto não enxergarmos o outro como uma extensão de nós mesmos, a tendência é afundarmos cada vez mais no voluntarismo daqueles que se julgam ungidos por uma força superior para salvar o país, mas, não obstante, nos estão levando para o fundo do poço.

Calar ante essa tragédia, e consequentemente compactuar com ela, é intolerável.

Gustavo Roberto Costa - Promotor de Justiça em São Paulo. Membro fundador do Coletivo por um Ministério Público Transformador e membro do Movimento LEAP-Brasil – Agentes da Lei contra a Proibição.

¹ Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

 Do DCM

A miopia cultural impede o brasileiro de vê a Mídia como ator político decidindo seus próprios interesses ao ivés do coletivo

Por que o brasileiro não vê a Mídia como ator político?
O fim do principal entrave para o país não é necessariamente o fim das Organizações Globo, mas o contexto na qual ela se alimenta. Um país com pouca fome de cultura democrática, e acostumado a fazer piada com tudo como se isso fosse um traço de genialidade dado por Deus, estará sempre fadado a seguir orientações de qualquer que seja a mídia de massa dominante.

Um traço particular não só do brasileiro, mas de muitas outras nacionalidades, é a incapacidade de enxergar a Mídia como agente politico, com seus próprios interesses, com suas próprias aspirações de se perpetuar.  A maior parte das tentativas de alerta são geralmente ridicularizadas. A palavra consipração é a maior amiga do Status Quo por que ela neutraliza questionamentos pela via da acusação de paranóia, de fanatismo esquerdista, entre outras bobagens.

Parece crescer o consenso de que a Globo é a maior inimiga do Brasil, isso é sedutor devido ao longo histórico de desserviço dessa emissora para o Brasil. Mas ela, a Globo, sabe de algo que talvez ainda não tivessemos atinado, o brasileiro em geral só consegue distinguir as partes de um embate quando elas são diametralmente opostas. Isso significa que, para que o Brasil começar a enxerga a Globo como agentes politico atuante, será preciso que nós deixemos de acreditar que só porque chove no Deserto ele não é predomeninate seco.

A metáfora das chuvas no deserto se enquandra no modus operandi da Mídia tupiniquim, e como ela faz da falta de percepção dos brasileiros seu maior trunfo para acabar com qualquer projeto inclusivo de país. Basta que depois de uma bateria de notícias negativas sobre o país ela, a Mídia, pingue algumas gotas de otimismo para que a ignorância brasileira passe a acreditar na sua imparcialidade, que ela bate nos dois lados. Assim como basta que a Mídia noticie algo negativo sobre Aécio, Temer, Dória, ou qualquer um que não lembre vermelho, para que os fanáticos encontrem suporte para combater a narrative progressista de que a Mídia manipulou o povo para dar o Golpe, ou mesmo que a Lava-Jato não persegue o Lula. Ou seja, basta uma chuva, uma breve garoa, para que a condição dominante de parcialidade seja transformada em imparcialidade no cérebro brasileiro médio.

Esse tipo de estratégia, chuvas no deserto, para disfarçar uma posição dominante, é também usada no braço de humor da Veja, o Sensacionalista. A ideia de “bater em todos” e as piadas que garante o obscurantismo são parte do jogo de esconder um viés. É o acumulado que interessa, é a posição dominate que interessa, mas para milhares de brasileiros, bastou fazer piadas com todos os lados para voltarmos a estaca zero da aparente imparcialidade. Isso é desolador.

Não há o que fazer quando as pessoas são incapazes de detectar vieses. A globo pode sumir do mapa que rapidamente aparecerá um grupo tão ou mais esparto sabendo explorar essa deficiência nata de perceber a Mídia como agente politico.  Até o momento, a operação chuvas no deserto vem garantindo que a corda da Globo não arrebente totalmente. Por exemplo, os patos amarelos que foram as ruas com a FIESP e a FIRJAN, a mando da GloboNews,  são resultado dessa operação. Desse modo, entendo e compartilho da preocupação de todos com o mal que a Globo faz à Democracia, mas a Globo é apenas o instrumentalizador e não a origem do problema.

Do GGN

Aumenta o número de brasileiros que acha o governo Temer pior do que o da ex-presidente Dilma, diz pesquisa

COMPARAÇÃO DILMA X TEMER – Segundo a pesquisa DataPoder360, aumentou a quantidade de pessoas que acham o governo Temer pior do que o governo Dilma Rousseff (PT). Essa é a percepção de 48% dos entrevistados, 7 pontos percentuais a mais do que em abril. No mês passado, 41% achavam a administração de Temer pior do que a de Dilma. Para 20%, o governo atual é melhor que o anterior.

Na comparação por região, a preferência ao governo da petista é maior entre os nordestinos (70%), quase o dobro da região Centro-Oeste (36%). No Nordeste, apenas 8% responderam que a gestão Temer é melhor do que a de sua antecessora. No geral, 26% dos brasileiros não veem diferença entre os dois governos.

(…) Foram entrevistados 2.157 brasileiros e brasileiras com 16 anos de idade ou mais, em 243 municípios. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos. [a pesquisa foi realizada nos dias 7 e 8 de maio.]
Separamos algumas tabelas ainda sobre o mesmo tema: a comparação entre Temer e Dilma.
Clique aqui para ler a íntegra da pesquisa.

O Cafezinho

Integrantes do Ministério Público Federal criticam fala de Lula sobre Marisa, mas a citam 159 vezes na denúncia

Os integrantes do Ministério Público e alguns colunistas que vivem de lhes fazer eco – como Miriam Leitão, que já tomou o devido “passa-moleque” da assessoria de Lula – falam e repetem, com a costumeira hipocrisia, do “absurdo” de Lula atribuir parte das decisões relativas à pretensão de compra do apartamento no Guarujá.

“Que baixaria, que falta de respeito a um morto!”, dizem, os mesmo que recusaram à falecida a decretação de absolvição sumária prevista em lei.

Só gente muito cínica pode apelar para isso, quando eles próprios, os procuradores,  citaram Maria Letícia nada menos que 159 vezes  na denúncia oferecida contra o casal Lula, aceita pelo sr. Sérgio Moro em sua íntegra.

Dela dizem, por exemplo, que “fica claro o envolvimento de Marisa no recebimento, mediante ocultação da origem e natureza criminosa, de vantagens indevidas oriundas de empreiteiras em benefício próprio e de Lula.”.

E ainda que “o envolvimento de Marisa no recebimento de vantagens indevidas mediante ocultação e dissimulação de origem criminosa, se corrobora também por evidências colhidas em investigação envolvendo o mencionado sítio de Atibaia“.

Há outras, muitas outras acusações que os levam a denunciá-la três vezes pelo crime de “lavagem de dinheiro”.

Mais cínicos ainda são porque não se reportam ao que Lula declarou durante seu sequestro pelas tropas da Lava Jato, digo, a condução coercitiva até o Aeroporto de Congonhas, o mesmo que disse agora: o apartamento foi oferecido, Marisa interessou-se e ele, não:

Quando a Marisa voltou lá (ao apartamento)  não tinha sido feito nada ainda. Aí eu falei pra Marisa:“Olhe, vou tomar a decisão de não fazer, eu não quero” Uma das razões é porque eu cheguei à conclusão que seria inútil pra mim um apartamento na praia, eu só poderia frequentar apraia dia de finados, [isso] se tivesse chovendo. Então eu tomei a decisão de não ficar com o apartamento.”

Isso foi dito em abril de 2016, com D. Marisa viva, sem que ela tenha sido ouvida jamais para negar ou confirmar. Sob pena de mentir por contradição, Lula não poderia ter dito nada diferente do que disse.

Mas nada interessa a essa gente, nem mesmo coerência. Tudo é objeto de explorações sórdidas, em que os que queriam meter Marisa Letícia numa cadeia se compadecem de, coitada, ter sido citada num interrogatório.

Do Tijolaço

10 livros para entender o Brasil, Antonio Candido

Quando nos pedem para indicar um número muito limitado de livros importantes para conhecer o Brasil, oscilamos entre dois extremos possíveis: de um lado, tentar uma lista dos melhores, os que no consenso geral se situam acima dos demais; de outro lado, indicar os que nos agradam e, por isso, dependem sobretudo do nosso arbítrio e das nossas limitações. Ficarei mais perto da segunda hipótese.

Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.

Por isso, é sempre complicado propor listas reduzidas de leituras fundamentais. Na elaboração da que vou sugerir (a pedido) adotei um critério simples: já que é impossível enumerar todos os livros importantes no caso, e já que as avaliações variam muito, indicarei alguns que abordam pontos a meu ver fundamentais, segundo o meu limitado ângulo de visão. Imagino que esses pontos fundamentais correspondem à curiosidade de um jovem que pretende adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões pertinentes, mas sabendo que se trata de amostra e que, portanto, muita coisa boa fica de fora.

São fundamentais tópicos como os seguintes: os europeus que fundaram o Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que domina o país. É claro que estes tópicos não esgotam a matéria, e basta enunciar um deles para ver surgirem ao seu lado muitos outros. Mas penso que, tomados no conjunto, servem para dar uma ideia básica.

Entre parênteses: desobedeço o limite de dez obras que me foi proposto para incluir de contrabando mais uma, porque acho indispensável uma introdução geral, que não se concentre em nenhum dos tópicos enumerados acima, mas abranja em síntese todos eles, ou quase. E como introdução geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de ideias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo: “A formação e o sentido do Brasil”.

Quanto à caracterização do português, parece-me adequado o clássico Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, análise inspirada e profunda do que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a atitude em face do trabalho até a organização política e o modo de ser. Nele, temos um estudo de transfusão social e cultural, mostrando como o colonizador esteve presente em nosso destino e não esquecendo a transformação que fez do Brasil contemporâneo uma realidade não mais luso-brasileira, mas, como diz ele, “americana”.

Em relação às populações autóctones, ponho de lado qualquer clássico para indicar uma obra recente que me parece exemplar como concepção e execução: História dos índios do Brasil (1992), organizada por Manuela Carneiro da Cunha e redigida por numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida e abrangente.

Seria bom se houvesse obra semelhante sobre o negro, e espero que ela apareça quanto antes. Os estudos específicos sobre ele começaram pela etnografia e o folclore, o que é importante, mas limitado. Surgiram depois estudos de valor sobre a escravidão e seus vários aspectos, e só mais recentemente se vem destacando algo essencial: o estudo do negro como agente ativo do processo histórico, inclusive do ângulo da resistência e da rebeldia, ignorado quase sempre pela historiografia tradicional. Nesse tópico resisto à tentação de indicar o clássico O abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, e deixo de lado alguns estudos contemporâneos, para ficar com a síntese penetrante e clara de Kátia de Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil (1982), publicado originariamente em francês. Feito para público estrangeiro, é uma excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a rebelião. Naturalmente valeria a pena acrescentar estudos mais especializados, como A escravidão africana no Brasil (1949), de Maurício Goulart ou A integração do negro na sociedade de classes (1964), de Florestan Fernandes, que estuda em profundidade a exclusão social e econômica do antigo escravo depois da Abolição, o que constitui um dos maiores dramas da história brasileira e um fator permanente de desequilíbrio em nossa sociedade.

Esses três elementos formadores (português, índio, negro) aparecem inter-relacionados em obras que abordam o tópico seguinte, isto é, quais foram as características da sociedade que eles constituíram no Brasil, sob a liderança absoluta do português. A primeira que indicarei é Casa grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre. O tempo passou (quase setenta anos), as críticas se acumularam, as pesquisas se renovaram e este livro continua vivíssimo, com os seus golpes de gênio e a sua escrita admirável – livre, sem vínculos acadêmicos, inspirada como a de um romance de alto voo. Verdadeiro acontecimento na história da cultura brasileira, ele veio revolucionar a visão predominante, completando a noção de raça (que vinha norteando até então os estudos sobre a nossa sociedade) pela de cultura; mostrando o papel do negro no tecido mais íntimo da vida familiar e do caráter do brasileiro; dissecando o relacionamento das três raças e dando ao fato da mestiçagem uma significação inédita. Cheio de pontos de vista originais, sugeriu entre outras coisas que o Brasil é uma espécie de prefiguração do mundo futuro, que será marcado pela fusão inevitável de raças e culturas.

Sobre o mesmo tópico (a sociedade colonial fundadora) é preciso ler também Formação do Brasil contemporâneo, Colônia (1942), de Caio Prado Júnior, que focaliza a realidade de um ângulo mais econômico do que cultural. É admirável, neste outro clássico, o estudo da expansão demográfica que foi configurando o perfil do território – estudo feito com percepção de geógrafo, que serve de base física para a análise das atividades econômicas (regidas pelo fornecimento de gêneros requeridos pela Europa), sobre as quais Caio Prado Júnior engasta a organização política e social, com articulação muito coerente, que privilegia a dimensão material.

Caracterizada a sociedade colonial, o tema imediato é a independência política, que leva a pensar em dois livros de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil (1909) e O movimento da Independência (1922), sendo que o primeiro é das maiores obras da nossa historiografia. No entanto, prefiro indicar um outro, aparentemente fora do assunto: A América Latina, Males de origem (1905), de Manuel Bonfim. Nele a independência é de fato o eixo, porque, depois de analisar a brutalidade das classes dominantes, parasitas do trabalho escravo, mostra como elas promoveram a separação política para conservar as coisas como eram e prolongar o seu domínio. Daí (é a maior contribuição do livro) decorre o conservadorismo, marca da política e do pensamento brasileiro, que se multiplica insidiosamente de várias formas e impede a marcha da justiça social. Manuel Bonfim não tinha a envergadura de Oliveira Lima, monarquista e conservador, mas tinha pendores socialistas que lhe permitiram desmascarar o panorama da desigualdade e da opressão no Brasil (e em toda a América Latina).
Instalada a monarquia pelos conservadores, desdobra-se o período imperial, que faz pensar no grande clássico de Joaquim Nabuco: Um estadista do Império (1897). No entanto, este livro gira demais em torno de um só personagem, o pai do autor, de maneira que prefiro indicar outro que tem inclusive a vantagem de traçar o caminho que levou à mudança de regime: Do Império à República (1972), de Sérgio Buarque de Holanda, volume que faz parte da História geral da civilização brasileira, dirigida por ele. Abrangendo a fase 1868-1889, expõe o funcionamento da administração e da vida política, com os dilemas do poder e a natureza peculiar do parlamentarismo brasileiro, regido pela figura-chave de Pedro II.

A seguir, abre-se ante o leitor o período republicano, que tem sido estudado sob diversos aspectos, tornando mais difícil a escolha restrita. Mas penso que três livros são importantes no caso, inclusive como ponto de partida para alargar as leituras.

Um tópico de grande relevo é o isolamento geográfico e cultural que segregava boa parte das populações sertanejas, separando-as da civilização urbana ao ponto de se poder falar em “dois Brasis”, quase alheios um ao outro. As consequências podiam ser dramáticas, traduzindo-se em exclusão econômico-social, com agravamento da miséria, podendo gerar a violência e o conflito. O estudo dessa situação lamentável foi feito a propósito do extermínio do arraial de Canudos por Euclides da Cunha n’Os sertões (1902), livro que se impôs desde a publicação e revelou ao homem das cidades um Brasil desconhecido, que Euclides tornou presente à consciência do leitor graças à ênfase do seu estilo e à imaginação ardente com que acentuou os traços da realidade, lendo-a, por assim dizer, na craveira da tragédia. Misturando observação e indignação social, ele deu um exemplo duradouro de estudo que não evita as avaliações morais e abre caminho para as reivindicações políticas.

Da Proclamação da República até 1930 nas zonas adiantadas, e praticamente até hoje em algumas mais distantes, reinou a oligarquia dos proprietários rurais, assentada sobre a manipulação da política municipal de acordo com as diretrizes de um governo feito para atender aos seus interesses. A velha hipertrofia da ordem privada, de origem colonial, pesava sobre a esfera do interesse coletivo, definindo uma sociedade de privilégio e favor que tinha expressão nítida na atuação dos chefes políticos locais, os “coronéis”. Um livro que se recomenda por estudar esse estado de coisas (inclusive analisando o lado positivo da atuação dos líderes municipais, à luz do que era possível no estado do país) é Coronelismo, enxada e voto (1949), de Vitor Nunes Leal, análise e interpretação muito segura dos mecanismos políticos da chamada República Velha (1889-1930).

O último tópico é decisivo para nós, hoje em dia, porque se refere à modernização do Brasil, mediante a transferência de liderança da oligarquia de base rural para a burguesia de base industrial, o que corresponde à industrialização e tem como eixo a Revolução de 1930. A partir desta viu-se o operariado assumir a iniciativa política em ritmo cada vez mais intenso (embora tutelado em grande parte pelo governo) e o empresário vir a primeiro plano, mas de modo especial, porque a sua ação se misturou à mentalidade e às práticas da oligarquia. A bibliografia a respeito é vasta e engloba o problema do populismo como mecanismo de ajustamento entre arcaísmo e modernidade. Mas já que é preciso fazer uma escolha, opto pelo livro fundamental de Florestan Fernandes, A revolução burguesa no Brasil (1974). É uma obra de escrita densa e raciocínio cerrado, construída sobre o cruzamento da dimensão histórica com os tipos sociais, para caracterizar uma nova modalidade de liderança econômica e política.

Chegando aqui, verifico que essas sugestões sofrem a limitação das minhas limitações. E verifico, sobretudo, a ausência grave de um tópico: o imigrante. De fato, dei atenção aos três elementos formadores (português, índio, negro), mas não mencionei esse grande elemento transformador, responsável em grande parte pela inflexão que Sérgio Buarque de Holanda denominou “americana” da nossa história contemporânea. Mas não conheço obra geral sobre o assunto, se é que existe, e não as há sobre todos os contingentes. Seria possível mencionar, quanto a dois deles, A aculturação dos alemães no Brasil (1946), de Emílio Willems; Italianos no Brasil (1959), de Franco Cenni, ou Do outro lado do Atlântico (1989), de Ângelo Trento – mas isso ultrapassaria o limite que me foi dado.

No fim de tudo, fica o remorso, não apenas por ter excluído entre os autores do passado Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo, Nestor Duarte e outros, mas também por não ter podido mencionar gente mais nova, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo de Carvalho, Evaldo Cabral de Melo etc. etc. etc. etc.

* Artigo publicado na edição 41 da revista Teoria e Debate – em 30/09/2000
Antonio Candido Publicado no Blog da Boitempo.

Do DCM

Depoimento de Lula que a Globo escondeu: 530 manchetes impressas e 18h e 15 min de noticiário negativo no JN

Veja o vídeo, aqui
Do depoimento de Lula que a Globo escondeu: 530 manchetes impressas e 18h e 15 min de noticiário negativo no JN

O ex-presidente Lula foi muito específico no depoimento que deu ao juiz Sergio Moro, em Curitiba: em 12 meses, foram 530 manchetes negativas em O Globo, 8 favoráveis.

No Jornal Nacional, foram 18 horas e 15 minutos, o equivalente a 12 partidas de futebol.


Vejam como a emissora “dourou” a pílula:
No fim, Lula criticou muito a imprensa. Disse que é massacrado, alvo de um volume enorme de notícias negativas, e que é acusado injustamente. Citou jornais impressos, revistas e o Jornal Nacional. Reclamou do que chamou de vazamentos seletivos e disse que a imprensa sabe das acusações antes mesmo que a defesa dele seja notificada.

Lula: E hoje, a acusação é muito mais feita pelas capas de jornais, pelas capas de revista e pela imprensa do que pelos dados concretos das perguntas que vocês me fizeram. Sinceramente. Pelas perguntas que vocês me fizeram, o doutor Moro não deveria nem ter recebido essa acusação.

Moro: Senhor ex-presidente, já que o senhor fez estas afirmações, eu vou colocar o seguinte para o senhor: a imprensa não tem qualquer papel no julgamento desse processo. O processo vai ser julgado com base na lei e exclusivamente nas provas. O senhor foi chamado nesse processo aqui e o senhor foi tratado, desculpe se…

Lula: Com muita fidalguia.
Moro: Desculpe se não pareceu isso em algum momento, mas o senhor foi tratado com o máximo respeito. E as perguntas que foram feitas ao senhor presidente, como eu disse no começo, embora elas possam até parecer difíceis, mas é porque existe uma acusação criminal. Não tem como esclarecer estes fatos sem perguntar a respeito do conteúdo da acusação criminal. Mas o senhor pode ter certeza que o processo vai ser julgado exclusivamente com base nas provas e na lei, e serão levadas em consideração essas declarações que o senhor fez.
Lula: Doutor, doutor Moro, assim espero.

Moro: A esse respeito.
O juiz Sérgio Moro finalizou dizendo que ele próprio é alvo de críticas de blogs na internet.

Moro: Senhor ex-presidente, infelizmente eu já sou atacado por bastante gente, inclusive por blogs aí que supostamente patrocinam o senhor. Então padeço dos mesmos males em certa medida. Entretanto, eu vou encerrar aqui essas suas declarações, mas eu lhe asseguro que vai ser julgado unicamente com base nas leis e na prova do processo. O senhor pode ficar seguro quanto a isso, certo?
Lula: É assim que eu espero, doutor.

A única saída é espalhar o vídeo acima, para informar com precisão os telespectadores do Jornal Nacional.

Do Vi o Mundo

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Palocci vira delator e a senha é acusar ex-presidente Lula

Ex-ministro Antonio Palocci decidiu fechar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no âmbito da Lava Jato; seu advogado de defesa, o criminalista José Roberto Batochio, se afastou do caso por discordar do método; como Batochio é também advogado do ex-presidente Lula, as duas defesas se tornaram conflitantes; nesta semana, Palocci retomou conversas com os advogados com quem já havia iniciado o acordo, Adriano Bretas e Tracy Reinaldeti, de Curitiba; Antonio Palocci é réu em dois processos na investigação.

O ex-ministro dos governos Lula e Dilma Antonio Palocci decidiu fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava Jato.

Por discordar do método, seu advogado de defesa, o criminalista José Roberto Batochio, decidiu se afastar do caso. Como Batochio é também advogado do ex-presidente Lula, as duas defesas se tornaram conflitantes. Confira a nota divulgada por seu escritório:

O Escritório José Roberto Batochio Advogados Associados deixa hoje o patrocínio da defesa de Antonio Palocci em dois processos que contra este são promovidos perante o juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba, em razão de o ex-ministro haver iniciado tratativas para celebração do pacto de delação premiada com a Força Tarefa Lava-jato, espécie de estratégia de defesa que os advogados da referida banca não aceitam em nenhuma das causas sob seus cuidados profissionais.

Nesta semana, Palocci retomou conversas com os advogados com quem já havia iniciado o acordo, Adriano Bretas e Tracy Reinaldeti, de Curitiba.

Palocci foi preso em setembro do ano passado. Ele aguarda um posicionamento do Supremo Tribunal Federal sobre um pedido de soltura, depois que o relator da Lava Jato na Corte, ministro Edson Fachin, enviou o caso ao plenário.

A iniciativa foi tomada após Fachin ter sido vencido na Segunda Turma da Corte, colegiado responsável pelas questões relativas à Lava Jato, nos julgamentos que decidiram pela soltura do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do empresário José Carlos Bumlai e do ex-tesoureiro do PP João Claudio Genú, todos réus na Lava Jato.

Do 247

Mônica Moura apresenta provas e dúvidas no depoimento contra a presidente deposta Dilma Rousseff.

Entre as provas anexadas na delação premiada da esposa de João Santana estão: senha de Wifi, passagem de avião, agenda onde consta "compromisso com a tia", arquivo de Word e uma conta de Gmail de onde e-mails nunca foram disparados. 
Para tirar a Lava Jato de seu encalço, Mônica Moura contou a seguinte história sobre Dilma em sua delação premiada:
Episódio 1
Em novembro de 2014, a então presidente teria sido avisada por José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça, que a Lava Jato já sabia das contas de Eduardo Cunha na Suíça e estava avançando rapidamente sobre a Odebrecht.

Dilma, preocupada com o elo da Odebrecht com sua campanha, teria convocado Mônica Moura, que estava de férias em Nova York, para ir ao Palácio da Alvorada, em Brasília, discutir o assunto.

Mônica diz que o assessor Giles Azevedo a buscou no aeroporto em um "carrinho vagabundo" e, caminhando pelo jardim de Alvorada, Dilma teria perguntado se a conta de João Santana no exterior era "segura". Mônica respondeu que era, na medida do possível.

Dilma, então, disse que elas precisavam conversar com mais assuidade, mas de maneira segura. Foi quando, na presença de Giles, Mônica pegou o computador de Dilma e criou a conta "iolanda2606@gmail.com". Iolanda foi o nome sugerido pela petista, em referência à esposa do ex-presidente Costa e Silva. Elas combinaram que fariam a comunicação pelo rascunho do Gmail, sem fazer mensagens circular na web.

A prova desse episódio, segundo Mônica, são: (1) uma ata criada por sua defesa com o print do único rascunho que ficou salvo no Gmail (ver episódio 2), (2) a passagem aérea que atesta o bate e volta de Nova York a Brasília, (3) a agenda onde constou reunião com a "tia" e (4) o registro de que seu computador pessoal gravou a senha do wifi do Alvorada (o que não significa nada tendo em vista que o casal esteve lá a trabalho diversas vezes).

Aqui aparece a primeira incongruência, ainda que de grau mínimo, entre o que Mônica contou aos procuradores da Lava Jato e o que entregou como prova contra Dilma: o endereço de e-mail correto seria "2606iolanda@gmail.com", diz a ata registrada em cartório e anexada à delação. 
A segunda nebulosidade no depoimento de Mônica surge em função dessa mesma evidência.

Episódio 2
Mônica disse que, ao longo de 2015, Dilma - que queria manter a comunicação frequente - só enviou duas ou três mensagens "codificadas", mas sem teor alarmante. Neste mesmo ano, em um dos encontros com os marqueteiros, Dilma teria pedido que João Santana movesse sua conta da Suíça. Ele negou argumentando que isso seria admitir o crime eleitoral.

Pulamos para 2016, quando o casal estava em campanha na República Dominicana.
Mônica disse à Lava Jato que, em 19 de fevereiro, Dilma usou o rascunho do Gmail para deixar a seguinte mensagem: "O seu grande amigo está muito doente. Os médicos consideram que o risco é máximo. E o pior é que a esposa dele, que sempre tratou dele, também está doente. Com risco igual. Os médicos acompanham dia e noite."
  
"Médico, aqui, era o Zé Eduardo Cardoso...", disse a delatora.

Essa e todas as demais mensagens supostamente escritas por Dilma foram deletadas por Mônica do Gmail. Ela só arquivou essa no Word porque, desesperada com seu conteúdo, quis mostra a João Santana. O arquivo foi entregue à Lava Jato como evidência (5).

Mônica disse ao MPF que respondeu Dilma com uma mensagem mais ou menos assim: "Existe alguma forma desses médicos nos ajudarem? O médico vai ajudar nosso amigo?"

Mas, como se vê no print acima, a mensagem foi outra: "Vamos visitar nosso amigo querido amanhã. Espero que não tenha nenhum espetáculo nos esperando. Acho que pode nos ajudar nisso né?"

Que seja mais uma incongruência de peso menor.

A questão é que a data que consta no rascunho (22 de fevereiro) não bate com os relatos que vieram depois.

Mônica disse que ficou nervosa porque Dilma não lia nem respondia o rascunho. "O rascunho ficou lá o tempo todo, e ela não apagava." A delatora, então, entrou em contato, por celular, com uma pessoa a quem chamou de Anderson, mas não deixou claro se era assessor da Presidência. Anderson também não respondia, então ela enviou mensagem e foi respondida pela esposa dele. Essas mensagens foram preservadas e entregue como evidências (6).

Ocorre que, segundo Mônica, Dilma ligou para um telefone fixo no escritório de João Santana na República Dominicana, na noite de 21 de fevereiro, avisado que "foi visto um mandado de prisão" contra o casal em cima da mesa de um agente da Polícia Federal. Santana teria ficado desesperado e perguntado se nada poderia ser feito. Dilma negou qualquer tipo de ajuda.

A questão é que faz pouco sentido que Mônica tenha feito o rascunho do dia 22 se Dilma fez a ligação no dia 21. Mesmo que o rascunho tenha sido feito antes do dia 22, por que, então a delatora não deletou, como era de praxe? E se não foi a data em que escreveu, por que foi conferir a mensagem no dia 22, após o telefonema de Dilma?

Certo é que a Operação Carajé foi deflagrada em 22 de fevereiro - com direito a um grande "espetáculo" midiático, como citado no rascunho - e o casal chegou ao Brasil para se entregar à Lava Jato, em Curitiba, no dia 23 de fevereiro.

Episódio 3
 Ainda houve um terceiro episódio relatado por Mônica Moura contra Dilma.

Em meados de 2015, pouco antes de ser preso, Marcelo Odebrecht teria levado Mônica a sua residência, em um bairro nobre de São Paulo, para conversar sobre a Lava Jato.

Em síntese, Marcelo fez um apelo para que Mônica convencesse João Santana a conversar com Dilma, para que algumas provas da Lava Jato que vieram da Suíça fossem anuladas. O argumento é público: a parceria teria ocorrido sem a participação do Ministério da Justiça, como determina a lei de cooperação internacional. "Marcelo queria que João conversasse com Dilma para que Zé Cardozo entrasse com isso."

"Ele [Marcelo] dizia que Dilma não ouvia ninguém, que diziam para ela que a Lava Jato ia chegar nela e ela dizia que não tinha nada a ver com isso. Ela sempre se esquivava", comentou Mônica.

Mônica diz que João Santana se negou a entrar nesse assunto com Dilma. Mas a delatora aproveitou uma oportunidade em que estava em Brasília a trabalho e abordou a ex-presidente. Dilma tería dado uma "resposta ríspida". "Eles são loucos, eu não posso me meter nisso. Não posso fazer nada. Como vou mexer nisso?"

Não há, no vídeo da delação, registro do que foi entregue para atestar a veracidade disso. Confira.

Do GGN

Lava jato induz a naturalização da exceção judiciária

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil 
Para Carol Proner, professora da Faculdade de Direito da UFRJ, a Operação Lava Jato é uma “aberração jurídica” dentro de um contexto de naturalização da exceção judiciária, que fica evidente na condução parcial do processo pelo juiz Sérgio Moro.

Em entrevista à página do deputado Wadih Damous (PT-RJ), a professora afirma que a há um ataque “frontal” ao princípio do justo processo. Ela critica também as gravações dos depoimentos, que mostram somente o interrogado, sem dar conta do contexto geral do interrogatório.

 “As perguntas vem do além”, diz a professora, lembrando que as gravações, depois, são vazadas com trechos selecionados.   
Vídeo, aqui
Para Proner, Moro se aproveita de um argumento genérico de combate à corrupção, o que não significa que ele pode fazer o que quiser dentro do processo. Ela também afirma que outra prova da parcialidade do julgamento é o cenário de embate entre o ex-presidente e o magistrado. “Colocar Lula e Moro como se fosse um duelo é muito grave”, afirma.

Ela critica as prisões preventivas, classificando-as como uma espécie de tortura psicológica, e lembrando que, “o mensalão não precisou de prisão preventiva para condenar pessoas”.

“O problema do autoritarismo judiciário e dos juízos de exceção é que, por um lado, excepciona-se para o combate à corrupção, por outro, essa excepcionalidade se espalha para outras decisões de juízes, e do próprio Ministério Público, quando acusa de forma pouco fundamentada, como também atinge qualquer verticalidade autoritária na nossa sociedade”, diz a professora, citando os casos de militantes do MST que foram presos com base na lei sobre organizações criminosas. 

“Acho perigosíssimo que a excepcionalidade que está se estabelecendo através da ação pseudo-exemplar deste justiceiro da corrupção possa se espalhar como se fosse a forma a ser seguida também em outros casos, com criminalização dos movimentos sociais”, ressalta Proner. 

Por último, a docente da UFRJ critica outros professores de Direito, que, em sua maioria, “esqueceram o diziam em suas aulas sobre Direito Constitucional”. 

Do GGN

Declarações de Santana e Mônica são mentirosas, Lula

 
Vídeo, aqui
Defesa diz que ex-presidente Lula "nunca tratou direta ou indiretamente do financiamento das campanhas eleitorais em que foi candidato ou apoiador", e que portanto "são mentirosas as afirmações atribuídas ao Sr. João Santana e à Sra. Monica Moura, claramente vinculadas à negociação de benefícios penais na Operação Lava Jato"; "Hoje está muito claro que citar o nome de Lula tornou-se condição obrigatória para que réus e até condenados obtenham os favores na promotoria no âmbito da Operação Lava Jato", afirmam os advogados, acrescentando que o casal não apresenta, em seus depoimentos, nenhuma prova contra Lula.

Após a divulgação do conteúdo das delações premiadas do casal João Santana e Mônica Moura, a defesa do ex-presidente Lula divulgou uma nota em que afirma que ele "nunca tratou direta ou indiretamente do financiamento das campanhas eleitorais em que foi candidato ou apoiador".

"São, portanto, mentirosas as afirmações atribuídas ao Sr. João Santana e à Sra. Monica Moura, claramente vinculadas à negociação de benefícios penais na Operação Lava Jato", dizem os advogados, lembrando que os marqueteiros das campanhas do PT não apresentaram nenhuma prova contra Lula, apenas relatos de "supostas conversas com terceiras pessoas".

"Hoje está muito claro que citar o nome de Lula tornou-se condição obrigatória para que réus e até condenados obtenham os favores na promotoria no âmbito da Operação Lava Jato", afirma a defesa ainda na nota.

Nota na Íntegra:

O ex-presidente Lula nunca tratou direta ou indiretamente do financiamento das campanhas eleitorais em que foi candidato ou apoiador.

Lula sempre considerou este assunto de competência dos tesoureiros do partido e das campanhas, que prestam contas à Justiça Eleitoral.

São mentirosas, portanto, as afirmações atribuídas ao Sr. João Santana e à Sra. Monica Moura, claramente vinculadas à negociação de benefícios penais na Operação Lava Jato.

Hoje está muito claro que citar o nome de Lula tornou-se condição obrigatória para que réus e até condenados obtenham os favores na promotoria no âmbito da Operação Lava Jato. Há pedido formal de investigação protocolado na Procuradoria Geral da República com base em denúncia veiculada por órgãos de imprensa.

Nenhum dos delatores, no entanto, apresentou qualquer prova das menções feitas a Lula. Todas as menções se referem a supostas conversas com terceiras pessoas, ao ouvir dizer ou a conclusões subjetivas.

Uma ação penal se decide na base de provas. E provas contra Lula não há, porque ele sempre atuou dentro da lei.

Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins

Do 247

Que Lula apresente sua pré-candidatura, disse Flávio Dino

Flávio Dino defende que Lula apresente pré-candidatura

"Acho muito importante que ele apresente a pré-candidatura", disse o governador do Maranhão; para ele, Lula "pode funcionar como locomotiva dessa agenda perdida ­­e que é a verdadeira"; "A meu ver ele deve apresentar isso logo, se dirigir ao país discutindo o programa de governo ­­que a lei permite", declarou. "É preciso que o conjunto de forças políticas que desejam que o Brasil saia desse momento nele enxergue nele um dos poucos, um dos raros estadistas que o Brasil tem", acrescentou.

O governador do Maranhão, Flávio Dino, defendeu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficialize a sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto. "Acho muito importante que ele apresente a pré-candidatura". Segundo o chefe do executivo maranhense, o petista "tem uma força popular que ninguém tem, e isso ajuda a descortinar essas outras agendas".

"Ele pode funcionar como locomotiva dessa agenda perdida ­­e que é a verdadeira. A meu ver ele deve apresentar isso logo, se dirigir ao país discutindo o programa de governo ­­que a lei permite. É preciso que o conjunto de forças políticas que desejam que o Brasil saia desse momento nele enxergue nele um dos poucos, um dos raros estadistas que o Brasil tem. Mesmo que você não goste dele, ele é um ponto de referência de um debate mais saudável, mais racional", disse. A entrevista foi concedida ao site Uol.

Ao comentar sobre a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, o governador afirmou que 80% das decisões da Justiça "tecnicamente são corretas, eu teria dado idênticas decisões". "O problema é aquele dito da sabedoria popular: o demônio mora nos detalhes. Acho que têm algumas situações que geram questionamentos em razão dessa apropriação de uma causa justa para fins políticos", complementou.

"Hoje isso é muito evidente, e acho muito ruim para os próprios resultados da Lava Jato. Essa operação serviu de cavalo de Troia para coisas muito ruins, como o impeachment, que foi uma experiência terrível do ponto de vista político e jurídico. Não é pouca coisa violar uma vontade popular sem nenhuma causa constitucional legítima. A Lava Jato jogou essa ideia que, além do trabalho processual técnico, há um trabalho politico; e isso não é papel do Judiciário", acrescentou.

Segundo Flávio Dino, "objetivamente há uma conduta política na linha que, por exemplo, juiz e procurador mobilizam sociedade". "É papel de juiz e procurador liderar mobilização social? Nunca vi isso na minha vida. No Brasil se naturalizou isso. Juízes e procuradores fazem vídeo, lideram manifestações, convocam o povo a se posicionar por uma causa ou outra. Isso é espantoso, nunca ocorreu em lugar no mundo e está acontecendo agora", afirmou.

Sobre Michel Temer, o governador disse que esperava mais diálogo. "Eu conheço bastante o Michel Temer; tenho muito respeito pessoal, pela trajetória profissional; estudei nos livros dele na faculdade de direito; convivi com ele na Câmara. Então, esperava um governo com agenda mais aberta, de mais de pactuação, e não de polarização do País".

Do 247

Morre o crítico literário Antônio Cândido aos 98 anos

Foto: André Gomes de Melo

Antônio Cândido, crítico literário e sociólogo, faleceu aos 98 anos na madrugada desta sexta-feira (12). Candido estava internado no Hospital Albert Einstein com problemas no intestino. O velório está sendo realizado no próprio hospital, no bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo.

Candido escreveu livros como Introdução ao Método Crítico de Silvio Romero, Formação da Literatura Brasileira e Literatura e Sociedade. Sua obra é considerada como uma das mais fundamentais da intelectualidade no Brasil. 
“Tive a sorte de viver um tempo de esplendor da literatura brasileira. Mas avaliações erradas poderiam custar o emprego”, afirmava o crítico literário. Leia mais abaixo.

Gilberto Cruvinel, que tem seu blog no Jornal GGN, recuperou uma passagem da vida de Antônio Cândido, por ocasião da morte de Mário de Andrade. Envia-nos Gilberto:

Quando morreu Mario de Andrade, perguntaram a Antonio Cândido

"Durante o velório, Edgard Cavalheiro, escritor bastante em voga naquele momento, autor de biografias de Fagundes Varela e de Monteiro Lobato, me perguntou, no jardinzinho que havia na frente da casa: "Para encontrar na literatura brasileira uma morte desta importância é preciso voltar até quando?" Respondi: "Até a de Machado de Assis." "Pois é exatamente o que estou pensando", disse ele. "Machado de Assis em 1908 e Mário de Andrade agora". O enterro foi no Cemitério da Consolação, muito concorrido, e impressionava a tristeza profunda de todos, como se todos sentissem uma espécie de enorme vazio na cultura do Brasil.“

Podemos dizer igualmente que a morte de Antônio Cândido  deixa o mesmo enorme vazio na cultura e na nossa cidadania. E num momento em que o Brasil está tão carente de homens de grande estatura.“

E, a seguir, a matéria do Estadão.

Morre Antonio Candido aos 98 anos, clique aqui.

Crítico literário e intelectual foi pensador fundamental do Brasil no século 20

O crítico literário e sociólogo Antonio Candido, dono de uma das obras mais fundamentais da intelectualidade brasileira, morreu aos 98 anos.

Ele estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, com problemas no intestino, de acordo com Edla Van Steen. O velório será no próprio hospital (Av. Albert Einstein, 627 - Morumbi, São Paulo), das 9h às 17h.

Autor de livros fundamentais como Introdução ao Método Crítico de Silvio Romero (1944), Formação da Literatura Brasileira (1959), Literatura e Sociedade (1965), entre muitos outros, Candido formou uma maneira de pensar a literatura brasileira que influenciou toda a crítica literária do País desde então.

Em 1956, ele criou o Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo, caderno que se tornou paradigma do jornalismo cultural no Brasil.

O crítico e ensaísta se definia como um sobrevivente. "Sou provavelmente o último amigo vivo de Oswald de Andrade, um escritor dono de uma personalidade vulcânica", comentou Candido, em rara entrevista, em Paraty, onde, em 2011, fez a conferência de abertura da 9.ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Como o homenageado era justamente o autor de Marco Zero, Candido decidiu quebrar seu silêncio - não gostava de ser entrevistado tampouco de fazer aparições públicas.

O ensaísta mantinha fortes lembranças de Oswald (1890-1954) justamente por causa de sua personalidade marcante. "Ele tinha traços de gênio: mesmo não sendo um grande leitor, Oswald captava a essência dos assuntos e discursava como grande entendedor."

A amizade entre eles começou depois de uma crise – o escritor não gostou de uma crítica escrita por Candido sobre Marco Zero, romance de 1943. "O comunismo fez mal para ele, que passou a escrever uma literatura mais engajada, longe da linguagem telegráfica que era seu melhor estilo", contou Candido. "Eu era um jovem crítico, estava com 24 anos, e não aceitava aquele silêncio que rondava a obra de Oswald, considerado um autor inatacável."

Passado o tempo, o próprio Antonio Candido reconheceu o exagero de sua escrita, a ponto de produzir um longo ensaio em que reconhecia o valor literário do autor. Foi o suficiente para estabelecer uma amizade profunda e sincera, que resistiu até às novas críticas de livros.

O exercício, aliás, era arriscado. Candido comentou que o crítico literário de sua época era obrigado a lidar com nomes que, naquele momento, ainda eram desconhecidos.

"Certo dia, recebi um livro chamado Perto do Coração Selvagem, assinado por Clarice Lispector. Pensei que fosse um pseudônimo, porque isso não é nome de gente, Lispector. Eu não sabia quem era e precisava dizer se o livro era bom ou era ruim. Ou seja, minha responsabilidade como crítico era muito grande, pois lidava com autores como Murilo Mendes e Carlos Drummond de Andrade, que ainda não tinham conquistado notoriedade. Tive a sorte de viver um tempo de esplendor da literatura brasileira. Mas avaliações erradas poderiam custar o emprego."

Candido lembrou que, em sua época, a crítica era militante e alguns jornais tinham o chamado crítico titular. No seu caso, ele era o do jornal Folha da Manhã, enquanto o do Estado era Tobias Barreto. "O crítico titular tinha muito autoridade, porque representava o jornal. Costumo dizer que a crítica literária daquele tempo era uma atividade de alto risco."

Trabalhou na função durante 24 anos e se orgulhava, por exemplo, de ter escrito o primeiro artigo analítico sobre a obra de João Cabral de Melo Neto. "Ele não sabia disso. Foi Drummond quem o informou."

Com o tempo, a função de resenhista foi gradativamente assumida pelos teóricos de universidade, que preferiam não correr risco. "Eles escreviam apenas sobre escritores já mortos, com a obra consolidada, o que evitava julgamentos apressados se fosse o caso de autores ainda vivos."

Para ele, a crítica era essencialmente exercida por teóricos universitários. Candido dizia conhecer a maioria, pois foram seus alunos, formando a "paróquia", como gosta de ironizar. "Admiro muito as novas gerações de críticos, todos muito eruditos", comentou, citando Roberto Schwarz e José Miguel Wisnik, entre outros.

Exibindo uma disposição invejável, a que atribui à boa genética, Antonio Candido reclamou, no entanto, de fazer o trajeto entre São Paulo e Paraty. "Isso me ensinou que não posso mais viajar de carro." Também lembrou que vivia "encalhado" no passado, pois ainda utilizava uma máquina de escrever, dispensando computador, celular e outros produtos da modernidade. Também desconhecia o que se produz atualmente na literatura, preferindo a releitura de clássicos. "Faz 20 anos que não leio nada de novo. Prefiro Dostoievski, Proust, Eça de Queiroz."

Do GGN