quarta-feira, 16 de maio de 2018

A questão da terra é uma luta constante para nós mulheres, diz agricultora familiar do Maranhão Maria da Graça

Maria da Graça agricultora familiar do Maranhão afirma que não basta distribuir terras, tem que dar terra de qualidade para trabalhar.
A terra é sagrada para homens e mulheres que trabalham com agricultura. Sem ela, ficam desprovidos de meios dignos de sobrevivência e acabam sendo explorados e mantidos em condições precárias, muitas vezes de miséria, por quem concentra terras - algo comum e histórico no Brasil. Uma ampla reforma agrária é urgente, e um sonho de muita gente do campo, mas um sonho distante, sem perspectiva de ser concretizado. "A concentração de terras é um mal, não só no Brasil mas em toda a América Latina", afirma Maria da Graça Amorim, agricultora familiar de Alcântara, no Maranhão, e integrante da coordenação nacional de mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Contraf), nossa terceira entrevistada na série sobre mulheres, direito à terra e os impactos do agronegócio na vida das mulheres do campo.
A questão da distribuição de terras no Brasil não se resume a dar terra a quem não tem, mas também a qualidade dessa terra. "Esse é um debate: que terra nós estamos acessando? Qual a terra nós queremos para a reforma agrária? Nós queremos terra de qualidade! Terra boa, produtiva, que tenha verde, porque na verdade é disso que a gente precisa."
Maria da Graça participou da oficina que a Oxfam Brasil promoveu em São Paulo no início de maio com 15 mulheres de comunidades rurais, movimentos do campo, agriculturas, quilombolas, lideranças de povos indígenas e comunidades tradicionais, de diversas regiões do país para debater a desigualdade no campo. "Para nós, mulheres, o direito à terra é um direito sagrado. Temos uma relação muito forte com isso, porque é uma relação de troca."
A desigualdade no campo, principalmente em relação às mulheres, foi tema de nosso relatório Terrenos da Desigualdade: terra, agricultura e desigualdades no Brasil rural, lançado em 2016. Nele há dados que revelam, por exemplo, como as grandes propriedades rurais brasileiras receberam mais incentivos e tiveram mais acesso a créditos, pesquisa e assistência técnica, com objetivo de produzir para exportação ou atender à indústria agroindustrial, em detrimento da agricultura familiar.
Leia a entrevista:
Você atua em uma comunidade de agricultura familiar no Maranhão, nos conte um pouco sobre isso.
Fazemos essa militância de resistência no Nordeste, e no meu caso em Alcântara, no Maranhão, que tem um centro de lançamento espacial. Lutamos há 30 anos na região, porque a forma como essa base foi implantada gerou muitos resultados negativos para as comunidades quilombolas locais. Não somos contra a base espacial, mas contra a forma como ela foi implantada. Famílias foram realocadas sem critério, sem infraestrutura básica. Um empreendimento desse, mundial, que lança foguete para o mundo, e as comunidades naquela extrema pobreza. Isso nos dá base para ajudar também na discussão nacional da estratégia contra esse modelo geral implementado no Brasil - um modelo excludente, concentrador de terra e dos recursos naturais.
O Brasil é um país com tanta terra e, com tantos exemplos como esse de Alcântara, de apropriação das terras e de exclusão. Como é o papel das mulheres nessa luta pela terra e contra as desigualdades no campo?
Quando falamos de terra, do direito à terra, falamos de um direito sagrado para as mulheres. É a Mãe Terra, né? Nós mulheres temos uma relação muito forte, porque é uma relação de troca. A questão da terra é uma luta constante das mulheres. Para nós, a terra é sagrada e um meio.
Uma reforma agrária é urgente...
A reforma agrária é um sonho que ainda não virou realidade nesse país.  A terra hoje está concentrada nas mãos de poucas pessoas. Temos muita terra com pouca gente e muita gente com pouca terra. E uma dificuldade grande também é que, quando a gente consegue ter acesso a um pedaço de terra, por desapropriação, ela está totalmente devastada, destruída, muitas vezes o desmatamento causa erosão... Então esse também é um debate: que terra nós estamos acessando? Qual a terra nós queremos para a reforma agrária? Nós queremos terra de qualidade! Terra boa, produtiva, que tenha verde, porque na verdade é disso que a gente precisa.
Do GGN

O SISTEMA DE JUSTIÇA, TRIBUNAIS, STF e OABs, por Wadih Damous deputado federal

Em entrevista ao Jornal GGN, o deputado Wadih Damous analisa o Partido do Judiciário e o Estado de Exceção no país.
Mostra como ocorrem os abusos da juíza de instrução, impedindo a entrada de parlamentares na cela de Lula e impedindo o próprio Damous de atuar como advogado de Lula. E o circuito da exceção é completo, mostrando a urdidura da operação lava jato. Os casos devem ser julgados dentro do processo. O tribunal responsável por rever as decisões do primeiro grau é a 8ª Turma preventa, com os três desembargadores alinhados totalmente com a lava jato. No Superior Tribunal de Justiça, o paranaense Felix Fischer e, no Supremo Tribunal Federal, o paranaense Edson Fachin.
Damous analisa também os sistemas de sorteio do Supremo, no qual todas as ações contra o PT caem com Ministros claramente antipetistas e todas as ações contra tucanos, com Ministros tucanos. Se a Ministra Carmen Lúcia praticasse a transparência, diz Damous, deveria explicar como é esse sistema de distribuição.
Damous diz que a Constituição, ao conferir poderes sem precedentes ao Judiciário e ao Ministério Público, olhava para trás, para a ditadura que acabava, e Não para frente.
O Ministério Público brasileiro é o mais poderoso do mundo, tem prerrogativas que a própria advocacia não tem. Nos julgamentos penais o promotor senta ao lado do juiz, é parte da lei e do processo penal.
Quando encontra uma turma que namora com o fascismo, como esse pessoal do Paraná, diz Damous, acontece o que estamos vendo. Suas críticas se estendem aos presidentes e conselheiros atuais da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Diz ele que a OAB está em débito com a sociedade brasileira, a começar do apoio ao golpe.
A OAB integra o sistema de justiça brasileiro pelo lado negativo, diz ele, reforçando essa atuação fora de lei, por omissão ou, como no caso do impeachment, todo sistema do OAB, com uma exceção, apoiando o golpe.
Em relação ao STF, a Constituinte pretendia torna-lo eminentemente uma corte constitucional, mas manteve-se a mesclagem histórica, de espécie de 4ª instância. Mas o problema maior foram os últimos governos, especialmente da Dilma, que nomearam pessimamente os Ministros, com um republicanismo trágico.
Fora isso, ministros que tinham trajetória de defesa de direitos e garantias fundamentais, como Luis Roberto Barroso e Luiz Edson Fachin, tornaram-se os arautos do populismo midiático-jurídico que resvala no fascismo.
Fala também do direito do PT de indicar o candidato, na qualidade de maior e mais estruturado partido de esquerda. E analisa as dificuldades do campo da direita de não conseguir viabilizar um candidato.
Do GGN

terça-feira, 15 de maio de 2018

SEIS LÍDERES MUNDIAIS cobram LULA LIVRE que “Lula possa se SUBMETER AO SUFRÁGIO DO POVO brasileiro”

A prisão apressada do presidente Lula, incansável arquiteto da redução das desigualdades no Brasil, defensor dos pobres de seu país, só pode despertar nossa emoção.
O impeachment de Dilma Rousseff, eleita democraticamente por seu povo e cuja integridade nunca foi questionada, já era uma preocupação séria.
A luta legítima e necessária contra a corrupção não pode justificar uma operação que questiona os princípios da democracia e o direito dos povos de eleger os seus governantes.
Nós solenemente solicitamos que o presidente Lula possa se submeter livremente ao sufrágio do povo brasileiro.
François HOLLANDE, ex presidente da República francesa;
Massimo D’ALEMA, ex presidente do Conselho de ministros da República italiana;
Elio DI RUPO, ex Primeiro-ministro da Bélgica
Enrico LETTA, ex presidente do Conselho de ministros da República italiana
Romano PRODI, ex presidente do Conselho de ministros da República italiana
José Luis RODRIGUEZ ZAPATERO, ex presidente do Governo da Espanha

Do GGN

MORO INVENTA A DELAÇÃO sem acordo para AJUDAR QUEM ACUSA PETISTAS, aponta Kennedy Alencar

O jornalista Kennedy Alencar divulgou comentário em seu blog, junto à rádio CBN, na noite desta segunda (14), avaliando que o juiz Sergio Moro "faz, na prática, uma espécie de acordo delação do B em Curitiba."
Em outras palavras, o jornalista apontou que Moro inventou a modalidade delação sem acordo, na qual ele beneficia, como bem entender, os réus que ajudaram a implicar petista em seus processos, mas que ainda não assinaram nenhum termo com o Ministério Público Federal.
É o caso do "empreiteiro Leo Pinheiro e ex-diretor da Petrobras Renato Duque", que "receberam penas bem leves ao serem condenados hoje. Ambos ganharam prêmios por colaborarem com a Justiça", mas não têm acordo com o MPF ainda. No processo em tela, eles ajudaram a condenar um ex-tesoureiro do PT a 9 anos e 10 meses de prisão, enquanto receberam a pena de cerca de 2 anos em regime aberto ou semiaberto.
Veja mais aqui.
Do GGN

segunda-feira, 14 de maio de 2018

REDE LULA LIVRE DE RÁDIO ESTREIA NESTA SEGUNDA, direto de Curitiba pela Rádio Brasil de Fato

A Rádio Brasil de Fato, em parceria com emissoras de todo o país, inicia nesta segunda-feira (14) a Rede Lula Livre, direto da vigília e do acampamento montados em Curitiba (PR), a poucos metros da Superintendência da Polícia Federal, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preso. A Rede está sendo produzida pelo Brasil de Fato, com apoio da Frente Brasil Popular.
A Rede Lula Livre fará transmissão de um programa ao vivo, das 9h45 às 10h, de segunda a sexta-feira; e também contará com um boletim diário gravado de 5 minutos para veiculação nas emissoras parceiras ao longo do dia.
O programa ao vivo trará a atividade diária "Bom dia, Lula" direto da vigília, além de notícias e entrevistas envolvendo as mobilizações em defesa da liberdade de Lula. Com 15 minutos de duração, a Rede Lula Livre receberá artistas, líderes políticos e integrantes de movimentos populares que frequentam o acampamento na capital paranaense. O ouvinte também saberá em poucos minutos as novidades do principal espaço de resistência e de denúncia à prisão política do ex-presidente.
Retransmissão
Qualquer emissora de rádio, site ou blog poderá retransmitir a Rede Lula Livre. Para o cadastro, é solicitado mandar uma mensagem para o Whastapp +55 11 94503-4203 informando que quer participar da Rede Lula Livre. A mensagem deve conter nome da emissora, frequência, cidade e estado. Por meio desse cadastro serão enviados os alertas de Rede e conteúdos disponíveis para veiculação.
Para retransmitir o programa ao vivo, das 9h45 às 10h, de segunda a sexta-feira, basta conectar o player da emissora, disponível diretamente na capa do site (link acima).
A Rádio Brasil de Fato começou oficialmente com programação diária em 1º de maio, comemorado o Dia do Trabalhador e da Trabalhadora. No mesmo dia também foi realizada a primeira experiência da Rede Lula Livre de rádio, uma iniciativa que envolveu o Brasil de Fato, a Rádio Brasil Atual (98,9 FM de São Paulo), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Rede da Legalidade, a Rede Democracia e a Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc).
Parte dos conteúdos da programação especial de cobertura do 1º de maio foi traduzida para o espanhol para ser veiculada nas emissoras da Rede Lula Livre de outros países da América Latina.

Sem Lula, país não se vê representado, mostra pesquisa CNT

Foto: Ricardo Stuckert
Mesmo preso e sem conseguir se mobilizar em debates, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceria as eleições presidenciais de 2018, com 32,4% dos votos, o dobro do que somou Jair Bolsonaro (16,7%) e seguido por Marina Silva (7,6%). Os dados são do CNT/MDA. 
A pesquisa mostra ainda que, sem Lula, uma grande parte da população não se verá representada, somando 45,7% entre os que votarão branco ou nulo e aqueles que estão indecisos. 
Mas o MDA também levantou as opções de pequena, mas decisiva, parcela do outro extremo de posições políticas. Sem Lula, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) iria para o segundo turno com 18,3% das intenções de voto com Marina Silva (Rede), que aparece com 11,2%, ou com Ciro Gomes (PDT), que está em 9%. 
Marina e Ciro, segundo a pesquisa, aparecem em empate pela margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. E disputando em segundo turno, Ciro perderia de Bolsonaro por uma diferença de 4 pontos percentuais. Já Marina Silva empataria, ela e o deputado com 27,2% das intenções de voto.
A CNT também levantou a hipótese de uma disputa com Haddad no lugar de Lula. Neste caso, o ex-prefeito aparece em quinto lugar, com 2,3% das intenções, atrás de Bolsonaro, Marina, Ciro, Alckmin (5,3%) e Alvaro Dias (3%). 
Abaixo, os números: 
Cenário com Lula, Temer e Meirelles  
Lula (PT) –32,4% 
Jair Bolsonaro (PSL) – 16,7% 
Marina Silva (Rede) – 7,6% 
Ciro Gomes (PDT) – 5,4% 
Geraldo Alckmin (PSDB) – 4,0% 
Alvaro Dias (Podemos) – 2,5% 
Fernando Collor (PTC) – 0,9% 
Michel Temer (MDB) – 0,9% 
Guilherme Boulos (Psol) – 0,5% 
Manuela D´Ávila (PCdoB) – 0,5% 
João Amoedo (Novo) – 0,4% 
Flávio Rocha (PRB) – 0,4% 
Henrique Meirelles (MDB) – 0,3% 
Rodrigo Maia (DEM) – 0,2% 
Paulo Rabello de Castro (PSC) – 0,1% 
Branco/Nulo – 18,0% 
Indeciso – 8,7% 
Cenário sem Lula, Barbosa e Temer   
Jair Bolsonaro (PSL) – 18,3% 
Marina Silva (Rede) – 11,2% 
Ciro Gomes (PDT) – 9,0% 
Geraldo Alckmin (PSDB) – 5,3% 
Alvaro Dias (Podemos) – 3,0% 
Fernando Haddad (PT) – 2,3% 
Fernando Collor (PTC) – 1,4%
Manuela D´Ávila (PCdoB) – 0,9% 
Guilherme Boulos (Psol) – 0,6% 
João Amoêdo (Novo) – 0,6% 
Henrique Meirelles (MDB) – 0,5% 
Flávio Rocha (PRB) – 0,4% 
Rodrigo Maia (DEM) – 0,4% 
Paulo Rabello de Castro (PSC) – 0,1% 
Branco/Nulo – 29,6%
Indecisos - 16,1% 
Cenários de 2º turno: 
Lula (PT) 44,9% x 19,6% Geraldo Alckmin (PSDB)
Lula (PT) 45,7% x 25,9% Jair Bolsonaro (PSL)
Lula (PT) 47,1% x 13,3% Henrique Meirelles (MDB)
Lula (PT) 44,4% x 21,0% Marina Silva (Rede)
Lula (PT) 49,0% x 8,3% Michel Temer (MDB) 
Jair Bolsonaro (PSL) 27,2% x 27,2% Marina Silva (Rede)
Jair Bolsonaro (PSL) 28,2% x 24,2% Ciro Gomes (PDT)
Jair Bolsonaro (PSL) 27,8% x 20,2% Geraldo Alckmin (PSDB)
Jair Bolsonaro (PSL) 31,5% x 14,0% Fernando Haddad (PT)
Jair Bolsonaro (PSL) 30,8% x 11,7% Henrique Meirelles (MDB)
Jair Bolsonaro (PSL) 34,7% x 5,3% Michel Temer (MDB) 
Ciro Gomes (PDT) 25,7% x 9,0% Henrique Meirelles (MDB)
Ciro Gomes (PDT) 30,4% x 5,6% Michel Temer (MDB)
Ciro Gomes (PDT) 20,9% x 20,4% Geraldo Alckmin (PSDB) 
Geraldo Alckmin (PSDB) 25,0% x 10,0% Fernando Haddad (PT)
Marina Silva (Rede) 26,6% x 18,9% Geraldo Alckmin (PSDB) 
Do GGN

SER OU NÃO SER – o preço da convicção, LULA LIVRE é a DESISTÊNCIA DO PLEITO, Por Eugênio Aragão

Certa feita uma amiga diplomata foi deslocada a serviço a Kinshasa, na época capital da República do Zaire, governado por Mobutu Sese Seko.
Na fila do passaporte, pôde observar uma cena digna de uma peça de teatro de Eugène Ionesco. Um senhor bem apessoado exibiu o passaporte ao funcionário da imigração. Este, após examiná-lo superficialmente, advertiu: “Senhor, lamento, mas está sem visto!” O dono do passaporte retrucou: “Como não? Claro que tenho visto! Olhe só…”
E tentou lhe tomar o documento para mostrar que tinha o tal visto de entrada. O funcionário, num gesto brusco, impediu o senhor de ver o passaporte. “Não! O senhor está sem visto!” E começava uma discussão sobre existir ou não existir o visto.
Quem assistia à cena logo via que tinha algo de errado, tamanha a convicção de cada um em defender seu ponto de vista, até que o funcionário deu a entender, com seus dedos em pinça numa página do passaporte, que ia rasgá-la.
Para prevenir o descalabro, outro imigrante, mais atrás na fila, certamente com maior experiência na cultura local, gritou: “coloque 100 dólares no passaporte!” Sem pestanejar, o dono do documento tirou o dinheiro da carteira e pediu ao funcionário para retornar-lhe o passaporte. Este, com um sorriso gentil, atendeu-lhe o pedido e o devolveu intacto.
O senhor enfatiotado encartou a nota no passaporte e voltou a exibi-lo ao funcionário que prontamente exclamou, olhando nos olhos do estrangeiro: “Oh… não reparei. Claro! O senhor tem visto!” E, embolsado o dinheiro e carimbado o passaporte, desejou-lhe: “Bem-vindo! Tenha uma boa estada no Zaire!”
Por que conto isto? Porque a situação do Presidente Lula na cadeia da Superintendência Regional da Polícia Federal em Curitiba é muito parecida com a do desavisado viajante no aeroporto de Kinshasa.
Todos sabem-no inocente, mas os representantes do Estado fingem que é culpado, como se à espera de algo. Sabem perfeitamente que não houve crime algum relacionado ao tal triplex do Guarujá, mas, à semelhança do funcionário congolês aguardando o encarte dos 100 dólares no passaporte, aguardam que Lula diga não ser candidato, para exclamarem: “Não reparamos! Claro! Não houve crime nenhum!” E prontamente lhe desejarão tudo de bom na liberdade reconquistada, como se não houvesse nada de mais. Business as usual.
A liberdade de Lula está precificada. O golpe tem sua lógica que se expressa na expectativa do ganho. Para atingir seus objetivos, golpistas – representantes da justiça de classe sem vontade de retornar à experiência da inclusão social em massa – insistem convictos que nada mais pode ser feito para livrar Lula do cativeiro.
Não vem ao caso se ele é culpado ou não. O que importa é que foi acusado e, depois de formal instrução, foi condenado, com a sentença confirmada e agravada na segunda instância por unanimidade. Isso por si basta para encostá-lo na parede e submetê-lo a uma verdadeira escolha de Sofia: ou deixa de ser candidato (danem-se as massas excluídas), ou fica preso com coonestação das escancaradas lambanças do primeiro e do segundo grau de jurisdição.
Tal qual o funcionário congolês, nossos juízes superiores e supremos sabem – está na cara – que Moro e os três sobrinhos do Pato Donald no TRF da 4ª Região (assim denominados por Luís Nassif) fizeram um processo que mais parece escárnio, caricatura de justiça, do que regular persecução penal. Não o negam nos cochichos entre si e alguns até o expressam com indignação, mesmo sem dar nome aos bois… Moro está hoje muito longe dos aplausos da unanimidade da direita política e judicial!
Há exceções à silenciosa e conspirativa crítica. Há outros magistrados que, ao julgarem o habeas corpus impetrado pela defesa de Lula, disseram com todas as letras que prendê-lo agora seria gritante violação do princípio de presunção de inocência.
Deixaram claro que tornar definitivo o efeito punitivo de uma decisão de segundo grau, mesmo com pendência de recursos, seria fechar os olhos para “eventuais” ilegalidades praticadas contra o réu e ainda sujeitas à revisão jurisdicional. Gritaram. Espernearam. Acusaram a trapaça de se pautar o habeas corpus antes de se definir, em julgamento abstrato, a extensão da presunção de não-culpabilidade. Mas perderam por 6 a 5.
Depois, calaram. Constataram o golpe, reconheceram a “estratégia” e nada mais pretendem fazer. Sim, o funcionário da imigração congolesa barrou um estrangeiro com visto no passaporte com a alegação da falta do visto. E daí? No fundo, parece, todos esperam pelo encarte da nota de 100 dólares no passaporte. E se Lula não a encartar – fazer o quê? – não entrará no Zaire! A opção é dele. Se topar o jogo, tudo ficará bem!
Na semana passada o STF rejeitou com unanimidade em julgamento virtual uma reclamação contra a pressa do TRF4 em recolher Lula ao cárcere, em clara transgressão dos limites do permissível na chamada execução provisória da pena.
Dos cinco magistrados partícipes da sessão eletrônica, quatro haviam se posicionado, antes, pela concessão da ordem ao ex-presidente por entenderem que adiantar a pena violaria flagrantemente o art. 5°, inciso LVII da Constituição. Foram então muito fortes em seus argumentos, denotando certeza sobre o absurdo que se praticava contra o réu-paciente.
A certeza se converteu em resignação. A convicção ficou para a integridade corporativa. Mesmo conscientes do injusto que se praticava contra Lula, a parceria com os colegas da imigração congolesa lhes pareceu mais importante do que a defesa da constituição e da liberdade de um inocente.
Em nome de um tal princípio de colegialidade – a cordialidade entre os agentes imigratórios – jogaram para o alto suas certezas e preferiram a convicção de que Lula, enquanto for candidato, continuará presumidamente culpado. O preço está posto.
E estão errados? Afinal, parte da esquerda, que se diz pragmática, “pé no chão”, já parece estar jogando a toalha, ao achar que largar Lula à sua própria sorte e fazer conchavo com outros pretendentes à presidência, mesmo que longe de terem o compromisso do réu injustiçado com a democracia e os excluídos, é mais vantajoso para permitir que o espetáculo circense de nossa política continue…
“Não deixarão mesmo que ele se candidate…” E essa esquerda se resigna como os magistrados com suas certezas. O preço é, de fato, a candidatura de Lula, e há quem queira pagá-lo. O prêmio será poder entrar no Zaire de Mobutu Sese Seko – na selva.
Na perplexidade do momento, pergunto-me: Afinal, é isso mesmo que a esquerda resignada deseja? É possível ser de esquerda e querer entrar no Zaire de Mobutu? Ou, em termos menos polarizadores: é possível ser democrata e querer entrar no Zaire de Mobutu?
Podem democratas resignar-se? Podem democratas coonestar a condenação de Lula? Será que os democratas querem entrar cada vez mais na selva? Será que eles querem mesmo a lei da selva, cujo guardião hoje é o STF?
Se e quando souberem responder, senhores de “pés no chão”, avisem a este nefelibatas.
Do DCM

domingo, 13 de maio de 2018

Abolição da escravidão foi votada pela elite evitando a reforma agrária, diz o historiador Luiz Alencastro

    Foto: THE NEW YORK PUBLIC
Escravos trabalham em uma plantação de café no Brasil.  LIBRARY

Em 13 de maio de 1888, há 130 anos, o Senado do Império do Brasil aprovava uma das leis mais importantes da história brasileira, a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão. Não era apenas a liberdade que estava em jogo, diz o historiador Luiz Felipe de Alencastro, um dos maiores pesquisadores da escravidão no Brasil. Outro tema na mesa era a reforma agrária.
O debate sobre a repartição das terras nacionais havia sido proposto pelo abolicionista André Rebouças, engenheiro negro de grande prestígio. Sua ideia era criar um imposto sobre fazendas improdutivas e distribuir as terras para ex-escravos. O político Joaquim Nabuco, também abolicionista, apoiou a ideia. Já fazendeiros, republicanos e mesmo abolicionistas mais moderados ficaram em polvorosa.
“A maior parte do movimento republicano fechou com os latifundiários para não mexer na propriedade rural”, diz Alencastro. Foi aí que veio a aprovação da Lei Áurea, sem nenhuma compensação ou alternativa para os libertos se inserirem no novo Brasil livre. “No final, a ideia de reforma agrária capotou”.
(…)
Alencastro é hoje professor da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. É também professor emérito da universidade de Paris Sorbonne, onde lecionou por 14 anos, e autor do livro “O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul”.
(…)
Do GGN

Autocrítica e valorização dos ACERTOS dos Governos do PT em 2 ANOS DE GOLPE, por Alexandre Tambelli

Autocrítica e valorização dos acertos conjuntamente merecem espaço no debate sobre o Governo dos trabalhadores e o Golpe de Estado e as eleições de outubro, Golpe que completou 2 anos ontem, criam anticorpos futuros, quando da retomada do Poder, para se evitar novas rupturas democráticas e encontrar equilíbrio nas ações governamentais, afinal, tivemos erros, e acertos importantes na Era petista com o Presidente Lula e com a Presidenta Dilma e não se deve crer que tudo precisará ser diferente para se ter um bom/ótimo novo Governo dos trabalhadores.
A autocrítica é um instrumento coletivo, importante no aprimoramento das nossas ações e ela é parceira de qualquer caminhada na busca de minimizar erros futuros em uma retomada do Governo Federal pela esquerda ou pela centro-esquerda, pela classe trabalhadora.
Autocrítica não se confunde com ações oportunistas que querem ocupar o espaço político do PT utilizando da máxima de que o Governo do PT não teve nada de esquerda, que dizem o manjado: - traiu a classe trabalhadora, que só apontam erros nas suas administrações no Governo Federal, que vivem dentro de um moralismo barato da honestidade a toda prova, do entendimento que não se deveria ter feito conciliação com as classes dominantes nem alianças políticas com a direita, ainda, autocrítica não se confunde com a falsa tese que todos os problemas de hoje em relação à Justiça, à sociedade e ao Governo Temer são culpa, herança do PT, pegando o partido para Cristo, e assim por diante.
Porém, autocrítica se confunde com a possibilidade de reflexão de algumas práticas governamentais e partidárias + de militantes da centro-esquerda, Governo da classe trabalhadora que não renderam resultados práticos.
Temos que retomar o Poder no futuro tinindo nas ideias novas e nas ações consequentes com conhecimento do passado próximo, impedindo, assim, novas ações que possam novamente interromper o ordenamento democrático, por motivo de a direita política existente em nosso país não conseguir vencer uma Eleição no voto. 
ERROS E ACERTOS.
1) Erros.
Devemos estudar os erros, sim!
Vejamos os principais a serem observados e minimizados/sanados no futuro:
Observar que fomos um tanto descuidados com as bases sociais periféricas e de pequenas cidades, nosso público eleitor, no que tange a levar a eles Educação Política, informação precisa de seus direitos novos via novos programas sociais e educacionais criados na Era petista, para que eles os usufruíssem na sua totalidade, para que eles os defendessem e tivessem a clareza de que quem os criou foi o Governo dos trabalhadores.
Observar ainda que nos institucionalizamos por demais e acreditamos em um Projeto de Poder que se fechou em demasia na lógica do trabalho prioritário no Executivo e Legislativo e não na junção deste trabalho com o trabalho de formiguinha diário nas periferias e pequenos centros urbanos, junto da classe trabalhadora e dos pobres, para conscientiza-los, uni-los e serem eles forças mais expressivas de transformação social, em manifestações gigantescas, e tornando um crescente o tamanho da sociedade organizada com sindicatos mais fortes, universidades públicas mais próximas da população, com movimentos sociais/identitários interferindo com mais resultados positivos em políticas públicas sociais, nos direitos civis e nos direitos humanos e com partidos políticos de esquerda arraigados em suas bases sociais.
Observar que pouco criamos canais de comunicação direta com a população, talvez, um jornal impresso diário e nacionalizado, uma TV Brasil capaz de produzir uma audiência significativa, o que acarretou uma interferência em demasia negativa da Globo & velha mídia na compreensão efetiva e defesa pelos brasileiros do Governo dos trabalhadores.
Observar, também, que fomos um tanto republicanos demais nas escolhas dos postos chaves do Judiciário e da PF, em muitos momentos nossos adversários ocuparam cargos de chefia no Judiciário como é o cargo de PGR e de Delegado-Chefe da PF, etc., indivíduos que ajudaram na nossa derrubada, sem contar a dificuldade inicial de compreensão das intenções da Lava-Jato, muito longe de ser uma Operação séria de combate à corrupção e, sim, Operação de entrega do Pré-Sal às grandes petroleiras (as 6 irmãs), de destruição da Engenharia Nacional e parte importante no processo político do Golpe da derrubada de Dilma e que não foram combatidas suas medidas antinacionais, arbitrárias e golpistas a tempo. 
E assim por diante; todos instrumentos seguros para o impedimento de tentativas golpistas, caso a direita política tentasse sair da legalidade democrática do respeito ao voto popular e à Constituição, o que ocorreu em 2016.
Estudar os erros não é autoflagelação nem esquecimento dos inúmeros acertos, é utilizar de um processo dialético, onde ao mesmo tempo em que se faz o balanço dos erros se equilibra a balança com a valorização dos acertos e se aponta as vitórias, que foram muitas e bem mais presentes que os erros nas administrações petistas. E a balança certamente penderá para o lado positivo dos acertos.
Jogar só no lado das maravilhas ou jogar só no lado dos erros é primário e inócuo. 
2) Acertos.
Lembremos, então, dos inúmeros acertos em qualidade e quantidade de beneficiados também.
Quantas políticas públicas na área social, quantos acertos na área econômica, na Geopolítica que praticamos com eficiência, não é verdade? Lembremos de ações governamentais, dos programas criados/ampliados, das leis aprovadas no Congresso, uma parte apenas das ações, programas e leis para ilustrar nossos acertos, com seus números e com resultados práticos significativos, atingindo milhões e milhões de brasileiros:
Tiramos 40 milhões de pessoas da extrema-pobreza em 13 anos de Governo, é uma vitória extraordinária, saímos do Mapa da Fome da ONU, criamos o Bolsa Família que abrangeu com Dilma mais de 14 milhões de famílias beneficiadas. 36 milhões de brasileiros ascenderam até a classe média, diminuímos a taxa de mortalidade infantil pela metade.
Criamos mais de 21 milhões de empregos com carteira assinada e 23 leis novas ligadas a direitos trabalhistas, tivemos medidas efetivas no combate ao trabalho escravo. O salário mínimo em dólares equivaleu a 3 vezes os tempos de FHC. Ao término do Governo Lula em 2010 o número de pessoas com conta bancária chegou aos 115 milhões, diante de 70 milhões em 2002.
Controlamos a inflação por 12 anos seguidos, com inflação anual média de 5,8% até 2014.
Os gastos anuais com Educação quadruplicaram, criamos várias universidades, campus e escolas técnicas e dobramos o número de universitários, PROUNI ofereceu 1,2 milhões de bolsas, o Ciência Sem Fronteiras beneficiou mais de 100 mil estudantes.
Levamos luz (quase 16 milhões de novos beneficiados com o Programa Luz Para Todos) e água para quase todos os rincões do país (mais de 1 milhão de cisternas no Nordeste).
Triplicamos o número de venda de passagens aéreas e mais do que dobramos a fabricação de automóveis.
Fizemos da Política externa brasileira, com o comando de Celso Amorim uma Política externa soberana e respeitada mundialmente.
Triplicamos as exportações.
Levamos o Brasil ao quase quinto lugar nas economias mundiais com o PIB crescendo mais de 4 vezes em 13 anos, depois de FHC nos rebaixar para o décimo quarto lugar.
Tivemos a coragem de se aproximar dos BRICS por uma Nova Ordem Mundial não-unipolar e se aproximar dos países da América latina e da África.
Descobrimos o Pré-Sal, a maior reserva de petróleo descoberta nos últimos 30 anos, e colocamos ele a produzir poucos anos depois e revitalizamos a Indústria Naval., criamos o PAC, que realizou inúmeras obras de complexidade na área de engenharia Brasil afora com investimentos que chegam a quase 2 trilhões de reais.
Criamos o Mais Médicos que atende mais de 60 milhões brasileiros carentes de saúde básica.
Criamos o Brasil Sorridente, o maior programa de saúde bucal do mundo.
Criamos o maior programa habitacional de nossa história, o Minha Casa, Minha Vida, que atingiu mais de 4 milhões de casas contratadas/construídas em 7 anos (de 2009 até 2016) beneficiando mais de 10 milhões de brasileiros.
Valorizamos sobremaneira a Agricultura Familiar via Pronaf que cresceu em investimentos nos governos petistas 400% em relação ao Governo FHC, dobramos a safra agrícola.
Fizemos mais de 70 conferências nacionais no Governo Lula, nas áreas de Saúde, Educação, Comunicação, etc.
Aprovamos a Lei Maria da Penha.
Aparelhamos as Forças Armadas e revitalizamos a Indústria da Defesa.
Aprovamos diferentes leis de combate à corrupção, fortalecemos o Judiciário criando centenas de varas da Justiça Federal, criamos um Portal de Transparência do Governo elogiado internacionalmente, investigamos a fundo o funcionalismo público, exonerando, geralmente por atos de corrupção 4.481 pessoas entre 2003 e 2013.
Tornamos a PF funcional e com equipamentos e quadros e capaz de realizar inúmeras operações.
Acumulamos reservas internacionais na casa dos 380 bilhões de dólares, diante de FHC que nos deixou reservas de 37 bilhões de dólares.
E assim por diante.
O que precisamos é deste equilíbrio de análise, a que esconde erros é primária, como, igualmente é, a que só aponta erros, esta, em muitos casos, rancorosa e personalista.
Temos 2 anos de Golpe e uma Eleição em outubro que precisamos garantir a vitória nas ruas e na batalha por #LulaLivre e #LulaCandidato, certo? Faltam 5 meses.
Devemos aprender com nossas imperfeições e erros, construir caminhos para acertos cada vez maiores das esquerdas, hoje, representada com maior força pelo PT. Não se está, numa autocrítica equilibrada culpando o PT, rebaixando o partido nem sendo aproveitador, querendo ocupar um tal “espólio” do golpeado, porque este é muito forte e competente e sabe superar as adversidades com seus mais de 20% de brasileiros que se consideram petistas e com seus 50% de apoio, ao menos, nos votos válidos em pesquisas à nova candidatura de seu líder máximo: Lula.
O PT foi golpeado do Poder, bem sabemos, porém, não quer dizer que não tenha cometido alguns erros para que o Golpe fosse efetivado.
Se sairmos da estrada da mão-única, onde se trafega somente pela crítica a quem deu o Golpe, e com uma reflexão cuidadosa dos nossos caminhos percorridos, caminhos que não impediram dos golpistas roubarem o Poder, quando retomarmos, espero que em janeiro de 2019, estaremos mais fortes e conscientes das ações práticas a serem implementadas e abertos aos desvios necessários, se alguma de nossas premissas e ações não estiverem dando o resultado prático, tanto no crescimento socioeconômico como no impedimento de novas ações jurídico-legislativas visando golpear nossa vitória no voto.
Penso ser saudável toda autocrítica, sem medo, quando honesta e voltada para a construção segura da realidade prática de transformação social com Justiça Social e desenvolvimento soberano do Brasil; é valiosa ferramenta para minimizar os erros e amplificar os acertos, precisaremos dela se a vitória vier em outubro para assumir calejados em 1 de janeiro de 2019. É ação paralela à campanha e balizadora até das propostas a serem apresentadas no programa de Governo do PT e de outras candidaturas de esquerda. 
Certamente, não é a autocrítica tola a que merecerá valor, a que não observa a realidade para produzi-la e que acredita que não há dificuldades enormes para as esquerdas no mundo atual da concentração radical do Capital, do ultra neoliberalismo mundializado, da presença mídias oligopólicas e a serviço do 1%, se tanto, do topo da pirâmide social e da política   imperialista de recolonização da América Latina, mas, também, não é mais a falta de autocrítica uma ação saudável, hoje,  já passados 2 anos do Golpe. 
Como diz o ditado: nem tanto ao céu nem tanto ao mar!
União das esquerdas em tempos de caos e adversidades é necessário e urgente, porém, não se pode crer que união seja silêncio, seja abandono de diferenças, de autocrítica, de reflexões aprofundadas dos governos petistas com a responsabilidade de saber quem é o verdadeiro adversário político, econômico e social, que claramente não é o PT.
Apontemos para o futuro sabedor do passado. Tenhamos um memorial/glossário de informações sobre como os golpistas e os Golpes sobrevivem e agem, para consultas, reavivamento instantâneo na memória e barramento no seu início de uma outra tentativa de Golpe num Futuro, pós-retomada da Democracia e do Poder por uma esquerda ou centro-esquerda e/ou defensores dos interesses nacionais e políticos e administradores não colonizados.  
E tenhamos a compreensão de que a governabilidade segura se dá no casamento das ações Institucionais no Executivo e Legislativo com a busca de levar a informação das ações governamentais à população com eficácia e junto da informação mobilizar e valorizar a militância na formação socioeducacional continuada e diária da população trabalhadora e dos pobres nos bairros onde eles residem, preferencialmente.
A população precisa se tornar uma base social popular e trabalhadora de apoio, base social de pressão parlamentar ao conservadorismo possível e voz ativa nos rumos do Governo de esquerda/centro-esquerda, base social capaz de mobilização para defende-lo nas ruas***, em caso de tentarem novos retrocessos sociais, econômicos, dos direitos humanos e civis, das causas identitárias, retrocessos no nosso desenvolvimento e na nossa garantia de Soberania no concerto das nações, etc., em suma, se tentarem um novo Golpe; pontuando que precisaremos de um tempo significativo de administração de esquerda ou centro-esquerda e progressista + defensora dos interesses nacionais para arrumar a casa, quase destruída pelas mãos de Temer, Meirelles, Moreira Franco, Moro e a Lava-Jato, STF, Pedro Parente, tucanos, etc. em 2 anos de Golpe e este tempo necessário precisa ser compreendido pelo eleitorado e compartilhada as medidas adotadas via comunicação eficaz com a população. 
*** Base social que vai além da nossa militância clássica pré e pós-impeachment: acadêmicos/intelectuais, estudantes universitários, movimentos sociais, sindicalistas, artistas e militantes e simpatizantes da esquerda partidária. É o povo trabalhador não-organizado, o povo pobre que precisamos colocar, junto da gente, nas ruas.  
Do GGN

Uma promotora de Justiça que honra a função, por Luis Nassif

A função do promotor não é a de condenar: é a de procurar a verdade. Esses tempos sombrios de lava jato consolidaram a imagem deturpada do procurador vingador, que define uma narrativa inicial e, depois, enfia provas a marretada, na maioria das vezes contra o réu, para satisfazer a sede de vingança de uma sociedade doente. Como o nome define, é um promotor da justiça, o que procura fazer justiça, e não sair condenando a torto e a direito,
A promotora Sandra Reimberg deu um exemplo relevante da verdadeira função do Ministério Público, à altura do seu colega Eduardo Araújo da Silva, que enfrentou uma imprensa sedenta de sangue e libertou rapazes inocentes, detidos e torturados em função do episódio conhecido como Bar Bodega.
No acidente que vitimou o filho do governador Geraldo Alckmin, houve uma investigação conduzida pela Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes) da Força Aérea e convalidada pelo perito Hélio Rodrigues Ramacciotti, do Instituto de Criminalística.
Com base nele, a Polícia Civil concluiu um relatório indiciando cinco pessoas por negligência e imperícia, que iam o homicídio culposo qualificado, homicídio culposo em coautoria, falso testenho e aí por diante.
A promotora Reimberg não aceitou o laudo e não se acomodou. O Ministério Público Estadual continuou investigando por conta própria. Chegou-se à conclusão o helicóptero havia retornado da Helibras na véspera do acidente, e não se respeitou o prazo de secagem das pás. Com base na sua investigação, cinco inocentes não foram denunciadas.
A promotora denunciou o perito Hélio Ramacciotti, que admitiu ter copiado trechos do relatório da Cenipa, sem ter vistoriado o helicóptero, devido a pressões da Polícia Civil para acelerar a investigação.
Do GGN

sábado, 12 de maio de 2018

MINHA MÃE FOI MORTA por ordem de GEISEL, diz Hildegard Angel

Filha da estilista Zuzu Angel, morta no governo Geisel, em 1976, a colunista Hildegard Angel não ficou surpresa com as revelações do memorando da CIA. Segundo ela, o gabinete de Geisel encomendou o atentado contra sua mãe, na saída do túnel Dois Irmãos, em São Conrado. O caso de sua mãe está mais do que esclarecido. Não foi um acidente mal esclarecido.
Qual a sua reação diante do documento da CIA que revela a participação do general Geisel nas execuções durante a ditadura militar? 
Vi como uma predestinação. Aqui no Brasil queimaram toda a documentação. Houve queima de arquivos. Fizemos um pacto sinistro. Houve um corporativismo fechado, uma blindagem da história brasileira. Mas havia um documento lá na sede do grande irmão. Eles não contavam com isso.
Você ficou surpresa com os fatos agora revelados? 
Para mim não foi uma revelação. Quando o Claúdio Guerra, que foi delegado do DOPS, escreveu seu livro sobre a repressão, ele mencionou o caso de minha mãe (a estilista Zuzu Angel) e disse que o coronel Freddie Perdigão foi o organizador da emboscada encomendada que matou a minha mãe em 1976.  Foi encomendada a ele diretamente pelo gabinete do Geisel. A Comissão da Verdade recorreu ao livro do agente do Dops e ele mencionou que  havia foto do Perdigão no local do crime, na saída do túnel Dois Irmãos (hoje Zuzu Angel), em São Conrado.
A estilista Zuzu Angel, mãe de Hildegard
Qual foi a conclusão das investigações? 
O caso de mamãe foi investigado desde a Comissão dos Mortos e Desaparecidos até a Comissão Nacional da Verdade. As três comissões fizeram investigações, ouviram testemunhas e peritos, e concluíram que minha mãe foi vítima de uma emboscada por agentes do governo.  O ex-ministro da Justiça Miguel Reale conversou com duas testemunhas. Mas até hoje tem gente bem informada que atribui a morte de mamãe a um acidente mal esclarecido. Nunca um caso foi tão esclarecido. Esse é um cacoete nacional. Precisamos nos convencer da monstruosidade da ditadura brasileira. Por isso, ainda vemos jornalistas importantes escrevendo que houve um acidente mal esclarecido. Quando mal esclarecidos estamos nós.
A Comissão Nacional da Verdade reconheceu o crime do Estado contra Zuzu Angel? 
Nossa família recebeu R$ 80 mil de indenização. E a comissão endossou o depoimento do  Cláudio Guerra. Portanto, o Estado reconheceu que o gabinete de Geisel chancelou o atentado. Mas temos muita dificuldade de aceitar que vivemos isso. Talvez exatamente por isso estejamos vivendo esse momento em que se tenta qualificar a ditadura militar. Tentam justificar a ruptura democrática, seja na política, seja pelo Judiciário.
Você pretende reabrir o caso de sua mãe? 
Vou primeiro ouvir o Nilo Batista, que ajudou na reconstituição da tortura e morte de meu irmão Stuart Angel,  ouvir o Pedro Dallari, que ajudou no caso de minha mãe, e outras pessoas que possam me aconselhar. como o ex-deputado Nilmário Miranda. Depois tomarei a decisão.
GGN

sexta-feira, 11 de maio de 2018

FILME O PROCESSO. O PESADELO DO BRASIL EM REGISTRO, por Urariano Mota

Assistimos ontem no Recife à pré-estreia de O Processo. O cinema São Luiz estava lotado, como em suas melhores noites, com todas idades e classes sociais. Estávamos  jovens e muito jovens, maduros e muito maduros, a cantar e gritar várias bandeiras, das quais a mais unitária foi #LulaLivre. A agitação no público era tamanha, que gritos se ouviam até mesmo quando as luzes no cinema se apagaram. Quanta rebeldia reprimida. As vozes somente pararam quando alguém gritou: “quem fizer barulho é golpista!”. Silêncio na plateia. Então o documentário começou.
Agora, enquanto escrevo, pesquiso e leio uma sinopse onde se fala: “O documentário acompanha a crise política que afeta o Brasil desde 2013 sem nenhum tipo de abordagem direta, como entrevistas ou intervenções nos acontecimentos. A diretora Maria Augusta Ramos passou meses no Planalto e no Congresso Nacional captando imagens sobre votações e discussões que culminaram com a destituição da presidenta Dilma Rousseff do cargo”. E mais descubro. Na estreia mundial de O Processo, no Festival de Berlim, o filme foi aplaudido sob gritos de “bravos”, o que nunca havia acontecido com um filme antes em terra alemãs. Em Portugal, quando recebeu o prêmio de melhor longa-metragem no festival de cinema IndieLisboa, o júri assim falou sobre as razões da escolha: "Pela sua montagem aberta, que é fluente e elegante. Trata-se de um drama político contado através da narrativa clássica sem cair no classicismo gramatical e formal."
Mas nós, que assistimos à pré-estreia no Recife, bem podemos acrescentar outras razões de público e amantes do cinema. Tanto na abertura, quando um voo de helicóptero sobre Brasília nos mostra os lados de amarelos e vermelhos em confronto sobre a terra, até atingir as cenas finais, atravessa a gente um sentimento de indignação e afeto profundo pela memória da militância contra o impeachment. Então sabemos que O Processo é um dos melhores documentários do Brasil até hoje. E se me fazem um desconto do entusiasmo, pois o filme continua dentro da cabeça até agora, ouso  escrever mais claro: O Processo é um dos melhores documentários do mundo. Entendam as razões.
Quando o debate se abriu para o público, pude falar no microfone em meu natural pouco eloquente. Na medida do que lembro de ontem à noite, consegui falar: “Ao ver os últimos 10 minutos, quando se completa o golpe, e a digna representação dos parlamentares do PCdoB e do PT que discursaram contra o impeachment, senti que O Processo devia se chamar O Pesadelo. E pude perceber que o documentário no Brasil, que já havia  atingido um ponto culminante com Eduardo Coutinho, e passa pelos belos filmes de Vladimir Carvalho, ganhou um novo caminho com esse documentário. De todas as maneiras se faz arte. Neste, o que parecia ser uma grande reportagem se fez arte. Acredito que este é um filme que sobreviverá a estes malditos anos. Se me permite uma sugestão, só lhe peço que não siga o roteiro de alguns estetas da reportagem da imprensa, que lhe pedem o relato do  método ou técnicas do filme. Para mim, seria como transformar o quadro Lição de Anatomia, para pegar a experiência holandesa da diretora, e limitá-lo à descrição do desenho, tons, sombra e tintas. Transformar a arte em um verdadeiro cadáver da composição. Creio que de modo mais simples você poderá dizer que fez esse filme com intensa paixão. E com imenso talento, como acabamos de ver”.
O que disse no microfone ontem,  bem ou mal, bem e mal no calor da emoção, continuo aqui: os discursos da bancada de bravos que resiste, no dia da conclusão do impeachment, o discurso de Dilma ao se despedir, o rosto de Lula no plenário,  nessas imagens pudemos ver o Brasil de hoje,  com o pior parlamento da nossa história, com o presidente mais entreguista que tivemos, e a desgraça anunciada nos discursos que se cumpre com a perda de direitos inalienáveis do povo,  como saúde e trabalho.  
Já antes, a militante e professora Isa Ferreira me perguntou o que fazer diante dessas agressões contra os brasileiros, e se eu achava que sairíamos desta e como sair. Quem sou eu para achar, se me encontro tão perdido? Mas na hora lhe respondi que não sei como, mas que se houver uma saída popular, talvez não alcance os nosso dias. Enquanto isso, não poderemos submergir à depressão e desespero desta má hora. Cada um que lute à sua maneira, da melhor forma possível.
Ao voltar para casa, o motorista do Uber, que é músico e trabalho pela madrugada a dirigir um carro, me falou que vivemos hoje uma distopia. É isso, sim, é isso, eu me falei para mim, surpreso da qualificação que o jovem trabalhador dá para o que vivemos. Então me veio à lembrança de novo de O Processo como O pesadelo. O nome de uma obra sempre vem  depois. Nunca antes, como o batismo que damos a um filho.
Em uma ocasião, a diretora falou em entrevista: “Nós não sabemos para onde isso vai, e isso é angustiante e doloroso... Essa é a minha contribuição para esse momento que estamos vivendo”. Sem dúvida. O documentário de Maria Augusta Ramos realiza o seu presente deste infeliz momento. E mal pude dormir até a hora de escrever estas linhas.

A REPÚBLICA DOS ASSASSINOS vêm à tona, por Luis Nassif

As descobertas de Matias Spektor nos arquivos da CIA, de que os próprios presidentes militares ordenavam a execução de “inimigos” do regime, torna verossímeis todas as suspeitas de mortes não explicadas do período. Os dois principais algozes foram Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo, presidentes da República.
Nos próximos meses haverá uma revisão geral e irrestrita de todos os mistérios do regime, inclusive da Lei da Anistia.
A saber:
1. A morte de JK .
Um trabalho meticuloso de professores e alunos da Faculdade de Direito da USP, apontando diversos indícios de assassinato, foi ignorado pela Comissão Nacional da Verdade, que manteve a versão do acidente.
2. A morte de Zuzu Angel.
A figurinista havia se transformado na mais influente voz a denunciar as torturas e mortes da ditadura junto à opinião pública mundial.
3. A morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury.
O mais notório torturador do regime era um arquivo vivo, que, com a redemocratização, poderia denunciar toda a estrutura de assassinatos comandada pela própria presidência da República. A versão oficial foi de acidente em um cais.
4. A morte de João Goulart.
A suspeita da troca de remédios para um paciente cardíaco.
5. Os autos de resistência.
Os sucessivos assassinatos disfarçados em resistência seguida de morte. Pelo menos esses nunca foram aceitos nem pela historiografia oficial.
6. A morte do educador Anisio Teixeira.
Seria  Anísio um dos subversivos que mereceriam morrer, segundo o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, assessor do general Syzeno Sarmento, criador do Doi Codi? Aqui um vídeo com denúncias. ASSISTA:
Do GGN

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Os dilemas do PT, por Luis Nassif

O PT hoje enfrenta alguns dilemas, mas apesar de todos os percalços, continua sendo o partido de esquerda mais estruturado, mais popular e com maior penetração no sindicalismo e nos movimentos sociais. E possui a maior liderança popular do país, Lula.
A prisão de Lula promoveu um pacto inédito entre os partidos de esquerda. Por outro lado, cada qual procura se viabilizar. E aí, se esbarra na grande incógnita: a candidatura de Lula a presidente.
Do lado do arco do golpe há um esforço ingente para isolar o PT e Lula. Do lado dos aliados, a dúvida: ficar com o PT, caso a candidatura Lula se viabilize; ou montar estratégias visando se apropriar da herança petista?
A candidatura de Lula será mantida a ferro e fogo por vários motivos.
O primeiro, é que qualquer movimento gera ataques especulativos ao PT e exposição desnecessária não só do PT mas dos movimentos em geral.
O segundo, porque a saída de Lula deflagraria uma guerra interna, no próprio PT, de consequências imprevisíveis, por não haver consenso nem sobre o nome do partido que segurará o bastão, nem sobre o nome fora do partido que vier a ser apoiado.
O terceiro, porque reforçaria a tentativa dos aliados de tentar tirar do PT qualquer protagonismo, inclusive com exigências de abrir mão da cabeça de chapa, além de significar a desmobilização dos movimentos sociais e de todos os grupos inspirados pelo lulismo.
A ideia básica é inscrever Lula candidato e levar a candidatura até o fim, mantendo a mobilização e o seu cacife eleitoral. Candidato, Lula poderá participar do horário gratuito, ou com seu discurso atual ou, na impossibilidade, com vídeos já gravados e depoimentos de terceiros. Nessa hipótese, seria eleito e caberia ao STF (Supremo Tribunal Federal) o ônus de impedir a posse.
Há confiança na vitória de Lula, baseados nos três vetores principais para a definição do votos.
O primeiro vetor é o econômico, talvez a principal dimensão do voto. Ali, Lula e PT nadam de braçadas graças aos anos de ouro da economia.
O segundo vetor é a dimensão dos valores. O PT e Lula já estiveram em situação bem pior. Com a perseguição a Lula, e a blindagem dos adversários, houve uma comoção que reverteu parte do desgaste. Nesse campo, a direita não ganha mais.
Finalmente, na dimensão política, o PT avançou nas coligações e frentes.
Por outro lado, há a possibilidade de que a candidatura de Lula seja inviabilizada. E, aí, haveria um tempo exíguo para montar uma segunda estratégia.
Há convicção interna de que o PT não se isolou da frente de esquerdas. Com o centro, não há espaço para conversa. Mas com a esquerda, sim, inclusive passando por cima de mágoas recentes, com o PDT, que teve vários deputados votando a favor do impeachment, e com o PSB, que fechou questão pró-impeachment.
Por outro lado, a Fundação Perseu Abramo conseguiu convencer fundações dos partidos aliados a esboçar um mini-programa com ideias consensuais. Só não se transformou em manifesto mais expressivo porque o PSB ponderou que acordos não deveriam ser apenas programáticos, mas políticos, conduzidos pelos partidos.
GGN