segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Os golpistas não podem ser perdoados, por Aldo Fornazieri

Por mais respeito e admiração que Lula possa suscitar, ele também erra e nisso ele não é isento do crivo crítico de quem participa do debate público. Lula errou ao anunciar o perdão aos golpistas no final da nova fase das caravanas, agora em Minas Gerais. O gesto de Lula não deve ser entendido como uma manifestação pessoal de bondade cristã. Não se trata disso. O perdão foi um ato eminentemente político. É no aspecto e no conteúdo político que o seu gesto se constituiu num erro. Em primeiro lugar, a declaração de perdão foi absolutamente desnecessária. Até porque os golpistas não pediram perdão nem a Lula, nem a Dilma e nem ao povo brasileiro. Assim, nem se sabe se estão arrependidos e não merecem um perdão unilateral e espontâneo de quem quer que seja.
O perdão de Lula pode ser discutido a partir de dois ângulos diferentes: 1) sob o ponto de vista do significado em si da manifestação de perdão, o gesto enquanto tal, seja ele emanado de um sentimento cristão ou de um sentido laico; 2) sob o ponto de vista tático, tal como argumentam alguns petistas, visando dar início a um processo de alianças com partidos ou setores que se posicionaram em favor da derrubada de Dilma.
Analise-se o primeiro ponto de vista, o ato de perdoar em si, seja do ponto de vista cristão, seja do ponto de vista laico, o que, na essência, é a mesma coisa. Foi a pensadora Hannah Arendt quem discutiu esse problema de forma mais aprofundada. Ela parte da tese correta de que as ações humanas, incluindo a política, agregam duas características irredutíveis: a irreversibilidade e a imprevisibilidade. O que importa aqui é a irreversibilidade: as ações humanas, depois de levadas a cabo, não podem ser desfeitas. Não é possível desfazer o que se fez. Por exemplo: não é possível desfazer o golpe contra a Dilma. Aqueles atos foram feitos e não podem ser desfeitos. O que se pode fazer, é estabelecer um novo começo: anular o golpe, prender os golpistas, derrotá-los ou perdoá-los. Anular o golpe, no STF, não desfaz a ação dos golpistas.
Se o remédio para a imprevisibilidade da política e das ações humanas consiste em prometer e comprometer-se com as promessas, no caso da irreversibilidade das ações, o remédio consistiria no perdão. O pressuposto de Arendt, quanto à faculdade de perdoar, evidentemente é o de que, quando se erra, deve-se pedir perdão. O perdão seria o contrário da vingança e permitiria estabelecer um novo começo, buscando superar os erros do passado e estabelecendo uma nova promessa, uma nova aliança.
Arendt, contudo, faz uma ressalva nesse exercício da faculdade de perdoar: é uma ação válida quando não se trata de crime e do mal voluntário. Seria um perdão relativo àquele conjunto de atividades ordinárias que implicam, geralmente, em ofensas não intencionais, segundo aquele ditame de Jesus Cristo do perdão aos homens "porque eles não sabem o que fazem".
Neste contexto, é difícil supor que entre os que votaram a favor do impeachment existisse alguém que não soubesse o que estava fazendo. Temer e a camarilha do PMDB eram figuras conhecidas. O golpismo de Cunha e de Aécio, dentre outros, era conhecido. O programa do PMDB, antinacional antidireitos, era conhecido. A ausência de crime de responsabilidade e a motivação puramente política contra Dilma eram coisas sabidas.
Ademais, quando se trata de política e de poder, é sempre preciso recorrer aos ensinamentos de Maquiavel, alguns dos quais reforçados por Max Weber. Maquiavel nota que os preceitos morais cristãos aplicados à política, notadamente a piedade, a resignação, o perdão, fizeram com que o próprio cristianismo contribuísse de forma decisiva para que o mundo fosse dominado pelos malvados. Não por acaso, Maquiavel foi o descobridor da moral própria da política - a virtú - que é diferente da moral cristã e da moral do senso comum. Em política, às vezes, é preciso agir mal do ponto de vista da moral cristã e do senso comum, para produzir o bem dos governados. Em outras, quando o governante age segundo as virtudes cristãs e do senso comum para produzir o bem, poderá acabar produzindo o mal para o povo.
Weber retoma essa discussão mostrando os paradoxos entre a ética  da convicção, própria das religiões e dos grupos radicais, e a ética da responsabilidade, inerente ás ações políticas adequadas. Mostra que para a ética da responsabilidade não faz sentido oferecer a face esquerda quando alguém te bate na direita, doar todos os teus bens para alcançar o reino dos céus ou, ainda, jogar fora as armas durante uma guerra em nome da paz.
A impressão que dá é que, em alguns casos, o comando petista perdeu a dimensão desses paradoxos da política e da moral. Não é concebível que ministros da Dilma deixaram ou governo três dias antes da votação do impeachment para voltar à Câmara votar contra a presidente. De duas uma: ou foi confiança em demasia ou foi perda de noção de como se trava a luta pelo poder.
Desta forma, perdoar genericamente não é pedagógico, principalmente para os jovens lutadores que compreenderam a natureza desse golpe e lutam contra as desgraças que ele significa. A democracia requer compromissos inquebrantáveis, que não podem ser escamoteados por movimentos táticos de interesses partidários.
Lula e as alianças                                           
Por outro lado, é preciso perceber que o comprometimento com o golpe não foi no mesmo grau entre aqueles que apoiaram o impeachment. Um grupo de políticos praticou a conspiração, a traição e o golpismo de forma deliberada: quase toda a cúpula do PMDB, boa parte da cúpula do PSDB, lideranças dos partidos do centrão etc.. Trata-se de inimigos da democracia, de pessoas que sabiam que estavam violando a Constituição e, portanto, praticando o crime e o mal voluntário. Mesmo que essa gente peça perdão, não é possível perdoá-los. Afinal de contas, a política não trata da salvação de almas. Se quiserem remediar o mal que fizeram, que estabeleçam um novo começo que seja capaz de mostrar a sinceridade de seu arrependimento de forma prática.
A outra questão que a concessão do perdão de Lula suscitou é quanto ao seu sentido tático - a busca de alianças com partidos ou setores que se posicionaram em favor do golpe. Mesmo que a intenção tenha sido essa, o gesto do perdão é desnecessário. Lula e o PT precisam jogar às claras. A questão é: é factível, razoável e legítimo buscar alianças com setores que votaram pró impeachment?
Parece ser razoável considerar que alguns setores partidários que votaram em favor do golpe sejam democráticos e progressistas, mas que comentaram um grave erro de   avaliação e de ação. Também não se trata de perdoá-los, mas de estabelecer um novo começo, com base em um programa e em compromissos com a democracia, com a igualdade, com a justiça e com o desenvolvimento nacional.
Tanto nas guerras quanto nas estratégias políticas, o uso de táticas para enfraquecer o lado inimigo sempre foi praticado. Mas, evidentemente. é preciso saber que há um limite nisso, que é preciso estabelecer uma relação adequada entre os fins e os meios para que os fins não resultem anulados pelos meios.
O que está em jogo é que, se é legítimo e pertinente que Lula e o PT busquem atrair setores que ontem votaram no impeachment, a frente que vai se formar em torno da candidatura petista precisa ter uma fisionomia diferente das frentes de conciliação ampla que se formaram nas experiências petistas pré-golpe. Trata-se agora de formar uma aliança democrática e progressista e de propor um programa que expresse este conteúdo a partir de compromissos claros e abertos em um processo igualmente claro e aberto.
Reeditar a velha conciliação, pura e simples, significa reeditar uma experiência que não deu certo e que custou muito à democracia, ao povo, aos pobres e aos trabalhadores. Lula e o PT precisam abrir mão de seu hegemonismo, construindo de forma colaborativa, um novo processo com os progressistas e com as esquerdas. Se não for assim, Lula e o PT correm o risco de agregar pouco no seu flanco direito e de perder muito no seu flanco esquerdo.

Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP). 
GGN

domingo, 5 de novembro de 2017

Decreto 9188 de Temer é o derradeiro tiro na dignidade do Brasil, diz o ex-ministro Eugênio Aragão

O que estamos esperando?
A publicação do Decreto nº 9188 no meio do feriadão enforcado pela ministra Carmen Lúcia põe a nu a desfaçatez do governo golpista e a pasmaceira que domina nossa sociedade. O Sr. Michel Temer, que conseguiu se manter na presidência usurpada graças a um leilão de ativos públicos a deputados, promove, agora, o leilão de todas as sociedades de economia mista numa penada só. Banco do Brasil, Eletrobrás, Petrobrás… a prata da casa pelas usuais misérias do mercado que “precifica” a ganância de governos corruptos. Foi assim na privatização de FHC, que rendeu míseros recursos não vistos por brasileiras e brasileiros, supostamente usados, em parte, para garantir a reeleição. Agora, com o caixa vazio, sem perspectiva de poder distribuir prebendas para parlamentares que aderem, desde que bem pagos, à liquidação de direitos, a venda das estatais é o derradeiro tiro na dignidade do Brasil.
Que a mídia comercial nada diga, é natural. O decreto teve que ser “prospectado” por assíduos leitores de diários oficiais. Mas o pior é que a sociedade não se move. Aceitou sem reclamar a derrubada da presidenta eleita por um legislativo ganancioso, vem aceitando arroubos malcriados de juízes e até ministros do STF fora dos autos, aceita a instalação de uma base americana na Amazônia, aceita a venda da estação de lançamento de foguetes de Alcântara aos mesmos americanos, aceita a entrega do pré-sal por preço de banana a multinacionais estrangeiras, aceita mudança na lei de diretrizes e bases por medida provisória, aceita a elevação da contribuição previdenciária de servidores públicos sem qualquer debate sério, aceita o perdão de dívidas a sonegadores endinheirados e bancos, aceita a reforma trabalhista que acaba com qualquer perspectiva de dignidade no emprego, aceita o perdão a trabalho indigno equiparado a escravo, aceita o aumento em mais de 50% do gás de cozinha, aceita provocações e mais provocações de um bando que se intitula governo sem qualquer legitimidade. Sem reagir. Como se fôssemos todos feitos de goma elástica, sem espinha dorsal.
Batemos palmas a um discurso idiota e mal elaborado de “combate à corrupção”, que só tem logrado destruir o parque industrial estratégico do país e tirar o emprego de centenas de milhares de cidadãs e cidadãos. E deixamos estar tudo como está: o usurpador do executivo vendendo o que é nosso para se safar da justiça, ao mesmo tempo em que ricos delatores são, depois de confessados seus crimes e inculpados os alvos políticos da investigação, deixados em paz, a curtirem seu whisky de 30 anos no novembro tão azul quanto o rótulo da garrafa da ilustre bebida.
E così la nave và…
No Chile, em que o liberalismo chicaguiano venceu a esperança, foi preciso um sangrento golpe militar para a tarefa de que aqui se desincumbem com a tranquilidade do ladrão de cofre residencial que sabe a família de férias. Nada de gritos, choros ou ranger de dentes. E ainda fazem dancinha de bunda gorda na nossa cara, que nem o líder daquilo que ousam chamar de governo na Câmara dos Deputados.
Cadê nossa altivez, nossa honra, nossa autoestima? Será que valeu a pena sacar uma presidenta honesta por isso? Por essa pinguela para a barbárie? Será que não pensamos nas nossas filhas e nos nossos filhos, sem futuro, territorializados numa economia globalizada? Sem ativos nacionais, nosso País está perdido. Está condenado a ser um ator de terceira divisão nesse mundo de cão que se nos desenha para as próximas décadas.
O que falta fazer para tirar o traseiro do sofá, para tirar os dedos do smartphone e reagir? Quando nos atentarmos para o estrago, será tarde demais e o Sr. Temer nada pagará, porque estará descansando em paz com seu bilau televisado. Mas nós teremos saudades do tempo em que poderíamos ter dado um rumo diferente a nosso destino e não demos.
É melhor reagirmos. Antes tarde do que nunca.
GGN

sábado, 4 de novembro de 2017

É preciso leva a sério a autodefesa antifascista, por Luís Felipe Miguel

Outro dia, cometi o desatino de entrar na página de um dos líderes da campanha para proibir Judith Butler de falar no Brasil - um olavete de poucas luzes e muitos milhares de seguidores, que divide suas postagens entre ataques à filósofa estadunidense, protestos de fidelidade canina ao guru de Richmond e a defesa da ideia de que é preciso anular a Reforma protestante.
A mistura de má fé, desinformação deliberada e ignorância não causa espanto, pois é o feijão com arroz desse pessoal. O espantalho da "ideologia de gênero" é mobilizado generosamente. Uma observação de Butler - de que suas contribuições à discussão sobre gênero são antigas e hoje o foco de sua reflexão é outro - é apresentada como evidência de que ela estaria amarelando diante da campanha contra sua presença no Brasil. Argumenta-se que não há tentativa de censura, pois o abaixo-assinado para calá-la tem mais de 200 mil apoios, uma falácia lógica tão bizarra que não pode ter passado desapercebida a quem a cometeu.
O que é grave é a recusa explícita à noção de que se deve "combater ideias, e não pessoas". Ao contrário, diz o cruzado anti-Butler, são as pessoas que devem ser combatidas. Os exemplos são chocantes: "Tivesse a pobre Igreja combatido heresias, sem advertir, convocar e, então, excomungar hereges, não estaríamos aqui" (no lugar de "excomungar" é fácil colocar "queimar"). Ou, então, numa aproximação talvez inesperada: "Stálin se fixou no poder matando Trotsky, e não combatendo seus ideais internacionalistas apenas".
É um chamamento à violência e mesmo ao assassinato político. E não vem de um maluco isolado qualquer; ele apenas verbaliza de forma mais aberta e mais extremada o que já é o modus operandi da direita bolsonariana e mebelística, que aposta na intimidação física e no cerceamento pela força da expressão de vozes dissidentes.
Com a ruptura da democracia, o jogo político está mudando, infelizmente para pior, para muito pior. Cabe à esquerda entender isso. Nós queremos o livre debate de ideias, porque nele, não tenho dúvidas, nós ganhamos de lavada. Mas não podemos assistir passivamente ao fechamento de nossos espaços, muito menos confiar num aparato policial e judiciário que se posiciona sem disfarces ao lado de nossos adversários.
Mesmo o reverendo Martin Luther King sabia que uma marcha não-violenta pelos direitos civis às vezes dependia do apoio de grupos de autodefesa negra, como os Deacons for Defense and Justice. Já passou da hora da esquerda brasileira levar a sério a necessidade da autodefesa antifascista.

 GGN

Com a Cyrella, a mais atrevida tacada de Doria, por Luis Nassif

João Doria Jr é um bem sucedido homem de negócios. Por tal, não se entenda o empreendedor convencional, ou o gestor. Toda a carreira empresarial de Doria foi feita no campo dos patrocínios, permutas e lobbies, colocando empresários em contato com autoridades através dos múltiplos fóruns da LIDE[1]. A missão da LIDE é montar eventos que permitam a empresários e autoridades estreitar relacionamentos, a exemplo da Cyrella.[2]
As autoridades vão porque querem um público de empresários e CEOS. E estes vão porque querem contato direto com as autoridades.
Simples assim. Em cima dessa fórmula, Doria montou inúmeros filhotes da LIDE, tanto setoriais – LIDE do agronegócios, da exportação etc – quanto regional, com filiais inclusive na América Latina.
Agora, está completando a inovação tornando a Prefeitura uma filial da LIDE. E aí entra em um terreno pantanoso, principalmente se os Ministérios Públicos fizerem a ligação entre os eventos da LIDE e as ações de Doria na prefeitura.
É como se ele acenasse para os membros da LIDE: o coroamento do investimento de vocês é que, a partir de agora, não será mais necessário investir em relacionamento: vocês serão as autoridades.
É o que aconteceu com essa nomeação escandalosa de Claudio Carvalho de Lima, vice-presidente executivo da Cyrella para a Secretaria das Subprefeituras.
A Prefeitura é a agência reguladora do setor de construções e incorporações de edifícios de São Paulo. Tudo passa pela Prefeitura, do inicio ao fim da obra, o relacionamento com a Prefeitura é essencial para uma grande incorporadora, do alvará ao HABITE-SE, da mão de transito a permissão de estacionamento e Zona Azul, do ISS na construção, zona de alta arbitragem à altura de prédio.
Cabe à Prefeitura defender a lógica do zoneamento, para impedir abusos e distorções.
A Cyrella é a maior empresa do setor.  E as subprefeituras são a principal moeda de troca com vereadores. Agora entrega-se essa moeda de troca a um executivo da Cyrella, que tem enormes interesses que dependem da Câmara Municipal, a começar pelo caso do Parque Augusta. Mesmos os piores prefeitos que passaram pela cidade não ousaram uma esbórnia tão ampla, assim, entre interesses públicos e privados.
É uma audácia sem desconfiômetro, típico da ambição sem limites de Doria, para suas investidas políticos-financeiras.
Através da Câmara, e usando as Subprefeituras como moeda de troca, será possível alterar zoneamentos fixados pelo Plano Diretor, permitindo às incorporadoras a jogada óbvia: comprar terrenos em Zona 1, vedadas a construção de edifícios e, em seguida, alterar as condições da região.
GGN


[1] Empresa de consultoria de propriedade de Dória prefeito de São Paulo, que reúne empresários e gestores públicos para negociarem.
[2] Uma das maiores empresas paulista do ramo imobiliário (incorpora, projeta, constrói, vende, aluga etc.). 

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Tacla Durán diz que procuradores da lava jato ameaçaram sua família para forçar delação, por Joaquim de Carvalho

Na quarta matéria da séria sobre a indústria da delação premiada da Lava Jato, feita em conjunto pelo Jornal GGN e o DCM, destacamos os principais trechos do áudio do encontro dos deputados Paulo Pimenta e Wadih Damous com o advogado Rodrigo Tacla Durán. As anteriores estão aqui.
Os deputados Paulo Pimenta e Wadih Damous, integrantes da CPI da JBS, viajaram por conta própria a Madri, na Espanha, e ouviram o advogado Rodrigo Tacla Durán, processado pela Lava Jato por lavagem de dinheiro.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Quatro redes de TV detêm mais de 70% da audiência no Brasil

Repórteres Sem Fronteiras lista donos das 50 maiores empresas do país, pertencentes a 26 grupos econômicos. ONG denuncia que políticos são proprietários de veículos de comunicação, apesar de Constituição proibir.
Mídia no Brasil ainda é controlada por poucos, diz estudo
Repórteres Sem Fronteiras lista donos das 50 maiores empresas do país, pertencentes a 26 grupos econômicos. ONG denuncia que políticos são proprietários de veículos de comunicação, apesar de Constituição proibir.
Em pleno século 21, o mercado de mídia no Brasil é dominado por "dinastias familiares”, que concentram poder político e econômico e detêm uma ampla rede de poder, cuja malha se estende por todo o território brasileiro. Essa é a conclusão de um relatório divulgado nesta terça-feira (31/10) pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
"Nem a tecnologia digital nem o crescimento da internet ou esforços regulatórios ocasionais limitaram a formação desses oligopólios”, ressaltam os autores do levantamento, realizado pela RSF em parceria com a ONG brasileira Intervozes.
O Monitoramento da Propriedade da Mídia no Brasil – ou, em inglês, Media Ownership Monitor (MOM) – compara a concentração de mídia às propriedades de terra no país. 
"Assim como os ruralistas, antes chamados de latifundiários, os proprietários dos meios de comunicação possuem um vasto território nas ondas das TVs e das rádios, combinando interesses econômicos e políticos com o controle rigoroso da opinião pública”, acrescenta o texto.
Pior dos 11 países pesquisados
A pesquisa, financiada peloMinistério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha,revela o nível de concentração da mídia brasileira, mostrando quem são seus proprietários e sua atuação no setor da economia. A investigação, realizada durante quatro meses, abrange os 50 veículos de comunicação com maior audiência no Brasil e os 26 grupos econômicos que os controlam.
O Brasil ocupa a pior colocação dos 11 países já analisados pela RSF – Colômbia, Peru, Camboja, Filipinas, Gana, Ucrânia, Peru, Sérvia, Tunísia e Mongólia também foram alvo da pesquisa.
O país recebeu a pior nota em quase todos os indicadores, nos quais o estudo se baseia para medir os riscos para a pluralidade da mídia, avaliando itens que vão desde concentração de propriedades e de audiência, passando por regulamentação sobre propriedade de mídias, até o nível de transparência sobre o controle das empresas. Apenas um dos indicadores brasileiros não foi considerado como "de alto risco para a pluralidade da mídia”.
A falta de transparência no Brasil sobre o controle acionário das principais empresas de comunicação chamou a atenção. "Até agora, o Brasil foi o primeiro país pesquisado em que nenhuma das empresas respondeu a nossas perguntas sobre quem são os seus proprietários”, relata Olaf Steenfadt, diretor do projeto MOM e integrante da Repórteres Sem Fronteiras Alemanha, em entrevista à DW. "Isso, nunca tínhamos visto antes”, acrescenta.
A pouca transparência sobre a propriedade dos grupos de comunicação, segundo o levantamento, se deve também à falta de uma obrigatoriedade legal para divulgação da estrutura acionária, além da inexistência de um monitoramento pelo poder público. Alguns grupos de mídia se negaram a responder, alegando razões "estratégicas" ou relacionadas à concorrência.
Grandes redes de TV pertencem a grupos que também controlam emissoras de rádio, portais de internet, revistas e jornais.
Concentração
"Falta no Brasil um quadro regulador", diz Steenfadt. "As poucas leis que existem não são implementadas. E as empresas não veem motivo para se abrirem de alguma forma, para serem transparentes”, lamenta. "A mídia não é como qualquer outro setor econômico. É importante saber quem a controla", opina o especialista. "Os cidadãos têm direito de conhecer os interesses por trás dos meios de comunicação que consomem."
O MOM-Brasil disponibiliza esses dados em uma página de internet, em português e inglês. O site contém um banco de dados com os nomes dos proprietários dos veículos de mídia, revelando também as ligações deles com grupos econômicos e empresas em outros setores, sistematizando as informações e as tornando acessíveis não só a pesquisadores, como também ao público em geral.
O levantamento mostra haver concentração dos centros de poder da mídia nas regiões Sul e Sudeste do país. A sede de três em cada quatro desses grupos fica na maior cidade do país, São Paulo.
No segmento de televisão, mais de 70% da audiência nacional é concentrada em quatro grandes redes, das quais uma detém mais da metade da audiência: a Rede Globo. Essas grandes redes nacionais ampliam ainda mais seu poder sobre a informação, destaca o MOM, através do domínio adicional de múltiplos segmentos. Grandes redes nacionais de TV aberta pertencem a grupos que também controlam emissoras de rádio, portais de internet, revistas e jornais impressos, segundo o estudo.
"Coronelismo eletrônico”
A pesquisa constata que, embora a Constituição brasileira proíba que políticos controlem empresas de mídia, 32 deputados federais e oito senadores possuem meios de comunicação, ainda que não sejam seus proprietários formais.
"Outras famílias proprietárias, como os Câmara, Faria e Mesquita, também têm membros em cargos políticos”, diz comunicado divulgado pelo MOM-Brasil. "A família Macedo, que controla o grupo Record e a Igreja Universal do Reino de Deus, também domina um partido político, o Partido Republicano Brasileiro (PRB), que conta com um ministro no governo federal, um senador, 24 deputados federais, 37 deputados estaduais, 106 prefeitos e 1.619 vereadores”, contabiliza o levantamento.
O estudo chama a concentração de poder na mídia brasileira de "coronelismo eletrônico”. Os autores da pesquisa afirmam que em vários estados as afiliadas das grandes redes de televisão e rádio são controladas por empresas de políticos ou de famílias com tradição política.
"Um exemplo disso é o grupo do qual fazem parte a TV Bahia (afiliada da Rede Globo) e o jornal Correio da Bahia, controlado pela família Magalhães, do atual prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, e do ex-governador da Bahia, senador e ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães”, ressaltam os editores do levantamento.
GGN

O duro acerto de contas da mídia com ela mesma, por Luis Nassif do Jornal GGN

Fala-se muito na ausência de Estadistas nos diversos poderes da República e nos diversos partidos políticos. Por tal, definem-se aquelas pessoas com visão clara sobre um futuro incerto, que se propõem a construir as bases para a nova era, desviando-se das armadilhas do curto prazo.
Faltou Estadista na mídia.
Ontem, dois diretores de redação procederam a uma autocrítica tardia dos abusos cometidos na Lava Jato. Admitiram que foram a reboque dos vazamentos, que assassinaram reputações de inocentes e que não cumpriram o papel de filtros da informação.
Lembro-me do longínquo 1999, na CPI dos Precatórios. Embora de modo mesmo intenso, havia um vazamento escancarado de informações, de todos os lados, sem que houvesse uma estratégia de cobertura, com cada veículo querendo dar seu furo e comendo nas mãos das fontes.
O principal responsável pelo golpe, ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf, conseguia passar incólume pelo noticiário. Desenvolvi uma narrativa à parte da cobertura, juntei peças que estavam soltas e, remontado o quadro, aparecia nitidamente o papel de Maluf.
A não ser o caso do jornalista Fernando Rodrigues, que saiu nitidamente em defesa do ex-prefeito, tentando desqualificar as evidências que apontavam para ele, o restante da blindagem era fruto exclusivo da falta de preparo da cobertura. Narro essa guerra jornalística no meu “O jornalismo dos anos 90”.
Instado por Otávio Frias Filho, apresentei internamente sugestões para coberturas desse tipo.
O primeiro passo seria criar uma Sala de Situação, com jornalistas experientes, na redação, fora do calor das batalhas diárias, juntando as informações e planejando a cobertura. O grande desafio seria montar uma narrativa inicial, plausível, uma espécie de fio de Ariadne que ajudasse a cobertura a se localizar nos labirintos da notícia.
Depois, ir juntando informações em torno da hipótese inicial, com suficiente discernimento e flexibilidade para mudá-la, caso os fatos levassem a isso.  Se fugiria da armadilha de procuradores que se tornam prisioneiros da narrativa inicial e passam a enfiar provas a marteladas para manterem a coerência com o errado.
No caso da Lava Jato houve mais do que essa falta de competência da cobertura da mídia. Havia o propósito político claro de usar as informações como armas de guerra. Não apenas na Lava Jato, mas em toda cobertura jornalística desde 2005. Era óbvio que, no mar de notícias fake que se seguiu à ampliação das redes sociais, a grande estratégia do jornalismo seria o filtro. Preferiam ser os alavancadores das falsas notícias.
Em qualquer grande país, há um grande jornal de centro-esquerda, outro de centro-direita, mas ambos respeitando integralmente a notícia. O respeito à notícia faz parte das qualidades intrínsecas do jornalismo, como gelar é função da geladeira, cozinhar do fogão. A geladeira pode ter mil badulaques. Mas sua qualidade intrínseca é de gelar. Os veículos podem ter linhas políticas distintas. Mas sua qualidade intrínseca é bem informar.
Tudo isso foi deixado de lado. Agora se tem esse desafio inglório de divulgar pesquisas para tentar explicar ao leitor que o jornalismo pátrio é o remédio contra as fakenews.
Que jornalismo? O que anunciou a invasão das FARCS no Brasil, os dólares de Cuba remetidos em garrafas de rum, a ficha falsa de Dilma, o respeitado assessor que não passava de um pequeno estelionatário, o esgoto diário e semanal despejado sobre o país durante tanto tempo?
Por trás do macartismo enlouquecido, praticou-se toda sorte de jogadas. E, como não existe Estadista na mídia, permitiu-se, nesse período, a consolidação final do poderio da Globo.
Enquanto jornais transformavam blogs em seus adversários preferenciais, a Globo abocanhava parcelas cada vez maiores da publicidade das estatais.
Hoje se tem essa situação humilhante, dos jornais equilibristas. Na reportagem, denúncias contra Michel Temer, para impedir a desmoralização final dos veículos. Nos editoriais, apoio, para impedir o corte de publicidade.
Ainda vai levar algum tempo para perceberem que os maiores defensores do jornalismo foram os jornalistas que denunciaram essas distorções monumentais, que acabaram por liquidar com a credibilidade do jornalismo pátrio. Mas que só conseguiram externá-las longe dos jornais. O pluralismo dos anos 90 tinha se transformado em muralha intransponível.
GGN

“Odebrecht deu extratos falsos em delação”, Tacla Duran

Os deputados Paulo Pimenta e Wadih Damous  fizeram o que o Sérgio Moro se recusa a fazer.
Os divulgaram ontem à noite a gravação da entrevista que fizeram com o ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Durán. Nela, ele confirma e detalha a afirmação de que parte dos documentos entregues pela Odebrecht em seu acordo de delação premiada é falsa.
Tacla Durán diz que os impressos fogem ao padrão do banco, o Melon Bank, que seria gerido, inclusive, por funcionários e operadores da empreiteira.
É, talvez, um indício da razão da teimosia da 13a Vara Criminal em negar às defesas dos seus réus o acesso ao tal Sistema Drousys, que reteria a contabilidade do Departamento de Operações Estruturadas da empresa, canal por onde escorria o dinheiro de propinas.
Seja como for, a procuradora Raquel Dodge tem autonomia para mandar que o novo grupo que ela criou para os casos da chamada “Lava Jato” tome o depoimento, de forma oficial, e Tacla Durán, porque foi em Brasília que as deleções da Odebrecht foram tratadas e lá, por Luís Edson Fachin, homologadas.
Se a Odebrecht forneceu documentos falsos, como ele sustenta, não há razão para que seus delatores sejam tratados de forma diferente da que é feita com os delatores da JBS, ou até com mais gravidade, porque a estes não é imputada falsidade documental.
Acompanhe você mesmo as respostas de Durán e Paulo Pimenta e Wadih Damous. Confira o Vídeo:
DCM

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Mídia faz juiz do DF processar Lula sem provas

A defesa do ex-presidente Lula da Silva está perplexa diante da aceitação de denúncia contra ele pela Operação Zelotes. A petição dos seus advogados questiona quais são as provas do Ministério Público Federal e onde o petista cometeu como corrupção passiva.
“O Defendente [Lula] não consegue identificar com clareza de quais fatos teria que se defender, quais as contraprovas a produzir, em suma, o que esclarecer à Justiça… Digno de Franz Kafka!”, afirma a defesa.
Na denúncia acolhida pelo juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, o Ministério Público Federal acusa Lula e o ex-ministro Gilberto Carvalho de beneficiar montadoras de veículos por meio da edição de medidas provisórias.
De acordo com a denúncia, as empresas automobilísticas teriam prometido R$ 6 milhões a Lula e Carvalho em troca de benefícios para o setor.
O MPF se baseia em duas cartas encontradas na casa de um réu e destinadas a Lula que INSINUAM que ele recebeu propina, mas os advogados apontam que não há nenhum indício de que elas foram de fato enviadas ou chegaram às mãos do ex-presidente.
A aposta principal dos acusadores de Lula, porém,  é o rascunho encontrado na casa de um empresário e apresentado pelo MPF. Nele aparecem escritos “Pres.” e “Ok”. Para os procuradores, o papel seria prova de que Lula recebeu propina.
Rascunho apresentado como prova. Reprodução
Esse processo não estava andando por ser ridiculamente fraco, mas o juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, apavorou-se com reportagem da Folha de São Paulo publicada em 13 outubro último e que acusa a Justiça do Distrito Federal de “demorar” para abrir processo contra o ex-presidente.
A Folha comparou, na matéria, a velocidade com que a 13ª Vara de Curitiba age contra Lula e a velocidade “mais lenta” da 10ª Vara de Brasília contra o mesmo alvo.
O mais engraçado é que, dois meses antes, a mesma Folha de São Paulo publicou matéria que apontava que o juiz Sergio Moro julga processos contra Lula com rapidez “recorde”, jamais vista em outros processos no país…
O que espanta e indigna é uma pessoa ser processada sem que existam os mínimos elementos para abertura de tal ação judicial. Nesse aspecto, a manifestação da defesa do ex-presidente exprime toda indignação diante de tal absurdo.
Confira, abaixo, o comentário em vídeo:

Blog da Cidadania

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Após 2 anos procurando crime em palestras de Lula, Lava Jato apela para delação, por Cíntia Alves do Jornal GGN

Após quase dois anos procurando crimes nas palestras que Lula fez com patrocínio de empresas investigadas na Lava Jato, a força-tarefa de Curitiba decidiu apelar para a delação da Odebrecht. 
 Na segunda (30), o juiz Sergio Moro atendeu a um pedido da Polícia Federal e liberou o uso das delações premiadas para que o inquérito que passou a tramitar na 13ª Vara de Curitiba em novembro de 2015 seja, enfim, concluído.
 A LILS - empresa de palestras de Lula - virou alvo da Lava Jato desde que a operação quebrou o sigilo das empreiteiras e descobriu o valor exato dos pagamentos feitos pelos serviços do ex-presidente.
 Os procuradores acreditam que Lula só foi contratado para as palestras em diversos países como forma velada de pagamento de vantagem indevida. Contrariando este pensamento existe uma delação de um executivo da própria Odebrecht, Alexandrino de Alencar, que disse expressamente que a relação com a LILS não tinha nenhum tipo de envolvimento da Petrobras ou outros negócios do governo.
 A Polícia Federal já produziu um relatório sobre o caso e concluiu que nenhuma irregularidade foi encontrada. Mais do que isso: ao abandonar o inquérito, em março deste ano, o delegado Marcio Adriano Anselmo escreveu que a investigação só poderia continuar com a ajuda de uma delação premiada.
 Ele deixou ao sucesso a "sugestão de aguardo das informações prestadas pelos colaboradores [da Odebrecht] relacionados aos fatos sob investição", ou que fosse solicitado ao Supremo Tribunal Federal o compartilhamento das informações.
 Moro decidiu compartilhar todos os dados colhidos em colaboração com a Odebrecht e que estão em um processo sob sigilo. Essas informações vão ajudar no inquérito policial "5054533-93.2015.4.04.7000, instaurado para investigar pagamentos indevidos e lavagem de dinheiro relacionados à LILS Palestras e ao ex-Presidente da República e eventuais desdobramentos."A decisão foi vazada para o Estadão ainda no dia 30. No mesmo dia, a defesa de Lula contrariou uma decisão de Moro com um recurso no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, na tentativa de impedir que o juiz uso ligações feitas a partir de um grampo irregular no escritório dos advogados.
O GGN já abordou como nasceu e as dificuldades que o inquérito sobre a LILS encontra aqui.
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Por que a Venezuela provoca tanta ira em Donald Trump?

Por que um país de apenas 30 milhões de habitantes, localizado à beira do Caribe, provoca tanta ira na principal potência do mundo? É a pergunta que muitos fazem quando escutam o mandatário estadunidense, Donald Trump, dizer que os Estados Unidos "sofrem a opressão do socialismo do regime de Nicolás Maduro", presidente do país sul-americano.
A declaração foi feita por Trump após a vitória do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), de Nicolás Maduro, nas eleições regionais no último dia 15 de outubro. Quando muitos achavam que o chavismo havia chegado ao seu limite histórico, eis que surge um novo triunfo eleitoral que surpreendeu a Venezuela e ao mundo.
Para debater a relação com os Estados Unidos e os desafios do chavismo – campo surgido a partir da Presidência e do pensamento de Hugo Chávez – frente ao atual cenário, o Brasil de Fato realizou uma entrevista exclusiva com o ministro do Poder Popular para a Comunicação e a Informação da Venezuela, Ernesto Villegas.
"Como alguém pode imaginar que o governo venezuelano ou o país inteiro pudesse, hoje, oprimir os Estados Unidos? Pelo amor de Deus, a Venezuela não tem disposição, nem a capacidade de oprimir os Estados Unidos, em nada. O que temos, sim, é a autoridade moral, o exemplo de dignidade", afirmou o ministro.
Confira a entrevista.
Brasil de Fato: O governo de Maduro manteve algum tipo de diálogo com a oposição sobre a questão dos resultados eleitorais?
Ernesto Villegas: José Martí, um apóstolo da Revolução Cuba, tem uma frase que diz: "Na política, a única coisa verdadeira é aquilo que não se vê". O jornalismo, claro, tem o trabalho de buscar e trazer à luz essas questões. O presidente Maduro tem afirmado publicamente que mantém contato com a oposição venezuelana. O diálogo é inevitável. A negativa ao diálogo também faz parte do diálogo, é uma postura que gera uma resposta e logo conduz a uma série de reações. É uma forma de expressar uma postura.

No dia da eleição foi surpreendente como países como Espanha mantiveram uma postura ainda mais radical que a da oposição venezuelana. No final da tarde, enquanto um porta-voz da opositora Mesa da Unidade Democrática, Jesus Chúo Torrealba, dava uma entrevista coletiva dizendo que a oposição estava satisfeita com o processo, o governo espanhol divulgava suas primeiras declarações com críticas às eleições.
Alguns países assumem a pose que está estabelecida no roteiro. É um roteiro destinado a criar as condições para a desestabilização e a derrubada da Revolução Bolivariana. Tem uma antiga série de televisão dos Estados Unidos que se chama Perdidos no Espaço. Nessa série, tinha um personagem que era um robô. Quando escutava alguma frase que não podia processar em sua memória começava a dizer: "não é computável, não é computável". Bom, esses resultados eleitorais, democráticos estavam fora do roteiro dos países que querem por fim à Revolução, portanto não aceitam a realidade, "não é computável".
A administração de Donald Trump surpreendeu o governo venezuelano? Por que em sua campanha política ele não mencionou à Venezuela e agora tem dado muitas declarações sobre o governo Maduro?
Penso que ele nos ignorou, porque ele estava fazendo uma campanha da "porta para dentro". Inclusive questionou ao [ex-presidente Barack] Obama por ocupar-se de conflitos fora de suas fronteiras. Dizer que nos surpreendeu seria passarmos por ingênuos. Havia duas possibilidades, uma delas é que Trump se dedicara a governar da "porta para dentro" e a outra que pudesse impulsionar uma política intervencionista nos cinco continentes, que é o que estamos vendo.
Trump é praticamente um prisioneiro de um discurso e de uma história de ingerência. Trump nem conhece direito a Venezuela. Tem alguém o instruindo sobre as coisas que ele anda falando publicamente. Como alguém pode imaginar que o governo venezuelano ou o país inteiro pudesse, hoje, oprimir os Estados Unidos? Pelo amor de Deus, a Venezuela não tem disposição, nem a capacidade de oprimir os Estados Unidos, em nada. O que temos, sim, é a autoridade moral, o exemplo de dignidade. Isso, sim, poderia ser o que Trump descreve como uma suposta opressão. Com que capacidade nós oprimimos a principal potência econômica e militar do planeta Terra? 
Quem pode estar orientando o presidente Trump nessas questões?
O presidente Nicolás Maduro tem sinalizado que o senador Marcos Rubio (do Partido Republicano dos Estados Unidos) como o chefe, de fato, da política exterior estadunidense em relação à América Latina e, em particular, à Venezuela. Por isso o presidente Maduro o convidou publicamente para vir à Venezuela.
Marcos Rubio é filho de cubanos, certo?
Ele pertence à ala mais extremista das famílias integrantes da comunidade anticastrista e contrarrevolucionária nos Estados Unidos. E o discurso de Trump está associado ao setor mais extremista do lobby político, a direita mais obstinada. Talvez Trump calcule que isso vai gerar algum tipo de benefício interno, mas a verdade é que isso não tem nenhuma justificativa e nem necessidade de uma potência como os Estados Unidos, adotar esse tipo de política em relação à Venezuela. Sobretudo, porque mantivemos uma relação histórica de respeito bilateral, que vai mais além da política. No período do comandante Chávez, tivemos momentos de muita tensão, inclusive de retirada de embaixadores, mas nunca chegou aos níveis de perseguição aberta, do ponto de vista econômico e financeiro, à República Bolivariana da Venezuela e à nossa empresa de petróleo, a PDVSA.
Entre as quatro maiores empresas de petróleo dos Estados Unidos apenas a Exxon não atua na Venezuela. 
Exxon Mobil não está, mas temos grande empresas multinacionais que operam na Faixa Petrolífera do Orinoco [localizada no noroeste da Venezuela, onde se encontra a maior reserva certificada de petróleo do mundo]. Além disso, temos contratos no setor de gás que estamos desenvolvendo com empresas como a Shell. Mantemos uma relação comercial que vai além da questão da política. Mas essas empresas terminam sendo vítimas também desses planos que tentam impor a partir dos Estados Unidos.
Confio que eles vão fazer uma reflexão, inclusive, que poderia ser estritamente numérica. Que façam as contas. Será que realmente interessa aos Estados Unidos assumir os custos dessa política hostil em relação a um país como o nosso, que tem uma influência importante no continente? Não somos um país grande, temos uma população de 30 milhões de habitantes, nada mais. Porém, há setores sociais em toda a América Latina que têm a Venezuela como referência.
Qual é o desafio do chavismo de agora em diante?
Toda a conjuntura pela qual tem passado a Venezuela tem sido muito dura. No entanto, é um muito interessante analisar o que dizem alguns dirigentes da oposição a partir do resultado eleitoral do dia 15 de outubro. Alguns deles, lucidamente, começam a reconhecer o chavismo como uma realidade política, que tem sido subestimada historicamente por seus adversários locais e internacionais. É bom e saudável que se reconheça as características profundas e arraigadas desse fenômeno político. Que não tratem como se fosse um acidente na história, um fenômeno passageiro.
Chávez despertou algo impressionante. Somos um país que tem raízes nacionalistas, patrióticas, independentistas e rebeldes muito profundas, que teve um grande impacto na nossa história. Aqui, surgiu a faísca que incendiaria a parreira da independência no resto do continente. Essa é a carga histórica que nós carregamos. Temos como histórico um Exército que saiu de suas fronteiras para levar liberdade a outros países. Chávez despertou essa raiz, resgatou o projeto bolivariano [em referência a Simón Bolívar, quem conduziu a independência da Venezuela e outros países da região, e que propôs um projeto de unidade e soberania para a América Latina]. A conduta de nossos adversários mostra que Chávez tinha razão e não nos resta outra alternativa além de resistir e vencer.
O presidente Nicolás Maduro declarou que o triunfo eleitoral do chavismo abre um novo ciclo de vitória progressista no continente. O que o senhor pensa sobre esse tema?
O processo constituinte da Venezuela em 1999 conduziu a um novo ciclo de vitória para os povos da América Latina. O processo constituinte de 2017 também deve ter como consequência um número maior de vitórias para os povos. Tivemos formas de participação popular que pode servir de inspiração.
O fato de que na Venezuela estamos elegendo representantes dos aposentados, estudantes, trabalhadores, camponeses em um órgão como a Assembleia Nacional Constituinte pode servir para corrigir algumas distorções que a política tradicional cometeu. Essas distorções acontecem no domínio do capital sobre as campanhas políticas. 
O Poder Legislativo, representado pela Assembleia Nacional da Venezuela, e o Poder Executivo, tendo como representante o presidente da República, partiram para o enfrentamento político com os setores opositores, e avaliasse que a oposição, que controla a Assembleia Legislativa, perdeu o embate. Hoje, esses dois poderes são incompatíveis na Venezuela?
Acontece que a Assembleia Nacional há muito tempo nem se quer realiza sessão. Eles [parlamentares] abandonaram o cargo, assim como, em algum momento, acusaram o presidente. Faz muito tempo eles não se reúnem, não discutem leis. Permanecem em desacato. Temos que recordar que eles aprovaram o abandono do cargo do presidente da República [tentativa de retirar o presidente ocorrida em janeiro de 2017]. Isso é uma declaração de guerra política. O presidente da Assembleia Nacional à época, Henry Ramos Allup, quando assumiu, estabeleceu o prazo de seis meses para derrubar o presidente. 
E Maduro aceitou a declaração de guerra?
As declarações de guerra não se aceita ou não, se responde em defesa própria. 
A resposta foi a Constituinte?
Sim, em defesa própria do povo venezuelano. Porque estávamos à beira de um conflito político de maiores proporções. Foi em defesa própria da vida.
Escutei de colegas jornalistas que fizeram a cobertura da Constituinte que muitos opositores também saíram para votar na Constituinte. O que motivou esse setor a também votar?
Candidataram-se muitos candidatos de muitos setores em cada município do país, e cada um desses tem uma esfera de influência. Tem candidatos à Constituinte que eram da oposição, como é o caso de Marco Torres, que aparece em imagens de 2002 aplaudindo os golpista no Palácio Miraflores [sede presidencial]; um opositor que respaldou o golpe de Estado contra Chávez. Ele seguramente tem seus seguidores e sua família que deve ter votado por ele. Assim como ele, há infinitos casos.
A outra razão é a chantagem da direita. O fato de terem ameaçado os cidadãos para que não votassem, por terem queimado vivas as pessoas, por terem criado e lançado algo chamado 'puputov' [coquetel molotov de fezes], por terem usado nos protestos artefatos explosivos que causaram mortes, tudo isso tem um custo político. Ninguém deve recorrer a esses métodos macabros impunemente. O custo [disso] estão pagando agora. Tem muita gente que está consternada com essas práticas.
Quando Henrique Capriles perdeu as eleições para Hugo Chávez, em 2012, houve "guarimbas" [trancaços de ruas e protestos violentos]. Quando ele perdeu as eleições para Maduro, em 2013, novamente houve "guarimbas". E, este ano, a oposição manteve quatro meses de protestos violentos. Por que não teve nenhum tipo de protesto depois da derrota da oposição nas eleições regionais?
É um fenômeno muito interessante. Creio que a violência chegou a um clímax tão alto que isso gerou um nível de frustração digno de estudo. Existe uma grande decepção dos jovens que foram utilizados pelo políticos opositores. Muitos deles tiveram um encontro ingrato com a política. Acreditaram em um conto épico que não tinha fundamento. Acreditaram que eram libertadores, os fizeram acreditar nisso. Se Trump se sente oprimido segue a mesma lógica do conto épico dos libertadores, que em nome da liberdade retiram a liberdade de todos de sair e caminhar nas ruas. 
Por que as pessoas continuam votando no chavismo?
Porque há vários fatores que confluem. Um deles é que o chavismo é uma identidade sóciopolítica. Chávez construiu uma comunidade política. Não é um fenômeno artificial e passageiro. Existe uma identidade em torno dos valores, das propostas, dos símbolos do chavismo.
Outro fator que influencia é a direita que temos. Por mais desencanto que haja em um chavista, quando olha para calçada de frente e vê uma direita fascista, "guarimbeira", neoliberal, ultracatólica, demagógica, frívola; então essa pessoa que está desencantada tem grandes possibilidades de votar no chavismo, ainda que esteja descontente, ainda que esteja esperando que se cumpram muitas das metas que não foram cumpridas. Mesmo assim esse chavista sente que é parte de algo. Como na família, quando estamos chateados com o irmão, com o pai, um primo, mas mesmo assim se apoiam quando se sentem em perigo…
E se reúnem no Natal…
Como a família que se reúne no Natal, nós nos encontramos na festa eleitoral. Mas, esse chavismo está votando também com esperança de derrotar a guerra econômica, o cerco imperialista, e alcançar as metas sociais e políticas. O chavismo tem uma tradição que é o exercício democrático. Aqui, estamos acostumados a votar. Chávez nos acostumou a votar. As pessoas sentem que isso é um direito. Passamos por momentos muito duros, como em 2015, quando perdemos a maioria da Assembleia Nacional, a abstenção do chavismo foi determinante nesse caso, mas não deixaram de ser chavistas por isso.
Essas pessoas que haviam deixado votar voltaram ao chavismo?
Sim, os chavistas voltaram.

GGN/Brasil de Fato

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A capivara do corregedor da UFSC e o estado de exceção

O dossiê dos Jornalistas Livres sobre Rodolfo Hickel do Prado, o corregedor que levou o reitor Luiz Carlos Cancellier ao suicídio, é o mais contundente libelo contra o estado de exceção em vigor no país.
A reportagem mostra o corregedor como uma pessoa totalmente desequilibrada, com uma extensa capivara de abusos, contra condôminos do seu prédio, contra ex-esposas, contra funcionários e alunos da UFSC, um doente social que se valia do fato de ser filho de um oficial da Polícia Militar para toda sorte de abusos.
 Não se trata apenas de um sujeito truculento, mas de um desequilibrado perigoso, que arruinou gratuitamente a vida de inúmeras pessoas. Com diferentes graus de desequilíbrio, não foge muito do arquétipo do moralista revestido de poder de Estado.
No entanto, essa tendência animalesca à destruição de pessoas foi valorizada pela Controladoria Geral da União, e apoiada por uma juíza e uma delegada inebriadas pelo orgasmo da violência de Estado.
Todos aqueles que defendem a universalização da condução coercitiva, que admitem a publicidade de qualquer ato policial, aqueles que, como Luís Roberto Barroso, aderem ao assassinato de reputações para preservar a sua própria reputação, que meditem sobre o Estado que estão criando.
Hickel do Prado seria apenas um truculento a mais, não fosse o poder de Estado do qual foi revestido pelos defensores da exceção.
Confira a matéria completa em  Jornalistas Livres
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Lula já tem quase 60% dos votos do nordeste, diz Ibope

A pesquisa Ibope para 2018, cuja íntegra foi divulgada agora há pouco no site do instituto, revela que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou força em todos os segmentos sociais: em todas regiões, faixas de renda, níveis de escolaridade e idade; no Nordeste, que tem 26% do eleitorado brasileiro, Lula tem 57% das intenções de voto, contra 8% de Bolsonaro e apenas 1% de Alckmin; entre os brasileiros que ganham até um salário, Lula lidera com 49%, contra 5% de Bolsonaro e 5% de Alckmin; esta faixa da população representa 26% do eleitorado; já entre os brasileiros que se declaram negros ou pardos, que representa 60% dos eleitores brasileiros segundo o Ibope, Lula tem 41% das intenções de vota, contra 13% de Bolsonaro e 3% de Geraldo Alckmin; população brasileira responde ao golpe colocando Lula cada vez mais isolado na liderança
O Ibope divulgou nesta segunda-feira, 30, a íntegra da pesquisa contratada pelo jornal O Globo, que mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na liderança isolada para a campanha presidencial de 2018, com 35% de intenções de voto.
Alguns detalhes interessantes revelados pela íntegra da pesquisa mostram que Lula ganhou força em todos os segmentos sociais: em todas regiões, faixas de renda, níveis de escolaridade e idade.
Na região Nordeste, onde Lula realizou uma caravana entre os dias 17 de agosto e 5 de setembro, o líder petista detém na menos que 57% das intenções de voto, contra 8% do deputado Jair Bolsonaro e apenas 1% do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A região Nordeste concentra 26% do total de eleitores do País.
Como lembrou o jornalista Miguel do Rosário, do Cafezinho, entre os brasileiros que ganham até um salário, Lula lidera com 49%, contra 5% de Bolsonaro e 5% de Alckmin. Esta faixa da população representa 26% do eleitorado.
Já entre os brasileiros que se declaram negros ou pardos, que representa 60% dos eleitores brasileiros segundo o Ibope, Lula tem 41% das intenções de vota, contra 13% de Bolsonaro e 3% de Geraldo Alckmin.
No geral, Lula tem 35% das intenções de voto. Nos resultados da espontânea, Lula tem 26% das intenções.
Confira a pesquisa Ibope na íntegra: Clique AQUI. 

 Do 247